segunda-feira, 31 de julho de 2017

209 A - A formação profissional.


Realçando, uma vez mais, a fundamental importância da formação profissional, no aproveitamento dos recursos do País, a seguir apresento a minha colaboração à Ordem dos Engenheiros, aproveitando oportunidade que me ofereceu solicitação deste Organismo.

Colaboração pedida, pelo Presidente da Secção Regional do Norte da Ordem dos Engenheiros


1: Inquérito intitulado:"O meu contributo para a renovação da Ordem"
12 de julho de 2016

Caro Colega ALBERTINO ADELIO ROCHA GOMES,

Iniciámos, recentemente, o nosso mandato de três anos na Secção da Região Norte da Ordem.

Tivemos uma das mais expressivas votações de sempre mas, mesmo assim, de cerca de 12 200, só 2156 (17,7%) votámos. Assim, o nosso primeiro objetivo não pode deixar de ser aumentar muito, muito, a participação dos membros na vida e atividades da Ordem:

- O que é que a Ordem pode fazer mais pela profissão e por mim?

O que é que eu posso fazer pela Ordem individualmente, no meu Colégio e na minha Delegação Distrital?

Uma coisa é certa: juntos, poderemos fazer incomparavelmente mais.

Há uma norma básica de gestão da mudança que diz: primeiro quem, depois o quê.

Neste sentido, estamos a contactá-lo no sentido de pedir expressamente a sua colaboração, desde o início, na definição do projeto de renovação que nos propomos desenvolver em prol da valorização profissional dos membros (prestígio, empregabilidade, empreendedorismo) e da maior projeção e visibilidade dos Engenheiros na sociedade.

Poderá, por exemplo:

Sugerir aspetos concretos a melhorar no funcionamento da Ordem;

Propor temas para os grupos de trabalho (com seis meses de duração) que vão arrancar este ano (e, melhor ainda, propor-se participar em pelo menos um deles);Propor temas para as novas ações de formação;

Sugerir atividades para o Clube do Engenheiro;

Participar nas sessões de informação e debate (de início mensais, podendo tender para semanais) sobre temas profissionais e culturais que vamos realizar nas sedes regionais e distritais, a partir de setembro (quinta feira, entre as 18 e as 20 horas), com meia hora de conversa a seguir e, para os que quiserem ficar um pouco mais, um jantar convívio surpreendente, também no preço.

Assim, agradecemos a resposta, em dois minutos, a um pequeno inquérito

Muito obrigado pela participação.

Poderá, também, contactar-me directamente através do e-mail

Com muita estima

Joaquim Poças MartinsPresidente do Conselho Diretivo



2- A minha resposta-27 de Julho de 2016

Senhor Presidente do Conselho Directivo da Ordem dos Engenheiros

Ex.mo Colega:

Aposentado há 26 anos, não tenho acompanhado os recentes progressos na Indústria Mineira, para poder emitir um parecer suficientemente fundamentado sobre o papel que deve ter a Ordem, no sentido de melhorar a formação dos Engenheiros de Minas, para desempenharem, de modo eficaz, a sua missão

Quando, em 1944, iniciei o exercício da profissão, fiquei surpreendido com o facto de quase todos os nossos melhores jazigos minerais estarem a ser explorados por Empresas estrangeiras, sendo Engenheiros de Minas portugueses empregados dessas Empresas, alguns com a categoria de Directores-Técnicos, para simulação do cumprimento da lei vigente.

Embora isso me surpreendesse, eu estava longe de pensar que não era legal atribuir a estrangeiros concessões mineiras, pois em Livro publicado pela Direcção-Geral de Minas (DGM), compilando a legislação promulgada, não constava lei que proibisse tal atribuição.

Mas, em 1972, fiquei, casualmente, a saber que, afinal, era proibida a exploração dos nossos jazigos minerais por entidades estrangeiras.

Em Acórdão da Procuradoria Geral da República, que vi publicado no Diário do Governo de 22-2- 1972, foi chamada a atenção da DGM para a lei N.º 1994 de 13 4-1943 e para o Decreto-lei N.º 46 312 de 28-4-1905, segundo os quais “é vedado outorgar a empresas estrangeiras, concessões para a exploração de jazigos ou depósitos de jazigos minerais”, por se tratar de “bens dominiais”.

