sábado, 22 de maio de 2010

124 – As realidades e as fantasias do Director-Geral de Minas. Continuação 5

Para concluir a análise da Comunicação do Director-Geral de Minas ao Congresso 78, vou referir a sua acção destrutiva na obra que eu estava pacientemente a pôr em prática, para cumprimento do programa enunciado no meu relatório “Prospecção de Pirites no Baixo Alentejo” publicado em 1955.

A seguir reproduzo passagens desse relatório, que ele tinha obrigação de ter tido em consideração, antes de tomar as suas irreflectidas e talvez inconscientes decisões:

Todos os estudos a que nos vimos referindo podem e devem, em nosso entender, estar a cargo de técnicos portugueses que hajam, para o efeito, adquirido a necessária especialização, conforme prevê o Decreto-lei de criação do Serviço.
Só aceitamos a intervenção de técnicos de outras nacionalidades, como consultores ou em execução de campanhas de curta duração, principalmente com o propósito de proporcionar instrução a pessoal português.
A favor deste modo de proceder falam, não só a economia, como o próprio interesse no assunto, que não poderá esperar-se de outros, superiores ao dos nacionais.
Ainda que fosse inviável, ou desaconselhada por demasiado especializada, a execução directa pelo Serviço de determinados estudos, o que não cremos possa vir a acontecer, porquanto o Ultramar é vasto campo onde a especialização adquirida teria sempre ocasião de frutificar, é indispensável para uma eficiente fiscalização, um amplo conhecimento das matérias a fiscalizar.”

Quando iniciei a minha vida profissional, na Faixa Piritosa Alentejana, surpreendeu-me que todas as concessões mineiras, em tão importante Faixa, estivessem em mãos estrangeiras.

Havia, então, indústrias nacionais que utilizavam a matéria-prima extraída em algumas dessas minas, para a fabricação de produtos vários, tais como, enxofre, cobre, sulfato de cobre. e uma das razões que tinham levado o primeiro Director do SFM a procurar aumentar as reservas de pirite era o receio de que viesse a verificar-se escassez de matéria-prima para as abastecer.

Não percebi porém, porque tendo o País sido capaz de criar tais indústrias e ter em projecto uma Siderurgia Nacional, necessitasse que fossem estrangeiros a explorar os minérios de que elas dependiam.

Vinham à minha memória os versos de Camões, na última estância do Canto X dos Lusíadas, dirigindo-se ao Rei, a quem dedicava o poema:

“Fazei, Senhor, que nunca os admirados
Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses
Possam dizer que são para mandados
Mais que para mandar os Portugueses”

De facto, o Director-Geral não se limitou a impedir que se iniciassem estudos em áreas do Norte e do Centro do País, com reais potencialidades, para volfrâmio, estanho, ouro, chumbo, zinco, etc.

Resolveu perturbar o programa de investigação da Faixa Piritosa Alentejana, desrespeitando a orientação expressa no Decreto-lei de criação do SFM, que previa a maior intervenção de técnicos portugueses no aproveitamento dos nossos recursos.

Sem me consultar, deliberou adjudicar a prospecção de quase toda a Faixa, sobretudo a Companhias estrangeiras, precisamente quando o SFM, após a minha persistente luta contra a incompreensão de dirigentes (Ver post n.º 14) conseguira equipar-se minimamente, para a execução do programa enunciado no relatório.

Apenas ficou por adjudicar uma diminuta parcela que envolvia as concessões belgas de Aljustrel, onde o SFM tinha descoberto as massas de Carrasco-Moinho pelo método Turam, as massas de Estação e Gavião pelo método gravimétrico e confirmado a vigorosa expressão gravimétrica das massas de Feitais e Carrasco - Moinho.

Mas até esta parcela o Director-Geral resolveu adjudicar, quando o SFM se preparava para confirmar por sondagens a massa do Gavião.

Curiosa a precipitação na entrega desta parcela à Companhia, cujo representante “simbólico” da DGMSG era o Ajax, que, nessa qualidade, tinha nula intervenção, por ser ignorante em prospecção mineira, conforme assinalei, no post n.º 32.

A situação extraordinária que se gerou foi inversa da que seria normal: O SFM passou a funcionar como empresa especializada em prospecção mineira e a ser contratado pelas empresas privadas, como se elas fossem as proprietárias do território nacional.

A orientação da minha actividade sempre teve em vista respeitar os preceitos consignados nas disposições do Decreto-lei de criação do SFM.
Os técnicos portugueses deveriam, pois, vir progressivamente a encarregar-se não só da exploração dos novos jazigos que viessem a ser revelados, mas também dos procedimentos para o aproveitamento integral dos seus minérios.

A Escola de Aparis seria o local apropriado para a preparação desses técnicos.

E já existiam, há mais de 20 anos, completamente inactivos, na sede do SFM, em S. Mamede de Infesta, os equipamentos para a separação e concentração dos minerais constitutivos do minério e para o seu posterior tratamento metalúrgico, que haviam sido recebidos ao abrigo do Plano Marshall! (Ver post n.º 15)

Não posso deixar de salientar a enorme hipocrisia e o despudor do Director-Geral ao procurar desculpabilizar-se, com expressões propositadamente vagas, cujo alcance poucos terão atingido, quando fez as seguintes afirmações:

“Assim, e como era de esperar, os maiores sucessos de uns no campo da prospecção dos últimos tempos (sucessos espectaculares, por vezes) quase sempre aproveitaram, se não mesmo se basearam em dados acumulados em projectos de prospecção de outros, não ultimados por razões de vária ordem, nem sempre determinados pela natureza negativista dos resultados da verificação do modelo em estudo."

