segunda-feira, 31 de agosto de 2009

90 - A minha demissão da chefia da 1.ª Brigada de Prospecção. Continuação 9

Continuo a responder à primeira pergunta formulada no post 84, caracterizando os autores da exposição que originou a minha demissão, na sua qualidade de técnicos do SFM:

O pessoal auxiliar contratado

Quando, em 1944, iniciei a minha actividade profissional na Faixa Piritosa Alentejana, o Director do SFM destacou cinco Agentes Técnicos de Engenharia, da Brigada do Sul, para a Brigada de Prospecção Eléctrica (BPE), que eu ia chefiar, a fim de colaborarem nos trabalhos de campo e de gabinete respeitantes à aplicação do método electromagnético Turam.
Tornou-se ainda necessário recorrer a trabalhadores recrutados nas áreas a estudar, para dar cumprimento aos programas estabelecidos.
À medida que me fui familiarizando com o método, que estava a ser usado, por contrato com a Compania sueca ABEM, fui-me apercebendo de que quase todas as tarefas de que tinham sido encarregados os Agentes Técnicos de Engenharia, poderiam ser confiadas a trabalhadores locais, sem quebra de qualidade e com mais elevado rendimento.
Quatro Agentes Técnicos de Engenharia puderam assim ser reintegrados na Brigada do Sul, para colaborarem em estudos mais em conformidade com a sua formação profissional, ficando o corpo de técnicos superiores e médios da BPE limitado a dois Engenheiros suecos (os responsáveis pela aplicação da técnica electromagnética), um Engenheiro (eu) e um Agente Técnico de Engenharia portugueses.
A grande disponibilidade de mão-de-obra então existente na Mina de S. Domingos, permitiu-me fazer uma boa selecção do pessoal auxiliar para a BPE.
Consegui, deste modo, formar uma equipa altamente eficiente, da qual pude encarregar a execução da maior parte dos trabalhos de rotina, no campo e até no gabinete.
A piquetagem, com uso de taqueómetro, dos pontos de observação pelo método electromagnético, a planta topográfica (planimetria) à escala 1:10 000, com base no reticulado da piquetagem, as observações com o equipamento Turam, os cálculos simples sobre os dados de campo e até a implantação dos resultados em papel milimétrico e o traçado das curvas de variação dos quocientes reduzidos dos campos electromagnéticos e das diferenças de fase, estiveram a cargo deste pessoal assalariado.
Em meados de 1945, foram iniciadas as campanhas de prospecção na região de Aljustrel, transitando para esta região muitos dos elementos da equipa que tinha sido constituída na Mina de S. Domingos.
Em Aljustrel, considerando-me já suficientemente especializado no método Turam, propus que também um dos técnicos suecos fosse dispensado, encarregando-me eu de o substituir nas funções que desempenhava, cumulativamente com as minhas funções de Chefe da Brigada. A proposta foi aceite e daí resultou uma considerável redução de despesas e até aumento de eficácia das equipas, por se verificarem menos perdas de tempo em avarias dos equipamentos, pois a minha preparação teórica em assuntos de electricidade era muito superior à do técnico sueco que fora dispensado.
Quando, em 1948, tive que deixar a BPE, por ter sido nomeado Chefe da Brigada do Sul, o colega que ficou a substituir-me, depois de eu o ter instruído com os conhecimentos teóricos e práticos do método electromagnético, pôde beneficiar da organização que eu tinha instituído.
Mas não soube mantê-la e, em 1949, a BPE foi extinta, sem ter sido completamente investigada pela técnica que estava a ser usada toda a Faixa Piritosa Alentejana.
Em 1949 recebi na Brigada do Sul, uma Ordem de Serviço da Direcção do SFM, acompanhada de uma circular da Direcção-Geral da Contabilidade Pública que ordenava uma drástica redução de despesas.
Para cumprimento desta Ordem, foi com grande desalento que fui obrigado a dispensar muito pessoal, tanto da sede da Brigada como das Secções, com manifesto prejuízo para o cumprimento dos programas de prospecção e pesquisa.
A minha preocupação de manter no SFM os assalariados que melhores provas haviam dado, levou-me a convidar dois elementos da BPE, que tinha sido extinta, para colaborarem nos trabalhos mineiros da Secção de Cercal do Alentejo.
Esses elementos foram Francisco Elisiário Afonso e João Joaquim, que na BPE tinham chegado a capatazes, isto é, a máxima então possível para assalariados.
Ambos realizaram, ao longo de cerca de 30 anos, mercê da instrução técnica que lhes fui ministrando, tarefas diversificadas, sempre com qualidade e grande honestidade.
Foi, por isso, que aproveitei oportunidade, surgida, em 1968, para os fazer ingressar no Quadro de Contratados.
Quando o Director-Geral me sugeriu a contratação de João José Jardim, para dar seguimento a “cunha” de membro do Governo, fiz-lhe sentir que, para manter a disciplina da Brigada, esta contratação só se justificaria, se outros assalariados, muito mais qualificados, fossem abrangidos em tal promoção (Ver post N.º 50 – A minha mania da justiça).
Foi assim que Francisco Elisiário Afonso, João Joaquim e cinco outros assalariados recrutados nas áreas das diferentes Secções da 1.ª Brigada de Prospecção (Jerónimo de Jesus Salgueiro, José Manuel da Silva Ferreira, Luís Sebastião Luzia, António Francisco Peleja e João José Jardim) foram propostos para se integrarem como Colectores no Quadro de Contratados do SFM.
José Manuel da Silva Ferreira acabaria por rescindir o seu contrato com o SFM, tendo-se por isso libertado do vexame de subscrever o documento acusatório.
Já me referi, em posts anteriores, às grandes dificuldades em manter pessoal assalariado com elevado grau de preparação técnica, por insensibilidade dos Organismos governamentais perante as propostas apresentadas para aumentos insignificantes de salários, que evitassem a sua deserção.
Se esta era a atitude quanto a salários, fácil era perceber quão relutantes se mostravam os dirigentes do SFM e da DGMSG em contratações, perante o substancial acréscimo de despesas que ia ser originado.
O caso de Francisco Elisiário Afonso revelou-se até de difícil resolução, pelo facto de ele ter contraído silico-tuberculose, embora estivesse curado da tuberculose, em resultado da assistência médica que lhe foi proporcionada através do SFM.
Eu tive que solicitar ao Dr. Covas de Lima, radiologista de Beja, que fazia a sua vigilância médica, atestado confirmativo da cura da tuberculose. Só mediante a apresentação deste atestado, Elisiário pôde ser contratado, apesar de eu ter salientado o facto de a silicose ter sido contraída no SFM, que tardou em adoptar medidas que evitassem, com eficácia, a dispersão de poeiras no ambiente das minas subterrâneas.
Com Elisiário e com João Joaquim o meu relacionamento foi sempre muito cordial.
Em meados da década de 50 do século passado, o Agente Técnico de Engenharia que chefiava a Secção de Cercal do Alentejo foi requisitado pelo Ministério do Ultramar para colaborar em trabalhos de prospecção e pesquisa no território ultramarino, ainda português, de Goa. Esse Agente Técnico de Engenharia, consciente das qualidades de Elisiário, convidou-o para o acompanhar nesta missão. Elisiário recusou e disse-me, em reconhecimento do meu apreço pela sua valiosa colaboração, que não abandonaria o SFM, enquanto eu nele permanecesse.

