terça-feira, 30 de setembro de 2008

14 - A introdução da prospecção gravimétrica no SFM

Já muito disse, em posts anteriores sobre a minha persistente luta no sentido de ser introduzida, como prática corrente, no SFM, a prospecção pelo método gravimétrico.

Já referi e até foi publicado em 1955, no artigo “Prospecção de pirites no Baixo Alentejo” que todos os trabalhos de prospecção, dentro das áreas escolhidas para estudo pelo SFM, deveriam ser efectuados por técnicos portugueses que tivessem adquirido a necessária especialização, conforme previa o Decreto-lei de criação do SFM.

Referi, também, o caso inédito de ter vindo, por duas vezes, a Portugal, o Professor Bruckshaw do Imperial College of Science and Technology de Londres, como consultor, para industriar um Engenheiro do SFM na técnica gravimétrica!!

Apesar da minha insistência em todos os Planos Anuais de Trabalhos da Brigada do Sul, persistia a inércia da Direcção do SFM nesta matéria, sem justificação aceitável.

Entretanto, as Empresas estrangeiras (inglesa e belgas) concessionárias da exploração de pirite nas Minas de S. Domingos, Aljustrel e Louzal, estimuladas pelo êxito do SFM com a aplicação de técnica geofísica em Aljustrel, passaram todas a requerer ao Estado Português, autorizações para investigação de áreas envolventes das suas concessões, que estavam integradas na zona cativa para os estudos do SFM.

Enquanto o SFM não dispôs de gravímetros, estes requerimentos foram sempre deferidos, tendo-se imposto apenas a condição de apresentação periódica de relatórios sobre a natureza dos trabalhos efectuados e dos resultados conseguidos, cláusula contratual que era, por vezes, esquecida.

Quando alguns destes requerimentos chegavam à minha mão para informar, o que nem sempre acontecia, dava parecer favorável, pois interessava assegurar a exploração nas minas existentes, garantindo assim trabalho a muitos portugueses. Além disso, permitia-me manter contacto com técnicas novas, trazidas quer pelas empresas especializadas contratadas pelos concessionários, quer por professores universitários convidados como consultores.

Foi assim que vieram a Portugal os prestigiados Professores ingleses J. Bruckshaw, David Williams, John Webb, a “Compagnie Gènerale de Geophysique” francesa, Mc Phar canadiana e Lea Cross Geophysical Company inglesa.

Procurei sempre aproveitar estas presenças para tomar conhecimento prático das técnicas utilizadas, enquanto a Brigada dita de Prospecção Geofísica delas se mantinha desinteressada, continuando a manter em uso, durante mais de uma dezena de anos, apenas um magnetómetro, em prospecção da Faixa Magnetítica.

A Compagnie Gènérale de Géophysique demonstrou a eficácia da técnica gravimétrica na detecção de jazigos de pirite, ao evidenciar forte anomalia sobre as concentrações de Cerro do Carrasco e Moinho, em Aljustrel.

Deixou, além disso, uma pista para a descoberta da massa dos Feitais, que até já dera indicações da sua existência na concessão de manganés da Serra dos Feitais, atribuída a Alonso Gomes.

Chegou ao meu conhecimento que “Mines d’Aljustrel, S. A:” pretendeu negociar com Alonso Gomes o reconhecimento daqueles indícios de uma nova concentração de pirite, mas que as suas pretensões não tiverem êxito por Alonso Gomes não ter considerado aceitáveis as contrapartidas.

Quando, em 1960-61, a Lea Cross Geophysical Company estava actuando na Mina de S. Domingos, utilizando diversas técnicas com ênfase para a gravimetria e a análise geoquímica de Cu, Pb, Zn em amostras de solos, o seu Director solicitou-me a indicação de um Geólogo ou Engenheiro de Minas para colaborar nos seus trabalhos.

Logo me ocorreu que esta seria uma óptima oportunidade para que um Engenheiro que acabara de ser destacado para a BPG, e que estava condenado a ser mais um a juntar-se aos que se entretinham com a magnetometria, aprendesse as técnicas que a Lea Cross estava a usar.

Contactei este Engenheiro, perguntando-lhe se estaria interessado em fazer estágio junto da Lea Cross, fazendo-lhe ver que esta era a grande oportunidade da sua vida profissional que lhe era proporcionada.
Teria que ir viver, durante seis meses, na Mina de S. Domingos e submeter-se ao regime de trabalho da Lea Cross.

Começou por me revelar que não dominava a língua inglesa e isso constituiria obstáculo à sua aprendizagem. Óptimo, disse-lhe eu. Terá oportunidade de aprender não apenas técnicas de prospecção, mas também de aperfeiçoar o seu inglês.

Não mostrou o entusiasmo e pediu-me que eu esperasse pelo dia seguinte, pois queria consultar a sua mulher, professora de Matemática no Liceu de Beja, de quem teria que se separar durante os seis meses do seu estágio.

Quando no dia seguinte veio à minha presença, percebi pelo seu semblante que não estava disposto a aceitar a minha proposta, mas não lhe dei tempo a exprimir essa sua intenção. Disse-lhe, de chofre: Aceita, não é? E ele não teve coragem para dizer que não!
De imediato, elaborei uma proposta que apresentei ao Chefe da BPG, para que ele, se concordasse, a enviasse ao Director do SFM, como se tivesse sido de sua iniciativa, O Director do SFM, certamente pensando que a proposta era da iniciativa do Chefe da BPG, deu o seu acordo.

O estágio foi iniciado e teve o meu constante apoio.
Nas minhas frequentes deslocações à Secção de Moura e Barrancos para supervisão de importantes trabalhos de reconhecimento que decorriam na Mina de cobre de Aparis, fazia o meu regresso a Beja com passagem pela Mina de S. Domingos, para avaliar da evolução deste estágio.

Terminado o estágio, o Director do SFM aceitou, finalmente que fosse adquirido um gravímetro!!

Tinham passado 10 anos sobre a data da minha primeira referência à necessidade de aquisição deste aparelho!!!

Quando o gravímetro chegou, em 1962, a concessionária das Minas de Aljustrel tinha, desde 28-11-1961, uma das autorizações a que já aludi, para trabalhar em áreas contíguas à sua concessão, situadas no interior da área cativa para o SFM

“Mines d’Áljustrel S.A.” propusera-se prospectar, entre outras, uma área junto à concessão de manganés da Serra dos Feitais, onde já havia indícios sérios da existência de pirite.

Para a execução dos trabalhos de prospecção nas áreas que lhe foram adjudicadas, “Mines d’Aljustrel, S. A, “ firmou contrato com a “Lea Cross Geophysical Company”, que já tinha dado por terminada a sua campanha na região de S. Domingos.

Em resultado da actuação da Lea Cross, foi assinalada uma extraordinária anomalia gravimétrica (cerca de 1 mgal!), junto à concessão de manganés da Serra dos Feitais.

Com base nesta anomalia, foram efectuadas sondagens que evidenciaram concentração de pirite com dezenas de milhões de toneladas.

O Engenheiro ainda integrado na BPG, que, por minha iniciativa, fizera estágio na Mina de S. Domingos, em técnicas de prospecção geofísica e geoquímica, começou por me desiludir, quando se propunha deslocar-se a Aljustrel para solicitar aos técnicos da Lea Cross que lhe ajustassem o gravímetro para as latitudes do Sul do Pais onde estavam previstos trabalhos com este aparelho. Pedi-lhe o livro de instruções que devia acompanhar o aparelho e, em poucos minutos, resolvi o problema, apenas com uso de uma chave de fenda!

