sábado, 12 de setembro de 2015

56 A – 11.ª parte

XLII –A real necessidade do Relatório circunstanciado da minha actividade, na Região de Vila Nova de Cerveira - Caminha - Ponte de Lima, para  a reprogramação da DGGM

         A intimação do Director–Geral de Minas,  para entregar, urgentemente, dados do Relatório dos estudos por mim empreendidos, na Região de Vila Nova de Cerveira - Caminha – Ponte de Lima, que eu ainda estava a elaborar, embora em fase terminal, como o Director do SFM observava nas visitas ao meu gabinete quando se deslocava da sede em Lisboa, às instalações de S. Mamede de Infesta, induzia-me a concluir que tais dados seriam fundamentais à nova programação da DGGM.

          Ocorre, então, perguntar o real uso desses dados, que entreguei, em cumprimento da intimação recebida.

         Em posts anteriores, referi que Alcides Rodrigues Pereira, nem precisou de esperar por eles para me afastar da Região e me substituir por personagens que, no seu entendimento, melhor programariam os estudos, na área.

         Referi também que, afinal, a nova programação consistiu numa sucessão de erros grosseiros, que conduziram à extinção da Secção de Caminha da 2.ª Brigada de Prospecção do SFM.

         Persistem, consequentemente, expectativas muito optimistas, quanto à possível ocorrência de concentrações de minerais úteis, com realce para os tungstíferos, fundamentadas nos resultados dos trabalhos que projectei e em cuja execução participei activamente.

         Quanto ao uso dos dados, em nova programação da DGGM, também concluí ter sido nulo.

        Efectivamente, nenhuma referência lhes foi feita, nas reuniões de Investigadores em que participei na qualidade de Investigador Principal a que fui promovido, mediante concurso, quando na DGGM foi instituída a Carreira de Investigação.

        Registo ter sido classificado em 3.º lugar na Carreira de Investigação, por júri constituído por catedráticos das Universidades de Lisboa, Porto e Coimbra, que não resistiram a pressões políticas e de outra ordem, pois me competia incontestavelmente o primeiro lugar.

         O Professor Décio Tadeu, do IST, por quem eu tinha elevada consideração, quando tive oportunidade de lhe expor as minhas sérias dúvidas sobre as qualificações de Delfim de Carvalho para ser aceite na Carreira de Investigação, ficou francamente perturbado e, afastando-se de mim, proferiu, com grande desânimo a seguinte frase: “Cometem-se muitas injustiças!”

         E o facto é que, Delfim de Carvalho, até foi nomeado Investigador Coordenador, categoria máxima na Carreira de Investigação!!

        Nenhum concorrente podia, na verdade, exibir currículo que sequer se aproximasse do meu, porquanto, entre os numerosos sucessos das minhas actividades geológico-mineiras, onde se incluem docências várias, se conta a minha fundamental contribuição para a descoberta do jazigo de Neves-Corvo, que já se tornou célebre, a nível mundial, não só pelas suas gigantescas dimensões e riqueza em minerais úteis, mas também pelo procedimento usado para a sua descoberta.

       Nem Alcides, nem Daniel, nem o “sábio” Reynaud, ousaram concorrer à Carreira de Investigação, conscientes dos seus magríssimos currículos.

        Mas Alcides, que por inerência do seu cargo de Director-Geral, presidia às reuniões da Carreira de Investigação, não podia deixar de me convocar, para essas reuniões.

       Nessa sua qualidade, usou do autoritarismo, que o caracterizava, para me impedir de desempenhar as funções que me competiam na nova categoria, transferindo-as despudoradamente para Investigadores Auxiliares, muito menos categorizados.

      Apesar disso, mantive a minha persistente atitude de tentar revitalizar a DGGM, nas raras oportunidades que me foram proporcionadas, infelizmente sem qualquer êxito.

        A estas reuniões me referirei, mais pormenorizadamente em futuros posts.

        Ainda consegui, com intervenção da Ordem dos Engenheiros, a cujo Bastonário recorri, no uso de prerrogativas previstas no respectivo Estatuto, que o Ministro Mira Amaral, me concedesse audiência, na qual expus a gravidade da situação na DGGM e propus adequadas medidas correctivas, deixando documento confirmativo do que oralmente expusera.

        O Ministro ouviu-me, com grande delicadeza, prometendo analisar o documento.

        Mas a triste realidade foi que o “chico esperto” Alcides, embora se tivesse revelado incapaz de usar os dados que entreguei, devido à sua total ignorância em prospecção mineira, teve a suprema habilidade de aproveitar, em seu benefício pessoal, mas com elevadíssimo prejuízo para o País, os resultados dos trabalhos por mim projectados e realizados, cuja continuidade impossibilitou.

        Foi no seu mandato como Director-Geral de Minas, que se prolongou de 1980 a 1993, que o Governo tomou consciência da grandiosidade do jazigo de Neves-Corvo, cuja descoberta Alcides atribuía ao Consórcio, ao qual tinham sido concedidos, no mandato de Soares Carneiro, direitos de prospecção mineira, em área que se encontrava em avançado grau de investigação pelo SFM, por contrato directo, entre cujas cláusulas se previa remuneração proporcional à importância dos êxitos que viessem a obter-se.

        Em 1988 teve início a exploração do jazigo de Neves-Corvo, daí resultando a entrada nos cofres do Estado de avultadas quantias, que foram postas à disposição da DGGM.

       Alcides esbanjou esses dinheiros, em grandiosas instalações, em Alfragide, totalmente desnecessárias, porquanto as existentes em S. Mamede de Infesta eram até excedentárias para o apoio exigido pelos estudos previstos para cumprimento dos objectivos do SFM.

        É curioso que Alcides, quando representou o Ministro, em audiência que solicitei, para denunciar, as graves irregularidades que estavam a ser praticadas por Soares Carneiro e Múrias de Queiroz, no desempenho dos seus altos cargos na DGGM, não se tinha ainda apercebido da importância da descoberta do jazigo de Neves-Corvo, cuja paternidade eu reivindicava.

       Também aqueles dirigentes da DGGM, que estiveram presentes durante a audiência, por minha recomendação, demonstraram estar longe de compreender o significado da descoberta.

       Mais curioso ainda é que Alcides, já detentor do cargo de Director–Geral de Minas, quando lhe lembrei esta reunião, declarou dela não se lembrar, não obstante  ela ter constituído  o ponto de partida que inconscientemente lhe proporcionei para a sua meteórica ascensão na função pública (Ver post N.º 56 A – 6.ª parte).

       Mas os membros do Governo, impressionados com tão retumbante êxito, que Alcides atribuía a indirecta intervenção da DGGM, até induziram o Governo a premiá-lo com louvores em Diário da República, por sucessos, para os quais nada contribuiu.

       Foi com enorme perplexidade que tomei conhecimento, via Internet, de ter sido publicado em Diário da República o currículo de Alcides Rodrigues Pereira, referindo os variados cargos que exerceu, sem todavia mencionar algo que tenha produzido, terminando com o seguinte texto: “ Para além de diversos louvores ministeriais, foi agraciado, em 1993, com o grau de comendador da Ordem do Mérito Agrícola, Comercial e Industrial (classe do Mérito Industrial)”

       Alcides tornou-se, assim, um caso paradigmático das promoções por currículos negativo que aconteceram na DGGM, às quais já tive ensejo de me referir.