Além destes contratados, cujo ingresso no SFM, como assalariados, data de meados da década de 40 do século passado, saliento dois outros que sempre estiveram sob minha chefia também desde meados da mesma década. São eles João Serra Magalhães e Francisco José Sobral Soares. Eram ainda muito jovens, quando o colega que me antecedeu na chefia da Brigada do Sul os admitiu, para trabalhos na sede da Brigada. Durante cerca de 30 anos mantiveram-se sempre sob minha chefia, primeiramente na Brigada do Sul e depois, na 1:ª Brigada de Prospecção. Foram progressivamente instruídos em trabalhos de diversa natureza.
João Serra Magalhães tornou-se um bom auxiliar de campo, com maior especialização em topografia e condução de viaturas.
Francisco José Sobral Soares tornou-se um bom desenhador.
O meu relacionamento com ambos foi sempre muito cordial.
O meu conceito a respeito das qualidades de João Serra Magalhães, levou-me a utilizar o seu bom senso para resolver incidentes com pessoal da Secção de Évora, originados pelo carácter impulsivo do Agente Técnico de Engenharia José Gameiro.
Não pude, pois, deixar de ficar estupefacto por também eles se terem sujeitado às pressões dos Geólogos e dos Engenheiros para subscreverem o infame documento.

Os restantes subscritores do documento acusatório (José Francisco Alves Albardeiro, Ilídio António Concórdia Riço, Manuel Eduardo Chagas, Jerónimo de Jesus Salgueiro, Joaquim José Nifrário Pires, Luís Sebastião Luzia e José Maria Monteiro), haviam sido recrutados como assalariados nas áreas das diversas Secções criadas no Sul do País, quer pela Brigada do Sul, quer pela Brigada de Prospecção Geofísica.
Nelas foram criando capacidades que justificaram propostas dos seus Chefes locais para ingressarem no Quadro de Contratados.
Concordando com tais propostas, por reconhecer a qualidade dos trabalhos das Secções, só possível com a colaboração desses elementos, fiz seguir essas propostas e elas tiveram o bom acolhimento que originou a contratação.
O meu relacionamento com grande parte destes contratados foi relativamente superficial, não compreendendo, consequentemente as graves acusações que aceitaram subscrever.
Estando já aposentado, isto é, mais de 15 anos após a minha demissão da chefia da 1.ª Brigada de Prospecção, recebi telefonema de José Maria Monteiro, o último dos subscritores do documento acusatório. Não percebi bem o motivo, mas pareceu-me que ele queria manifestar a sua satisfação pelo emprego de que desfrutava nas Minas de Neves-Corvo e o seu reconhecimento pela minha contribuição parta a descoberta do jazigo que se encontrava em franca exploração.
Não pude deixar de lhe lembrar que a sua assinatura constava do famigerado documento, o que ele negou.
Pedi-lhe que me informasse do seu endereço em Castro Verde e enviei-lhe cópia desse documento, ao mesmo tempo que o informava do meu perdão, pensando que tivesse sido o objectivo principal do seu telefonema e considerando as pressões e talvez ameaças a que ele e outros contratados terão sido submetidos, naquele fatídico dia, em que foram convocados para concordarem com decisão originada ao mais alto nível da DGMSG.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

89 – A minha demissão da chefia da 1.ª Brigada de Prospecção. Continuação 8

Continuo a responder à primeira pergunta formulada no post 84, caracterizando os autores da exposição que originou a minha demissão, na sua qualidade de técnicos do SFM.


Os Agentes Técnicos de Engenharia

Foram 14 os técnicos desta categoria que exerceram funções, no Sul do País, sob minha chefia, quer na Brigada de Prospecção Eléctrica, (entre 1944 e 1947), quer na Brigada do Sul (entre 1948 e 1964), quer na 1.ª Brigada de Prospecção (entre 1964 e 1975).
Com quase todos, mantive uma excelente relação de trabalho.

Houve apenas a excepção de um, que se revelou desonesto, durante a sua passagem pela Brigada do Sul. Falsificou dados e cometeu outras faltas, justificativas de processo disciplinar que me vi compelido a solicitar que lhe fosse instaurado.
O instrutor que, anos mais tarde, viria a ser Director do SFM, começou por declarar que o problema se resolveria com a não renovação do contrato, se tal indivíduo, não tivesse acabado de completar um ano de serviço.
Porém, no decurso da instrução, foi-se mostrando muito mais moderado, sendo patente a influência do Bispo de Beja e de Agostinho Lourenço, Chefe da PIDE, com os quais o indivíduo se ufanava de ter bom relacionamento.
Apesar disso, perante a gravidade dos factos ocorridos, não foi possível evitar propor superiormente o seu afastamento da Brigada do Sul (única sanção que eu tinha reclamado), com uma pena adicional de suspensão de funções durante 30 dias.
Mas o Secretário de Estado, Magalhães Ramalho, ao apreciar o processo, agravou a pena para 90 dias, com áspera censura à Direcção do SFM, pela tolerância demonstrada nas situações descritas, que afectavam severamente a eficácia do SFM.
Eu próprio fui incluído na censura, por excesso de benevolência, o que muito me surpreendeu, pois sabia ser, geralmente, classificado de rigoroso e exigente.
Este indivíduo, que foi transferido para a Brigada do Norte, ficando a chefiar uma Secção de Trabalhos Mineiros em Chaves, iria cometer aí idênticas faltas. Falsificou amostras de uma mina dita de ouro, em Tresmundes, para prolongar a sua permanência nesta cidade. Foi também, durante a sua chefia - que nunca lhe deveria ter sido confiada, por manifesta impreparação - que ocorreu, na Mina de ouro de “Três Minas”, uma súbita avalanche, em galeria que se encontrava em desobstrução, que ocasionou a morte de alguns operários.

Apesar da deficiente preparação de grande parte dos Agentes Técnicos de Engenharia, eles foram conseguindo adaptar-se bem aos trabalhos de todas as fases da prospecção, de que os encarreguei.
A alguns tive que corrigir enraizados vícios de trabalho, que estavam a prejudicar a qualidade dos estudos, ou mesmo dar instrução.
Posso afirmar que aí começou a minha actividade docente, que viria a oficializar-se de 1970 a 1990, nas Faculdades de Ciências e de Engenharia da Universidade do Porto.
Um dos Agentes Técnicos de Engenharia, que sempre se mostrou grato pelos meus ensinamentos e que coleccionava os cartões oficiosos em que lhe dava instruções de trabalho, costumava, simpaticamente tratar-me por Mestre.