Isto é ainda reforçado pelo Decreto-lei Nº 46 312 de 28 de Abril de 1965, do qual consta o seguinte:

“Na verdade, a exploração e gestão de bens dominiais estão de tal modo ligadas ao interesse público e à economia nacional, que nem se compreende quanto teria de melindroso permitir o livre acesso de estrangeiros a esse sector, razão por que logo a própria Constituição da República estatui, através do seu artigo 59.º:

“São considerados de interesse colectivo e sujeitos a regime especial, no tocante aos seus direitos e deveres, nacionalidade, corpos gerentes, pessoal e intervenção ou fiscalização do Estado, conforme as necessidades de defesa nacional, da segurança pública e do desenvolvimento económico e social, as empresas concessionárias de serviços públicos, de obras públicas ou de exploração de coisas do domínio público do Estado, as sociedades de economia mista e de economia pública, as empresas de exclusivo ou de privilégio não concedido em lei geral e ainda todas as empresas que exerçam qualquer actividade considerada, por lei, de interesse nacional.”

Foi, pois, a DGM - Organismo oficial que tinha o dever de zelar pelo bom aproveitamento do nossos recursos minerais - que desrespeitou e continuou a desrespeitar disposições legais.

O motivo, pelo qual isto acontecia, não era difícil de descobrir.

Os cursos de Minas, tanto da Faculdade de Engenharia do Porto, como do Instituto Superior Técnico de Lisboa não estavam estruturados de modo a formar os técnicos de que o Pais mais precisava.

Os Engenheiros que ingressavam na Função Pública, sem experiência no terreno, pouco ou nada contribuÍam para cumprimento dos requisitos fundamentais na exploração mineira: segurança nos trabalhos; economia e bom aproveitamento dos jazigos minerais.

A atribuição de concessões mineiras era extremamente facilitada e a fiscalização da actividade dos concessionários era deficiente ou mesmo inexistente, em muitos casos.

Mas, em 1939, quando já se prenunciava o início da 2.ª Guerra Mundial, acontecia um fenómeno que ficou designado por “Febre do volfrâmio”.

O tungsténio, metal essencial ao fabrico de armas de guerra, atingiu valores elevadíssimos e isso provocou uma intensa procura, sobretudo por empresas alemãs e inglesas e uma subsequente exploração desenfreada, a delapidar essa riqueza nacional.

Houve, então, alguém no Governo (segundo me constou, teria sido o Ministro Costa Leite (Lumbrales) ou o Ministro Ferreira Dias), que teve a feliz ideia de procurar disciplinar toda a actividade mineira no País, atribuindo ao Estado um papel fundamental no inventário e no racional aproveitamento dos recursos minerais do País.

Para concretizar este objectivo, criou, pelo Decreto-lei N.º 29725 de 28-6-1939, um Organismo denominado “Serviço de Fomento Mineiro” (SFM), integrado na DGM.

O Governo de então demonstrou grande empenho em dotar este Organismo dos meios para desempenhar eficazmente a sua missão.

O primeiro técnico designado para dirigir o SFM, o Engenheiro António Bernardo Ferreira, soube adoptar os procedimentos correctos para atingir o objectivo pretendido.

Criou núcleos de investigação, de Norte a Sul do País, nas principais zonas mineiras e nelas colocou Engenheiros e Agentes Técnicos de Engenharia, alguns oriundos dos Serviços centrais de Lisboa e Porto, outros de recente formatura, para dirigirem os trabalhos de pesquisa e reconhecimento dos jazigos minerais.

Consciente de que todos estes técnicos eram inexperientes, deu as facilidades possíveis nesse tempo, em que a Guerra que se anunciava, teve o seu início apenas três meses após a promulgação do Decreto de criação do SFM.

Conseguiu mesmo contratar Empresa sueca para aplicar, no País, métodos geofísicos altamente promissores para a descoberta de concentrações minerais ocultas.

Eu tive a felicidade de iniciar a minha vida profissional, auxiliando, com pessoal português, a Empresa sueca a usar as suas técnicas, acabando por me tornar especializado nelas.

Por este e por outros motivos, fui nomeado para exercer importante cargo dirigente, com área de intervenção abrangendo a região do País a Sul do Rio Tejo.

O Eng.º Bernardo Ferreira queria fazer do SFM uma Escola onde os técnicos saídos das Universidades e doutros estabelecimentos de ensino, completassem a sua formação.

Estava prevista até a especialização em países estrangeiros, para que realmente fossem os portugueses a aproveitar os seus próprios recursos.

Mas, infelizmente o Eng.º Bernardo Ferreira faleceu em 1948

Isto foi trágico para o País.

Todos os dirigentes que se lhe seguiram estiveram muito mais preocupados com os seus interesses pessoais que com os interesses do País.