Para início da aplicação da gravimetria pela BPG, indiquei uma área da região de Montemor-o-Novo que incluía a mina da Herdade da Caieira, onde as investigações da BS tinham registado intensas anomalias electromagnéticas.

O objectivo era verificar se estas anomalias tinham apoio gravimétrico e, caso isso acontecesse, confirmar que nesta região poderiam existir jazigos de pirite idênticos aos da Faixa Piritosa Sul-Alentejana, hipótese já por mim exposta no relatório “Prospecção de Pirites no Baixo Alentejo” parcialmente publicado em 1955.

Constatei então, não haver na BPG técnicos preparados para efectuar os trabalhos de nivelamento geométrico rigoroso, indispensáveis às correcções que era necessário introduzir ás leituras do gravímetro, para chegar a valores que permitissem uma interpretação das anomalias da gravidade. Fui ainda eu a ensinar esses técnicos e outro pessoal a bem utilizar um nível que a Direcção do SFM tinha enviado muito desrectificado.

Na BS existiam já nessa data, não apenas técnicos com cursos superiores e médios aptos a bem trabalhar em topografia, mas também diverso pessoal assalariado que tinha sido adestrado por mim nesta técnica, dada a constante necessidade da sua aplicação. Todavia, para os nivelamentos exigidos pelos trabalhos mineiros, a seu cargo, era suficiente o nivelamento trigonométrico obtido com uso de taqueómetros.

Este levantamento gravimétrico não deu o apoio desejado, concluindo-se serem xistos negros carbonosos, com escassa disseminação de pirite, altamente condutores, os responsáveis pelas anomalias electromagnéticas.

Pouco tempo após a execução desta campanha, ocorreram alterações profundas na organização do SFM, uma das quais foi a extinção da BPG e a criação de um novo departamento extensivo a todo o território nacional, no qual ficaram integrados, entre outros, os trabalhos de geologia e de prospecção mineira. Este departamento, denominado 1.º Serviço ficou a meu cargo, tendo eu passado a ter residência no Porto, onde se situava a sede do SFM.

A esta nova organização e às suas consequências, já anunciadas no post sobre os grandes êxitos do SFM me referirei oportunamente.

domingo, 28 de setembro de 2008

13 – A Brigada de Prospecção Geofísica

A criação da Brigada de Prospecção Geofísica (BPG) foi mais um clamoroso erro do Director do SFM que exerceu o cargo no período de 1948 a 1964, trazendo como consequência graves prejuízos para a economia nacional, conforme irei demonstrar.

Uma BPG de âmbito nacional, na dependência do Director do SFM, teria plena justificação se houvesse projectos de todas as Brigadas regionais (Norte, Centro e Sul) envolvendo técnicas geofísicas e se tivesse sido possível nela integrar técnicos qualificados e interessados em dar cabal cumprimento a esses projectos.

A realidade foi, porém, bem diferente. Por um lado, apenas a Brigada do Sul (BS) apresentava, nos seus Planos de Trabalhos, projectos por variados métodos geofísicos. Por outro lado, só na BS existiam técnicos com experiência em alguns dos métodos geofísicos cuja aplicação estava prevista. Acresce que para a BPG foram destacados técnicos pouco interessados em se prepararem para a execução dos projectos da BS.

Para a chefia da BPG foi nomeado um Engenheiro que, na Brigada do Centro, tinha tido reduzido contacto com as técnicas de prospecção mais indicadas para a detecção de jazigos de minérios metalíferos. Tinha assistido à aplicação do método sísmico de refracção por empresa privada e, quando o SFM adquiriu um equipamento desta natureza, para o poder utilizar, teve que ser auxiliado durante vários meses por um dos engenheiros suecos que actuavam na Brigada de Prospecção Eléctrica.
Tenho conhecimento da aplicação de métodos eléctricos, com equipamento muito rudimentar, na região de Ponte de Lima, em prospecção de ouro em aluviões, sem resultados de interesse.

Para início da sua actuação, no Sul do País, escolhi a região de Cuba - Vidigueira, onde seria aplicado o método magnético com vista à detecção de jazigos magnetíticos.

Foi por meu intermédio, dadas as boas relações que mantive com Engenheiros da ABEM de Estocolmo, que foram adquiridos dois magnetómetros de compensação, de recente criação daquela Empresa sueca.

O trabalho de campo foi iniciado com a minha colaboração, pois verifiquei que os dois Engenheiros da BPE nem experiência tinham em piquetagem dos pontos a observar.

Para as observações magnéticas, a cargo de um Agente Técnico de Engenharia, foi posto em serviço apenas um magnetómetro, apesar da vastidão da área a investigar, ficando o outro de reserva, para o caso de ocorrerem avarias!
Os cálculos simples para a produção das cartas de variações da componente vertical do campo magnético (cartas de anomalias, eventualmente originadas por magnetite) eram efectuados primeiramente na Secção de Cuba - Vidigueira e depois conferidos na sede da Brigada em Beja, assim ocupando um a dois Engenheiros!!

Com a intenção de ensaiar a aplicabilidade do método magnético na detecção de jaspes que acompanham os jazigos de manganés e que apresentam, por vezes, pontuações de magnetite, solicitei ao Director o uso do magnetómetro que não estava em utilização, uma vez que a sua aplicação não representava qualquer dificuldade para a BS. Este pedido foi recusado!

Uma vez que a Faixa Piritosa Sul-Alentejana não tinha sido prospectada, na sua totalidade, durante a vigência do contrato com a Companhia sueca ABEM, propus e consegui que fosse aceite a aquisição de um equipamento Turam, para aplicação directa pelo SFM. Havia, além disso, muitas outras áreas, onde eu considerava indicado o uso deste método.
Natural seria que da aplicação deste equipamento se encarregasse a BPG.
Quando o equipamento chegou, em 1952, escolhi uma área na região de Ervidel - Santa Vitória, onde se situa a Mina de cobre da Juliana, em mancha de rochas porfíricas, para ensaio da sua qualidade e também para ensinar o engenheiro-chefe da BPG a poder utilizá-lo.
Aconteceu que o equipamento vinha defeituoso. Tive correspondência vária com a ABEM para procurar resolver as deficiências, o que acabei por conseguir.
Resolvido o problema, esperava que a BPG passasse a dar execução aos programas da BS que envolviam a aplicação desta técnica. Todavia, tal não acontecia e o equipamento permaneceu sem qualquer uso, encaixotado durante cerca de um ano.

No verão de 1952, a Empresa “Mason and Barry”, arrendatária da Mina de S. Domingos, reflectindo já um começo de mais sérias preocupações quanto ao futuro da Mina, face à rapidez de esgotamento das suas reservas minerais, sobretudo perante a ineficácia das campanhas de prospecção electromagnética na vizinhança da sua concessão, tanto à custa do SFM como a expensas suas, fez executar a primeira campanha de prospecção gravimétrica no País, com vista à detecção de jazigos de pirite.
Desta campanha, que cobriu uma área de cerca de 14 km2, se encarregou o Professor J. Bruckshaw do Imperial College of Science and Technology de Londres.