Os sucessos espectaculares a que pretendia referir-se eram as descobertas do jazigo de Neves-Corvo e da massa do Gavião, que não foram concretizados até final pelo SFM, devido à sua nefasta intervenção, como já expliquei em vários posts anteriores.

Estes sucessos basearam-se em dados não de outros, como afirma, mas exclusivamente do SFM, e ele tinha obrigação de isso saber e realçar, se tivesse acompanhado, com seriedade e não levianamente, a actividade do SFM, já que se substituira ao subserviente Director deste Organismo, nas suas importantes funções.

Tais sucessos não foram ultimados por razões de vária ordem. Não foram ultimados pelo SFM, porque, quando a anomalia gravimétrica que iria dar origem à descoberta do jazigo de Neves-Corvo estava semi-definida, ele decidiu, sem me consultar fazer a adjudicação da área em que ele se havia começado a definir (Ver posts n.ºs 37 a 44)

Sabendo-se que eu não fazia segredo da nossa actividade, por ela estar protegida pela cativação da área, e conhecendo-se o carácter pouco escrupuloso tanto do Director-Geral como do seu Adjunto, que era o representante da DGMSG numa das Companhias que formavam o Sindicato ao qual foi feita a adjudicação, sem concurso público e com a maior das precipitações, muitas conjecturas são possíveis.

Isto trouxe como consequência, não só a perda de uma rara oportunidade de o País passar finalmente a aproveitar ele-próprio os seus recursos, como era justo ambicionar, mas também um atraso de pelo menos 5 anos na sua descoberta!

Seria normal que, quando se passasse à exploração, houvesse que recorrer a empresas especializadas estrangeiras para determinados trabalhos, mas isso era também o que faziam os concessionários estrangeiros que se encontravam no nosso País, como já pus em evidêncvia em vários posts, salientando o muito que aprendi com essas empresas.

Comentário final: Classifiquei esta infeliz Comunicação como o “Canto do Cisne” de um Director-Geral, já muito desprestigiado.
Não era difícil de prever que estava próximo o fim do seu mandato.
Mas ainda teria fôlego para novas escandalosas acções negativas, como revelarei em futuro post.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

123 – As realidades e as fantasias do Director-Geral de Munas. Continuação 4

Continuando na análise da fantástica Comunicação do Director-Geral de Minas ao Congresso 78, vou agora pôr em evidência graves malefícios originados pela sua ingerência na actividade do Serviço de Fomento Mineiro, em flagrante contradição com actuação positiva que pretendeu fazer passar aos congressistas.

Já demonstrei, no post n.º 120, com vários exemplos, o seu clamoroso erro ao declarar terminada a prospecção de jazigos que se denunciem por afloramentos.

A atenção do SFM, em sua opinião, apenas se justificaria na procura de jazigos sem afloramentos.

São suas as afirmações seguintes: No que respeita à prospecção de jazigos não aflorantes, a situação evidentemente é bem diferente. ….
No entanto, deve dizer-se que, entre nós, este processo – a prospecção de corpos ocultos – nem é novo, nem está nos seus primórdios"
.

Exalta, depois, até à exaustão, a “capacidade técnica dos nossos prospectores, o alto nível científico e técnico alcançado pelas respectivas equipas, quer no que respeita a estudos efectuados, quer no que interessa a resultados obtidos”.

Tudo isto me pareceu estranho, ao lembrar-me que comentara depreciativamente, com o seu adjunto (jocosamente baptizado de Ajax, o mais poderoso), o meu desperdício de tempo com vectores, referindo-se à aplicação da gravimetria, cujo papel em prospecção mineira excedia a sua capacidade de entendimento.

Durante as incursões que fizera, em 1974, na 1.ª Brigada de Prospecção, onde, alguns anos antes, havia introduzido o Geólogo Delfim de Carvalho, seu astucioso afilhado, descobriu um valioso arquivo técnico, constituído por muitos milhares de mapas (geológicos, gravimétricos, magnéticos, de resistividade eléctrica, de polarização espontânea, de aplicação do método electromagnético Turam, geoquímicos de Cu, Pb, Zn, MPef, etc) à escala 1:5 000 e algumas dezenas às escalas de 1:25 000, 1:50 000. 1: 100 000.

Logo pensou em publicar alguns desses mapas, para realçar a capacidade dos Geólogos e dos Engenheiros, que os teriam produzido. Ignorava, porém que todo esse arquivo fora por mim organizado, com a eficiente participação de pessoal das Secções e com escassa ou nula intervenção dos técnicos superiores da Brigada (Ver post n.º27).

Qualquer publicação teria de passar pela minha supervisão, pois esses mapas estavam ainda em fase de interpretação, e eu não confiaria essa fase a qualquer dos técnicos da Brigada, por saber não estarem preparados para tão importante tarefa.

Na verdade, após a minha demissão da chefia da 1.ª Brigada de Prospecção, foi publicada uma carta magnética à escala 1:25 000, de área do Alentejo, com uma notícia explicativa, contendo erros, que me levaram a aproveitá-la, em ponto de exame aos meus alunos da Faculdade de Ciências do Porto, para que os detectassem, tão evidentes eles eram.
A este tema, voltarei, mais tarde.

