sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

192 - Um novo Plano Mineiro Nacional. Continuação 16

Em 1984, o Conselho de Ministros mandou apresentar um novo Plano Mineiro Nacional, visando melhor aproveitamento dos nossos recursos minerais.

José Goinhas, pretendendo contribuir para a sua elaboração, assumiu o encargo de relatar a história da “Prospecção mineira em Portugal”.

Tenho vindo a analisar, desde o post N.º 178, o documento publicado no Boletim de Minas, da autoria daquele Geólogo.

Passei já em revista as fases, que deviam ter precedido e justificado a passagem à fase de sondagens.

Salientei não ter sido respeitada a regra elementar de utilizar criteriosamente as verbas disponíveis, mormente tratando-se de dinheiros públicos, obedecendo à velha recomendação:
“Always send the cheapest man first”

Revelei 8 casos, em que, relativamente a esta fase de sondagens, a contribuição de Goinhas foi francamente negativa.

Goinhas ou não consultou a abundante documentação disponível, principalmente nos designados “relatórios internos”, ou evitou denunciar os dirigentes dos denominados "serviços oficiais", que menosprezaram aquela norma elementar.

Vou continuar a citar casos de arbitrariedades e prepotências, com total impunidade dos responsáveis pelos prejuízos ocasionados à economia nacional.

9 - A retoma das sondagens na Região de Vila Nova de Cerveira –Caminha – Ponte de Lima

No N.º 2 do post N.º 190, revelei que o Director-Geral de Minas, Soares Carneiro, ordenou a suspensão da campanha de sondagens, na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, quando estava projectado o furo N.º 69.

Dava-se, então, a feliz circunstância de este furo ser, dentre todos os projectados, na Região, talvez o que apresentava mais sólidos fundamentos (bom apoio geológico, geofísico e geoquímico).

Tais fundamentos vieram a ser plenamente confirmados por Union Carbide, quando esta Companhia americana, através de contrato que celebrou com o Estado, conseguiu estender a sua acção à área que abrangia o local seleccionado para a implantação desse furo.

Ficou amplamente demonstrada a despudorada falsidade dos argumentos que o Director-Geral apresentou, para justificar a sua arbitrária decisão.

O Engenheiro Soares Carneiro foi, entretanto, exonerado e substituído no cargo de Director-Geral, pelo Geólogo Alcides Pereira.

Já me referi a atitudes ainda mais prepotentes do novo Director-Geral, que o levaram à inacreditável ordem de proibição de eu realizar trabalho de campo!!!!

Uma vez mais se confirmava a famosa lei de Murphy!

Em relação com esta inconsciente ordem, foram, malevolamente, provocados incidentes, em consequência dos quais, o Geólogo Viegas teve finalmente o êxito que não conseguira, durante a permanência de Soares Carneiro e de Múrias de Queiroz, em cargos directivos.

Desta vez, o Geólogo Viegas, na qualidade de Chefe de Divisão, conquistada na vaga de assaltos a cargos de chefia a que me tenho referido, conseguiu, não só apropriar-se da Secção de Caminha, mas também aliciar o Engenheiro Laurentino Rodrigues, tornando-o cúmplice das suas disparatadas decisões.

Lembro a minha preocupação em preparar Laurentino para o exercício cabal da profissão, pensando que poderia substituir-me, quando me aposentasse (Ver posts N.ºs 116, 117, 143, 152, 155, 158, 188).
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Sou induzido a crer que o “relatório circunstanciado”, exigido por Alcides Pereira, para poder programar convenientemente as actividades da DGGM (sic) (Ver post N.º 156), tenha tido por objectivo facultar a Viegas, rápidos êxitos, que o creditassem como conceituado prospector.

Tal atitude, não seria, aliás, inédita. Os casos de Soares Carneiro e Delfim de Carvalho são disso bons exemplos. Também estes julgaram fácil obter sucessos, usurpando trabalhos que outros, metodicamente, vinham preparando.

Na posse do “relatório circunstanciado”, que fui compelido a entregar, com o texto ainda incompleto e só parcialmente dactilografado, Viegas logo se deslumbrou com as anomalias geofísicas e geoquímicas, representadas em muitas das 246 peças desenhadas.

Não tendo preparação nas técnicas aplicadas e sendo até muito inexperiente em matéria de Geologia, fez uma selecção errada das anomalias que deviam ser investigadas por sondagens.