A contribuição destes técnicos que, sem reservas, aceitaram a minha superior orientação, foi importante para os grandes êxitos que descrevi em posts anteriores.
Foram eles, com a colaboração de pessoal recrutado nos locais de trabalho, que estiveram presentes no terreno, a dar cumprimento aos programas que lhes eram apresentados.
A este pessoal auxiliar, tinham sido proporcionados conhecimentos de ordem prática, quer por mim próprio, quer pelos Agentes Técnicos de Engenharia, nas várias técnicas de prospecção.

A participação dos Agentes Técnicos de Engenharia e do pessoal auxiliar, na sua maior parte vinda de meados da década de 40 do século passado, foi muito mais valiosa do que a dos Engenheiros e dos Geólogos, ingressados na 1.ª Brigada de Prospecção apenas em meados da década de 60.

Os Geólogos, contrariando as grandes esperanças que neles depositei, pareceram mais interessados na promoção pessoal do que na perfeita integração na disciplina que vinha da minha chefia da Brigada de Prospecção Eléctrica e da Brigada do Sul.

Metodologias houve, que deixaram de se aplicar, com o ingresso dos técnicos ditos superiores. Por exemplo, não mais ficou a saber-se o custo discriminado dos trabalhos, prática que era rotineira, quando chefiei a Brigada do Sul.

Dos 14 Agentes Técnicos de Engenharia que exerceram funções sob minha chefia, só três estavam integrados na 1.ª Brigada de Prospecção, à data do documento que originou a minha demissão desta Brigada e não eram estes os que tinham adquirido maior qualificação.
Os mais experientes ou permaneceram na Brigada do Sul, ou abandonaram o SFM para obterem melhor remuneração em outros Organismos do Estado ou na indústria privada.
Os que permaneceram na Brigada do Sul foram mal aproveitados, acabando por se adaptar à inércia característica do 2.º Serviço, que culminou com a extinção total dos Trabalhos Mineiros convencionais no SFM (Ver posts N.ºs 21 e 25).


Refiro-me, seguidamente, à actividade dos Agentes Técnicos de Engenharia, que subscreveram o documento que conduziu à minha demissão da chefia da 1.ª Brigada :de Prospecção

1 - José Coelho da Silva Gameiro
Data de 1944 o meu conhecimento deste Agente Técnico de Engenharia, quando ele foi destacado, durante alguns meses, para exercer funções, sob minha chefia, na Brigada de Prospecção Eléctrica (BPE), que então actuava, nas Minas de S. Domingos da Faixa Piritosa Alentejana.
Tinha-se instituído na Brigada do Sul, da qual dependia a BPE, a regra de fazer passar, pela BPE, todos os Agentes Técnicos de Engenharia da Brigada do Sul, para tomarem contacto com uma nova técnica de prospecção e com métodos de trabalho mais exigentes.
Foram-lhe distribuídos trabalhos de fácil execução, dos quais se desempenhou satisfatoriamente.
Voltei a encontrá-lo, em 1948, quando passei a chefiar a Brigada do Sul
Até fim de 1961, chefiou a Secção de Montemor-o-Novo e depois de 1962, manteve a chefia da Secção de Évora.
Nestas Secções, teve oportunidade de colaborar, durante 25 anos (descontado tempo dos anos de 1966 a 1968, em que esteve em comissão de serviço em Angola), em variados trabalhos de prospecção e pesquisa, sob minha orientação, tendo-se desempenhado satisfatoriamente das missões de que esteve encarregado.
De todas as Secções das Brigadas que dirigi, foi na de Montemor-o-Novo que passei mais longos períodos, para realizar tarefas fora do alcance de Gameiro.
Não sendo dos mais competentes, mostrou-se sempre muito esforçado, revelando qualidades de observação, em levantamentos litológicos, na detecção de indícios de mineralizações e na classificação de testemunhos de sondagens, quando não existiam Geólogos na Brigada.
Já me referi à qualidade do seu trabalho nas sondagens de Algares de Portel, que considerei superior à do Geólogo Carvoeiras Goinhas.
Sendo pessoa de trato difícil, sempre mantive com ele as melhores relações de trabalho. Este bom relacionamento era bem conhecido dentro do SFM e, por isso, foi grande a surpresa geral quando se soube que também a sua assinatura constava do documento acusatório.

2 - Alfredo Ferreira
Conheci este Agente Técnico de Engenharia também em meados de 1944, quando foi integrado na Brigada de Prospecção Eléctrica (BPE), que iniciava, sob minha chefia, a actividade na área da Mina de S. Domingos da Faixa Piritosa Alentejana.
Alfredo Ferreira foi, então, encarregado principalmente das observações com o equipamento Turam de prospecção electromagnética, tarefa fácil que cumpriu de modo satisfatório, durante alguns meses.
Voltei a encontrá-lo, quando fui nomeado Chefe da Brigada do Sul. Ele tinha acabado de ser designado Chefe da Secção de Alvito, que tinha a seu cargo investigações por trabalhos mineiros de um jazigo de magnetite. Foi substituir o Agente Técnico Manuel Camarinhas, que tinha sido requisitado pelo Ministério do Ultramar, para missão em Moçambique.
Durante a sua permanência na chefia da Secção de Alvito, que se verificou até 1952, desempenhou satisfatoriamente as tarefas de que foi encarregado.
Em 1959, foi transferido para Almodôvar, para dar colaboração ao Geólogo que chefiava a 2.ª Brigada de Levantamentos Litológicos (2.ªBLL), em novos levantamentos que viessem servir de base às campanhas de prospecção que se projectavam para localizar jazigos de cobre, dos quais se conheciam bom indícios.
O trabalho que realizou foi de mérito nulo, sobretudo por deficiente orientação do Geólogo que dirigia a 2.ª BLL.
Foi posteriormente transferido para a Brigada de Prospecção Geofísica, ficando a chefiar os trabalhos de campo, quando se deu início às campanhas de prospecção magnética, para detecção de jazigos de ferro magnético.
Em 1964, em resultado da reorganização do SFM, foi integrado na 1.ª Brigada de Prospecção, sob minha chefia. Até à data da minha demissão desta Brigada, em Janeiro de 1975, cumpriu com zelo as tarefas de que foi incumbido.
Foi sempre normal o meu relacionamento com este técnico. Um caso ocorrido, quando chefiou a Secção de Alvito, que me levou à instauração de inquérito para avaliar a veracidade de denúncia sobre a utilização de operário pago pelo SFM como seu servente, não afectou significativamente o meu relacionamento, perante as conclusões praticamente negativas desse inquérito, que me pareceu afectado por alguma benevolência