Foi sobretudo na selecção de áreas para estudo pelo SFM que a ingerência do Director-Geral se revelou particularmente perniciosa.

São suas as seguintes curiosas afirmações:

“Que há muito a fazer, muito se poderá esperar quanto a resultados, é evidente que ninguém duvida. Mas também não será menos verdadeiro e menos evidente que, também aqui, (até principalmente aqui) não terão cabimento sonhos de fabulosas riquezas por toda a parte, à espera do primeiro vidente para as detectar”.
Longe da cobertura total das áreas geologicamente potenciais para todas as principais substâncias, a verdade é que serão muito raras, se existirem, as parcelas virgens consideradas mais promissoras”.

Este nebuloso discorrer, ora optimista, ora negativista, é bem revelador da confusão reinante no seu espírito, quanto à disciplina a que devia obedecer a actividade do SFM.
De facto, muitos foram os estudos que nem sequer deixou iniciar, por considerar que não iriam gerar as fabulosas riquezas que pretendia.

Ora o real papel do SFM, estava bem explícito, logo no artigo 1.º do Decreto-lei de sua criação. Nele se estabelecia que “compete ao Estado o estudo sistemático da riqueza mineira do País, para o seu melhor aproveitamento, conforme os interesses superiores da economia nacional”.

Estudo sistemático significa que todas as potencialidades deveriam ser investigadas, obviamente com bases científicas e não em meros "palpites".
O único problema seria o estabelecimento de prioridades e este evoluiria, em função dos novos conhecimentos que se iam adquirindo.

Ideias negativistas, sem base científica, seriam, evidentemente, de rejeitar.

Não foi, porém, esse o raciocínio do Director-Geral.

Não autorizou que se atacasse, o problema do volfrâmio e do estanho, do Norte e do Centro do País, porque, em seu entender, a prospecção tinha já sido feita, durante a 2.ª Guerra Mundial, com as botas, na sua curiosa expressão, referindo-se à intensa procura efectuada, nessa época, em que o volfrâmio atingiu elevadíssimas cotações, porque a sua utilização era essencial às indústrias de guerra de ambos os contendores.

Apenas se justificava, seguindo ele, a procura de jazigos de scheelite, por poderem ter passado despercebidos, devido à semelhança deste mineral com minerais estéreis, à simples observação visual. E julgou que poderia orientar essa prospecção, apenas com a colaboração de Geólogos recém-licenciados, em princípio de carreira.
Já referi o “fiasco” em que redundou tal orientação.
Chegou a retirar uma sonda que estava a prestar bons serviços na região de Vila Nova de Cerveira – Caminha - Ponte de Lima, para aplicar no chamado jazigo de Cravezes, que não passava de uma ocorrência, em fase inicial de estudo, a exigir mais aprofundada investigação, antes de se justificarem sondagens.
Quando a sonda foi retirada da região de Vila Nova de Cerveira – Caminha - Ponte de Lima, estava projectada uma das sondagens com melhores prognósticos, pois se baseava em pronunciadas anomalias magnética e geoquímica de tungsténio, em zona onde se descobrira afloramento de skarn (a rocha hospedeira da scheelite), bem mineralizado.

Mais tarde, a área, onde estava projectado esta sondagem, foi adjudicada, à Companhia americana Union Carbide, sem que eu tivesse sido consultado sobre as cláusulas contratuais. A Companhia, sem executar estudos adicionais, baseando-se exclusivamente nos dados fornecidos pelo SFM, imediatamente passou a fazer sondagens, com os resultados positivos que se esperavam, isto é interceptou níveis de skarn com teores de tungsténio muito superiores aos do minério que estava a ser explorado nas Minas de Valdarcas, Fervença e Cerdeirinha.

Sempre contrariou a investigação de possíveis concentrações de minerais de crómio, níquel, cobre e até metais do grupo da platina, associadas às rochas básicas e ultra-básicas de Trás-os-Montes.
No entanto, quando uma empresa portuguesa associada à Companhia canadiana Noranda, me contactou interessada em fazer investimentos com vista a futuras explorações mineiras e lhe indiquei tal possibilidade, logo a aproveitou e através de contrato que firmou com o Estado, realizou diversos trabalhos de prospecção, que fui acompanhando, com muito interesse.
Além de levantamentos geológicos, geofísicos e geoquímicos, a empresa executou várias sondagens. Houve, deste modo, um acréscimo notável de conhecimento acerca desta área, embora não se tivesse chegado a descoberta de concentrações que justificassem exploração.
Não se espera que a atitude das Companhias, em matéria de prospecção coincida com a que deve ter um Organismo de Estado.
As Companhias destinam um determinado orçamento e um determinado período de tempo para realizarem os seus estudos. Se após o esgotamento do orçamento e do tempo previsto, conseguem bons resultados, requerem ou novos contratos ou concessões de exploração. Caso contrário, dão por terminada a sua presença no País, deixando documentação e testemunhos de sondagens, que poderão, mais tarde, ser utilizados em novos estudos, pois o seu abandono não significa, necessariamente que não existam jazigos minerais. Apenas podem considerar-se diminuídas as probabilidades de existirem, para as possibilidades das técnicas, à data, utilizáveis.