Extasiou-se com anomalias magnéticas de grande intensidade, não percebendo que, dadas as suas características, facilmente seriam explicadas com simples sanjas.
Revelou, também, não saber distinguir estratificação de xistosidade e, por isso, acabou por mandar executar sondagem paralelamente à estrutura que pretendia investigar!!!!.

Foi Isto que constatei, em aula de campo aos meus alunos da Faculdade de Ciências do Porto, na qual tive a colaboração de alunos e professores da Universidade de Aveiro, que costumava convidar para estas aulas práticas.

Estando proibido de realizar trabalho de campo, usava, para poder dar aulas, autocarro contratado pela Faculdade de Ciências do Porto e equipamentos cedidos pela Faculdade de Engenharia do Porto e pelo Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro!!!

Aproveito a oportunidade para revelar que nunca me foi possível dar aulas de campo de gravimetria, aos alunos das Universidades, por estes estabelecimentos de ensino superior não possuírem, então, gravímetros e por não me ter sido disponibilizado, embora por curtíssimo período, um dos dois aparelhos, que tinham sido adquiridos para o SFM, por minha exclusiva iniciativa, após árdua luta de mais de uma dezena de anos (Ver post N.º14)

Uma vez mais recordo a promessa pública de Alcides, despudoradamente desrespeitada, de prestar toda a colaboração às Universidades, para que estas produzissem bons técnicos (Ver post N.º 160)

Fiquei com curiosidade sobre se tinham sido feitas determinações de susceptibilidades magnéticas, nos testemunhos desta sondagem, para saber se a anomalia magnética foi explicada.
Laurentino tinha conhecimento de que era prática corrente no Serviço de Prospecção sob minha chefia, encontrar sempre explicação para as anomalias que se investigavam.
Tenho, porém, sérias dúvidas de que tais determinações tenham sido feitas.

A retoma da campanha, que tinha sido interrompida, quando estava projectado um dos mais prometedores furos, foi, pois, extremamente infeliz.
A sua primeira sondagem teve resultados nulos, como era fácil de prever, pois se apoiava em errada interpretação de anomalia magnética,

Deste novo fiasco de Viegas, a adicionar ao de Cravezes e a outros que se lhe seguiram, iria resultar a extinção da Secção de Caminha, sendo certo que muito ficou por investigar, dentro do programa que eu vinha dirigindo, com a participação de 4 a 5 funcionários, que haviam sido admitidos, nos locais de trabalho, apenas com a instrução primária!!”

Como comentários finais, ocorrem-me os seguintes:

a) É surpreendente que, ao aprovar a sondagem projectada por Viegas, tenha sido esquecida a urgente necessidade de programar convenientemente as actividades da DGGM.(Ver post N.º 156)

b) É também surpreendente que os estudos a que meticulosamente se dedicava Rui Reynaud sobre a documentação entregue por Union Carbide (Ver post N.º166), não tivessem sido aproveitados.

c) Mais surpreendente ainda, foi a imediata disponibilidade de uma sonda, que passou a verificar-se, quando me foi extorquida a Secção de Caminha, apenas para satisfazer ambição pessoal do perverso Viegas.

10- Sondagens na Mina de Fonte Santa (Lagoaça, Freixo de Espada à Cinta):

Embora não seja estudo em que me tenha envolvido, quero referir o meu conhecimento de terem sido efectuadas sondagens na Mina de Fonte Santa (Lagoaça), em cumprimento de projecto do prestigiado Geólogo António Ribeiro e sob a supervisão do Director-Geral.
A recuperação de testemunhos foi praticamente nula e o Geólogo optou por fazer avaliação das reservas globais da formação onde ocorria scheelite, partindo da hipótese de que este mineral se encontraria disperso, em grande espessura desta formação.
Chegou-se assim a um elevado valor global de reservas, com teor muito baixo, portanto, de exploração economicamente inviável.
Não tinha sido possível definir passagens economicamente exploráveis.
É um caso semelhante ao que acontecera com os carvões da Faixa Carbonífera do Douro, onde também se não obtivera suficiente recuperação de testemunhos.
Era esta lição que Goinhas deveria ter extraído.
Não se justificaria prosseguir campanha de sondagens, quando o seu objectivo, que era conhecer as formações em profundidade, não era cumprido.
A campanha da Fonte Santa deveria ter sido suspensa, logo que se verificou não produzir testemunhos e só deveria ser retomada quando este problema estivesse convenientemente resolvido.