3 - Manuel Virgínio Ferreira Camarinhas
Também este Agente Técnico de Engenharia passou alguns meses na Brigada de Prospecção Eléctrica, sob minha chefia, durante o ano de 1944. O desempenho das tarefas que lhe foram confiadas foi satisfatório.
Voltei a encontrá-lo, em Fevereiro de 1948, quando comecei a exercer, interinamente, as funções de Chefe da Brigada do Sul.
Camarinhas tinha então a seu cargo a Secção de Alvito, onde decorriam, de modo artesanal, trabalhos de pesquisa de magnetites, com base em resultados de prospecção magnética efectuada pela empresa sueca ABEM.
Este tipo de trabalhos não permitia, obviamente, a valorização de um técnico em princípio de carreira.
No entanto, o Ministério do Ultramar, confiante de que Camarinhas já teria experiência de trabalhos de prospecção e pesquisa mineiras, requisitou-o, em Junho de 1948, para uma missão em Moçambique, com o objectivo de contribuir para um melhor aproveitamento das riquezas minerais deste território ultramarino.
Camarinhas, regressou, em meados de 1951, ao SFM, sendo então integrado na 2.ª BLL, para colaborar em levantamentos litológicos na região de Vila Viçosa – Alandroal, preparatórios de campanhas de prospecção geofísica e geoquímica que se projectava empreender, para investigação das existências de minérios de cobre, das quais se conheciam numerosos indícios.
Nem Camarinhas nem o Geólogo seu Chefe mostravam pressa em dar por terminada esta fase inicial da prospecção, com a total condescendência da Direcção do SFM, perante o excessivo prolongamento desta fase.
Quando em 1964, foi criada a 1.ª Brigada de Prospecção, Camarinhas voltou a ficar na minha dependência hierárquica, passando a ficar encarregado de dar apoio no terreno a campanhas de prospecção geofísica e geoquímica.
Não foi fácil a sua integração na 1.ª BP, não só porque tinha perdido qualidades de trabalho durante a sua longa permanência na 2.ª BLL, mas também pela sua inexperiência nas técnicas de prospecção. Houve, então, que transferir de outras Secções da Brigada, pessoal auxiliar já experiente nessas técnicas.
Com o decurso do tempo, Camarinhas foi adquirindo a experiência que lhe faltava, conseguindo tornar a sua Secção altamente eficiente.
O meu relacionamento com Camarinhas foi sempre muito cordial.
A melhor prova do que afirmo, está no texto que, a seguir, transcrevo de um cartão de carácter oficioso, que dele recebi, datado de 20-9-1974, isto é, 3,5 meses antes de ter subscrito o insultuoso documento que levou à Mina demissão da 1ª BP:
“… Quanto ao “resto”, o trabalho apresenta-se dia-a-dia mais desgastante para quem tem a ingrata missão de chefiar, pois o pessoal interpretou a liberdade do 25 de Abril como um “Pai Natal” bem carregado de benesses só com prendas para dar. Esquecem-se que não há saco nenhum tão grande em que se consigam meter tantas prendas.
Em contraste, nós funcionários do SFM estamos em vias de ver reduzidas, ou mesmo desaparecidas, as regalias de que se serviram para captar o pessoal técnico para a Província.
Colaborei e estou completamente de acordo com as sugestões e críticas apresentadas pelo pessoal técnico da 1.ª B. Prospecção.
Esperemos que, ao fim e ao cabo, acabemos por ser compreendidos.
Não quero terminar sem manifestar a esperança que o bom senso acabe por vencer este período tão tempestuoso.
Aproveito para o felicitar pelo casamento de um dos seus filhos a que junto os melhores votos de muitas felicidades.
Um abraço de muita amizade do
M. Camarinhas”.

As sugestões e críticas referidas nesse cartão oficioso são as que constam do documento subscrito pelo Engenheiro José Augusto Marques Bengala, em nome da Brigada, no qual se declara que a cumprir-se o teor da Ordem de Serviço sobre ajudas de custo, que foi posta em vigor, os funcionários veriam os seus proventos mensais reduzidos de 30% (Ver parte final do post N.º. 73), facto que não se verificou, por procedimentos fraudulentos cometidas pelos contratados da 1.ª BP, a conselho do Director-Geral.

sábado, 15 de agosto de 2009

88 – A minha demissão da chefia da 1.ª Brigada de Prospecção. Continuação 7.

Continuo a responder à primeira pergunta formulada no post 84, caracterizando os autores da exposição que originou a minha demissão, na sua qualidade de técnicos do SFM:

O Geólogo José Antómio Carvoeiras Goinhas
Natural da cidade de Beja, este Geólogo contactou-me, em 1961,quando terminou a sua licenciatura na Faculdade de Ciências de Lisboa, mostrando-se interessado em ingressar na DGMSG.
Acontecia que a Compagnie Royale Asturienne dés Mines (CRAM), que estava cumprindo um contrato de prospecção na região de Moura-Ficalho, na sequência de estudos anteriores do SFM (Ver post N.º 19), com o objectivo de aumentar as reservas de minérios de zinco, de modo a poder iniciar explorações em maior escala, também me havia contactado para que lhe indicasse um Engenheiro de Minas para o seu Quadro de Técnicos.
Informei a CRAM de que Engenheiros de Minas era uma espécie em extinção, perante a escassez de formandos nessa área, nos últimos tempos. Mas poderia indicar-lhe um Geólogo.
A CRAM aceitou a sugestão e eu aconselhei o Dr. José Goinhas a aproveitar a oportunidade que se lhe oferecia para se especializar na prospecção de jazigos de zinco, dada a elevada qualidade que reconhecia aos Geólogos franceses que actuavam na região de Moura-Ficalho.
Informei-o de que proporia o seu ingresso no SFM, para colaborar nos estudos que estavam em curso na Faixa Magnetítica e Zincífera Alentejana, quando tivesse adquirido a especialização desejada.
O Dr. José Goinhas, após 6 anos de permanência na CRAM, em Portugal, em França e no Norte de África, colaborando sobretudo em estudos de jazigos de zinco, contactou-me novamente em 1967, e eu fiz então a proposta de seu ingresso no SFM.
A proposta foi aceite e o Dr. José Goinhas foi admitido no SFM em Julho de 1967.
Encarreguei-o, como lhe tinha prometido, de dar apoio aos estudos que estavam em curso na faixa Magnetítica e Zincífera Alentejana.
Estes estudos incidiam, então, na região de Portel, onde campanhas de prospecção geofísica e geoquímica tinham tido grande sucesso (Ver post N.º44).
Tinham sido efectuadas já muitas sondagens, com resultados bastante animadores e a classificação dos respectivos testemunhos estivera a cargo do Agente Técnico de Engenharia José Coelho da Silva Gameiro.
Embora eu considerasse tal classificação bastante pormenorizada e reveladora de notáveis qualidades de observação, era evidente que estudo realizado por Geólogo especializado em jazigos de zinco deveria conduzir a importantes aperfeiçoamentos. Por isso, encarreguei o Dr. Goinhas de proceder a novos exames dos testemunhos das sondagens já efectuadas, ao mesmo tempo que o encarregava também de fazer os logs dos testemunhos das sondagens que estavam em curso na mesma região e de fazer a interpretação estrutural do jazigo.
A sua actividade não correspondeu, porém, ao que dele esperava, No que respeita às sondagens que tinham sido efectuadas antes do seu ingresso na Brigada, não introduziu quaisquer aperfeiçoamentos. A sua capacidade de trabalho esgotou-se no exame dos testemunhos das sondagens que estavam em curso.
A qualidade dos seus estudos foi satisfatória, mas a produtividade foi, em geral, baixa. Cheguei a perguntar-lhe se a sua capacidade de trabalho se esgotara na CRAM.
Em 1971-72, foi-lhe proporcionada a frequência de um Curso de Economia Mineira, em Universidade de Arizona, nos Estados Unidos, durante o qual tomou conhecimento directo de jazigos do tipo dos “porphyry coppers”.
Enquanto frequentava este Curso, mantive com ele correspondência assídua, salientando que mais importante que a obtenção de graus académicos era a aquisição de conhecimentos orientados para a resolução dos problemas da Brigada que lhe estavam confiados. A seu pedido, forneci-lhe dados circunstanciados, sobretudo acerca da legislação mineira de Portugal, para inserir nos trabalhos do Curso.
Se antes de ir para os Estados Unidos já se mostrara pouco diligente, após o seu regresso, menos diligente se mostrou. Mas, baseado no que lá aprendera, pretendeu assumir a direcção de um projecto de prospecção de “porphyry coppers”, desobedecendo a decisões que haviam sido tomadas nas habituais reuniões que eu tinha com todos os Engenheiros e Geólogos da Brigada.
A esta atitude do Dr. Goinhas, exposta no seu relatório de Julho de 1972, tive que reagir, enviando-lhe, com carácter oficial, o documento que a seguir transcrevo:

“Ao Geólogo Senhor António José Carvoeiras Goinhas:
O relatório mensal destina-se, como é óbvio, a dar conta da actividade durante o mês a que diz respeito, no sector a cargo do técnico que o subscreve.
Interessa sobretudo destacar resultados dessa actividade.
Não se vê utilidade em referir decisões tomadas em reuniões dirigidas pelo Chefe da Brigada, porquanto este está bem consciente das decisões que toma. Não se impede, todavia, que se citem, se o autor do relatório considerar necessário para definir a sua posição perante determinado problema, desde que se respeite escrupulosamente a verdade.
A análise do relatório de V. Ex.ª respeitante ao mês de Julho de 1972 sugere-me os seguintes comentários:
1.º – A actividade que se relata e que se contem totalmente no primeiro parágrafo não satisfaz.
Na presunção de que algo mais haja a mencionar, devolve-se o relatório, para ser completado, se for caso disso.
2.º - O estudo da grande mancha de “pórfiros e rochas afins de região de Beja” e das “rochas graníticas e tonalíticas da região de Évora” há muito tempo figura nos planos de trabalho do 1.º Serviço e até da antiga Brigada do Sul, com vista à descoberta de jazigos do tipo dos “porphyry coppers” ou outros.
Já muito trabalho foi efectuado com essa finalidade, grande parte muito anteriormente à existência de Geólogos no corpo de técnicos da 1.ª Brigada de Prospecção.
Na reunião a que V. Ex.ª alude, o problema das mineralizações associadas a estas grandes manchas de rochas ígneas foi abordado, a fim de definir se haveria bases mais consistentes para nova actuação, já que especialistas estrangeiros conceituados que, por nossa indicação visitaram a área, não manifestaram pareceres encorajantes quanto à existência de jazigos do tipo dos “porphyry coppers”.
Contou-se, evidentemente, com os conhecimentos adquiridos pelos Geólogos da 1,ª Brigada de Prospecção que estiveram em estágio nos Estados Unidos da América do Norte.
Entendeu-se, como sempre se admitira, que o problema é digno de atenção, mas não se lhe atribui carácter prioritário.
O Geólogo Senhor José António Carvoeiras Goinhas ficou encarregado do seguinte:
a) Apoio geológico aos trabalhos de prospecção, pesquisa e reconhecimento, em curso na Faixa Zincífera Alentejana, os quais se destinam essencialmente à inventariação das existências de minérios de zinco e chumbo (com carácter fortemente prioritário).
b) Estudos geológicos de pormenor na zona SE da grande mancha de “pórfiros e rochas afins da região de Beja” e nas manchas de “rochas graníticas e tonalíticas da região de Évora”, que abrangem, entre outras, as minas de cobre de Sobral, Feijoas, Monte do Trigo, e Castelos, nas quais o 1.º Serviço teve já importante actividade em matéria de prospecção. (A estes estudos não foi dado carácter prioritário, sobretudo por se considerar que os da Faixa Zincífera, dado o atraso em que se encontram, seriam já suficientes para absorver inteiramente o tempo de trabalho do Geólogo. Todavia, dado o interesse manifestado pelo Geólogo em actuar em região com estas características, julgou-se de aproveitar esse interesse. Frisou-se, no entanto, bem claramente, que, no momento presente, o assunto se não apresenta com carácter prioritário. Isto não significa que novos dados não possam modificar rapidamente a situação e fazer convergir para estas áreas a maior parte dos esforços da Brigada).

Quanto ao apoio geológico na Faixa Zincífera, espera-se que ele se traduza na produção de cartas geológicas à escala 1:5 000, não só de áreas já prospectadas por alguns métodos geofísicos e geoquímicos, cuja investigação não tem prosseguido por falta de apoio geológico, mas também de áreas ainda não prospectadas, cujas características geológicas (conhecidas através de anteriores levantamentos pouco pormenorizados) nos levam a atribuir-lhes potencialidade para jazigos de zinco e chumbo.
Não se tem, até ao presente, definido quais as cartas a levantar à escala 1:5 000, confiando-se que o Geólogo saberia estabelecer o programa que mais conviria, dentro da orientação superiormente fixada, tendo em vista a mais rápida resolução do problema.
Uma vez, porém, que não se tem apresentado tal programa, este será oportunamente enviado para cumprimento.
Ainda no que respeita à Faixa Zincífera, espera-se:
a) que se faça o estudo pormenorizado das sondagens N.ºs 1 a 25 da área de Algares de Portel, conforme foi, há longo tempo, determinado;
b) que se apresente o relatório dos estudos geológicos e das sondagens efectuadas na região de Vale do Vargo;
c) que se acompanhe a evolução dos estudos que Intermine Limited efectua na área da região de Portel que lhe foi adjudicada para trabalhos de prospecção, pesquisa e exploração de jazigos minerais.