No que respeita a áreas do Norte e Centro do País, onde eram conhecidos jazigos auríferos ou manifestações da sua existência, nunca permitiu que fossem realizados os estudos sistemáticos que se impunham.
Já me referi aos obstáculos criados para poder dar apoio solicitado pelo concessionário das Minas de Jales, que se encontravam em exploração enfrentando grandes dificuldades no reconhecimento do seu sistema filoniano.
Pretendi aplicar, em vasta área abrangendo as Minas de Jales e Três Minas, o método electromagnético Turam, que tanto sucesso tivera num caso semelhante: o sistema filoniano de Aparis. O Director-Geral não contrariou os obstáculos que o Director do SFM criou à execução desta campanha de prospecção.

Com esta zona aconteceu o mesmo que com a faixa de rochas básicas e ultra-básicas de Trás-os-Montes. Indiquei, à empresa BP Minerals, esta área para investigação e soube que ela realizou importantes estudos, sem contudo chegar a conclusões que a entusiasmassem a estabelecer contrato com o concessionário para passar ela a fazer uma exploração em moldes mais científicos.
Ignoro se os resultados dos seus trabalhos foram arquivados no SFM, como eu costumava fazer, pois me foi progressivamente retirado o contacto com os investidores.

Curiosamente, ao mesmo tempo que não proporcionava as condições para que se realizassem criteriosamente os estudos para investigação das existências de ouro, no Norte e no Centro do País, para cumprimento dos programa que eu apresentava anualmente, mostrou-se pressuroso em auxiliar, sem base legal, entidade privada que sonhava com fabulosas riquezas em risco de se perderem, devido à construção da barragem de Fratel, no Rio Tejo, perto de Vila Velha de Ródão.
Vem de recuada data o conhecimento de que as areias do Rio Tejo e de alguns dos seus afluentes contêm ouro, em proporções muito reduzidas. Embora não fosse de desprezar o seu estudo, havia outras áreas com muito maior prioridade, não se justificando portanto alterar a programação existente, para satisfazer pedido, sem base legal, de entidade privada que era conhecida pela sua especialização em acumular alvarás de concessões mineiras com o propósito de os negociar, aproveitando-se da complacência da DGMSG para com estes infractores da legislação vigente.
Tendo-me recusado a colaborar nesta ilegalidade, o Director do SFM introduziu mais uma indisciplina na actividade deste Organismo. Determinou que o 2.º Serviço se encarregasse de fazer os estudos que a entidade privada tinha requerido, para que se aproveitasse "uma riqueza que estava em risco de se perder".
O 2.º Serviço, que já havia demonstrado a sua incapacidade técnica, ao terminar com os Trabalhos Mineiros Clássicos no SFM, acabou por fazer mais uma demonstração dessa incapacidade. “As vastas ocorrências auríferas, porventura as de maiores dimensões entre nós”, a que o autor do relatório que apresentou e que foi publicado no Boletim de Minas (!) não deram, afinal, origem, até hoje, que eu saiba, a quaisquer explorações (Ver post n.º 70).

Ocorre-me, reflectir se, no momento presente, não seria viável, em termos económicos, a exploração de algumas das numerosas ocorrências auríferas conhecidas ou que tivessem sido descobertas, se se tivesse efectuado a prospecção racional que se impunha.
A actual cotação de 31 euros/gr (Ver JN de 8-5-2010) permitiria, sem dúvida, explorar concentrações de muito mais baixo teor que as exigidas na época em que o problema se colocou.

Já me referi pormenorizadamente ao extraordinário caso do jazigo de chumbo de Braçal – Malhada - Coval da Mó, em que o Director-Geral consentiu o encerramento de minas que se encontravam em exploração, sem que se notasse escassez de reservas, apenas por baixa ocasional de cotação do metal, sabendo-se que tal situação é cíclica. (Ver posts n.ºs 59 a 66)
Em vez de aproveitar estas minas para estudo, visto que não estavam reconhecidas devidamente, preferiu lançar-se no reconhecimento das Minas de Talhadas há muito encerradas e com menor potencialidade revelada.
Nem andamento deu ao projecto de sondagens no Cabeço do Telégrafo, perto das Minas do Braçal, com base em excepcional alinhamento de anomalias geoquímicas de Pb que apresente, em 17.09.74, por “não simpatizar com filões“ (Ver post n.º 66)
O seu pouco entusiasmo com os filões não impedia, contudo, de permitir que o 2.º Serviço mantivesse em estudo, com muito deficiente orientação técnica, quer as minas de Talhadas, quer a de Barrigão, esta última localizada no interior de área adjudicada a empresas com predomínio da capitais canadianos, que por ela não mostrava o mínimo interesse, dada a pequena extensão do filão conhecido.

Continua …

quarta-feira, 12 de maio de 2010

122 – As realidades e fantasias do Director-Geral de Minas - Continuação 3

Nos 3 posts anteriores, pus em evidência a disparidade entre afirmações do Director-Geral de Minas, na sua Comunicação ao Congresso 78, relativamente a exigências de grande competência técnica para as tarefas da prospecção mineira e a sua real impreparação neste domínio, em que decidiu ter papel activo.

Salientei, também, o modo irresponsável como o Director do SFM desempenhava o seu cargo, remetendo-se a um papel subserviente, perante arbitrariedades do Director-Geral.

Adaptando do épico: Fracos dirigentes produzem incompetentes … e até os premeiam!

Este foi, na realidade, o fantástico lema que dominou a actividade do Serviço de Fomento Mineiro, após o falecimento do seu primeiro Director.

Nunca me intimidei, porém, com as prepotências de dirigentes ignorantes e fui conseguindo, durante alguns anos, contrariar os seus obsessivos propósitos de dificultarem a minha actividade.