Aproveitando nova campanha do Professor Bruckshaw, na zona da Mina de S. Domingos, em 1953, procurei tomar conhecimento de pormenores da aplicação de método gravimétrico. Para isso, desloquei-me à Mina, acompanhado do Chefe da BPG.
Mais tarde, não por minha iniciativa, foi proposta uma estadia do Professor Bruckshaw em Beja, durante uma semana, como consultor do SFM, a fim de analisar os problemas de Geofísica deste Serviço e aconselhar soluções. Pela maneira como estes problemas tinham sido por mim formulados, fácil era prever que os procedimentos aconselhados coincidiriam com os que eu tinha proposto.
A grande utilidade da presença do Professor Bruckshaw seria dar, com a sua autoridade de Mestre, peso à s conclusões a que eu já tinha chegado.
Prevendo incompreensão da Direcção do SFM sobre as necessidades de equipamentos de prospecção, pedi ao Professor Bruckshaw que elaborasse um relatório no qual fizesse, sobretudo, sentir com veemência, a necessidade de aquisição de um gravímetro.
No seu relatório, de Outubro de 1953, Bruckshaw cumpriu, de facto, o que me prometera, escrevendo, a páginas 2 e 3:

… “One of the most promising tools in the search for many dense mineral deposits is the gravity meter. Thus, the massive pyrites of the type at Aljustrel and Mina de San Domingos, and also the manganese deposits, which occur in the same type of environment, should give gravity anomalies, which are well within the range of modern instruments.”

… “In view of its high cost, some proof of its usefulness would be desirable to justify the expense of purchasing a gravity meter. In Portugal, the ideal condition for a test exist in the pyrite deposit recently located by electrical methods at Aljustrel. I would recommend most strongly that a Worden Gravity Meter is tried for a suitable period (1 – 2 months) and a survey is made at Aljustrel to confirm its effectiveness in this type of problem.. On the basis of these results, a decision can be reached upon the advisability of acquiring an instrument for extended use for other problems.”

Em princípios de Novembro de 1953, em conformidade com instruções verbais do Director do SFM, tive, em Beja, uma conferência com o Chefe da BPG, tendo este ficado encarregado de transmitir ao Director do SFM a seguinte proposta, que tinha o nosso comum acordo:
1.º - Que a cargo do Chefe da BPG ficasse até solução, exclusivamente o ensaio com gravímetro no Cerro do Carrasco, para ajuizar da aplicabilidade deste instrumento;
2.º - Que a prospecção na área de Montemor – Orada, para eventual localização de jazigos de magnetite ficasse a cargo do outro Engenheiro daquela Brigada, o qual, durante um período de 3 a 4 meses se ocuparia exclusivamente de um ensaio na área de Cuba – Vidiguieira considerada favorável;
3.º - Que a aparelhagem Turam, recém – adquirida, fosse entregue à Brigada do Sul, em virtude da incapacidade da Brigada especializada para a pôr em funcionamento (eu tinha larga experiência daquele método, mercê da minha longa permanência na extinta Brigada de Prospecção Eléctrica).

Esta proposta, que não sei se chegou a ser apresentada do modo como se combinou, foi por mim transcrita em ofício que enderecei ao Director do SFM em 11-1-1954, a propósito de outro problema de prospecção geofísica.

Foi na sequência desta proposta, que começou a campanha de prospecção magnética à qual já fiz referência.

Começou, também, a aplicação do método electromagnético Turam, pela Brigada do Sul, cumulativamente com os trabalhos mineiros de pesquisa e reconhecimento de diversas minas, que até foram intensificados. Este método foi exaustivamente aplicado em todas as Secções da BS, com considerável sucesso, como oportunamente irei informar.

Quanto à gravimetria, esteve o Engenheiro Chefe da BPG, durante bastante tempo a fazer estudos de gabinete, com vista ao início das respectivas campanhas.

Veio também de novo a Portugal, como consultor do SFM, o Professor Bruckshaw, quase exclusivamente com o objectivo de completar a preparação deste Engenheiro em gravimetria.

Apesar disso, surpresa das surpresas, por Ordem de Serviço do Director do SFM o referido Engenheiro foi desligado da BPG, sem ter efectuado quaisquer trabalhos de gravimetria e sem que outro fosse designado para o substituir!

Tendo sido criada em 1954 a Junta de Energia Nuclear, na qual se incluía uma Direcção Geral de Serviços de Prospecção, este Engenheiro foi indigitado para fazer preparação em França, para vir a ser destacado para aquela Direcção-Geral, com vista a colaborar nos trabalhos de prospecção de minerais radioactivos.

Surpresa ainda maior! Este Engenheiro acabou por ser completamente desligado de actividades no âmbito da prospecção geofísica. Nem prospecção gravimétrica, nem prospecção de minerais radioactivos, em cuja preparação o País investiu avultados dinheiros, durante largos anos!!.
Esta total inutilidade foi premiada, alguns anos mais tarde (mais uma promoção por currículo negativo), com a nomeação do referido Engenheiro para dirigir um departamento designado por 2.º Serviço do SFM que tinha a seu cargo “Trabalhos Mineiros e Laboratórios”, isto é, todos os trabalhos de pesquisa e reconhecimento em curso ou a iniciar, em todo o território nacional e ainda a direcção de todos os Laboratórios então existentes no SFM. Escusado será dizer que, tanto numa como noutra matéria, era nula a sua experiência. Oportunamente, revelarei as óbvias consequências desta nomeação.

Fiz referência a dois casos de inadmissível passividade do Director do SFM.
O primeiro foi o enorme atraso consentido na aplicação do método gravimétrico pelo SFM, que teve como consequência só terem sido descobertas concentrações de pirite complexa, quando a pirite deixou de ter valor comercial, como minério de enxofre, por terem passado a existir outras fontes desta matéria prima de extracção muito mais económica. A pirite passou a ser considerada ganga de um minério com conteúdos de minerais de cobre, zinco, chumbo e outros metais, entre os quais podemos citar estanho e ouro.
O segundo foi a desistência de incluir nos programas do SFM a inventariação das existências de minerais radioactivos.
Não havia a mínima necessidade de criar a Direcção-Geral de Serviços de Prospecção de Minerais Radioactivos na Junta de Energia Nuclear para detectar a presença destes minerais. Na realidade, eram estes os minerais de mais fácil detecção, pois, como eu costumava dizer aos meus alunos da cadeira de Prospecção Mineira, que leccionei nas Faculdades de Ciências e de Engenharia do Porto: “estes minerais falam!”. No caso de jazidas aflorantes, e muitos casos destes ainda havia, até percorrendo itinerários apropriados, confortavelmente instalado em viatura, se poderia detectar a sua presença, levando auscultadores acoplados a aparelhos sensíveis às radiações emitidas pelos minerais radioactivos.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

12- A segunda Brigada de Levantamentos Litológicos

A criação da segunda Brigada de Levantamentos Litológicos (BLL) foi um dos grandes erros do Director do SFM que exerceu o cargo desde 1948 até 1964.

Na verdade, este Director, pela sua impreparação no domínio da Geologia, não se tinha apercebido de graves erros cometidos pelo Geólogo que nomeou para a chefia da BLL, quando participou em estudos da Brigada do Sul (BS), onde estava integrado.
São disso exemplos, os capítulos de Geologia de relatórios que constituem as publicações N.º 12 e 13, com data de 1946, da série “Relatórios do Serviço de Fomento Mineiro”.
O que lá se encontra escrito sobre a geologia da região de Cercal-Odemira e sobre a génese dos jazigos ferro-manganíferos que ali ocorrem, está totalmente errado e isto é indesculpável, porque já havia um estudo do Geólogo alemão Heinrich Quiring onde é referida a natureza ígnea das rochas da região, facto que é por ele ignorado.
Quanto à suposta génese dos jazigos, o que está escrito é simplesmente ridículo.

A nomeação deste Geólogo para a chefia da segunda BLL, tornando-a independente da BS, é um dos vários exemplos de promoção por currículo negativo que depois iriam verificar-se no SFM.

O âmbito de actuação desta BLL seria exclusivamente o Sul do País, isto é, a área atribuída a BS, com a finalidade de nela proceder à inventariação das existências de reservas minerais economicamente exploráveis.
Além disso, os seus programas, se sempre foram por mim estabelecidos, nunca puderam por mim ser controlados na execução. O Director do SFM também não deu atenção às observações, que a respeito da actuação desta BLL fui fazendo em Relatórios e Planos de Trabalhos.