Não tinham ascendido aos seus cargos por competência, mas por compadrio, influência política e religiosa.

Em muitos casos, por mesquinhês de caracter, praticaram actos ostensivamente contrários aos objectivos do SFM, classificáveis como criminosos. A natural consequência foi a extinção do Serviço de Fomento Mineiro!!!

Apesar da sistemática oposição ao progresso das actividades a meu cargo, posso orgulhar-me de terem sido de minha iniciativa os maiores êxitos de todos os tempos, na descoberta e no reconhecimento de jazigos minerais.

É disso representativa a descoberta do gigantesco jazigo de Neves-Corvo, que é actualmente o maior jazigo da Europa, de minério de cobre, zinco, chumbo e outros metais.

Toda a minha actividade, nos 47 anos de exercício da profissão de Engenheiro de Minas, foi orientada no sentido de acabar com aquela vergonha de serem estrangeiros a delapidarem o nosso património mineiro e de serem depois portugueses, colocados em altos cargos governativos, a declararem que somos pobres em recursos naturais e a mendigarem depois o que os estrangeiros souberam aproveitar da nossa imensa riqueza-

A recompensa que tive, quase no final da minha vida profissional foi um processo disciplinar, que resultou em absolvição, apenas por amnistia originada pela vinda de um Papa a Portugal.

Isto tenho vindo a relatar, desde 2008, no meu blog “Vivências Mineiras”, que é uma espécie de “História Tragico-Mineira”-

Tenho plena consciência de que a situação é difícil, mas lembro-me das “Màximas de Rosenkranz”, uma das quais eu cito no post Nº158 e acredito que Ordem poderá ter um papel decisivo para acabar com a vergonha que referi.

Com os meus quase 96 anos, é esta a minha possível contribuição.


3- O agradecimento do Presidente
28 de julho de 2016

Caro Colega Albertino Gomes,

Muito obrigado pelo texto importante que quis compartilhar connosco.
Assunto que eu pessoalmente desconhecia.
Vou passar esta informação ao Colega Joaquim Gois, do Colégio de Minas.
Espero contar com mais colaboração sua.
Os seus 96 anos serão os 60 de muitos.

Até breve,

Com muita estima,

Joaquim Poças Martins

domingo, 30 de julho de 2017

56 A – 16.ª parte XLIVI - Entrevistas da jornalista Carla Amaro a habitantes da Serra de Arga


O Jornal de Notícias publicou, em 15-9-2012, longa reportagem da jornalista Carla Amaro, a vários habitantes da Serra de Arga (S. João de Arga, Arga de Cima, Arga de Baixo), à qual deu o título O Senhor é filho de S. João?

Para suavizar a leitura destas Divagações, compensando a aridez de anteriores partes, a seguir transcrevo duas curiosíssimas passagens da reportagem:

1 –“Quem não a conhece ou ouviu falar dela, a pretexto da romaria que todos os anos leva ao Alto Minho milhares de pessoas em peregrinação ou em visita.

Mas a Serra d’Arga não atrai só pela sua grande festa de finais de Agosto.

Há quem acredite e, muito a sério, num misterioso poder dos seus minérios. A extracção, no passado, salvou da miséria os que da serra não saíram.

Há quem acredite que o magnetismo pode ser a solução para tratar muitos casos de infertilidade”.

2 – “José Matias falaria de quase tudo o que a serra tem, menos do eventual poder do seu magnetismo, que alguns acreditam exercer influência sobre o aparelho reprodutor humano.

Embora tenha ouvido falar disso, há muito tempo, diz que não é mestre nesses assuntos, que às senhoras dizem respeito e só a elas devem interessar.

Opinião diferente tem Ângelo Soares, um apaixonado pela serra d’Arga e um crente fervoroso de que o magnetismo dos minérios presentes na serra tem efeitos no corpo humano, inclusive o melhoramento da fertilidade nos homens.

Acredita porque as histórias que ouviu da boca dos que lá vivem o levam a acreditar.

E porque tudo o que existe sobre os poderes do magnetismo, nomeadamente no tratamento de certas enfermidades e na eliminação da dor, reforça a sua convicção teimosa.

O seu interesse pela força dos minérios existentes em Arga é velho e alimentou-lhe as horas sem conta dedicadas a investigações pessoais.

Adquiriu livros, fotocopiou documentos antigos, navegou na internet, consultou relatórios de prospecções na região, falou com entendidos em magnetismo e tanto trabalho resultou na certeza de que este lugar tem qualquer coisa que ajuda os casais que não conseguem ter filhos.