Foi com muita determinação e perseverança, que conduzi o SFM aos seus maiores êxitos, aos quais já me referi em vários posts.

No expressivo comentário do Director do SFM, perante representante de membro do Governo, isto foi alcançado “porque ele deixou!!”, (Ver post n.º 112), talvez se tivesse exprimido melhor, se tivesse dito ”porque não consegui impedir”.

Mas se o Director-Geral, durante os primeiros tempos do seu mandato, teve a astúcia de se apoiar em sucessos dos trabalhos que dirigi, para a sua promoção pessoal junto do Governo, a partir de 1968, decidiu dispensar esse apoio e tentou adoptar para comigo o procedimento que tinha usado com o Director do SFM, isto é, tentou passar a orientar os trabalhos de prospecção mineira, no território metropolitano.

É certo que, além da nomeação de indivíduo com currículo negativo para dirigir o SFM, já, em Maio de 1963, me tinha desconsiderado, ao desligar-me, sem sequer me informar, da representação do País no grupo “ad hoc” constituído na OCDE sobre aplicação de métodos modernos de prospecção, para a qual tinha sido nomeado pelo Engenheiro Castro e Solla, seu antecessor no cargo. (Ver post n.º 22)

E quem foi, então, designar para me substituir nessas funções? O anterior Director do SFM, que tinha declarado a Robert Woodtly não ter justificação a prospecção mineira no Norte do País!! (Ver post n.º 120)

Como referi noutros posts, o Director-Geral decidiu orientar jovens e inexperientes Geólogos, em campanha de prospecção de scheelites, nas regiões de Alfândega de Fé, Mogadouro, Almendra, Figueira de Castelo Rodrigo.
Sonhava com êxitos espectaculares (as Torres dos Clérigos, na sua curiosa expressão), porque tinha descoberto que a scheelite, que à vista desarmada se confunde com minerais estéreis, fluoresce intensamente, quando submetida, na escuridão, a radiação ultra-violeta de determinado comprimento de onda.
Fez a descoberta, quando, na região de Vila Nova de Cerveira – Caminha - Ponte de Lima, há muito tempo eu já usava correntemente este procedimento, nos trabalhos de prospecção que lá tinha em curso! (Ver posts n.sº 56 e 94).

Passou, depois, a interferir, abertamente, na programação do SFM e na colocação dos técnicos que iam ingressando neste Organismo, insistindo no desrespeito pela Orgânica em vigor.

Técnicos com cursos superiores ou médios, não mais foram integrados, no Serviço de Prospecção, como impunha a Orgânica, apesar das minhas persistentes informações, em sessões da Comissão de Fomento, quanto à necessidade, sobretudo de Geólogos, para colaborarem nos estudos em curso, quer na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, quer na Faixa Metalífera da Beira Litoral.

Numa dessas reuniões, em jeito de grande condescendência, recomendou ao Director do SFM, que tivesse em consideração tais informações, “para não mais ouvir as minhas lamentações”.

Como eu esperava, o Director do SFM fez desta recomendação orelhas moucas.
A realidade foi que a carência de Geólogos no 1.º Serviço se manteve, sem que o Director-Geral com isso tivesse demonstrado a mínima preocupação.

Quanto a acções no sentido de formar e manter técnicos competentes, já descrevi, no post n.º 71, a total insensibilidade do Director-Geral.

Nas suas reiteradas divagações sobre este candente tema da competência, ora declara haver escassez de meios humanos e materiais, para as tarefas a empreender, ora tece rasgados elogios às equipas de prospectores (sem concretizar a quem estaria a referir-se), ora revela preocupação perante o envelhecimento dos técnicos.

Quanto a escassez de meios humanos, assinalarei em post futuro, que o pessoal da Direcção-Geral de Minas atingia no final da década de 70 do passado século, o assombroso número de 590 pessoas, entre técnicos superiores, médios e auxiliares, administrativos, etc.!!

Já me referi, no post n.º 93, à minha estupefacção quando soube do empolamento de pessoal, na sede do SFM em S. Mamede de Infesta, para 104 funcionários (!), em acentuado contraste com a progressiva redução de trabalhadores no campo, isto é, onde se devia processar o real fomento mineiro.

Era, portanto, muito incorrecta a afirmação de escassez de pessoal. Pelo contrário, havia tal superabundância, que o excesso era fonte de problemas.

A realidade era que, se exceptuarmos os departamentos que estiveram ou estavam ainda sob minha jurisdição, nem tinha havido cuidado no recrutamento de pessoal, nem tinham sido tomadas medidas para melhorar a preparação obtida nos estabelecimentos de ensino, também eles carecidos de experientes profissionais.

Mas o Director-Geral, não só nada fez para melhorar a preparação dos técnicos da DGMSG, como destruiu quanto eu tinha feito, nesse âmbito, na 1.ª Brigada de Prospecção, ao permitir ou talvez até incentivar que o Director do SFM me demitisse da chefia desta Brigada que, durante anos, eu pacientemente organizara. (Ver post n.º81)

Quando elogiou as equipas que chegaram a grandes êxitos, referia-se, obviamente, ao 1.º Serviço, e tinha plena consciência de que essas equipas foram por mim constituídas com grande esforço e determinação.