Continua…

domingo, 15 de janeiro de 2012

191 - Um novo Plano Mineiro Nacional. Continuação 15

A História para ser Mestra da Vida, como se ensina nas Escolas, tem de ser escrita por personalidade idónea, que saiba seleccionar as fontes de informação, dignas de crédito.
Será prejudicial se não tiver havido esse elementar cuidado.

O Geólogo José Goinhas é exemplo de historiador, que não merece crédito.
A sua história da “Prospecção mineira em Portugal”, além de omitir os acontecimentos de maior relevância, distorce, intencionalmente, os que descreve.
É também elucidativo da extraordinária ignorância dos governantes, em matérias da indústria mineira, que esta história tenha sido elogiada pelo Secretário de Estado da tutela.
É, por outro lado, surpreendente que a Comissão Editorial, do Boletim de Minas, constituída por três Engenheiros de Minas, um Geólogo e um Economista, tenha decidido fazer a sua publicação, sem sequer ter utilizado a fórmula frequentemente adoptada: “As ideias expostas são da exclusiva responsabilidade do autor”, para não se comprometerem.
Tenho vindo a analisar, desde o post N.º 178, as descrições de José Goinhas, dispersas pelo seu documento, tentando enquadrá-las nas diferentes fases da prospecção mineira, no seu sentido lato.

Revistas as fases de Documentação, Investigação geológica com simultânea mineralometria, aplicação de técnicas geofísicas e geoquímicas, pequenos trabalhos de pesquisa suscitados pelas técnicas anteriores, cheguei, no post N.º 190, à fase de sondagens.
Tendo em consideração que o objectivo de José Goinhas, conforme sua declaração, era contribuir para a elaboração de novo Plano Mineiro Nacional, mais perfeito que anteriores planificações, era de esperar uma apreciação não só dos dados em que se basearam as sondagens, mas também dos procedimentos adoptados para se extrair o máximo de elementos sobre as formações que elas atravessaram.
Todavia, Goinhas apenas refere que foram executadas sondagens, quer pelos denominados “serviços oficiais”, quer pelas empresas privadas, sem adicionar quaisquer comentário, partindo, portanto, do princípio de que foram bem projectadas e bem conduzidas.

A realidade é, porém, bem diferente:
Houve graves deficiências, no que respeita, quer à fundamentação, quer à execução, tanto da parte dos “serviços oficiais”, como da parte das empresas privadas.
Já denunciei no post anterior três casos, em que dirigentes dos “serviços oficiais” adoptaram procedimentos escandalosos, de que resultaram desperdícios de dinheiros públicos e atrasos no cumprimento de programas racionalmente estruturados.
Vou agora citar mais exemplos, pouco edificantes, relativos a esta fase de sondagens.

4 - Sondagens efectuadas por Union Carbide na zona de Covas da Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha - Ponte de Lima
Quando Union Carbide decidiu rescindir os seus contratos, com o Estado e com empresas concessionárias, enviei, em 5-12-1979, ao Director do SFM, Jorge Gouveia, ofício a dar conhecimento de diligências que tinha feito junto do dirigente local daquela Companhia americana, no sentido de ser entregue à DGGM toda a documentação respeitante aos seus estudos na Região, nela se incluindo os testemunhos das numerosas sondagens efectuadas.
Informei ter encontrado a melhor receptividade.
Union Carbide prometera entregar toda a documentação e propunha-se colocar também, no Porto, em local que lhe fosse indicado, as 1650 caixas de testemunhos, com o peso aproximado de 50 toneladas, resultantes dos seus trabalhos de prospecção mineira, apenas com a condição de o transporte ser efectuado até 31-12-1980, pois encerraria, nessa data, todas as actividades no País.
Informei o Director do SFM ser minha intenção analisar todos estes elementos e reprogramar a campanha de prospecção que, desde 1968, tinha em curso na Região, tendo em consideração os resultados dessa análise.
O que veio a acontecer foi deveras surpreendente.
Antes de me ter apercebido do uso que se pretendia dar à documentação que me estava a ser sonegada, eu escrevi, no relatório do 2.º trimestre de 1980, o que, a seguir transcrevo:

Obstrução à consulta da documentação técnica entregue por Union Carbide:
Por termos estado ausentes, em gozo de licença graciosa, durante a segunda quinzena do mês de Dezembro de1979, só em 9 de Janeiro recebemos a resposta do Director do Serviço, com data de 20-12-1979, ao ofício que lhe havíamos endereçado em 5-12-1979, acerca da intenção de Union Carbide entregar à Direcção-Geral de Minas, diversos documentos respeitantes à sua actividade na região de Caminha e também os testemunhos das sondagens efectuadas, a expensas suas, na mesma região.
Verificamos, com estupefacção, que se não aproveitou a oferta de Union Carbide de custear o transporte de cerca de 1650 caixas de testemunhos, de Covas para S. Mamede de Infesta, quando é certo que constantemente se afirma haver falta de meios de transporte no Serviço e, por este motivo, se criam obstáculos a certos trabalhos. Surgem, além disso, ordens recomendando parcimónia no consumo de combustíveis já que as dotações são escassas.
Verificamos, ainda, com alguma surpresa (na realidade já nada nos deveria surpreender do que acontece na Direccão-Geral de Minas) que, tendo sido exclusivamente mercê das minhas diligências e não por obrigação imposta por qualquer disposição legal ou contratual, que Union Carbide consentiu em fazer entrega quer dos testemunhos, quer dos logs das sondagens e outros documentos, o Director do Serviço decidiu, em nova atitude prepotente e obstrucionista, dificultar ou impedir mesmo a minha consulta a este material.
A maneira mais eficaz de atingir o seu objectivo foi introduzir no assunto o seu representante no núcleo de S. Mamede de Infesta, para “assuntos de rotina”, encarregando-o de receber o material e elaborar um documento, a que chamou “relatório”, sobre essa recepção.
Apesar das deficientes relações pessoais, que há muito mantemos com esse funcionário, cuja actuação no Serviço não tem merecido o nosso apreço, não tivemos dúvida em nos deslocarmos, no dia 3 de Janeiro, à região de Caminha, por ele acompanhados, a fim de lhe mostrarmos a quantidade de testemunhos a transportar, agora a expensas do Serviço e o modo como estavam acondicionados nas instalações de Union Carbide e lhe fazermos perceber os cuidados a ter no transporte, para que nada se destruísse e esse valioso material pudesse ser inteiramente aproveitado para novos estudos, quer do Serviço, quer de qualquer outra entidade.
Nessa data e, em vários dias seguintes, insistimos vigorosamente na indispensabilidade de prévia consulta à documentação já entregue ou a entregar ainda, por Union Carbide, antes de se iniciar o transporte, para que a identificação e a arrumação dos testemunhos, em S Mamede de Infesta, obedecesse a um plano, evitando que, por falta de cuidados, viesse a tornar-se inaproveitável tão valioso material.
Apesar das nossas insistências e das repetidas promessas, do género “Estou a elaborar o relatório (?!) que o Director pediu; na próxima semana, a documentação estará à sua disposição”, feitas desde Janeiro, sempre foram surgindo evasivas e a realidade incrível é que nenhum documento nos foi entregue por tal representante, até ao fim do trimestre.
A partir de certa data, quando nos convencemos de que a atitude era superiormente estimulada e que se pretendia nitidamente sonegar-nos a documentação, deixamos mesmo de falar no assunto.
O Director do Serviço, a terminar o seu ofício de 20-12-79, escreve:
“Na medida em que V. conhece melhor do que ninguém a actividade da empresa, poderá actuar junto da empresa, no sentido de não ser olvidada qualquer espécie de documentação.”
Como poderíamos nós saber se foi ou não olvidado algum documento de interesse, se ainda nesta data, nos mantemos na ignorância do que realmente foi entregue?
Não deveria, para tal, ter-nos sido confiada, com tempo para estudo, toda a documentação, antes de Union Carbide ter abandonado a região?
Escrevemos também no relatório da actividade do 1.º Serviço, no trimestre anterior:
“Até ao fim do trimestre, não se nos tornou possível, mercê da sonegação mencionada, dar qualquer passo no sentido da reavaliação do projecto de Covas e sua integração no plano geral de prospecção mineira, na região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima.
Estamos convictos de que os documentos permanecem intactos, sem que alguém os tenha consultado, desde que Union Carbide os entregou.
Talvez seja mero capricho pueril ou talvez senil, a causa do obstrucionismo que está a ser praticado.
Entendemos ser já tempo de começar a responsabilizar aqueles que, além de não estimularem nem colaborarem seriamente, como é seu dever (para isso são remunerados), no inventário e na valorização da riqueza mineira nacional, pelo contrário, criam dificuldades à consecução deste objectivo
Afinal, conforme já revelei, em posts anteriores, havia um real objectivo a justificar a sonegação dos documentos de Union Carbide.
Era preciso distribuir algum trabalho ao Engenheiro Rui Reynaud, recentemente admitido, na DGGM, na vaga de assaltos, a que me tenho referido, com frequência.
Este “génio” estava a justificar a sua admissão directamente com a elevada categoria de Director de Serviço (!!!), entretendo-se com inúteis exercícios académicos, repetindo cálculo de reservas já apresentados por Union Carbide (Ver post N.º 156 ).
Relativamente aos testemunhos das sondagens, escrevi no meu relatório do 2.º trimestre de 1980, texto de que, transcrevo as seguintes passagens:

“Incúria no tratamento de valioso material de sondagens alienado por Union Carbide, a favor da Direcção-Geral de Minas"

Três meses e meio passaram sobre a data do ofício que endereçamos, em 5-12-1979, ao Director do Serviço, acerca dos testemunhos que Union Carbide pretendia alienar a favor da Direcção-Geral de Minas, até que o funcionário representante do Director, no núcleo de S. Mamede de Infesta, “para assuntos de rotina”, se decidisse a cumprir a ordem que recebera de promover o transporte desse material para as instalações de S. Mamede de Infesta.
Argumentou-se que o problema não fora resolvido, em Dezembro de 1979, aproveitando transporte gratuito oferecido por Union Carbide, porque nós estivéramos ausentes.
No entanto, os transportes foram efectuados com total desrespeito pelas recomendações a que aludimos no n.º anterior.
Não se procurou identificar os testemunhos, antes de os retirar do local onde se encontravam metodicamente acondicionados.
Não houve o elementar cuidado de levar caixas para substituir as que apresentassem indícios de má conservação.
Não se estabeleceu qualquer plano para as cargas e descargas.
Não se aproveitou a minha sugestão de utilizar pessoal da Secção de Caminha para as cargas em Covas, tendo-se preferido deslocar de S. Mamede de Infesta ou de mais longe ainda, diversos funcionários (talvez 4 ou 5), em percursos superiores a 200 km, durante vários dias, com uso de duas viaturas (1 jeep para pessoal, um pequeno camião para os testemunhos) !!!
Afinal, uma vez mais, se confirma que as dificuldades de meios de transporte e de combustíveis só existem em certos casos.
Em S. Mamede de Infesta, empilharam-se as caixas ao ar livre, junto a um muro, de modo muito pouco cuidadoso, tendo algumas já caído e prevendo-se que a outras, em breve aconteça o mesmo.
Há já testemunhos dispersos pelo terreno, sendo duvidoso que se possa reconstituir a sua origem.
Receamos que grande parte do material transportado esteja já inaproveitável, constituindo pouco mais que lixo.
Não nos tendo sido facultada a documentação entregue por Union Carbide, obviamente nos poderia ser interdito ou revestir-se-ia de um reduzido interesse, o exame dos testemunhos.
Este é mais um assunto, para o qual chamamos a atenção superior.
O País não pode mais permitir que tão inconscientemente se destruam valiosos elementos de estudo, que custaram muitas dezenas de milhar de contos a produzir.”

Estas passagens de relatórios trimestrais foram transcritas na Introdução ao “Relatório circunstanciado dos trabalhos de prospecção mineira efectuados na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, até 29-2-1984”, sob a minha supervisão, o qual fui compelido a entregar ainda incompleto.
Neste relatório circunstanciado, acrescentei ainda:
Vão passados 4 anos e, apesar de ter havido mudanças nas principais chefias da Direcção-Geral de Minas, ainda não tive acesso aos documentos entregues por Union Carbide !!!
Quanto aos testemunhos das sondagens permanecem atabalhoadamente empilhados, junto ao mesmo muro, sujeitos à intempérie, nas instalações de S. Mamede de Infesta, sendo já muito duvidoso que tenham qualquer utilidade!!!
Somos realmente um País muito rico, que se permite desperdiçar tamanho valor. Assim se deitam fora dezenas de milhar de contos!!!
Não temos dúvida em classificar isto de um autêntico crime. E não seria muito difícil encontrar os responsáveis.”

Conforme já revelei, tive oportunidade de entregar, pessoalmente ao Ministro Veiga Simão um exemplar desta Introdução.