Da pesquisa destaca um relatório dos Serviços de Fomento Mineiro sobre os trabalhos de prospecção efectuados na serra, em 1970-71, onde se reconhece a existência de reservas de algumas dezenas de milhões de toneladas de minério de tungsténio, descobertas em sondagens projectadas com base em anomalias magnéticas em diferentes locais da serra, como Minas de Valdarcas, Lapa Grande, Fraga e Fervença.

O mesmo documento dá conta de concentrações de minerais úteis (volframite, ferberite e scheelite), que têm a particularidade de ocorrer, frequentemente, no seio de concentrações mais ou menos maciças de pirrotite.
Sobre o magnetismo, lê-se no relatório dos técnicos Rocha Gomes e Alvoeiro de Almeida, que a pirrotite tem susceptibilidade magnética relativamente elevada.”

terça-feira, 25 de julho de 2017

Índice de 56 A – Divagações suscitadas por uma amostra de minério de tungsténio.


56 A - 1.ª parte

I – As explorações de volfrâmio, durante a 2.ª Guerra Mundial

II – Nova descoberta de volframite, em 1954

III – A “jorra”, resultante da alteração de pirrotite

IV – As boas relações entre Morais Cerveira e Soares Carneiro

V – A aplicação do método magnético, para detecção de pirrotite oculta

VI – A minha intervenção em nova campanha de prospecção magnética

VII – A execução de sondagens, com base em resultados da prospecção magnética

VIII – A detecção de scheelite, usando um mineralight

IX – O início de uma campanha de prospecção, extensiva a vasta área da Região

X – O levantamento geológico da Região

XI – A tese do Geólogo alemão Bayer sobre o jazigo de Covas

XII – Os estudos dos Geólogos checos Yanecka e Strnad

XIII – O estágio de Vítor Manuel Correia Pereira, sob a orientação dos Geólogos checos

XIV – A minha boa colaboração com os Geólogos checos

XV – As aulas de campo a estudantes universitários, na região onde ocorrem as Minas de Covas




56 A - 2.º parte

XVI - A publicação do CHILAGE sobre prospecção de tungsténio, na Região de Caminha

XVII – O livro Guia da Excursão N.7 do CHILAGE

XVIII – O interesse do BRGM em efectuar prospecção mineira, em Portugal

XIX – Nova procura intensa de volfrâmio, originada pelas Guerras da Coreia e do Vietnam

XX - A intervenção da Empresa americana “Union Carbide”, suscitada pela minha publicação no CHILAGE

XXI – A transferência da actividade do SFM da Região de Vila Nova de Cerveira, para fora da zona mineira de Covas

XXII – O Interesse da Companhia COMINCO, pela zona do Serro



56 A – 3.ª Parte

XXIII – O “dogma” instituído por Soares Carneiro, de não se justificar a prospecção de minérios de tungsténio

XXIV - O Grupo de Trabalho do Tungsténio Os scheeliteiros

XXV – A constituição do “Grupo dos Scheeliteiros”

XXVI – O programa do “Grupo dos Scheeliteiros

XXVII – As intenções dos “Scheeliteiros”, relativamente à Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha - Ponte de Lima

XXVIII – O fiasco da actuação dos Scheeliteiros”




56 A – 4.ª Parte

XXIX - O meu parecer sobre a actividade de Union Carbide (UC),

XXX - A documentação técnica entregue por Union Carbide, quando rescindiu os seus contratos de prospecção mineira

XXXI - Os testemunhos das sondagens de Union Carbide.

XXXII – Consequências nas investigações mineiras, em curso, na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, por mudanças ocorridas nas principais chefias da DGGM


56 A – 5.ª Parte


XXXIII - Ministros insultam técnicos superiores da DGGM, para readmitirem, na função pública, em cargo dirigente, Geólogo fraudulento, ignorante nas matérias em que se afirmava perito


56 A – 6.ª Parte

XXXIV – A prospecção de tungsténio na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima e a importância, que simulava atribuir–lhe, um Geólogo, que havia sido nomeado Director–Geral de Minas, em muito estranhas circunstâncias.