Sempre considerei fundamental um bom apoio geológico para bem se cumprirem os objectivos do SFM. E tenho que reconhecer que tal nunca foi conseguido, apesar das muitas diligências que fiz nesse sentido.
A geologia, no campo, foi sempre um elo fraco dentre as fases necessárias ao cumprimento dos objectivos dos departamentos do SFM que chefiei.
Os melhores trabalhos nesta matéria ficaram a dever-se à intervenção de Geólogos estrangeiros que vieram utilizar o País para teses de doutoramento, ou estiveram integrados em equipas que cumpriam contratos de prospecção com o Estado Português.
São exemplos a tese de Strauss sobre as minas do Louzal, a tese de Van Den Boogard sobre a região do Pomarão, a tese de Klein sobre a região de Odemira.


A segunda BLL, que actuou apenas subordinada à Direcção do SFM durante 16 anos (desde 1948 até 1964), esteve muito longe de corresponder ao que seria desejável.

O que inicialmente lhe foi pedido foi a cartografia das manchas de calcários cristalinos da faixa que abrange as Minas de ferro de Montemor-o-Novo, Alvito, Orada e outras com menor expressão, pois era conhecida a associação entre os calcários cristalinos e o minério magnetítico que ocorre naquelas Minas.
À semelhança do procedimento adoptado na Faixa Piritosa, pretendia-se obter uma base geológica para uma segunda campanha de prospecção magnética extensiva a toda a área que passamos a denominar de Faixa Magnetítica, com aparelhos de muito maior sensibilidade que os utilizados em anterior campanha, a cargo da ABEM de Estocolmo.

Mais tarde, quando dois Agentes Técnicos de Engenharia, que estiveram destacados em Moçambique, regressaram ao SFM e quando foram dados por findos trabalhos de pesquisa e reconhecimento nas Minas de ferro de Alvito, a BLL passou a ter também a seu cargo as Secções de Vila Viçosa, Barrancos e Almodôvar, tendo as respectivas chefias sido confiadas aos Técnicos referidos.
Estas Secções foram criadas para dar cumprimento a Planos de Trabalhos da BS, elaborados com base na documentação compilada sobre a antiga actividade mineira no Sul do País.
Da consulta desta documentação, resultou salientarem-se como zonas cupríferas de elevado potencial as regiões de Vila Viçosa, Barrancos e Almodôvar.
À BLL competiria dar cumprimento à fase de geologia preparatória das fases seguintes de prospecção.

Os estudos da BLL foram de muito fraca qualidade, pouco tendo contribuído para as fases seguintes. No caso de Barrancos, por exemplo, ficou-se muito aquém do estudo de Nery Delgado, efectuado no século XIX, incluído no seu magistral trabalho sobre o Sistema Silúrico Português.

Em face desta situação, a BS conseguiu que na Faixa Magnetítica e nas Regiões de Barrancos e de Almodôvar se passasse rapidamente às fases seguintes, procurando colmatar as deficiências da BLL com novos levantamentos, muito mais pormenorizados, sobre base topográfica à escala 1:5000, sob a directa orientação de dois engenheiros da BS (eu e o engenheiro que tinha chefiado a primeira BLL).

A Secção de Vila Viçosa foi mantida em actividade quase simbólica até 1964 e, como não estava interessada na integração na BS, chegou até a iniciar trabalhos mineiros, para o que não estava vocacionada, assim introduzindo alguma indisciplina no SFM. Destes trabalhos, obviamente, apenas resultaram mais despesas inúteis.

Na tentativa de corrigir a fraca eficácia da BLL, ainda cheguei a propor ao Geólogo que a chefiava, a fusão das duas Brigadas (BS e BLL), comprometendo-me a fazer, junto do Director, as diligências necessárias para que ele pudesse melhor desempenhar a sua missão de Geólogo.
Esta minha ingénua proposta não foi, porém, aceite.
Todavia, após uma reestruturação do SFM, feita em 1964, à qual me referirei oportunamente, este Geólogo foi integrado em departamento por mim chefiado e, quando o confrontei com deficiências dos estudos de que o havia encarregado, que poderiam ter sido evitadas, lamentou não ter mais cedo aceite colaborar comigo.
Esta atitude tem semelhanças com a assumida por alguns Agentes Técnicos de Engenharia, quando, em 1948, assumi a chefia da BS.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

11 - Prospecção de Pirites no Baixo Alentejo

Do Relatório com este título, que apresentei, em 1955, constam os seguintes capítulos:

a) Introdução
b) Faixa Piritosa Portuguesa (Situação e topografia; Geologia; Os jazigos; O minério; A génese dos jazigos)
c) O método Turam (Princípio do método; Trabalho de campo; Trabalho de gabinete)
d) Áreas prospectadas. Trabalhos realizados em zonas de anomalias (Mina de S. Domingos; Alcaria Ruiva; Aljustrel; Castro Verde – Panoias; Caveira Louzal)
e) Considerações finais
f) Resumo
g) Peças desenhadas (I a XXXII)

Deste Relatório, foram publicados os capítulos a) a f) e as peças desenhadas I a IV. Das peças desenhadas V a XXXII constam mapas geológicos das áreas prospectadas; perfis geológicos dos trabalhos mineiros efectuados e os correspondentes perfis electromagnéticos que os justificaram; logs das sondagens.

O relatório, embora totalmente por mim elaborado, foi apresentado em co-autoria com o Engenheiro que dirigiu o levantamento litológico preliminar, à escala de 1:50.000, da Faixa Piritosa e me substituiu na chefia da Brigada de Prospecção Eléctrica, quando assumi a chefia da Brigada do Sul.
À actuação da primeira Brigada de Levantamentos Litológicos, chefiada pelo referido Engenheiro se ficou devendo a implantação das manchas de rochas porfíricas e diabásicas de Louzal, Aljustrel, Ervidel, Albernoa, Alcaria Ruiva e Castro Verde., na carta geológica que constitui o desenho I, As manchas de rochas porfíricas da região de Cercal – Odemira foram levantadas em cartas à escala 1:5.000, sob minha directa orientação e participação.

Pela sua importância e actualidade, transcrevo a seguir, o capítulo “Considerações finais”:

“ O problema de descobrir novos jazigos de pirite no Baixo Alentejo, em cuja solução o Serviço de Fomento Mineiro se acha empenhado, é, como todos os problemas de prospecção mineira, em países civilizados, de uma grande complexidade.

Já muito foi feito para a consecução daquele objectivo, mas muito há ainda a realizar.

Confiou o Serviço, quando se dispôs a iniciar os estudos, que a aplicação do método electromagnético, conjuntamente com rudimentares levantamentos geológicos, poderia conduzir a resultados interessantes e, em certa medida, assim aconteceu.

Foi possível, com aqueles meios, localizar uma valiosa concentração de pirite no Cerro do Carrasco, em Aljustrel, que levou depois á descoberta de uma outra, na sua sequência, no sítio do Moinho do Vale de S. João, talvez de maior importância ainda.

Este resultado, pelo acréscimo de riqueza que trouxe ao património nacional, justifica largamente todo o dispêndio efectuado com a prospecção geofísica e com os subsequentes trabalhos de confirmação.

Mas têm de se considerar excepção casos desta simplicidade.

O mais natural será que as massas minerais, se existentes, se encontrem a profundidades e em condições geológicas tais, que não provoquem anomalias electromagnéticas, suficientemente claras e pronunciadas, para serem, por si sós, susceptíveis de correcta interpretação.
Para as localizar, haverá que adoptar um programa de maior eficiência.

