sábado, 27 de fevereiro de 2016

56 A – 13.ª parte

XLIV –A minha proposta de instituição de um Centro de Investigação em Prospecção Mineira, no Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências do Porto, vocacionado para prestar serviços à comunidade, começando pela imediata retoma dos estudos na Região de Vila Nova de Cerveira - Caminha - Ponte de Lima

              Na 11.ª parte deste post, registei que os estudos na Região de Vila Nova de Cerveira - Caminha - Ponte de Lima, após a nova programação, que Alcides Rodrigues Pereira decidira mandar efectuar, em abuso do cargo de Director – Geral de Minas, que ilegalmente ocupava, consistiram numa série de erros grosseiros.

Como era previsível, esses erros conduziram à extinção da Secção de Caminha da 2.ª Brigada de Prospecção do SFM.

Registei, também, que os resultados dos trabalhos executados com base na minha anterior programação, continuavam a justificar expectativas altamente favoráveis, quanto à existência de novas concentrações de minerais úteis, para além das já descobertas, com realce para as tungstíferas.

É oportuno recordar as acções da CEE, em várias épocas, no sentido se obter um eficaz aproveitamento dos recursos minerais existentes nos países abrangidos por essa Comunidade, de modo a evitar ou diminuir a necessidade de importações.

Já em 1961, eu tinha sido nomeado, pelo então Director-Geral de Minas, Eng.º Luís de Castro e Solla, para representar Portugal, em Grupo de peritos, “ad hoc” constituído na CEE, para promover a aplicação de “Métodos modernos de prospecção mineira”.

Nesta qualidade, participei em diversas reuniões realizadas em Paris, nas quais se fizeram representar os 18 países da CEE.

Subsequentemente, mantive correspondência epistolar com os dirigentes do Grupo, daí resultando a vinda a Portugal, do Professor Robert Woodtly da Universidade de Lausanne, com a finalidade de dar seguimento à colaboração da CEE ao nosso País.

Acompanhei este Professor, em visitas às seguintes instituições:
a) Instituto Superior Técnico;
b) Junta de Energia Nuclear;
c) Faculdade de Engenharia do Porto;
d) Direcção do Serviço de Fomento Mineiro no Porto.

Foi deveras decepcionante a receptividade, na quase totalidade dos Organismos visitados.
Apenas, nos Serviços de Prospecção da Junta de Energia Nuclear, o seu Director Eng.º Rogério Cavaca, se apercebeu da importância da colaboração oferecida. (Ver post N.º 4)

A realidade era que do elenco dos cursos de Engenharia de Minas dos estabelecimentos de ensino superior visitados, não constava a disciplina de Prospecção Mineira, e os professores que nos receberam, não demonstraram intenção de passar a incluí-la nos respectivos Cursos
O Director do SFM, Eng.º Guimarães dos Santos, também não revelou interesse, chegando ao cúmulo de afirmar que prospecção só tinha aplicabilidade no Sul.

De facto, era muito vago o seu conhecimento dos métodos geofísicos, que constavam dos programas por mim submetidos anualmente a aprovação.
Lamentavelmente, nem sequer me era facilitada a aplicação desses métodos, na zona sul do País, cujo estudo me tinha sido atribuído.

Não obstante eu tudo ter preparado para aplicação dessas novas técnicas, o Director do SFM entendeu instituir uma Brigada de Prospecção Geofísica, independente da minha orientação.

Não foi, porém, brilhante a actuação desta nova Brigada, apesar do auxílio que sempre lhe prestei, mesmo sabendo não ser recebido de bom grado (Ver post N.º4)

Mais tarde, ainda na qualidade de representante do País no Grupo, eu apresentara um projecto de prospecção aérea de vastas áreas do Alentejo.
Tal projecto teve tão boa receptividade, que a CEE pretendeu ampliar a sua área de actuação para o país vizinho (Ver também post N.º 4).

Dois dirigentes do Grupo, professores das Universidades de Paris e Lausanne vieram a Portugal, propositadamente para lhe dar sequência.
Mas, quando isso aconteceu, eu já não era o representante de Portugal no Grupo!
Castro e Solla havia abdicado do cargo de Director-Geral de Minas e Soares Carneiro, que o substituíra tomou a infeliz decisão de nomear o seu amigo Guimarães dos Santos, apesar da ignorância deste dirigente em prospecção mineira, demonstrada na sua surpreendente afirmação sobre a aplicabilidade dos métodos de prospecção apenas no Sul de Portugal.

