quarta-feira, 22 de setembro de 2010

140 – A minha colaboração em Reunião de Geólogos do Oeste Peninsular

A exoneração de Soares Carneiro, em Março de 1980, do cargo de Director-Geral de Minas, fez vacilar Jorge Gouveia, na sua acção destrutiva do SFM.

Não obstante constar que outro dos “assaltantes” aos lugares de chefia, criados pelo famigerado Decreto 548/77, assumiria o cargo, era ainda uma incógnita a atitude que viria a adoptar para com o Serviço de Fomento Mineiro.

De facto, Alcides Pereira que, apesar do seu paupérrimo currículo, tinha conseguido ser investido, em 11-11-1980, no cargo de Director-Geral, por urgente conveniência de serviço (!!), dera discretos sinais positivos do modo como tencionava desempenhar as suas novas funções.
Em 15-12-1980, decidira participar em Semana de Geoquímica, que estava a decorrer no Porto e, então, em pequeno texto que leu, fez nascer ténue esperança de que alguma renovação poderia ocorrer na DGGM.
Recomendava às Universidades que produzissem bons técnicos, prometendo, para esse efeito, toda a colaboração do Organismo que lhe fora confiado.

Embora o seu passado não justificasse credibilidade em tais declarações, Jorge Gouveia mostrou-se algo mais prudente nas intervenções em estudos que eu dirigia na Secção de Caminha.
Passou a ignorar, praticamente, a existência deste núcleo de actividade.
Não mais insistiu em me colocar subordinado ao traidor Goinhas, que nomeara Director do Serviço de Prospecção Mineira, nem na dependência do arrivista Viegas, que estava designado Chefe do Grupo de Trabalho do Tungsténio.

Tornou-se assim possível que eu continuasse os trabalhos, mantendo estreita colaboração com diversos estabelecimentos de ensino superior e médio e com empresas privadas que actuavam na região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima.

Desta colaboração, começo por destacar a minha participação na organização de excursão integrada em Reunião de Geólogos do Oeste Peninsular.
Como referi, em anteriores posts, eu vinha exercendo, desde 1970, funções docentes na Faculdade de Ciências do Porto, na qualidade que me foi atribuída de Professor Auxiliar Convidado.
Aproveitando essa circunstância, os organizadores de uma Reunião de Geólogos do Oeste Peninsular consideraram que a Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, onde eu dirigia trabalhos de prospecção mineira, teria interesse para constar do programa das excursões, no âmbito dessa Reunião.
Por essa razão, contactaram-me para a concretização de tal objectivo.
De imediato, me disponibilizei para dar todo o apoio que me fosse possível.
Durante alguns dias, acompanhei os Professores Noronha e Frederico, aos locais a visitar, fiz-lhes a descrição dos resultados dos estudos que tinha realizado e forneci elementos para o Livro – Guia da excursão.
Conduzi-os, também, à presença dos dirigentes locais de Union Carbide, proporcionando a esta Companhia a oportunidade de participar na redacção do Livro – Guia, uma vez que a sua actividade se exercia principalmente no âmbito da Geologia, sendo numeroso o seu corpo de Geólogos, alguns dos quais portugueses.
Chamei a ambos, a atenção para possíveis dificuldades de acesso aos locais de maior interesse, aconselhando o uso de veículos de pequenas dimensões, para poderem inserir-se em curvas apertadas, que era necessário transpor, para chegar às Minas de tungsténio de Valdarcas, Lapa Grande e Cerdeirinha.