É nosso parecer que vale bem a pena dedicar ao assunto a melhor atenção, pois tem de continuar a admitir-se possível a existência de depósitos ocultos, nas vastas áreas que separam os jazigos conhecidos.

Se, em Espanha, numa extensão comparável à da faixa piritosa portuguesa, ocorrem mais de 40 jazigos, porque aceitar que a Natureza apenas nos tenha reservado 6?

Se os minérios de manganés e os jaspes que os acompanham são indicações da presença de pirites, um relance sobre o mapa mineiro do País mostra-nos, profusamente disseminados por toda a faixa, manifestações desta natureza.

Não podem considerar-se excluídas as possibilidades de qualquer das áreas já prospectadas pelo método electromagnético Turam. Há numerosas zonas de anomalias que julgamos não estarem devidamente explicadas. Para propor trabalhos, a casa sueca fez uma determinada selecção e, pode ter acontecido que a escolha não tenha sido a melhor.

Além disso, o método, por si só, não é eliminatório. Admitimos que lhe escapem jazigos economicamente exploráveis, quando situados a profundidades já razoáveis, digamos superiores a 50 metros. A malha adoptada (100 m x 20 m) pode, também, ter sido demasiado optimista quanto às dimensões a esperar das concentrações.

Tem o Serviço, no seu programa, a revisão metódica do trabalho efectuado nas áreas prospectadas pelo método Turam, utilizando outros métodos para o completar.
Está, além disso, previsto o estudo de diversas outras áreas onde, além de levantamentos litológicos preliminares, nada mais foi feito com o intuito de evidenciar novos jazigos de pirite.

São elas:
Área da Albernoa;
Bacia terciária do Sado;
Região de Almodôvar (continuação da faixa Castro Verde – Panoias já prospectada);
Região de Cercal – Odemira;
Grande mancha de pórfiros de Montemor a Serpa.

Na região de Albernoa, afloram, em vasta superfície, pórfiros de uma grande nitidez, entre as manchas de Ervidel e de Alcaria Ruiva. É provável a sua ligação com as primeiras, sob os depósitos terciários da Figueirinha; com as segundas não está definida a continuidade, parecendo perder-se para SW da Ribeira de Cobres.
Além de um filão com enchimento de quartzo e carbonatos, escassamente salpicado de malaquite, próximo da Ribeira de Cobres, não se conhecem nesta região outras manifestações cupríferas ou piritosas. Há, contudo, mineralizações manganíferas, em muitos locais, acompanhadas dos inseparáveis jaspes.

Tanto na mancha de pórfiros de Albernoa, como na de terrenos terciários da Figueirinha, terá cabimento a prospecção; na última, com maiores probabilidades de êxito.

A área da Bacia Terciária do Sado é, talvez, de todas, a mais auspiciosa. Com efeito, de encontro ao seu bordo oriental termina o jazigo de Aljustrel, sendo lícito esperar que exista uma parte rejeitada pela grande falha que tem sensivelmente a orientação daquele bordo: o jazigo do Louzal, do outro lado da bacia, situa-se a menos de 1 km do seu limite ocidental.
Com tais indicações extremas, a zona intermédia, oculta sob formações recentes, adquire um interesse excepcional.

O Serviço de Fomento Mineiro pediu a colaboração dos Serviços Geológicos, no estudo dos terrenos desta bacia, para avaliar da sua profundidade. Em face dela, determinar-se-ão quais os métodos a empregar para a detecção de concentrações porventura ocorrentes.

A área de Almodôvar a investigar não é, senão, a continuação para sudoeste da de Castro Verde . Panoias.
Não há, efectivamente, motivo ponderoso para não prosseguir a prospecção desta zona, antes de se abrangeram, na sua totalidade, as manchas de pórfiros e de se incluírem os filões de cobre que, em grande densidade aqui ocorrem, parecendo constituir uma região cuprífera digna de atenção. A sua litologia foi já sumariamente estudada pelo Serviço, com o objectivo primacial de demarcar as manchas de pórfiros.

A região de Odemira – Cercal, onde os recentes levantamentos litológicos do Serviço têm evidenciado extensas formações de pórfiros graníticos e felsíticos, felsitos e diabases, é recortada por numerosos jazigos filonianos, preenchidos, nos níveis superiores por óxidos de ferro e manganés e manifestando, nos inferiores, a presença de carbonatos dos mesmos metais. Embora apenas em minúsculas pontuações nos carbonaros, foram identificadas galena, blenda e pirite numa sondagem profunda levada a efeito no filão mais importante da região – o da Serra do Rosalgar.
Filões com enchimento característico do tipo BGPC, com ganga de carbonatos de ferro e manganés, parcialmente alterados para óxidos, foram também por nós encontrados, nas proximidades de Odemira, em aparente correlação com as formações porfíricas da região.

É nossa convicção que os jazigos de ferro e manganés de Odemira – Cercal poderão evoluir, em profundidade, para filões do tipo BGPC, com a ganga carbonatada que, nos níveis superiores, seria a sua constituinte exclusiva e, por meteoração, teria originado os óxidos. Com base nesta hipótese, propusemos, em 1953, uma sondagem orientada segundo a vertical, com cerca de 300 m de comprimento, a qual não chegou porém a ser executada, por não dispor, então, o Serviço, de material que lhe permitisse encarar afoitamente tal trabalho.

Cremos dever ainda admitir-se a possibilidade de ocorrência de massas de pirite, semelhantes às de S. Domingos, Aljustrel ou Louzal, porquanto o ambiente geológico da região é, de certo modo, análogo.

A faixa de pórfiros de Montemor-o-Novo a Serpa, por se encontrar já relativamente distanciada da tradicional faixa piritosa e por a actividade nesta absorver já, suficientemente, a atenção do Serviço, tem sido relegada para um plano secundário.
Julgamos, contudo, existirem certas afinidades entre ambas as faixas, Das manifestações piritosas com ela relacionadas poderemos citar as de Caeira de Cabrela, Toca da Moura, Caeirinha, etc.
Projecta o Serviço, brevemente, levar a efeito, pela sua Secção de Montemor-o-Novo da Brigada do Sul, o levantamento electromagnético de várias zonas, onde se procedeu já aos levantamentos litológicos prévios e, entre elas figura uma que abrange as minas acima referidas e várias outras de importância secundária, algumas descobertas através dos trabalhos do Serviço.
Nesta região são de assinalar contactos de pórfiros com calcários, os quais são locais de eleição para mineralizações oriundas de fenómenos de pirometassomatismo.

Os meios empregados até aqui não estão, como dissemos, em proporção com a complexidade do problema.
As despesas com uma campanha devidamente organizada serão necessariamente grandes, mas procurar reduzi-las à custa da utilização de métodos de menor eficiência trará, como consequência, não poder garantir-se esgotada, para as possibilidades dos processos actuais, qualquer zona, no que respeita à existência de minérios no subsolo e, no fim, acabar por fazer-se maior dispêndio em sucessivos estudos das mesmas áreas, com a desvantagem de protelar a sua valorização.

Os jazigos que podem ser revelados, como o do Cerro do Carrasco, pagam liberalmente as despesas que venham a efectuar-se.

Se quisesse fazer-se a compensação dos dispêndios totais, até à data, no Alentejo, em prospecção de pirites, com a única descoberta de valor prático, o minério já evidenciado viria onerado, por tonelada, em pouco mais de 1% do seu valor actual. Tudo indica que esta percentagem venha a diminuir, por virtude do aumento de reservas certas, consequente dos trabalhos de reconhecimento.