As referências vagas e incorrectas de Goinhas aos jazigos tungstíferos da Região de Vila Nova de Cerveira –Caminha – Ponte de Lima demonstram não ter consultado os “relatórios internos”, que cita na extensa bibliografia com que termina o seu documento.

5 – As sondagens efectuadas na Mina de ferro de Vila Cova do Marão

A respeito de sondagens, que tinham sido efectuadas pelo SFM, para investigação deste jazigo, escrevi no post N.º 30:
“Nas Minas de Vila Cova, o SFM tinha feito realizar, no princípio da década de 40, uma campanha de prospecção magnética, por contrato com a Companhia sueca ABEM.
Em anos mais recentes, tinha dado cumprimento a um projecto de sondagens.
Numa das reuniões, o Director afirmou haver divergências grandes entre resultados dos estudos do concessionário e os do SFM.
Impunha-se uma análise cuidada de toda a documentação respeitante a este jazigo, pois se considerava a hipótese de novas sondagens deverem ser projectadas.
O Director encarregou-se de encontrar, não só os relatórios, como os logs, plantas e perfis pelas sondagens e os testemunhos destas sondagens.
Em reuniões seguintes, este caso de Vila Cova voltou a ser por mim abordado. Todavia, o Director começou a ficar embaraçado, pois nem relatórios, nem desenhos nem testemunhos se encontravam.
Deste embaraço resultou que não mais se realizaram reuniões!

No post N.º 68, acrescentei:
"Em relatório com data de 1966, o Geólogo Dr. António Ribeiro, menciona estudos anteriores, mais ou menos desenvolvidos, de diversos outros Geólogos, entre os quais Cotelo Neiva e Carlos Teixeira, para definir a estrutura do jazigo e avaliar as suas reservas.
Conclui, no entanto, das suas próprias observações, que o jazigo de Vila Cova se mantém incompletamente reconhecido.
Agora, pretendo apenas chamar a atenção para as possibilidades que se abrem com a aplicação conjugada dos métodos gravimétrico e magnético, na vasta área considerada potencial.
A campanha de prospecção magnética do início da década de 40 do século passado fez uso de equipamentos de baixa sensibilidade e limitou-se à área que então era tida como potencial.
A gravimetria permitirá fazer a avaliação das reservas, tal como aconteceu em jazigos de ferro descobertos no Alentejo, nomeadamente nos da Alagada e Vale de Pães, a que me referi nos posts N.ºs 45 e 46. Nestes casos, a avaliação, pela carta gravimétrica, foi plenamente confirmada pelo cálculo feita através dos resultados das sondagens.
O mesmo tinha acontecido com as massas de sulfuretos complexos de Moinho e Feitais em Aljustrel e parece a estar a confirmar-se com o conjunto das massas de sulfuretos de Neves-Corvo.
A História de José Goinhas é totalmente omissa no que respeita à prospecção com vista à descoberta de reservas de minérios de ferro, apesar de ferro e ouro terem sido, no início da actividade do SFM, quase os únicos estudos constantes dos programas deste Organismo.