Ocorre, naturalmente perguntar qual a sua capacidade para se pronunciar sobre a competência destas equipas, sabendo-se quão ignorante era sobre as técnicas que elas utilizavam.
Imagino que desejaria realçar o papel dos Geólogos e dos Engenheiros, excluindo-me obviamente desse conjunto, visto que eu estava a ser alvo de sucessivas ameaças, “até às últimas consequências”.

A realidade é que a competência desses Engenheiros e Geólogos era bastante modesta, chegando a roçar a mediocridade, como já pus em evidência nalguns posts.
Revelarei, mais tarde, indesculpáveis erros patenteados em artigos que fizeram publicar, quando deixaram de estar submetidos à minha chefia.

Os sucessos das equipas ficaram a dever-se muito mais à minha acção e à colaboração de pessoal de nível médio (Agentes Técnicos de Engenharia) e auxiliar recrutado localmente, nas áreas das Secções, que eu directa ou indirectamente tinha preparado, desde o início da década de 40, do que aos Geólogos e aos Engenheiros de recente ingresso no SFM. (Ver posts n.ºs 85 a 90)

Outra realidade foi que, durante a ausência dos 3 Geólogos, em cursos pós-graduação, no E.U.A. e em França, os estudos da 1.ª Brigada prosseguiram, com normalidade, sem que se tivesse feito sentir a sua falta.
E quando regressaram, até se registaram estranhas divergências, quanto à selecção de áreas para investigação.
Esperava-se, do seu aperfeiçoamento profissional, uma contribuição positiva para a orientação dos estudos da Brigada.
Mas não foi, infelizmente, isso que aconteceu. Atribuindo-se uma superioridade que queriam aparentar ter conseguido, mas que não tinha suporte científico, geraram divergências que me levaram a fazer censura escrita a um deles, que tivera a ousadia de querer substituir-me na programação dos estudos, contrariando o que havia sido decidido em reunião na sede da Brigada em que ele havia participado... (Ver post n.º 88).

O Director-Geral tinha consciência de que os sucessos terminaram completamente com o meu afastamento, não obstante o Geólogo Delfim de Carvalho seu afilhado, que se auto-investiu no cargo que eu fora forçado a abandonar, tenha promovido a jazigos minerais, bons indícios de mineralizações, que haviam sido descobertos ou preparados, durante a minha chefia, sem a sua mínima intervenção.

Relativamente à sua afirmação quanto ao envelhecimento do pessoal técnico, observo que a média das idades dos engenheiros e dos geólogos destacados para o 1.º Serviço (incluindo os 58, que eu já contava), era de 42 anos, em finais de 1978, muito distante dos 60, que o Director-Geral calculou!
Outros Geólogos que não foram integrados no 1.º Serviço tinham provavelmente idades ainda inferiores, pois eram, na sua maioria, recém-licenciados (caso dos scheeliteiros).
Não pode, pois, dizer-se que era pessoal já velho, embora houvesse indivíduos, cujo comportamento poderia levar a tal classificação.

É certo que não ingressavam novos Engenheiros, pois o ambiente deixou de se tornar atractivo, após decisões arbitrárias do Director do SFM. É disso exemplo a saída de um jovem Engenheiro que prometia vir a tornar-se técnico competente, após curta permanência no SFM, sem que lhe fossem definidas funções, em conformidade com as suas habilitações académicas. (Ver post n.º 116).

Nunca vi quaisquer medidas do Director-Geral para tornar atractiva a entrada de Engenheiros no SFM.
Recordo uma circular, que o seu antecessor enviou às Universidades, sugerindo que alunos inscritos em cursos de Engenharia dessem preferência ao curso de Minas, pois teriam colocação assegurada no SFM. Aproveitaram esta sugestão os Engenheiros que passaram a integrar a 1.ª Brigada de Prospecção.
Nunca este Director-Geral tomou iniciativa semelhante.

Ao contrário do Director-Geral, já na Universidade do Porto, onde regia a cadeira de Prospecção Mineira, eu chamava a atenção dos meus alunos para as reais potencialidades do País, em recursos minerais, na esperança de que viessem a integrar-se num Instituto de Investigação Mineira verdadeiramente eficaz, liberto, portanto, da influência nefasta de dirigentes incompetentes.

O papel negativo do Director-Geral, na formação de técnicos competentes, mais uma vez se evidenciou quando resolveu não dar seguimento à minha proposta de aproveitamento do jazigo de cobre de Aparis, como verdadeira Escola de Minas, onde aperfeiçoariam a sua formação, não só Engenheiros, Geólogos e Agentes Técnicos de Engenharia, mas também pessoal das diversas profissões que intervêm na indústria mineira.
Além disso, projectava-se ensaiar, nessa Escola, novos equipamentos que fossem surgindo no mercado, a facilitar o desenvolvimento da indústria mineira.

O que aconteceu foi o Director-Geral adjudicar, precipitadamente, a concessão, a empresa constituída por um seu amigo e colega de curso, como sócio principal, propositadamente para exploração das parcelas mais ricas do jazigo, (Ver post n.º48, sobre o fim inglório do jazigo de Aparis)

Mas o cúmulo da acção destrutiva deste Director-Geral, foi atingido quando se mostrou incapaz de pôr travão a decisões do Director do SFM, reveladoras de malvadez ou insanidade mental, as quais me colocavam na dependência de técnicos oportunistas, inexperientes e de mau carácter, em despudorado desrespeito pela hierarquia e pela Orgânica vigente. (Ver posts n.ºs 97 a 100).