Somos de opinião que o prosseguimento da campanha de prospecção de pirites, para ter a eficácia pretendida, deverá contar com a cooperação efectiva de especialistas em geologia aplicada e prospecção geofísica, integrados na equipa de estudo, de modo a poder cumprir-se o seguinte programa:

a) Estudo minucioso das condições geológicas de ocorrência dos jazigos de pirite, actualmente em lavra activa, em colaboração com as empresas concessionárias, com amplo recurso aos métodos de exame microscópico, químico e espectrográfico, tanto do minério cómodas rochas encaixantes e circunvizinhas.
b) Estudos geológicos sistemáticos de campo, em toda a área da faixa piritosa, acompanhados, de perto, por investigações laboratoriais, procurando, essencialmente, encontrar ambientes geológicos idênticos aos dos jazigos conhecidos.
c) Aplicação conjunta de métodos vários de prospecção geofísica, em especial dos eléctricos, electromagnéticos, gravimétricos e magnéticos, seguida de novas investigações geológicas nas áreas que se apresentem mais prometedoras, visando uma interpretação o menos aleatória possível, das causas das anomalias que se registem. (Não temos notícia da ocorrência de pirrotite no minério das minas de pirite portuguesas. Contudo, o seu aparecimento em minérios idênticos do país vizinho, leva-nos a considerar o método magnético susceptível de contribuir para a descoberta de novos jazigos).
d) Eventual utilização de métodos geoquímicos, se ensaios prévios lhe mostrarem possibilidades.
e) Execução de trabalhos mineiros e sondagens, para esclarecimento das anomalias geofísicas, logo que haja um número suficiente destas merecedor de exame.

Não convirá ter a prospecção geofísica muito avançada sem os seus resultados serem devidamente aferidos, por métodos de observação directa; podem tornar-se aconselháveis modificações nos processos utilizados, para os tornar mais apropriados para os fins em vista.

Todos os estudos a que nos vimos referindo podem e devem, em nosso entender, estar a cargo de técnicos portugueses que hajam, para o efeito, adquirido a necessária especialização, conforme prevê o Decreto-lei de criação do Serviço.
Só aceitamos a intervenção de técnicos de outras nacionalidades, como consultores ou em execução de campanhas de curta duração, principalmente com o propósito de proporcionar instrução a pessoal português.
A favor deste modo de proceder falam, não só a economia como o próprio interesse no assunto, que não poderá esperar-se de outros superior ao dos nacionais.
Ainda que fosse inviável, ou desaconselhada por demasiado especializada, a execução directa pelo Serviço, de determinados estudos, o que não cremos possa vir a acontecer, porquanto o Ultramar é vasto campo onde a especialização adquirida teria sempre ocasião de frutificar, é indispensável para uma eficiente fiscalização, um amplo conhecimento das matérias a fiscalizar.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

10 – A minha insistência no estudo da Faixa Piritosa

A Companhia sueca ABEM, detentora da patente do método electromagnético Turam, quando confrontada com a profundidade até onde o método teria capacidade para detectar jazigos de pirite, sempre afirmou que jazigos profundos seriam detectáveis, se contivessem reservas susceptíveis de exploração remuneradora. Os mais profundos, para serem exploráveis, teriam de ter maior volume, o que facilitaria a sua detecção.

Não foi esta, porém, a minha conclusão, depois de terminados os trabalhos recomendados no relatório final da Companhia, respeitante à campanha de 1944-49.

Na verdade, a maioria dos trabalhos realizados pelo SFM (sobretudo sondagens) por recomendação da ABEM, encontrou xistos carbonosos e grafitosos, com pequena impregnação de pirite, os quais, sendo bons condutores eléctricos, geraram anomalias do campo electromagnético idênticas às que seriam de esperar de jazigos de pirite. Como estes xistos afloravam, descoloridos à superfície, impediam a penetração do campo primário (indutor), tornando indetectáveis, neste ambiente geológico, os procurados jazigos de pirite.

O grande êxito conseguido com a descoberta dos jazigos de Cerro do Carraço e Moinho, não me fez, pois, esquecer as limitações do método Turam.

Por isso, passei a fazer figurar, a partir de 1951, nos Planos da Brigada do Sul, trabalhos de prospecção por outros métodos, com vista à descoberta de jazigos de pirite.

Assim, no Plano para 1952, apresentado em 8-6-1951, escrevi, a pág. 6, a propósito da Bacia Terciária do Sado.
…“Prováveis campanhas de prospecção sísmica e gravimétrica,… executadas, separadamente ou em conjunto, com vista à detecção de massas de pirite semelhantes às em exploração na chamada Faixa Piritosa Alentejana”.

No Plano para 1953, elaborado em 24-6-1952, escrevi, a pág. 5:
“Ensaio do método gravimétrico de prospecção para a detecção de massas de pirite semelhantes às em exploração na Faixa Piritosa".
… Na hipótese de se provar ser o método aplicável, e há razões para crer que o seja, se se empregar um dos modernos tipos de gravímetros e se a profundidade a que se encontre uma possível massa de pirite não for excessiva, poderá ensaiar-se igualmente nas áreas já prospectadas ou a prospectar com o Turam, onde se registaram anomalias de interesse.
… Sendo os princípios em que os dois métodos se baseiam inteiramente diferentes, da sua aplicação poderia resultar uma maior segurança na localização dos trabalhos de confirmação e, consequentemente, um menor dispêndio.”

Em 13-6-1953, escrevi, no Plano de Trabalhos da Brigada do Sul para 1954, a pág.4 do capítulo E - Pirites, o seguinte:
“Ensaios com gravímetros sobre massas minerais conhecidas, especialmente na revelada pelo Turam no Cerro do Carrasco, na concessão de S. João do Deserto e Algares.
... Prospecção gravimétrica na região do Louzal, onde foram assinaladas anomalias com o Turam provenientes da alta condutividade de xistos carbonosos e grafitosos e, onde portanto, as possibilidades mineiras se mantêm."


Além da Faixa Piritosa, muitas outras áreas foram incluídas nos Planos da Brigada do Sul para investigação por técnicas geofísicas.

Por essa razão, o Director do SFM decidiu criar, em 1952, uma Brigada de Prospecção Geofísica, na sua directa dependência. À actuação desta Brigada me referirei oportunamente.

Devo, desde já registar que, apesar de continuar a incluir, nos Planos da Brigada do Sul, a realização de trabalhos por métodos geofísicos (com preferência pelo gravimétrico) e geoquímicos, só em 1962 (!) foi possível iniciar a aplicação directamente pelo SFM da técnica gravimétrica.

Do artigo “PROSPECÇÃO DE PIRITES NO BAIXO ALENTEJO”, publicado em 1955, respigarei no próximo post, pela sua extrema importância e actualidade o que escrevi no capítulo “Considerações finais”.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

9- O primeiro grande êxito do SFM

A primeira grande descoberta do SFM aconteceu, na região de Aljustrel e foi consequência da aplicação de método electromagnético Turam.

Na concessão mineira de S. João do Deserto e Algares, entre os dois núcleos de exploração, denominados de S. João do Deserto e de Algares, foram descobertas concentrações de minério composto de pirite, calcopirite, blenda, galena e vários outros minerais, que foram denominadas de Carrasco e Moinho, as quais, segundo recentes avaliações, contêm reservas de cerca de 44 milhões de toneladas.

Esta descoberta está descrita, em pormenor no artigo publicado em 1955, no Volume X de “Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro”, com o título “PROSPECÇÃO DE PIRITES NO BAIXO ALENTEJO” de que eu fui o principal autor.
A este artigo me referirei, no próximo post, de modo mais circunstanciado, porque ele tem sido “convenientemente” ignorado em posteriores publicações sobre a Faixa Piritosa.