Nas reuniões que se realizaram em Lisboa, Soares Carneiro teve comportamento deveras indecoroso, altamente desprestigiante do elevado cargo, que ocupava.
Guimarães dos Santos tinha requerido o meu auxílio, de que tinha absoluta necessidade, não só pela sua ignorância em prospecção mineira, mas também pela sua incapacidade de se exprimir em línguas diferentes do português.
Saí envergonhado pelo deprimente espectáculo proporcionado sobretudo por Soares Carneiro e pelo seu Adjunto Costa Almeida.

As minhas tentativas no sentido de o projecto ter seguimento foram, consequentemente infrutíferas (Ver post N.º 200).

Apesar deste enorme “fiasco”, a, CEE voltou, anos mais tarde, a oferecer a sua colaboração.

Instituiu, o Fundo Social Europeu, cujas confortáveis verbas se destinavam à formação dos cientistas e técnicos especializados, a que me referi no post anterior.

Para aproveitamento destas verbas, eu fui convidado pela Direcção do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências do Porto para reger disciplina de Prospecção Mineira, integrada em Cursos de Prospectores, de curta duração, com carácter essencialmente prático, destinados a indivíduos sem especiais habilitações académicas.

Não foi revelado o quantitativo total das verbas, de que o Departamento dispunha, mas foi-me prometido que eu poderia contar com 30.000 contos, após a conclusão dos Cursos, para aquisição de equipamentos de prospecção, pois a Faculdade não possuía material algum desta natureza.

Nas aulas do Curso de Geologia, na minha qualidade de Professor Auxiliar Convidado, eu utilizava equipamentos, não só do Serviço de Fomento Mineiro, mas também alguns que a Faculdade de Engenharia e a Universidade de Aveiro me tinham disponibilizado.

Os Cursos de Prospectores eram, como disse, de carácter essencialmente prático e destinavam-se a indivíduos sem especiais habilitações académicas, mas aconteceram dois factos que perverteram completamente estas características.
O primeiro foi a incorrecta selecção dos candidatos à frequência dos Cursos.
No ano de 1987, os frequentadores foram, sobretudo, alunos de Geologia da Faculdade que, iriam ter, no elenco dos seus Cursos, aulas da mesma matéria, mas com maior desenvolvimento.
E em 1988, os frequentadores foram, na generalidade, indivíduos que pouco interesse manifestaram na aprendizagem, pois a sua motivação fora o dinheiro que lhes era atribuído pela presença, quer conseguissem nota positiva ou não, no exame final que eu lhes fazia.

O segundo facto foi a constituição dos Cursos.
Foram inseridas disciplinas de interesse secundário, em prejuízo das horas atribuídas à Prospecção, tendo eu tido necessidade de dar muitas aulas suplementares, sem remuneração alguma, para ensinar matéria que considerava fundamental, quer do ponto de vista teórico, mas essencialmente do ponto de vista prático.
Para as aulas práticas, usei sempre a Região de Vila Nova de Cerveira - Caminha - Ponte de Lima, deslocando-me, do Porto, com os alunos, em autocarro propositadamente fretado, para esse fim.
Essa região reunia, de facto, as condições ideais para as aulas práticas.
Além da sua relativa proximidade do Porto, eu podia demonstrar a eficácia de vários métodos, levando os alunos a efectuar o seu trabalho, em perfis onde haviam sido registadas, nas anteriores investigações do SFM, significativas anomalias, algumas das quais com mérito comprovado por lucrativas explorações de valioso minério.
Não posso deixar de registar os surpreendentes obstáculos do SFM na cedência, por curto período, de equipamentos que tinham sido adquiridos por minha exclusiva iniciativa.
A 1.ª Brigada de Prospecção, que já se encontrava em franca desagregação, como referi na 7.ª parte deste post e que um ex-Director do SFM declarara, perante mim, que andava desorientada, a “inventar trabalho” recusou ceder, para uso temporário alguns dos equipamentos que o dirigente do Departamento de Geologia havia solicitado, por minha sugestão.

Felizmente que se encontrou boa receptividade nos Serviços Meteorológicos Nacionais, na cedência temporária de um gravímetro que eu próprio me encarreguei de ir buscar à sede destes os Serviços em Lisboa.
Conforme referi, anteriormente, também a Universidade de Aveiro, e a Faculdade de Engenharia, cederam equipamentos de que dispunham.

Continua …

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