Como já referi, tendo-me recusado a acatar tais decisões ditatoriais, ilegais, de reais fascistas travestidos de democratas, fui ameaçado com sanções disciplinares, até às últimas consequências.

Este foi o prémio que recebi, ao fim de 39 anos de actividade, durante os quais revelei competência, em todas as funções que desempenhei, originando êxitos que muito prestigiaram o SFM até a nível internacional.

Mas que devia eu esperar de um dirigente que já me havia censurado asperamente por ser “um gajo que com a mania das justiças estragava tudo”? (Ver post n.º 50)

Relativamente a meios materiais a realidade é que só eram escassos, por decidida acção dos dirigentes que não davam andamento às solicitações que lhes eram apresentadas, pois as generosas dotações atribuídas ao SFM até permitiam os esbanjamentos do Director-Geral na aquisição de viaturas para seu uso pessoal e outras despesas que nada tinham a ver com fomento mineiro.

Houve até equipamentos que nunca chegaram a ser utilizados e que, com o decorrer do tempo se tornaram obsoletos, como foi o caso de diverso material recebido ao abrigo do Plano Marshall.

Ocorre também perguntar qual o destino de abundante material que ficou disponível, quando o 2.º Serviço se mostrou incapaz de manter trabalhos mineiros clássicos, após a adjudicação da concessão de Aparis e o termo dos estudos nas Minas de Talhadas.

Todo este material teria aplicação, se tivesse havido uma racional programação da actividade do SFM.

Abordarei, no próximo post, o tema da programação do SFM e o papel negativo que o Director-Geral teve a este respeito, e até nas prioridades que estabeleceu para a distribuição de equipamentos, sobretudo sondas, em flagrante contradição com as suas afirmações na Comunicação que apresentou ao Congresso 78.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

121 – As realidades e as fantasias do Director-Geral de Minas. Continuação 2

Prosseguindo na análise da Comunicação do Director-Geral de Minas ao Congresso 78, vou agora pôr em evidência a enorme discrepância entre as suas exigências quanto à elevada competência para o desempenho das tarefas da prospecção mineira e as decisões que tomou ou aceitou, quanto a escolha dos responsáveis pela execução dessas tarefas.

No post anterior, salientei a ignorância do Director-Geral em matérias em que decidiu intervir. Mas não ficaram por aí os erros que foi cometendo, nem sempre resultantes dessa ignorância...

Logo no início do seu mandato, em 1962, cometeu clamoroso erro ao nomear um Engenheiro, cuja incompetência e cujo duvidoso carácter eram bem conhecidos, para o importante cargo de Director do Serviço de Fomento Mineiro

De facto, o currículo deste Engenheiro não era pobre; era negativo.

Na qualidade de adjunto do anterior Director do SFM, as suas funções resumiam-se ao cumprimento das formalidades burocráticas para a aquisição dos equipamentos essenciais aos trabalhos mineiros das Brigada.

Pelo que dizia respeito aos estudos a meu cargo, no Sul do País, foi permanente a sua criação de dificuldades. Nunca satisfazia inteiramente as minhas requisições, com o mesquinho argumento de reduzir despesas, alegando duvidar das reais necessidades.

O Governo dotava o SFM com generosos orçamentos, pois mantinha grande empenho em ver cumpridos os objectivos visados pelo Decreto da sua criação.
Mas o Director do SFM de então e este seu adjunto, interpretavam as naturais recomendações de boa administração dos dinheiros públicos, como obrigação de apresentar abundantes saldos, no final de cada ano, embora à custa da não realização dos estudos que seriam de prever.

O que tornou possível um eficaz reconhecimento dos jazigos que estavam em investigação, nas Secções de Cercal - Odemira, Montemor-o-Novo, Moura e Barrancos e Castro Verde, da Brigada do Sul, que eu chefiava, foi o abundante material recebido ao abrigo do Plano Marshall (Ver post n.º 15).

Pude aplicar este material (grupos electrogéneos, moto-compressores, grupos electro-bombas, martelos pneumáticos e seus acessórios, etc.) porque, nas Brigadas do Norte e do Centro do País, poucos estudos havia em curso, que exigissem a sua utilização.

A um projecto que apresentei para a instituição do piso 210 na Mina de cobre de Aparis, com o objectivo de aumentar significativamente as suas reservas, não foi dado andamento e nem sequer foi acusada a sua recepção.
Este projecto ia exigir um conjunto de equipamentos (grupos electro-bombas de elevada potência, novas tubagens para ar comprimido e para esgoto de águas, cabos eléctricos, tudo devidamente dimensionado) e a instalação de um posto de transformação à boca do poço S. Francisco.

Salientei estas e outras características negativas do novo Director do SFM, em conversa informal com o recém-nomeado Director-Geral.
Registo que, nessa época, eu via este Director-Geral como um colega da minha geração, que tinha sido investido em elevado cargo, como poderia ter sido eu, até porque, quando ele teve acesso ao Quadro definitivo da DGMSG, ficou colocado em lugar inferior ao meu, por ter menor classificação académica.

Com o natural à-vontade, resultante desta circunstância, fiz-lhe ver as inevitáveis consequências de nomeação de pessoa com tão fraco currículo para o desempenho de funções de tamanha exigência.

A reacção do Director-Geral foi a que já descrevi no post n.º 25. A nomeação fora “imposta” por um Secretário de Estado, e ele não sentia poder contrariá-la.