A excursão efectuou-se no dia 19 de Julho de 1979.
Aguardei, no Alto do Sopo, a chegada dos 80 congressistas, que vinham em dois autocarros.
Deste local privilegiado, descrevi o que se divisava, no horizonte: o anticlinal de Covas, com as explorações de Fervença, Valdarcas, Lapa Grande e Cerdeirinha, as zonas das sondagens na dobra periclinal, e na Costa das Vinhas e os afloramentos de Vilarinho.
Seguimos para a Mina da Fervença, onde o Geólogo Bronkhorst de Union Carbide, fez exposição sobre a estrutura geológica da região e eu mostrei os cortes geológicos e magnéticos anteriores à exploração que ali se realizara.
Assisti a calorosa discussão entre o Geólogo da DGGM, António Ribeiro e o Professor Vivaldi da Universidade de Oviedo, com a grande bonomia deste Professor, perante a fogosidade de Ribeiro, na defesa dos seus argumentos.
Os autocarros deveriam fazer a subida para Valdarcas, mas após uma primeira inspecção, feita por minha indicação, os motoristas concluíram que não conseguiriam inserir os seus veículos logo na primeira curva, muito menos nas seguintes.
Teve, pois que se desistir de visitar três das principais minas previstas na excursão: Valdarcas, Lapa Grande e Cerdeirinha.
Sugeri-lhes, então, visitar a zona do Serro (Argela) onde, pouco tempo antes, eu tinha descoberto afloramentos de skarn mineralizado, que facilmente poderiam ter passado despercebidos, por não ostentarem as suas típicas características.
Nessa época, eu concentrava aí os estudos, por ter sido adjudicada a Union Carbide, a área onde estivera a cumprir programa de sondagens, entre as quais se contava a n.º 69, que mencionei no post anterior.
Mostrei xistos grafitosos responsáveis por fortes anomalias de polarização espontânea, um filão aplítico com mineralização de cassiterite e skarn alterado e inalterado.
Exibi perfis magnéticos, de resistividade eléctrica, de polarização espontânea e fiz especial referência a concentrados de eluvião e à contagem de pontos de scheelite, para substituir as análises geoquímicas que o Laboratório do SFM tinha recusado efectuar.
O experiente Geólogo, Dr. Serpa Magalhães, que, nessa data, pertencia ao quadro técnico da Companhia canadiana Cominco, comentou ter sido o melhor que tinham visto em toda a excursão.
Entusiasmado com o que observou, propôs à Cominco que celebrasse contrato com o Estado Português, para esta área da Argela, o que viria a concretizar-se.
Nem os dirigentes (assaltantes) do SFM, recentemente nomeados, nem os designados “scheeliteiros” estiveram presentes nesta excursão !!!.

O Departamento de Mineralogia e Geologia da Faculdade de Ciências do Porto mostrou disponibilidade para proceder a estudos sobre testemunhos de sondagens efectuadas pelo SFM, na região, mas não houve receptividade, no SFM.
Todavia, o Professor João Coelho, meu ex-aluno que, por minha indicação, tinha estagiado na Companhia americana Union Carbide, conseguiu realizar estudos sobre skarns, em colaboração com Fonteilles, especialista francês na matéria, aproveitando facilidades proporcionadas por Union Carbide

Nos próximos posts, continuarei a revelar as minhas acções positivas.

Apesar das declarações públicas do novo Director-Geral, Jorge Gouveia mantinha-se alheio a estas acções, persistindo nas suas atitudes destruidoras do SFM.
A elas me referirei, no post n.º 146

domingo, 12 de setembro de 2010

139 – O procedimento adoptado para escolha do novo Director-Geral de Minas

O Ministro que fez publicar o despacho de exoneração do Engenheiro Soares Carneiro do cargo de Director-Geral de Minas, teve a coragem de resolver um problema que se arrastava de tempos anteriores à Revolução de Abril de 1974.

De facto, sabia-se que o Ministro Rogério Martins, do Governo de Marcelo Caetano, já se havia apercebido da necessidade de substituir Soares Carneiro. Não encontrava, porém, entre os possíveis candidatos ao cargo (os Engenheiros do chamado “Gabinete de Estudos” que se haviam instalado em Lisboa) quem oferecesse garantia de melhor desempenho. Apesar dos seus defeitos, Soares Carneiro era, nessa época, ainda “o menos mau”!

A decisão tornara-se tão premente, que resistira ao habitual favoritismo político. O Engenheiro Soares Carneiro era parente muito próximo do General Soares Carneiro que, então, tinha o apoio do malogrado Primeiro-Ministro Sá Carneiro, para Presidente da República.
Fora precisamente quando se dirigia, de avião, para o Porto, a fim de presidir a uma sessão de propaganda para a eleição do novo Presidente, que Sá Carneiro teve o acidente que o vitimou.

Era natural esperar que a escolha do novo dirigente obedecesse aos princípios repetidamente estabelecidos, no Decreto-lei n.º 548/77 de 31-12-1977 e em várias Resoluções do Conselho de Ministros.

Lembro que, no n.º 1 do artigo 33.º daquele diploma legal, se determina que “os lugares de director-geral, secretário-geral, director, subdirector-geral e subdirector serão providos por escolha do Ministro, em comissão de serviço por tempo indeterminado, de entre diplomados com curso superior adequado e de reconhecida competência .