XXXV –
A meteórica promoção de Alcides Rodrigues Pereira a elevado cargo dirigente na DGGM


56 A – 7.ª Parte

XXXVI – A minha decisão de elaborar o Relatório “circunstanciado

XXXVII – A intervenção do Ministro Veiga Simão


56 A – 8.ª Parte

XXXVIII – A elaboração do Relatório “circunstanciado”


56 A – 9.ª Parte

XXXIX – O processo disciplinar que me foi instaurado

XL - A prospecção mineira, na Região de Caminha, após eu ter sido proibido de realizar trabalho de campo


56 A – 10.ª Parte

XLI – A intimação para eu entregar o Relatório circunstanciado, na fase de elaboração em que se encontrasse


56 A – 11.ª Parte


XLII – A real necessidade do Relatório circunstanciado da minha actividade, na Região de Vila Nova de Cerveira - Caminha - Ponte de Lima, para a reprogramação da DGGM


56 A – 12.ª Parte

XLIII – A importância da Região de Vila Nova de Cerveira - Caminha - Ponte de Lima, na formação de especialistas nas técnicas de prospecção mineira


56 A – 12.ª Parte. Continuação



56 A – 13.ª Parte

XLIV – A minha proposta de instituição de um Centro de Investigação em Prospecção Mineira, no Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências do Porto, vocacionado para prestar serviços à comunidade, começando pela imediata retoma dos estudos na Região de Vila Nova de Cerveira - Caminha - Ponte de Lima


56 A – 13.ª Parte. Continuação 1


56 A – 13.ª Parte. Continuação 2


56 A – 13.ª Parte. Continuação 3


56 A – 13.ª Parte. Continuação 4



56 A – 14.ª parte

XLV– A real (imprevista) utilidade do Relatório circunstanciado da minha actividade, na Região de Vila Nova de Cerveira - Caminha - Ponte de Lima, cuja apresentação me foi imposta, perante a sua alegada urgente necessidade, não obstante o texto estar inacabado e sem a revisão final.


56 A -15.ª parte


XLVI – A especial participação da Dr.ª Raquel Alves, da Universidade de Braga


56 A – 15.ª parte. Continuação 1


56 A – 15.ª parte. Continuação 2
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segunda-feira, 24 de julho de 2017

56 A – 15ª parte - Continuação 2


Das conversas com Dr.ª Raquel Alves, realço ainda os temas seguintes:

7 - As fiscalizações da Direcção-Geral de Minas.

Dr. Raquel constatara que os serviços oficiais, além de atribuírem concessões mineiras, sem respeito pelas leis em vigor, eram ineficazes na fiscalização da actividade dos concessionários.

Concordando, citei até concessões, na sua zona de estudo, outorgadas em ambiente geológico desfavorável à ocorrência de minério.

Informei, também, saber de casos, no Alentejo, em que concessionários conseguiam ocultar, aos fiscalizadores, trabalhos subterrâneos, que não obedeciam às boas regras da arte de minas.


8 – Crimes e desleixos de técnicos superiores

Entre muitos outros, foram mencionados:

A destruição de mais de 100 000 amostras de sedimentos de linhas de água, resultantes de anos de árduo trabalho de operários, que aguardavam análises mais completas, por novos métodos, muito mais rápidos, para cuja aplicação o Laboratório de Química estava a equipar-se.

Tal destruição tinha sido ordenada pelo Geólogo João Manuel Santos Oliveira, quando foi nomeado Director dos Laboratórios do SFM, sem currículo que tal justificasse (!).

Nas suas visitas a locais de trabalho do SFM, Dr.ª Raquel notou incríveis demonstrações de desleixo, tais como:

- testemunhos de sondagens abandonados nas ruínas das instalações da Mina de tungsténio da Lapa Grande;

- 5 viaturas avariadas em Alfragide;

- uma sonda enferrujada, que fora adquirida na Polónia, não havendo pessoal habilitado a utilizá-la.


9 – O estudo, da Mina de Aparis, em Barrancos,
Mostrou admiração, quando a informei de ter, em preparação, um piso, a 210 m de profundidade, na Mina de Aparis, onde tínhamos perfurado quilómetros de galerias e muitos metros de poços e onde chegamos a produzir e a vender concentrados de cobre.

Salientei o elogio do prestigiado Geólogo alemão Gunter Strauss, que se ocupava em tese de doutoramento sobre o jazigo de pirite complexa do Louzal, quando lhe proporcionei visita à Mina.

Afirmou, em carta que me dirigiu a agradecer a visita, ser invulgar um reconhecimento tão amplo de jazigo, antes de passar à exploração.

Eu pretendia usar esta Mina, como Escola, para melhorar a formação dos técnicos superiores e médios, que eram destacados para as Brigadas sob minha chefia, muito deficientemente preparados.

Seria também Escola para formar mineiros, marteleiros, entivadores, etc.

Perdeu-se a oportunidade, com a precipitada concessão a Empresa, constituída com intervenção do Director-Geral Soares Carneiro.