6 – Sondagem profunda em Moncorvo
O Director-Geral de Minas Soares Carneiro não aprovou sondagem profunda, projectada para investigar a provável existência de uma parte oculta do jazigo de ferro de Moncorvo, que poderia contribuir para aumentar significativamente o valor das suas reservas, quer em quantidade quer em qualidade do minério.
Esta sondagem fundamentava-se em excepcionais resultados da aplicação dos métodos magnético e gravimétrico, registados em ambiente geológico altamente favorável.
As invulgares características destas anomalias, sobretudo no que respeita à sua intensidade, levaram-me, então, a emitir a hipótese de estarmos em presença de um depósito de dimensões idênticas às do enorme jazigo de Kirunavara, na Suécia, sendo a parte conhecida, com reservas estimadas em 600 milhões de toneladas, apenas a sua manifestação superficial, isto é, o equivalente à ponta de um iceberg. (Ver post N.º 67).
A história de Goinhas ignora também os estudos do SFM neste jazigo.
Registo que o mesmo Director-Geral que não aprovou este projecto, autorizou sondagens profundas, em áreas do Alentejo, com muito precários fundamentos, convencido de que iria proporcionar ao seu afilhado Delfim de Carvalho, apresentar-se como autor de grande descoberta, embora através de procedimentos indignos (Ver post N.º 86).
Em próximo post, referir-me-ei, mais detalhadamente a estas sondagens.
É surpreendente que Goinhas nem sequer tenha reparado nas excepcionais anomalias, a que me referi, as quais foram obtidas, em resultado de trabalho efectuado pela 1.ª Brigada de Prospecção, quando nela esteve integrado, ainda sob a minha chefia!!
É extraordinário que tenham passado mais de 30 anos, sem que se tenha conseguido revitalizar o centro mineiro de Moncorvo e sem que se tenha aproveitado este recurso mineral, para a instalação de uma indústria siderúrgica, com dimensão compatível com as enormes reservas existentes e a revelar.
A este respeito, ocorre-me a anedota que Soares Carneiro contou, numa reunião da Comissão de Fomento:
“Quando Deus distribuía, pela Terra, as riquezas minerais, S. Pedro chamou a sua atenção para a abundância com que privilegiava Portugal, em detrimento dos outros países.
Deus, complacentemente, explicou: Verás a qualidade de gente que lá vou colocar!
Carneiro usou termo escatológico para qualificar a gente de Portugal, na qual, obviamente estava a incluir-se.”
Os meios de comunicação social têm vindo recentemente a anunciar projectos ambiciosos visando a revitalização das Minas.
Também o Ministro da Economia Álvaro Santos Pereira a eles se tem referido, embora não tenham sido de iniciativa governamental.
A este Ministro enderecei cartas directamente e através deste blogue (V. post N.º 67 A), às quais não recebi resposta, não obstante haver disposição legal que impõe aos dirigentes a obrigatoriedade de responder, em prazo determinado, às exposições que lhe são dirigidas.
Não chegou ao meu conhecimento o que de concreto tem sido realizado, no âmbito destes novos projectos.