Está, também, descrita no artigo publicado, em 1958, pela “EUROPEAN ASSOCIATION OF EXPLORATION GEIPHYSICISTS (EAEG)”, sob o título “THE DICOVERY OF A NEW OREBODY WITHIN THE PYRITIC BELT OF PORTUGAL BY ELECTROMAGNETIC PROSPECTING”, de que eu sou autor único.
Este artigo está incluído em volume intitulado “GEOPHYSICAL SURVEYS IN MINING. HYDROLOGICAL AND ENGINEERING PROJECTS”, do qual constem outros êxitos, a nível mundial.

Esta descoberta passou a ser citada em livros de texto, como exemplo das potencialidades do método electromagnético Turam.
Está mencionada no livro do Professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Paris, P. Routhier, publicado em 1963, sob o título “Les Gisements Métallifères”.
Está, também, mencionada no livro do Geofísico Investigador da Boliden Mining Company (Suécia), intitulado “Principles of Applied Geophysics”, que foi publicado em 1972.

Carrasco e Moinho foram tão perfeitamente evidenciados pelo método electromagnético Turam, que a Companhia sueca ABEM passou a mencionar o artigo de minha autoria, publicado pela EAGE, nos seus folhetos de propaganda.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

8 – A primeira Brigada de Levantamentos Litológicos

Esta Brigada foi instituída para dar o cumprimento possível a uma das fases iniciais da prospecção na Faixa Piritosa Sul-Alentejana, que tinha sido descurada, quando foi criada a Brigada de Prospecção Eléctrica. A fase de documentação também não tinha sido cumprida, mas rapidamente foi conseguido acesso a informação sobre os jazigos de pirite nacionais e espanhóis e a artigos publicados, sobretudo na conceituada Revista norte-americana Economic Geology, acerca de estudos geológicos e mineralógicos de jazigos espanhóis. A Brigada de Levantamentos Litológicos deveria, essencialmente, delimitar, em cartas à escala 1:50000 (as únicas disponíveis, nessa data), as manchas de pórfiros. Chefiada por um Engenheiro de Minas recém-formado, esta Brigada teve, como auxiliares, um a dois trabalhadores assalariados recrutados localmente, que foram industriados na colheita de amostras e na sua localização em mapas. Estabeleceram-se sedes ao longo da Faixa (Mértola, Entradas, Castro Verde, Grândola), e delimitaram-se as manchas de pórfiros, com recurso, quase sempre, à simples observação macroscópica. Em casos duvidosos, foram enviadas amostras para a sede do SFM, para que, através do exame microscópico efectuado por um colaborador (professor universitário, contratado pelo SFM), se fizesse a correcta classificação. Esta colaboração esteve longe de constituir o apoio que seria expectável, pois amostras que foram classificadas como cloritoxistos com porfiroblastos de calcite eram, como mais tarde se concluiu, espilitos, e isso do ponto de vista da associação com os jazigos de pirite, tem muita importância. Apesar da escassez de meios, foi possível demarcar, em pouco mais de dois anos, as principais ocorrências de rochas vulcânicas da Faixa. Mas o mérito principal desta Brigada foi a revelação das grandes manchas de rochas vulcânicas da Região de Castro Verde – Almodôvar, onde muitos anos mais tarde viria a ser descoberto o já célebre jazigo de Neves – Corvo. Esta Região não era, antes considerada como fazendo parte da Faixa Piritosa.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

7 – A Brigada de Prospecção Eléctrica do SFM

A Brigada de Prospecção Eléctrica representou um importante marco na modernização do SFM.

Instituída em 1944, tinha por objectivo investigar, por um método moderno, a totalidade da Faixa Piritosa Sul-Alentejana, tal como era, então conhecida.

Para o efeito, foi contratada a Empresa sueca ABEM, especializada no método electromagnético Turam.

Inicialmente, o quadro de técnicos ficou constituído por 2 Engenheiros suecos (os especialistas do método) e por um grupo de técnicos portugueses (eu, investido na qualidade de Engenheiro Chefe da Brigada e 5 Agentes Técnicos de Engenharia).
Para trabalhos de campo e de gabinete, foram recrutados, localmente, 15 a 20 trabalhadores assalariados.

Após poucos meses de actividade, já o pessoal português dominava perfeitamente a técnica, restando aos Engenheiros suecos a resolução de avarias que pudessem ocorrer nos equipamentos e a interpretação dos resultados da aplicação do método.

Chegou-se rapidamente à conclusão de que a maior parte das tarefas de que estavam encarregados os Agentes Técnicos de Engenharia poderia sem prejuízo da qualidade e até com benefício no rendimento, ser desempenhada por alguns elementos do pessoal recrutado localmente, que tinham revelado excepcionais qualidades de aprendizagem.

Quatro dos Agentes Técnicos de Engenharia regressaram, então, à Brigada do Sul, onde poderiam desempenhar actividade mais de acordo com a sua formação.

Constituiu-se, assim uma valiosa e pouco dispendiosa equipa, que realizava, sob a orientação de mim próprio e do Agente Técnico de Engenharia que permaneceu na Brigada, os seguintes trabalhos:
a) Implantação no terreno, com uso de taqueómetro, de estacas devidamente referenciadas, num sistema de coordenadas em conformidade com a prevista orientação dos jazigos, com vista às subsequentes observações pelo método electromagnético;
b) Colocação, num alinhamento previamente piquetado, de um cabo condutor com a extensão média de 4 km, ligado à terra em ambos os extremos, pelo qual se fazia depois passar uma corrente alterna com a intensidade de cerca de 2 Amperes e uma frequência de 500 ciclos por segundo;
c) Observações no aparelho Turam, ao longo de perfis perpendiculares ao cabo condutor, e registo das respectivas leituras;
d) Cálculos simples no gabinete e implantação dos perfis geofísicos em folhas de papel milimétrico;
e) Elaboração, no campo, em papel milimétrico, de um “croquis” topográfico (planimetria), à escala 1:10000, das áreas prospectadas, com base no reticulado da piquetagem. Este “croquis” tornava-se indispensável, por se dispor, então, apenas de mapas à escala 1:50.000.

Foram os elementos principais desta equipa que transitaram da Mina de S. Domingos, onde tinham sido recrutados, para Aljustrel e depois para a Mina da Caveira, para dar execução ao projecto de investigação da Faixa Piritosa-Sul-Alentejana.

Já em Aljustrel, informei o Director do SFM que me sentia apto a dirigir totalmente os trabalhos de campo, cumulativamente com as funções inerentes à chefia da Brigada, podendo assim dispensar-se um dos Engenheiros suecos, A sugestão foi aceite pela ABEM, com considerável diminuição das despesas.

Em 1947, já a primeira Brigada de Levantamentos Litológicos tinha dado por finda a sua actuação, tendo o Engenheiro que a chefiava sido integrado na BPE.

Quando, em 1948, fui nomeado Chefe da Brigada do Sul, ficou este Colega a substituir-me, contando com a minha colaboração.

Estava, então, em investigação a área de Panoias - Castro Verde, na qual tinham sido evidenciadas, pelos levantamentos litológicos, potencialidades antes desconhecidas para a ocorrência de jazigos de pirite,

Não foi completamente investigada esta área, como não foram outras áreas com idênticas potencialidades.

O Director do SFM, na sua preocupação de dar por terminados estudos que estavam em curso, antes da sua conclusão, ordenou a extinção da Brigada de Prospecção Eléctrica, fazendo transitar para a Brigada do Sul o engenheiro que a chefiava.


Tive, pois, que continuar a incluir nos Planos de Trabalhos da Brigada do Sul, investigações na Faixa Piritosa Sul-Alentejana.