10 - As condições de entrega de Neves – Corvo

Ainda se falou no Geólogo Leca, a propósito de referências elogiosas que fiz a respeito do BRGM francês, sobretudo pela qualidade das suas publicações.

Mostrei surpresa pela condecoração de Leca, que deveria ter sido punido, pela responsabilidade que teve, no atraso de 5 anos na descoberta do jazigo de Neves – Corvo.

Sabia que foi, de facto, castigado.

Mostrou conhecer o meu comentário ao artigo de Leca na Revista inglesa “Transactions of Mining and Metalurgy”, publicado na mesma Revista.


11 - Director-Geral Alcides Rodrigues Pereira


11.1 - Relatório circunstanciado, que me exigiu, sabendo-o incompleto e sem revisão final.

Fiz a entrega ao Eng.º Fernando Daniel, então dirigente do SFM.

Em cópia do ofício que lhe dirigi, registou a recepção, dando a entender, no que escreveu, intenção de me afastar da Secção de Caminha!

Dr.ª Raquel já tinha conseguido acesso aos 246 desenhos deste Relatório. Tinha até feito a sua digitalização.

Não lhe tinham fornecido o texto, declarando não o ter encontrado; mas depois, por aposentação de funcionários encarregados da Documentação, os substitutos acharam-no!

Concordou comigo, quando disse que este “relatório circunstanciado” continha matéria para várias teses de doutoramento.

Esteve desaparecido durante 10 anos (!!!), e fora exigido, com o argumento de ser urgente reformular os estudos na região de Caminha!!

Gostaria de saber o que fizeram, com ele, João Coelho e João Farinha.

O Eng.º Barros fez referência à sondagem 29, em ocasional conversa comigo, assim demonstrando ter também tido acesso ao relatório.


11.2- A proibição de realizar trabalho de campo

Mostrou surpresa com a “proibição de realizar trabalho de campo” e com os factos subsequentes até ao processo disciplinar, de que não resultou a minha demissão, apenas por amnistia decretada, em homenagem a um Papa, que tinha vindo a Portugal.

11.3 Alcides a classificar-me

Admirou-se quando lhe disse que o grosseiro Alcides Pereira se atreveu a classificar-me e até cometeu a suprema indelicadeza de desmentir afirmação que fiz sobre o uso de viatura oficial.

Atribuiu-me má classificação, quanto a relações humanas.

Recordei que o primeiro Director do SFM, o saudoso Engenheiro António Bernardo Ferreira, havia salientado, quando me promoveu a categoria superior, que eu era excelente condutor de homens.


12 – Doutoramento de Dr.ª Raquel Alves


Em 4 de Julho, a Dr.ª Raquel Alves, prestou provas públicas de doutoramento.

A tese, sobre tema denominado "Contribuição para um sistema de gestão integrada de sítios mineiros", foi brilhantemente defendida, perante júri presidido por Mário Machado Leite, Professor Catedrático da Universidade do Porto e Vice-Presidente do LNEG.

Em 4-9-2014, teve a extrema simpatia de se deslocar propositadamente à minha residência, para me oferecer um CD com a tese.

Mas eu não precisava de mais esta demonstração das suas qualidades de investigadora, que o País devia aproveitar.

Notei, porém, algum desalento, perante dificuldades com que estava a deparar, no início da sua carreira profissional.


13 - A minha próxima aposentação

Sobre a minha próxima aposentação, revelei preocupação com o destino de vasta documentação em meu poder.

Possuo cópias de todos os meus relatórios. Estarão disponíveis, caso se confirme, como consta, terem sido destruídos os exemplares que enviei, em triplicado.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

56 A – 15.ª parte. Continuação 1


6 - Erros de publicações

Independentemente das informações que encontrara nas “Vivências Mineiras”, pareceu-me que a Dr.ª Raquel já se tinha apercebido dos erros grosseiros de Goinhas, no seu artigo sobre a prospecção mineira.
Referindo-se, também, a Luís Martins, informei-a de ter usado página de artigo seu, em co-autoria com Goinhas, em ponto de exame, aos meus alunos, para detectarem os erros! Riu-se.


6.1 – Os erros graves de Delfim de Carvalho - As suas responsabilidades pela extinção do Serviço de Fomento Mineiro (SFM), que era uma “galinha de ovos de ouro”.

A Dr.ª Raquel Alves, ao usar a região mineira de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, como zona de estudo, com vista ao seu doutoramento, já encontrara suficientes motivos, para suspeitar da ineficiência e falta de perspectiva do Geólogo Delfim de Carvalho na gestão do SFM o que terá confirmado, quando teve acesso às “Vivências Mineiras”.