No que respeita às manchas de “pórfiros e rochas afins da região de Beja” e de “rochas graníticas e tonalíticas da região de Évora”, não se esperam levantamentos às escalas de 1:100 000, 1:50 000 ou 1:25 000, que são da competência dos Serviços Geológicos.

Espera-se, sim, que sejam feitos itinerários atravessando toda a área, segundo esquema previamente estabelecido, para definir as zonas realmente potenciais para os jazigos que se procuram. Demarcadas estas zonas, haverá que fazer levantamentos pormenorizados, à escala 1:5 000 ou de menor denominador.

Repete-se que a este programa não foi dado ainda carácter prioritário.

Só se aceita a distracção do tempo do Geólogo para este programa, quando tenham entrado na normalidade os estudos na Faixa Zincífera

Porto, 5 de Agosto de 1972
O Engenheiro Chefe da 1.ª Brigada de Prospecção
(a) Albertino Adélio Rocha Gomes

O Dr. José Goinhas, após ter recebido este documento desfez-se em desculpas e eu dei o incidente por encerrado, mas a realidade é que o relatório sobre a região de Vale de Vargo, interpretativo da estrutura geológica, com base nas numerosas sondagens que ali tinham sido efectuadas, não surgiu até à data da minha demissão da chefia da 1.ª Brigada de Prospecção.
Também não se verificou o aperfeiçoamento esperado no exame dos testemunhos das sondagens N.ºs 1 a 25 da área de Algares de Portel, como lhe tinha sido determinado.
Quando, em 2-12-1974, o Dr. José Goinhas surgiu em S. Mamede de Infesta acompanhado de todos os outros técnicos superiores da 1.ª Brigada de Prospecção, já com o propósito de prestar apoio ao Director-Geral, que ia pôr à discussão a sua proposta de nova organização da DGMSG, estranhei as referências muito elogiosas que fez às minhas intervenções na sessão que ali se realizou.. (Ver post N.º 77)
Poucos dias depois, sentindo a protecção do Director-Geral, resolveu afrontar-me, insistindo na marcação de uma sondagem na área de Viana do Alentejo, em local de que eu discordava totalmente, por se prever que, dada a grande proximidade de outra já executada, nenhuma informação adicional iria trazer. Como referi no post N.º 80, aceitei que a proposta fosse superiormente apresentada, com as assinaturas de todos os Engenheiros e Geólogos que com ele concordavam e com a minha assinatura de discordância.
Mas as atitudes estranhas do Dr. José Goinhas não ficaram por aqui.
Em Seminário de Geoquímica que se realizou na Universidade de Aveiro, em Janeiro de 1976, para o qual fui convidado pelos Drs. Britaldo Rodrigues e Edmundo Fonseca, apresentei-me como Chefe da 2.ª Brigada de Prospecção do SFM e dei a conhecer a actividade que tinha em curso, sobretudo na Faixa Metalífera da Beira Litoral, com grande incidência no distrito de Aveiro.
O Dr. José Goinhas compareceu também e, com grande surpresa minha apresentou-se como representante da 1.ª Brigada de Prospecção, acrescentando que essa Brigada era também uma criação do Senhor Engenheiro Rocha Gomes!
Em primeiro lugar, não compreendi porque, havendo na 1.ª Brigada um Engenheiro encarregado da prospecção geoquímica e, não sendo o Dr. Goinhas especialista em tal matéria, foi ele indicado para representar a Brigada.
Em segundo lugar, a referência elogiosa não se concilia com a acusação de eu ter ocasionado “enorme prejuízo ao Estado pelas deficiências no planeamento, execução e controle das vastas e delicadas tarefas a cargo da 1.ª Brigada de Prospecção”
Por último, quero assinalar que o Dr. José Goinhas chegou a ser indigitado para Director-Geral, quando FSC foi exonerado.
Não foi investido em tal cargo, mas conseguiu ser nomeado Director-Geral do Gabinete para a Prospecção, Pesquisa e Exploração de Petróleos, quando o cargo ficou vago por falecimento do respectivo titular! Além da sua notória impreparação nos complexos problemas da prospecção de petróleos, é surpreendente que se não tenha preocupado com os prejuízos que seriam de prever na 1.ª Brigada com a sua deserção.

87 – A minha demissão da chefia da 1.ª Brigada de Prospecção. Continuação 6

Continuo a responder à primeira pergunta formulada no post 84, caracterizando os autores da exposição que originou a minha demissão, na sua qualidade de técnicos do SFM:

O Geólogo Vítor Manuel Jesus Oliveira
Ingressou na 1.ª Brigada de Prospecção em Setembro de 1966
Proporcionei-lhe também estágio, durante alguns meses, na zona de S. Domingos da Faixa Piritosa Alentejana, sob a orientação de dois experientes Geólogos ingleses que ali actuavam, integrados na Companhia Mining Explorations (International).
Em 1970-71, foi-lhe concedida bolsa para frequência de Curso de Geologia Aplicada (Opção de Jazigos Minerais) na Faculdade de Ciências de Paris.
Encarreguei-o, principalmente, de dar o apoio geológico aos estudos na Faixa Piritosa Alentejana e aos trabalhos de prospecção que estavam em curso em áreas atribuídas à Secção de Vila Viçosa.
Vítor Oliveira foi, dos três Geólogos que estavam integrados na 1.ª Brigada de Prospecção, à data do vergonhoso documento, aquele que maior presença teve em trabalhos no campo.
Embora modesta, foi positiva a actividade que exerceu, de modo discreto.
As minhas relações para com ele foram sempre muito cordiais, como pode ser demonstrado por correspondência não oficializada sobre temas de serviço, em datas próximas da do infame documento, que ainda retenho no meu arquivo pessoal. Foi, por isso, com a maior surpresa que vi a sua assinatura nesse documento, até porque tinha bem presente a sua recente declaração de que ele e os outros técnicos da Brigada “não me trairiam”! (Ver post N.º 72)
Em princípios de Julho de 1975, visitei com meus alunos da Faculdade de Ciências do Porto, as zonas do Alentejo onde tinham sido obtidos êxitos nos trabalhos de prospecção e pesquisa mineiras que eu lá tinha dirigido. Acompanhavam-me, também, três geólogos seniores da sede do SFM, que eu convidara para tomarem conhecimento local desses êxitos.
No dia 3, quando estava a tomar o pequeno almoço no Café Coelho contíguo ao Restaurante Alentejano, o Senhor Coelho, proprietário do Café, tendo visto chegar o Geólogo Vítor Oliveira e sabendo das nossas boas relações, chamou-lhe a atenção para a minha presença.
Vítor Oliveira, de imediato, se dirige para a mesa em que também se encontrava um dos Geólogos e cumprimenta-o primeiramente.
A seguir, estende a mão para mim e diz: Bom dia, Engenheiro Rocha Gomes! Obviamente que não correspondi ao seu gesto, deixando-o de mão estendida, até que decidiu retirar-se. A minha vontade era esbofeteá-lo como punição pelo infame documento que subscrevera.
Conhecedores dos antecedentes, todos se surpreenderam pela atitude incoerente de Vítor Oliveira, depois dos insultos com que me tinha brindado.
Também o Senhor Coelho ficou estupefacto e eu tive que o informar do mau comportamento para comigo dos engenheiros e dos Geólogos da Brigada, após a Revolução.
Quando foi criada a Carreira de Investigação, Vítor Oliveira conseguiu ser classificado como Investigador Auxiliar e foram-lhe atribuídas funções mais importantes que aquelas que eu desempenhava, apesar de eu ser Investigador Principal.
Numa das reuniões realizadas em Lisboa, presidida por Delfim de Carvalho, na sua qualidade de Investigador Coordenador e na ausência do Director-Geral, que costumava presidir, apesar de não ter obtido classificação de Investigador, um dos temas em análise foi a admissão de mais investigadores.
Nessa reunião, que oportunamente descreverei, manifestei-me no sentido de se definirem prioritariamente os programas a cumprir, para se detectarem as reais necessidades.
Aconselhava, porém, que se procurasse melhorar a preparação dos actuais Investigadores, para se evitarem os erros que vinham sendo cometidos, alguns dos quais estiveram bem patentes na exposição dos trabalhos em S. Mamede de Infesta, quando da comemoração dos 50 anos do SFM.
Declarara eu, também, não ser de aceitar a presença de Geólogo com uma visão limitada dos reais problemas do SFM numa Comissão de Investigadores como representante do SFM, no âmbito da investigação científica.
Quando, na reunião de 2-5-1990, se procedia à leitura da Acta da sessão anterior, o Dr. Vítor Oliveira reage abruptamente, dizendo que apesar do muito respeito que nutria por mim, dada a minha idade, o que estava registado na Acta era uma provocação, pois tal não tinha sido afirmado.
O Director-Geral, que presidia a esta reunião, perante a situação criada, consultou os Investigadores presentes e quase todos concordaram com o Dr. Vítor Oliveira. Dos que tinham ido de S. Mamede de Infesta, apenas um declarou que as palavras que acima registei não tinham sido ditas.
Aconteceu, porém que o Dr. Delfim de Carvalho, a quem a redacção final da Acta tinha sido apresentada, não teve outra alternativa senão confirmar o que eu dissera. Declarou que, a sua qualidade de Presidente o obrigava a estar atento ao que se dizia e por isso confirmava as minhas declarações.
Estes dois acontecimentos revelam bem, não só o carácter de Vitor Oliveira, mas também a atenção dos Investigadores ao que se dizia nas reuniões, ou uma solidariedade para com um colega levada ao extremo.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

86 – A minha demissão da chefia da 1.ª Brigada de Prospecção. Continuação 5

Continuo a responder à primeira pergunta formulada no post 84, caracterizando os autores da exposição que originou a minha demissão, na sua qualidade de técnicos do SFM:

O Geólogo Delfim de Carvalho
É actualmente Administrador da EDM, empresa pública a que mais adiante irei referir-me
Oriundo da família Carvalho, conhecida pelos seus negócios de volfrâmio, nos anos da 2.ª Guerra Mundial e nos que se lhe seguiram.
Esta família tinha afectuosa relação com o Director-Geral de Minas FSC, criada quando FSC chefiara a Circunscrição Mineira do Norte. Da tal relação, resultou o duplo apadrinhamento de Delfim de Carvalho (nascimento e casamento).
Delfim de Carvalho foi o personagem que viajou, em Maio de 1965, com o Director-Geral e comigo, de Lisboa à região de Portel, sem eu ter chegado a saber a sua identidade e em que qualidade nos acompanhava (Ver post N.º 34).
Só em Novembro de 1965, quando apareceu em Beja, para ingressar, como Geólogo, na 1.ª Brigada de Prospecção, fiquei a saber quem era e a sua relação com o Director-Geral.
Para o introduzir na geologia do Sul do País, comecei por lhe proporcionar estágio, na Faixa Piritosa Alentejana, na área da Mina de S. Domingos, sob a orientação de dois experientes Geólogos de Mining Explorations (International), que cumpriam contrato com o Estado, visando a descoberta de jazigos de pirite.
Alguns anos depois, foi-lhe também proporcionado um Curso pós-graduação em Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.
Encarreguei-o, principalmente, de melhorar o conhecimento geológico da Região de Cercal-Odemira, com especial incidência nos aspectos estruturais, com o objectivo de conseguir bom apoio às campanhas de prospecção geofísica e geoquímica que iriam projectar-se para a detecção de jazigos de pirite idênticos aos da faixa Piritosa.
Levantamentos litológicos pormenorizados anteriores, à escala 1:5 000, cobrindo uma área de 399 km2, realizados sob minha directa orientação, haviam revelado ambiente geológico idêntico ao da Faixa Piritosa (Ver post N.º 11). Impunha-se aperfeiçoar estes levantamentos.
Dei-lhe instruções no sentido de analisar a possibilidade de as alterações, que eu notara à superfície, terem origem hidrotermal e de, a partir delas, se acrescentar mais um guia útil para a prospecção.
O que eu admitira como hipótese digna de investigação, Delfim de Carvalho tomou como certeza, sem ter feito, ou promovido que se fizessem, os exames laboratoriais que se impunham.
Seguindo um critério pessoal, inteiramente subjectivo, passou a fazer a separação de zonas com diferentes graus de alteração (forte, média, fraca).
Não era, obviamente, essa a separação que eu esperava, mas antes uma definição de halos com diferentes características mineralógicas que constituíssem verdadeiros guias, circundando possíveis jazigos, como consta da literatura sobre esta matéria.
Da sua original separação de zonas de alteração nenhuma contribuição útil resultou para a prospecção.
O Dr. Delfim de Carvalho não dedicou, como lhe competia, a sua maior actividade aos trabalhos de campo, durante os sete anos em que teve presença efectiva na 1.ª Brigada, sob minha chefia (descontados três anos de ausência, em serviço militar e em curso pós-graduação).
A sua actividade mais útil foi a classificação de testemunhos das sondagens que se realizavam quase exclusivamente com apoio em resultados das técnicas geofísicas e no conhecimento empírico dos locais favoráveis à ocorrência dos jazigos, deduzido dos levantamentos litológicos efectuados anteriormente ao seu ingresso na Brigada.
Confiante na especial preparação para prospecção de jazigos de pirite, que teria adquirido, após a sua pós-graduação nos Estados Unidos, aceitei a sua proposta para que se efectuasse uma sondagem na região de S. Luís, exclusivamente com apoio nos seus estudos geológicos.
Ele afirmava ter encontrado afloramentos de determinadas rochas vulcânicas que, segundo consagrado autor de artigo sobre esta matéria, seriam indicações seguras da existência de jazigos.
Esse autor, tão confiante se mostraria da correlação, que até previa moinhos a triturar minério, quando tais rochas eram encontradas. E eu fui nessa cantiga. O furo foi um tremendo fiasco!
Embora pretenda apresentar-se como experiente prospector, a realidade é que a Delfim de Carvalho pouco trabalho original pode ser atribuído.
Refugiou-se mais no gabinete tornando-se exímio em utilizar estudos de outros aos quais adicionava ideias próprias, muitas vezes de carácter fortemente especulativo, para publicações, figurando como autor.
Ainda, sob minha chefia, ele e três outros Geólogos, fizeram publicar no Volume XX – Fascículos 1 e 2 de “Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro”, sem meu conhecimento prévio e sem meu consentimento, artigo intitulado “Observações sobre a geologia do Sul de Portugal e consequências metalogenéticas” com larga reprodução de resultados de trabalhos nos quais pouco ou nada tinham participado.
Julgo ter sido este o primeiro artigo em que são citados na bibliografia, os “relatórios internos”, sem menção dos seus autores. Tal procedimento viria, mais tarde, a ser adoptado em cópias descaradas de estudos de outros, muitos dos quais de minha autoria.
Após a minha demissão da chefia da 1ª Brigada de Prospecção, passou a publicar numerosos artigos, fazendo-se passar por autor de estudos nos quais tivera escassa ou nula intervenção.
São exemplos os artigos sobre a descoberta do jazigo de Neves-Corvo, aos quais me refiro nos posts N.ªs 38 e 41 a 43, com severas críticas aos erros grosseiros neles contidos.
O chamado “jazigo do Salgadinho” é um exemplo da apresentação apressada de um êxito que chegou a ser comparado a Neves-Corvo, mas que não passou de uma ocorrência de mineralização cuprífera descoberta com base em discreta anomalia gravimétrica registada ainda durante a minha chefia e que eu tinha planeado investigar pelo método de polarização induzida, estando porém aguardando a aquisição de aparelhagem adequada.
Pelo que chegou ao meu conhecimento, Delfim de Carvalho, ansioso por se creditar com um êxito cuja autoria reivindicava, projectou numerosas sondagens, desobedecendo às boas regras da prospecção e precipitando-se a promover a jazigo uma ocorrência, cujo valor industrial não ficou demonstrado.
Durante os 7 anos em que exerceu funções sob minha chefia, as nossas relações foram sempre cordiais e era de meu conhecimento que, poucos dias antes de ter subscrito o infame documento a recusar a continuidade da minha chefia da 1.ª Brigada de Prospecção, fizera as melhores referências a meu respeito a um seu Colega que sabia ser meu amigo.
Quanto às atitudes do Director-Geral, seu padrinho, que estavam a dificultar a obtenção de êxitos no SFM, mostrava-se também muito crítico, pretendendo demonstrar que as suas opiniões não eram influenciadas pelas relações entre eles existentes.
Como prémio pela sua traição para comigo, foi nomeado Sub-Director Geral, sendo-lhe confiada a direcção dos Serviços Geológicos de Portugal!
Quando foi criada na DGGM a Carreira de Investigação, à qual eu fui o único Engenheiro de Minas a concorrer, conseguiu ser classificado como Investigador Coordenador, por um júri externo, constituído sobretudo por Geólogos professores universitários.
Atribuo tal classificação à sua filiação politico-partidária oportunista, porquanto o seu currículo estava longe de se aproximar do meu e eu fui classificado em 3.º luigar!
Em conversa com um dos membros do júri que, como eu, participava em reunião de Engenheiros de Minas realizada em Espinho, falei-lhe neste Geólogo e ele mostrou não o conhecer.
Lembrei-lhe então a classificação em que interveio e revelei-lhe conhecê-lo eu suficientemente para considerar que não tinha características de investigador, não merecendo sequer ser aceite nessa carreira, não só pelo seu fraco currículo, mas sobretudo pela sua desonestidade científica.
Visivelmente perturbado, pois já teria outras razões para perceber o seu erro, afastou-se dizendo: Cometem-se muitas injustiças!
Delfim de Carvalho, depois de ter contribuído para a destruição do SFM, ao subscrever o vergonhoso documento a que tenho vindo a referi-me e ao desertar da 1.ª Brigada de Prospecção, sem se preocupar com os prejuízos que a sua saída poderia ocasionar às “vastas e delicadas tarefas” desta Brigada, conseguiu ser nomeado Administrador da EDM (Empresa de Desenvolvimento Mineiro), cargo que actualmente mantém.
Esta Empresa, derivada da Sociedade Mineira de Santiago, nacionalizada após a Revolução de Abril de 1974, não teria razão de existir se o Serviço de Fomento Mineiro tivesse tido a evolução que eu tinha proposto e que o Secretário de Estado da Indústria e da Energia, Torres Campos, em Dezembro de 1974, também defendia (Ver posts N.ºs 78 e 79)
Embora a sua designação seja de Desenvolvimento Mineiro, pelo que chega ao meu conhecimento, a sua actividade tem-se restringido à recuperação ambiental de zonas mineiras onde a ex-Direcção-Geral de Minas, por incapacidade de uma eficaz fiscalização, permitiu grandes atentados ao ambiente, que o Decreto-lei de 1930 já severamente condenava.
Para esta recuperação tem contratado empresas especializadas, não tendo, portanto, actividade própria no terreno.
O ex-SFM estaria apto a realizar tudo isto e muito mais, como ficou demonstrado pelo seu passado, sobretudo no Sul do País, se Delfim de Carvalho e os outros técnicos superiores da 1.ª Brigada de Prospecção não tivessem contribuído poderosamente para a sua destruição
É minha opinião, que a EDM não tem justificação, como não têm também justificação as instalações de Alfragide. Nos amplos edifícios de S. Mamede de Infesta e nos terrenos ainda disponíveis, poderia centralizar-se toda a actividade directiva e laboratorial de um verdadeiro Instituto de Investigação dos Recursos Minerais de Portugal.
Os autores de tão grandes desperdícios de dinheiros públicos deveriam ser responsabilizados pelos seus esbanjamentos, num país que se proclama de pobre, mas que, mais propriamente, se classificaria de empobrecido por gente medíocre que tem ascendido a cargos directivos sem a devida preparação. Não somos, afinal, um País rico em minas pobres. Somos um país rico em jazigos minerais, mas empobrecido por incompetência dos responsáveis pela administração dessas riquezas, que entregam, a troco de quase nada, a estrangeiros para delas se aproveitarem.
Pelo carácter ambicioso e pouco escrupuloso, que tem revelado e pelas suas ligações afectivas ao Director-Geral, cuja permanência no cargo eu tinha posto em causa, considero Delfim de Carvalho um dos principais autores do texto que levou à minha demissão da chefia da 1,ª Brigada de Prospecção.