sábado, 7 de maio de 2016

56 A- 13ª parte. Continuação 2



XLV –A minha proposta de instituição de um Centro de Investigação em Prospecção Mineira, no Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências do Porto, vocacionado para prestar serviços à comunidade, começando pela imediata retoma dos estudos na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha - Ponte de  Lima

Quando, em obediência a ordem do Director do SFM, extingui a Secção de Cercal – Odemira, quase todos os trabalhadores, que nesta Secção actuavam, foram dispensados.

Apenas os que tinham atingido significativo grau de especialização foram transferidos para as Secções de Castro Verde e de Moura da Brigada do Sul, passando esta última Secção a abranger também a Região de Barrancos, pelo que passou a designar-se por “Secção de Moura e Barrancos”.

Na região de Barrancos, são numerosos os sistemas filonianos com mineralização cuprífera, que lá ocorrem.

Dentre eles, destaca-se o de Aparis.

Nele fiz incidir investigações por variadas técnicas, com realce para trabalhos mineiros, que atingindo profundidade de 150 m abaixo da superfície, definiram valiosas reservas certas.

Empresa nacional, adrede constituída, fez a exploração da parcela mais rica, em circunstâncias descritas no post N.º 48.

Este invulgar desenvolvimento de trabalhos mineiros não parecia do agrado de Guimarães dos Santos, perante o contraste com a quase nula actividade mineira do SFM, no Norte e no Centro do País.

Eu estranhava que, ao contrário do seu antecessor, pouco se interessasse em observar “in loco” os trabalhos da Brigada do Sul, sob minha orientação.

E estranhei ainda mais, os surpreendentes reparos quanto a “luxuosas instalações para uma Brigada de campo”, quando notou uma eficaz organização da sede da Brigada, numa das suas raras visitas.

Consciente da utilidade de divulgar a qualidade dos estudos em Aparis, apresentei, em colaboração com os Agentes Técnicos de Engenharia João de Oliveira Barros e Carlos de Araújo, 3 desenvolvidos relatórios respeitantes a dois períodos de actividade mineira e à aplicação do método electromagnético Turam, todos preparados para publicação.

Mas Guimarães dos Santos, mais uma vez, optou, por manter ocultos, os sucessos do SFM, nos quais eu me encontrasse envolvido.

Aparis era, então, de longe, o mais importante núcleo de actividades do SFM.

Pessoal, a variados níveis, adquiriu ou aperfeiçoou, ali, a sua formação, essencialmente em Trabalhos Mineiros tradicionais, ao desempenhar as respectivas funções durante mais de uma dezena de anos.

Com a minha obstinada atitude de formar especialistas, cheguei a propor que a Mina de Aparis, perante as excepcionais condições que reunia, fosse usada como Mina – Escola, não só para pós-graduação dos futuros candidatos a ingresso no SFM, mas também para ensaio dos novos equipamentos que fossem surgindo no mercado.

Mas Guimarães dos Santos não dava importância à formação profissional, parecendo sentir-se mais à vontade com pessoal pouco adestrado, em confirmação do antigo aforismo “Similes cum similibus facile congregantur”

A nomeação do Eng.º Fernando José da Silva, que estava integrado na Brigada do Sul, para a chefia da Brigada de Prospecção Geofísica (BPG), quando faleceu Mateus de La Cueva Couto, é disso um exemplo bem representativo.

La Cueva Couto, na fase final da sua vida, tomara verdadeira consciência da nefasta influência que, sobre ele, estavam exercendo colegas improdutivos, instalados na sede do SFM.

Não tendo formação em métodos geofísicos, de modo a poder desempenhar, com eficácia, as funções de Chefe da BPG, que lhe competiam, entrara, nesta fase final, em boa colaboração comigo, acolhendo, de bom grado, as sugestões que eu lhe fazia, fundamentadas na minha muito maior experiência, adquirida na antiga Brigada de Prospecção Eléctrica.

Foi nesta fase que consegui, após persistência de 10 anos, que fosse introduzida a gravimetria, no âmbito das actividades normais do SFM (Ver post N.º14)

Fiquei profundamente indignado pelo ultraje que representou aquela nomeação, porquanto, em conformidade com sugestões reiteradamente feitas em relatórios e em planos de trabalhos, seria de esperar que a Brigada do Sul adicionasse às suas atribuições os estudos de que se ocupava a denominada Brigada de Prospecção Geofísica, sendo certo que a Brigada do Sul, tinha já sob sua responsabilidade o método electromagnético Turam, isto é, mais de 90% da actividade geofísica decorrente no Sul do País.

Em exposições, para o Director do SFM e para o Director-Geral, reagi vigorosamente, declarando ilegal e contrária ao interesse do SFM esta nomeação (Ver post N.º 221)

Com extrema estupefacção, recebi de colega amigo, sediado em Lisboa, recado a avisar-me das possíveis más consequências do meu “atrevimento” e chamando a atenção para disposições legais, declarando que “os chefes têm sempre razão”!!!

Obviamente que me não deixei intimidar, pois tinha esperança de que Castro e Solla, mais uma vez usasse da sua diplomacia, para anular tão insensata ordem.

Porém, Castro e Solla, inesperadamente, decidiu abdicar das funções de Director-Geral (Ver Post N.º 25) e Soares Carneiro, que o substituiu, rapidamente evidenciou maior preocupação com os seus interesses pessoais que com o interesse do País.

Sem respeito pelo aperfeiçoamento do pessoal, a diferentes níveis, que eu me esforçava por conseguir, para poderem cumprir-se, cabalmente, os objectivos do SFM, manteve a ordem de Guimarães dos Santos.

Porém, Silva, poucos meses permaneceu no cargo.

Apesar desta curta presença, não desperdiçou a oportunidade de deixar a marca negativa que costumava imprimir ao desempenho das funções, que lhe eram atribuídas.

Soares Carneiro iria, porém, demonstrar, no preenchimento de cargos importantes para a economia nacional, de modo muito mais notório, a sua preferência por técnicos claramente alinhados com o regime político vigente, a técnicos com exemplar currículo profissional.

Um novo acontecimento imprevisto veio alterar profundamente a organização do SFM, com reflexos de vária ordem.

Também Guimarães dos Santos aproveitou vaga de Inspector Superior, ocorrida por aposentação de anterior titular, para concorrer ao seu preenchimento, assim se libertando do fardo que já estavam a representar as funções de Director do SFM, pelo desempenho das quais nunca demonstrou o mínimo entusiasmo

Para o preenchimento da vaga deixada por Guimarães dos Santos, Soares Carneiro, induzido por um Secretário de Estado oriundo da JUC (Juventude Universitária Católica, que era Organismo do Estado Novo), nomeou Norberto Afonso Múrias de Queiroz, ex- confrade do Secretário naquele Organismo, nas circunstâncias descritas no post N.º 25.

Esta nomeação era tão destituída de fundamento que Soares Carneiro sentiu necessidade de me explicar a sua causa, declarando-me que se tratava de uma decisão transitória, pois ele tinha a consciência de que seria eu o técnico competente para desempenhar o cargo, tal como já havia reconhecido o seu antecessor Castro e Solla.

Continua…