Com apoio do seu padrinho, Delfim de Carvalho tinha ocupado sucessivos cargos, assim chegando a dirigente da Empresa Pública EDM, cujas características descrevi no post N.º 86.

A Dr.ª Raquel Alves constatou que a EDM nada fazia directamente. Contratava empresas privadas, para fazerem o que lhe competia, revelando-se incapaz de controlar a actuação delas.

A poluição nas imediações das Minas de pirite do Alentejo e nas Minas de urânio, era disso um bom exemplo.

E a poluição ambiental, nas Minas de Covas, incluídas na sua zona de estudo, foi alvo de áspera censura pelo GEPAAV, que exigiu das autoridades a responsabilização pelos danos ocasionados por trabalho de recuperação ambiental pessimamente executado,

Tinham implodido as entradas das galerias dos pisos superiores ao 3.º, na Mina de Valdarcas e coberto a escombreira com aplitos e pegmatitos que exploraram para esse fim.

Persistiu, no entanto, a contaminação do Rio Coura, como constatou Dr.ª Raquel, em concentrados que fez em Vilar de Mouros, nos quais encontrou scheelite, por vezes em abundância.

É este um texto que o GEPAAV fez publicar:

“Os vilarmourenses, que madrugaram este dia 25 de Abril, depararam com um estranho e desagradável espectáculo quando olharam para o Rio Coura e constataram que as suas águas estavam tingidas de um amarelo forte e opaco.

Alertados de imediato, estiveram em Vilar de Mouros agentes da GNR e da Polícia Marítima que tomaram conta da ocorrência e recolheram amostras da água para análise.

Em pleno feriado e com uma temperatura agradável, estavam no largo do Casal e nas Azenhas diversos grupos de visitantes que, surpreendidos com o aspecto poluído do rio, provavelmente tão cedo não regressarão à freguesia.

Para além das consequências na riqueza biológica e piscícola do Coura, convém também não esquecer que aqui é captada a água consumida em grande parte do concelho de Caminha.

Infelizmente, não é a primeira vez que sucede um evento desta natureza, sendo que a última com semelhante impacto data de Maio de 2011.

A razão parece ser sempre a mesma:

a deficiente selagem das antigas minas de Covas. Uma obra com esse objectivo, da responsabilidade da EDM (Empresa de Desenvolvimento Mineiro) e orçada em 1,6 milhões de euros, foi dada por concluída em Abril de 2008, já lá vão cinco anos.

Porém, como se volta a comprovar, o problema da poluição do Rio Coura derivado das escombreiras do volfrâmio continua por resolver.

Por conhecimento do terreno, documentado com várias fotografias tiradas hoje mesmo, apontamos para que a origem de mais esta descarga poluidora se situe na ribeira do Poço Negro (imagens supra) — situada cerca de 700 m a jusante da barragem de Covas — que faz afluir ao Coura as águas contaminadas provenientes das velhas minas, pelos vistos mal seladas.

O GEPPAV, na defesa do património natural do vale do Coura e preocupado com a salvaguarda da saúde pública, vem desta forma alertar para uma questão que nos parece muito grave, ao mesmo tempo que exige das autoridades responsáveis urgentes medidas de apuramento de responsabilidades e resolução deste grave problema ambiental.”

6.2 - Mas a grande degradação do SFM iniciara-se, de facto, no período em que Soares Carneiro, ocupara o cargo de Director-Geral de Minas.

Soares Carneiro, quando exerceu funções na Circunscrição Mineira do Norte, criou boas relações com a família Carvalho de Pinhel, conhecida por negócios pouco escrupulosos, durante a “Febre do Volfrâmio”, que vários escritores, entre os quais Aquilino Ribeiro, aproveitaram para romances, suscitados por factos ocorridos, em zona de grande pobreza, por súbita e inesperada riqueza, originada pela enorme valorização do tungsténio, que nessa zona abundava, e era essencial à indústria de armamento, durante a 2.ª Guerra Mundial.

Essas relações foram tão fortes que Soares Carneiro foi padrinho de Delfim de Carvalho, filho de um seu amigo Carvalho, volframista de Pinhel, primeiro por baptismo e depois por casamento.
Até o encaminhou para se licenciar em Geologia.

Tendo permanecido, quase exclusivamente na zona Norte do País, seria expectável que Soares Carneiro indicasse essa zona, para o seu afilhado investigar, dado o enorme atraso em que se encontrava.

Mas não foi isso que aconteceu.