7 – As sondagens nas Faixas Carboníferas do Douro e de Ourém
O que Goinhas escreve a respeito das Faixas Carboníferas do Douro e de Ourém está muito longe de corresponder à verdade das investigações efectuadas.
Conforme registei no post N.º 52, quando, em 1963, fui nomeado Chefe do Serviço de Prospecção do SFM, também tive a meu cargo os estudos com vista à definição de reservas de carvão no País.
Antes de terminar a licenciatura em Engenharia de Minas, eu tinha efectuado, em 1943, estágio sobre sondagens, na zona de Midões da Faixa Carbonífera do Douro.
Sabia que sondagens continuaram a ser realizadas, ao longo dos 20 anos decorridos desde então, nas diversas zonas do País, onde era conhecida a ocorrência de carvão.
Estava, porém, longe de suspeitar do estado em que se encontravam as investigações feitas na faixa carbonífera do Douro, e na faixa de Ourém.
A situação que se me deparou causou-me enorme surpresa.
Havia por estudar 40 sondagens longas que tinham sido efectuadas na Faixa Carbonífera do Douro e número semelhante na Bacia Carbonífera de Ourém.
Além disso, nem sequer estava feita a sua implantação em mapas geológicos.
A agravar a situação, decorriam sondagens na zona de Ourém, para investigar o prolongamento em profundidade de camadas de carvão de espessuras exíguas, sem hipótese de viabilidade de exploração económica, não fazendo, consequentemente, sentido, manter em curso tal projecto.
Encarreguei, então, o Agente Técnico de Engenharia Vitorino Correia de fazer a implantação em cartas geológicas, das sondagens e sanjas, efectuadas na Faixa Carbonífera do Douro, anteriormente à minha chefia do Serviço de Prospecção.
O Geólogo Silva Freire, a cujo cargo estivera o projecto de investigação desta Bacia passou largos meses a estudar os testemunhos das sondagens, apresentando os seus resultados em textos que anexava aos relatórios mensais.
Recusou-se a elaborar logs onde se registassem, sob a forma gráfica, ao longo dos furos, não só as formações atravessadas a percentagem de testemunhos, a orientação dos furos (direcção e inclinação), as análises químicas e outros dados de interesse que tivessem sido colhidos.
Tive, por isso, que encarregar o Agente Técnico Vitorino Correia de fazer esses logs e também de elaborar perfis geológicos longitudinais e transversais, pelas camadas de carvão, com base nos elementos que lhe foram disponibilizados.
Ao Geólogo competiria elaborar estes perfis, que iriam constituir a base para cálculo e identificação das reservas evidenciadas, para a planificação da futura exploração.
Mas o Geólogo, não só recusou fazer tal trabalho, como desvalorizou tudo quanto o Agente Técnico de Engenharia havia feito por ele.
Perante o ambiente que vigorava na sede do SFM, estimulado pelo Director e dado tratar-se de um dos funcionários mais antigos do SFM não me era possível impor a metodologia normal.
Quando ficaram concluídos os desenhos, entreguei, ao Geólogo, volumoso rolo em papel cenográfico que os continha para dele fazer adequado uso, apesar da sua relutância em o receber.
Registo a escassa ou nula representação por testemunhos inteiros das zonas onde se admitiu ter sido atravessado o carvão.
Por outro lado, não tinha havido o cuidado elementar de controlar devidamente as trajectórias dos furos.
Eu tinha dado instruções ao Geólogo no sentido de apresentar relatório sintetizando toda a actividade realizada na Faixa Carbonífera do Douro, para se poderem planificar as acções futuras.
Tal relatório teria obviamente que conter peças desenhadas, entre as quais os perfis longitudinais e transversais seriam fundamentais.
O relatório, que recebi, em Agosto de 1968, sem as peças desenhadas a que aludi, foi de pouca utilidade, não correspondendo ao que seria de esperar.
Aconteceu, então, que o Director do SFM, que em 1964 se mostrara incapaz de apresentar Plano que o Secretário de Estado lhe solicitara, sem me informar, chamou a si o problema dos carvões da Bacia Carbonífera do Douro, dando instruções directas ao Geólogo, resultantes de reuniões que realizou com um dos concessionários.
A continuação dos estudos na Bacia Carbonífera do Douro deixou, consequentemente de ser da minha responsabilidade.
A disciplina que eu pretendia introduzir nestes estudos foi destruída pelo Director do SFM.
Tive conhecimento de ter sido elaborado novo projecto de sondagens.
Constou-me também que as peças desenhadas preparadas pelo Agente Técnico de Engenharia, sob minha orientação, mas sem a indispensável revisão pelo autor do exame dos testemunhos das sondagens, acabaram por ter a utilidade que mereciam.
Em reunião da Comissão de Fomento, tomei conhecimento de que o concessionário da Minas do Pejão não tinha encontrado, em novo piso que instituíra, as camadas de carvão exploráveis, que o exame dos testemunhos das sondagens fizera prever.
As minas deram por finda a exploração, já quando eu estava aposentado. Disso tomei conhecimento pelos jornais. Pelo que me foi dado conhecer, quando o estudo dos carvões esteve sob a minha supervisão, sou levado a concluir que houve graves deficiências no reconhecimento desta importante faixa Carbonífera, que podem ser responsáveis pelo encerramento das Minas.

8 – Sondagens para prospecção de petróleo
No capítulo que Goinhas dedicou aos minérios energéticos, nada refere relativamente à prospecção de petróleos!!!
Nem sequer lhe ocorreu que o Governo tinha atribuído tal importância a este tema, que decidira criar um Organismo directamente dependente da Presidência do Conselho de Ministros, para que as investigações visando a descoberta deste precioso recurso, pudessem ter o impulso que não estava a ser conseguido, no âmbito da Direcção-Geral de Minas.
Foi assim criado o GPEP (Gabinete para a Prospecção e Pesquisa de Petróleo) (Ver post N.º 118).
Em resultado das sondagens realizadas por empresas privadas, antes e depois da criação do GPEP, acumulou-se enorme soma de dados de grande utilidade para o conhecimento geológico do território e para a prospecção de outros minérios.
Tenho conhecimento de que o Engenheiro Jorge Faria, que foi o primeiro Director deste Organismo, tomara a iniciativa de arquivar devidamente, em armazém localizado em Vila Franca de Xira, os materiais recolhidos nas sondagens, para eventuais futuros estudos.
Ignoro se esse armazém se mantém activo e se têm sido feitas consultas por empresas que continuam interessadas na procura de petróleo, tanto na área emersa, como nas vastas áreas imersas a zona exclusiva portuguesa.

É, uma vez mais, revelador da desorientação dos governantes, em matérias da indústria mineira, que Goinhas, apesar de ter ignorado, no documento que tenho vindo a analisar, a prospecção de tão importante recurso mineral, tenha sido nomeado Director do GPEP, quando o cargo ficou vago, por falecimento do Eng.º Jorge Faria!!!!

Continua…