Mas acrescentou que teria carácter transitório e que a direcção do SFM viria a ser-me confiada, por reconhecer ter eu, indiscutivelmente, maior qualificação para o cargo.

O grande desrespeito pelo cargo de Director do SFM era atitude desprestigiante de Organismo de fundamental importância para o País, mas havia a esperança de que esta situação transitória se não prolongasse.
Só o regime político vigente, que protegia os seus subservientes apoiantes, explicava, mas não justificava tão aberrante nomeação.

Após a Revolução, não era, obviamente, expectável que tal situação se mantivesse.

A realidade, porém, foi que a transitoriedade se prolongou por 15 anos (!!!), com os malefícios que já descrevi em vários posts.

Mas outra realidade, que progressivamente passou a evidenciar-se, foi que um Director do SFM, incompetente e subserviente, se tornou muito útil para o Director-Geral poder usar o generoso orçamento extraordinário do SFM para despesas que nada tinham com fomento mineiro e não eram consentidas pelo orçamento ordinário.

Foi, deste modo, que passou, por exemplo, a ter 3 viaturas ao seu serviço, oficial e particular, em acentuado contraste com o seu antecessor que se deslocava em transportes públicos para exercer funções.

O Director-Geral, assumiu-se como o verdadeiro dirigente do SFM, reservando para o titular do cargo funções subalternas pouco edificantes.

Uma das suas primeiras acções, nesta qualidade, foi utilizar-me para demonstrar, ao Secretário de Estado da Indústria, Engenheiro Amaro da Costa (pai do malogrado Ministro da Defesa do Governo de Sá Carneiro), em viagens organizadas pelo Sul do País, os maiores sucessos do Organismo que dirigia, embora realizados anteriormente ao seu investimento no cargo de Director-Geral.
Por meu intermédio, apresentou-lhe trabalhos mineiros bem sucedidos, fundamentais para explorações que se encontravam em curso nas Minas de ferro e manganés de Cercal – Odemira, nas Minas de zinco das Preguiças em Moura ou iriam ser iniciadas na Mina de cobre de Aparis, em Barrancos. (Ver post n.º 47),

Entusiasmado com o bom acolhimento do Secretário de Estado, preparou idêntica visita a trabalhos do SFM no Norte do País. Mas esta visita correu mal, porque muito pouco havia para mostrar e o Director do SFM nem esse pouco soube valorizar, o que levou o Director-Geral a lamentar-se de lhe ter faltado no Norte, um “Rocha Gomes”

Nesta primeira fase do seu mandato, foi frequente nomear-me para apresentar perante membros do Governo, ou em ambientes externos à DGMSG, sucessos do SFM, os quais diziam respeito essencialmente ao sul do País, pois aí se tinha exercido, até então, a minha principal actividade.

Cito, como exemplos, as várias exposições que fiz no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, no âmbito do Agrupamento Português de Prospecção Geofísica, a nomeação para representar a Metrópole nas Jornadas de Engenharia que em 1965 se realizaram em Moçambique
Nunca se lembrou de convidar o Director para estes fins.

Tornou-se, também, normal encaminhar para mim representantes de Companhias nacionais ou estrangeiras interessadas em fazer investimentos em prospecção mineira, para eu indicar as áreas onde poderiam exercer essa actividade, geralmente em continuidade das investigações realizadas pelo SFM.
Isto acontecia, não só pelo desconhecimento que geralmente tinham, tanto o Director-Geral, como o Director do SFM, da evolução dos estudos a meu cargo, apesar de receberem, regularmente, relatórios (que não liam) do progresso dos trabalhos, mas também, porque se sentiam pouco à-vontade a exprimir-se em inglês ou mesmo francês.

Recordo-me de o Director-Geral ter exigido a presença de intérprete, quando Grupo franco-canadiano quis indagar as possibilidades de fazer contratos de prospecção mineira em Portugal, de me ter advertido, de modo áspero, quando, inadvertidamente me estava exprimindo em francês, ao ser convidado a prestar as informações que o Grupo pretendia.
Recordo-me ainda de o intérprete traduzir, em escassos minutos, as longas e repetitivas dissertações do Director-Geral, passeando-se pela sala, onde decorria a reunião, esticando e encolhendo um ponteiro telescópico que costumava usar.

Já me referi, no post n.º 55, a reunião que provocou com representantes do Governo para expor o papel de Portugal que se lhe afigurava fortemente privilegiado em matéria de exploração de pirites. Tinha desabafado comigo, no dia anterior, que não pudera deixar de convidar o Director do SFM, para também estar presente, mas, esperava que ele se mantivesse calado. E foi o que realmente aconteceu!

A criação da Comissão de Fomento resultou da sua decisão de se assumir como dirigente do SFM, sem que o verdadeiro titular do cargo, com isso, se mostrasse desautorizado. Pelo contrário, pareceu até aliviado, pois alguém a nível hierárquico superior assumia responsabilidades em matérias em que não se sentia à vontade.
A total inutilidade das reuniões desta Comissão, já eu denunciara na conversa de 15-6-1974 (Ver post n.ºs 49 e 72).
O Director-Geral não teve coragem de lhes dar continuidade após a Revolução de 25 de Abril de 1974.

Em próximos posts, ocupar-me-ei de outras decisões do Director-Geral, que redundaram na (de)formação técnica e cívica de pessoal seu subordinado, em flagrante contradição quanto às exigências de elevada competência, que reiteradamente proclama na sua Comunicação.