O relatório final com a interpretação dos resultados desta campanha de prospecção electromagnética, pelo método Turam, apresentado pela ABEM, recomendava a realização de sondagens e alguns trabalhos mineiros, com base em anomalias consideradas como podendo atribuir-se a jazigos minerais.

Aos resultados destes trabalhos irei referir-me em próximo post..

sábado, 6 de setembro de 2008

6 - A organização do SFM, no período de 1948 a 1964

O novo Director, nomeado em 1948, não foi feliz nas alterações que introduziu, na Orgânica que vigorava anteriormente.
Ele não tinha nem a cultura geral nem o espírito de iniciativa que caracterizaram o seu antecessor.

A sua preocupação não foi, como se impunha, alargar o âmbito de acção do SFM a novas áreas que mereciam estudo, mas antes extinguir núcleos de actividade, sem que estivessem investigadas as novas potencialidades que se iam revelando.

Pelo que me diz respeito, o ambiente não se tornou estimulante.

Nunca percebi a razão pela qual esteve durante um ano por cumprir a promessa do seu antecessor de me promover à categoria em que esteve investido o anterior Chefe da Brigada do Sul, mantendo vago o lugar que estava previsto no Quadro de Engenheiros do SFM.

Relativamente à Brigada que eu ia chefiar, uma das suas primeiras medidas foi colocar o Geólogo que nela estava integrado, na sua directa dependência, criando para ele uma segunda Brigada de Levantamentos Litológicos, sem que estivesse definido o seu âmbito de actuação.

Não se me afigurava, pois, fácil o início da minha actuação como Chefe da Brigada do Sul.
Se me faltaram os estímulos do Eng.º António Bernardo Ferreira, sobraram perspectivas sombrias que me foram profetizadas por alguns dos técnicos que deixavam a Brigada para prestarem serviço em Moçambique.

Um dos engenheiros mais categorizados até vaticinou que eu não iria ter êxito nas minhas novas funções, pois, se o seu Chefe - que também fazia parte do Grupo que iria para Moçambique - sendo técnico “muito mais despachado” que eu, nada tinha conseguido, eu não deveria ter a veleidade de acreditar que poderia vir a valorizar, de modo significativo, a região, do ponto de vista mineiro.
Tendo-lhe chamado, por exemplo, a atenção para as potencialidades da Faixa, onde ocorrem os jazigos de magnetite de Montemor-o-Novo, Alvito e Orada, justificativas de estudos aprofundados, idênticos aos que estavam em curso na Faixa Piritosa Sul-Alentejana, manifestou total descrença.
“A Brigada do Sul estava gasta”, na sua expressão.

Por outro lado, um dos Agentes Técnicos de Engenharia do Grupo que ia para Moçambique, avisou-me de que eu iria encontrar “resistência passiva” da parte dos seus colegas que cá permaneceram.
Lembrava-se ele da sua passagem pela Brigada de Prospecção Eléctrica (BPE) e do nível de exigência nesta Brigada, que me fizera criar a fama de rigoroso, em contraste com a tolerância e até laxismo que existia em outros núcleos do SFM.
A BPE chegou a ser apelidada de Tarrafal (!).
Por ela tinham passado, em regime de rotação, quase todos os Agentes Técnicos de Engenharia da Brigada do Sul, os quais eu viria, de novo, a encontrar nas minhas novas funções.
Um deles, o mais competente, tinha sido, para lá, destacado em cumprimento de castigo!

Devo, desde já, esclarecer que nenhuma destas profecias se concretizou. Relativamente à chamada “resistência passiva” dos Agentes Técnicos de Engenharia que permaneceram ou ingressaram para substituir os que foram para Moçambique, apenas notei num deles alguma dificuldade inicial em aceitar as normas mais exigentes que eu tinha instituído. Todos os outros se tornaram excelentes colaboradores, desistindo da atitude negativa, que tinham planeado, ao verificarem que afinal os tratava como companheiros e amigos. A eles se ficou devendo parcela importante dos êxitos que posteriormente se obtiveram, aos quais farei oportunamente referência.

Quanto à “fuga” do Geólogo, a que o Director deu cobertura, interpretei-a como originada pela fama de rigoroso que me foi criada.

Quando assumi a chefia da Brigada do Sul, decorriam, com muita dificuldade e de modo pouco profissional, sobretudo pela inexperiência dos técnicos recém-formados que deles foram encarregados, trabalhos rudimentares (sanjas, galerias, poços) nas Secções de Montemor-o-Novo, Alvito, Moura e Cercal de Alentejo, para pesquisa ou reconhecimento de antigas minas.
Eu também não tinha, então, experiência em trabalhos desta natureza, visto ter passado os quatro primeiros anos da minha vida profissional dedicados à prospecção geofísica, com actividade à superfície.
Mas não foi difícil com a preparação adquirida na Universidade, introduzir alterações visando a segurança dos trabalhos, a colheita sistemática de dados para elaboração de futuros orçamentos constantes de projectos a submeter a apreciação superior, o registo completo com as indispensáveis peças desenhadas dos resultados de todos os trabalhos, etc. Faço referência a estes temas porque eles estiveram muito descurados, havendo, casos em que a segurança dos trabalhadores esteve em sério risco. E, no que respeita a orçamentos, houve um caso em que, nem com três pedidos de “reforço de verba”, como lhes chamaram, foi possível dar cumprimento a projecto submetido a apreciação do Conselho Superior de Minas.

Na Secção de Cercal do Alentejo, a mais importante da Brigada, havia, embora em mau estado por ter sido adquirido já com muito uso, algum equipamento de perfuração mecânica, ventilação e esgoto para cumprimento de projecto superiormente aprovado.
Nas outras Secções a actividade decorria de modo artesanal para investigação de pequenas ocorrências de minérios diversos, com predomínio do ferro. Não havia equipamentos para perfuração mecânica, sendo os furos para colocação de explosivo abertos à broca e à maça, com rendimentos ridículos!

Reconhecendo não ser esta a maneira de concretizar os verdadeiros objectivos do SFM e, tendo em conta a experiência adquirida na Brigada de Prospecção Eléctrica, depressa comecei a incluir nos Planos de Trabalhos da Brigada do Sul, o cumprimento das fases iniciais da prospecção, antes da execução dos dispendiosos e lentos trabalhos mineiros.

Era minha intenção que fossem realizados na Brigada do Sul estudos geológicos sérios e campanhas de prospecção por métodos geofísicos vários (gravimétrico, magnético, eléctricos, electromagnéticos) e geoquímicos.

O Director, que já tinha criado a 2.ª Brigada de Levantamentos Litológicos na sua directa dependência, decidiu criar uma Brigada de Prospecção Geofísica também na sua dependência, para a execução dos projectos da Brigada do Sul.

Decidiu, também, criar uma Brigada especializada em sondagens.

No Norte e no Centro do País, as actividades foram declinando progressivamente, acabando por se concentrar na sede do SFM no Porto a direcção da quase totalidade dos poucos trabalhos que se mantiveram. Dos programas no Norte e Centro não constavam investigações por métodos modernos de prospecção, como já tive ocasião de mencionar, em post anterior.

À actuação das duas Brigadas de Levantamentos Litológicos, da Brigada de Prospecção Geofísica e da Brigada de Sondagens irei referir-me, em próximos posts.

Á Brigada do Sul ficou, pois, reservada a investigação por trabalhos mineiros clássicos.

Em futuro post, referirei como supri deficiências flagrantes da 2.ª Brigada de Levantamentos Litológicos e da Brigada de Prospecção Geofísica.

Descreverei, também, a história dos principais êxitos obtidos pelas equipas que, sob minha orientação e participação fizeram investigações por trabalhos mineiros clássicos.