Foi na 1.ª Brigada de Prospecção, que introduziu o seu afilhado.

Ainda como estudante, levou-o, em visita aos trabalhos de minha iniciativa, na região de Portel, os quais eram exemplo da eficácia dos métodos geofísicos e geoquímicos.

Só muito tardiamente percebi que a protecção, que continuou a dispensar-lhe, quando já licenciado, tinha por finalidade transferir para ele os sucessos que a Brigada por mim laboriosamente organizada ia conseguindo.

Delfim de Carvalho viria a demonstrar ter herdado o carácter de volframista do seu ascendente.


6.3 – Delfim de Carvalho, auto-proclamado inovador em prospecção mineira


Durante a sua presença na 1.ª Brigada de Prospecção, Delfim de Carvalho não revelou tendência para realizar trabalho de campo, como eu pretendia dele.

A geologia era, então, um ponto fraco na prospecção mineira, pois o ensino que se praticava nas Universidades não acompanhava o progresso registado noutros países.

Os melhores estudos geológicos, em Portugal, eram feitos por estrangeiros, muitos dos quais vinham cá fazer teses de doutoramento.

Mc Gillavry, professor holandês trouxe vários dos seus discípulos, que realizaram estudos na Faixa Piritosa Alentejana, nomeadamente, na zona do Pomarão e na região de Cercal – Odemira, de alta qualidade, que foram fundamentais para a interpretação da sequência estratigráfica da zona.

Delfim refugiava-se no gabinete, tornando-se exímio em utilizar estudos de outros, aos quais adicionava ideias próprias, muitas vezes de carácter fortemente especulativo, para publicações, figurando como autor.

Entre vários outros, destacam-se os artigos sobre a descoberta do jazigo de Neves-Corvo, os quais são alvo de minha censura, nos posts N.ªs 38 e 41 a 43, pelos erros grosseiros neles contidos.

Merece também referência o denominado “jazigo do Salgadinho”, que é exemplo da apresentação apressada de um êxito que chegou a ser comparado a Neves-Corvo, mas que não passou de uma ocorrência de mineralização cuprífera descoberta com base em discreta anomalia gravimétrica registada ainda durante a minha chefia e que eu tinha planeado investigar pelo método de polarização induzida, estando porém aguardando a aquisição de aparelhagem adequada.

Pelo que chegou ao meu conhecimento, Delfim de Carvalho, ansioso por se creditar com um êxito, cuja autoria reivindicava, projectou numerosas sondagens, desobedecendo às boas regras da prospecção e precipitando-se a promover a jazigo uma ocorrência, cujo valor industrial não ficou demonstrado.

Outro exemplo da sua presunção de grande inovador em matéria de prospecção mineira foi a publicação de artigo com o título ” Novos rumos para a prospecção”.

A realidade é que, pouco aprendera, durante as lições que eu ministrava, nas reuniões com os técnicos da 1.ª Brigada de Prospecção.

Especular com explorações a 5000 m de profundidade, era um novo rumo, para ele que nada sabia de exploração e dos problemas que a profundidade acarreta.

Finalmente, não posso deixar de mencionar a sua ridícula classificação de alterações hidrotermais, na Região de Cercal - Odemira

Eu tinha-o encarregado, de melhorar o conhecimento geológico da Região de Cercal-Odemira, com incidência nos aspectos estruturais, visando melhor apoio às campanhas de prospecção geofísica e geoquímica que ia projectar, para detecção de jazigos de pirite idênticos aos da faixa Piritosa.

Levantamentos litológicos pormenorizados anteriores, à escala 1:5000, cobrindo uma área de 399 km2, realizados sob minha directa orientação, haviam revelado ambiente geológico idêntico ao da Faixa Piritosa (Ver post N.º 11). Impunha-se aperfeiçoar estes levantamentos.

Dei-lhe instruções no sentido de analisar a possibilidade de as alterações, que eu notara à superfície, terem origem hidrotermal e de, a partir delas, se acrescentar mais um guia útil para a prospecção.

O que eu admitira como hipótese, Delfim de Carvalho tomou como certeza, sem ter feito ou promovido que se fizessem os necessários exames laboratoriais.

Seguindo um critério pessoal, subjectivo, fez a separação de zonas com diferentes graus de alteração (forte, média, fraca).

Não era, obviamente, essa a separação que eu pretendia, mas antes a definição de halos com diferentes características mineralógicas, circundando os possíveis jazigos, como acontece em outros países.

Da sua original separação de zonas de alteração nenhuma utilidade resultou.

Continua...