Recordo, também, a Resolução n.º 10/79, de 15-1-79 do Gabinete do Primeiro Ministro, da qual transcrevo a seguinte passagem:
“É sabido que alguma inoperância dos serviços públicos é devida a uma certa crise de autoridade e de competência que se instalou, nos últimos anos, nos diversos escalões dirigentes de muitos organismos.
Assiste-se ainda hoje, em alguns casos, à manutenção de situações de indisciplina individual.
Torna-se indispensável eliminar todos os factores de bloqueamento de tomada de decisão coerente e em tempo útil, repondo o sistema de autoridade - responsabilidade no seu funcionamento pleno

Transcrevo, ainda, algumas disposições do Decreto-Lei n.º 191 – F /79, de 26 de Junho de 1979:

“A necessidade de modernizar a Administração Pública, adaptando-a à realidade do País actual, constitui um dos objectivos prioritários do Governo, aliás prosseguido na esteira de propósitos de Governos anteriores, que, apesar de programados, não chegaram, em muitos casos, a ter expressão em medidas concretas de carácter genérico.
É desnecessário realçar a importância dos quadros dirigentes numa mudança que se deseja orientada no sentido da eficácia, já que os mesmos são, por um lado, o elo de ligação entre o Governo e a máquina que deverá dar execução ao seu Programas, por outro, os verdadeiros motores do seu funcionamento.

A resolução do problema passa, porém, por medidas de mais largo alcance orientadas para a atribuição de maiores níveis de responsabilidade e por um maior rigor na selecção de dirigentes, que deverá basear-se no critério de competência.

O recrutamento do pessoal dirigente referido no artigo anterior far-se-á de entre indivíduos habilitados com licenciatura, mediante apreciação curricular e de acordo com as seguintes regras:
a) O cargo de director-geral ou equiparado é provido por despacho conjunto do Primeiro-Ministro e do Ministro competente, devendo a escolha recair em indivíduos de reconhecida competência e que possuam experiência válida para o exercício das funções
...

O Governo tinha, na sua posse, elementos mais que suficientes para, facilmente, corrigir os desmandos que Soares Carneiro originara na DGGM

O Ministro que aceitara sobraçar a pasta da Indústria, tinha conhecimento, através da vasta documentação que eu enviara, da imperiosa necessidade de mandar proceder a rigoroso inquérito para punir, exemplarmente, os responsáveis pela situação caótica a que se havia chegado e promover que, para a eficiência da DGGM, em especial do SFM, fossem colocados, “os homens certos, nos lugares certos”.

O Ministro tinha obrigação de ter conhecimento de que, dentro da Direcção-Geral de Minas, sobretudo no SFM, havia técnicos com currículo valioso, que tinham sido marginalizados.

O Ministro, se tivesse verdadeira consciência da importância dos recursos minerais na economia do País, deveria ter apreciado devidamente o papel decisivo do SFM na preparação da descoberta da enorme riqueza contida no jazigo de Neves-Corvo.

E se aprofundasse o seu conhecimento acerca desta descoberta, poderia chegar a conclusões surpreendentes.

Poderia, por exemplo, aperceber-se da minha persistente luta, durante uma dezena de anos, para conseguir aplicar a técnica que conduziu a tão extraordinário êxito, a nível mundial (Ver posts n.º s 14 e 37)

Poderia ainda ficar a saber que a descoberta só não foi concretizada totalmente pelo SFM, porque Soares Carneiro, sem me consultar, decidiu adjudicar a Grupo empresarial privado, vasta área, que incluía a zona onde, sob minha direcção, estava, quase totalmente definida, a expressiva anomalia gravimétrica, que era a assinatura do jazigo (Ver posts n.ºs 37 a 43).

Poderia, também, conhecer muitos outros êxitos do SFM, pelos quais fui o principal responsável. E ficaria a saber o meu importante papel na preparação de futuros Engenheiros e Geólogos, através de aulas que ministrava nas Faculdades de Ciências e de Engenharia do Porto e de colaboração que prestava à Universidade de Aveiro.

Ocorre-me citar o parecer manifestado por unanimidade, pelos Engenheiros e Geólogos da 1.ª Brigada de Prospecção, que tinha sido por mim instituída e era, em 1974, o mais importante núcleo do SFM.
Pronunciaram-se, então, no sentido de eu dever assumir a direcção do SFM, indo ainda mais longe, ao afirmarem que era eu também a pessoa indicada para o cargo de Director-Geral de Minas (ver post nº 72)

Estes mesmos funcionários tornar-se-iam, mais tarde, por influência de Soares Carneiro, os principais responsáveis pela degradação que passou a verificar-se no SFM, como natural consequência do ignóbil e traiçoeiro documento que subscreveram, para me afastarem da chefia daquela Brigada.

Na posse de todos estes dados, era natural que ao Ministro ocorresse o meu nome para assumir o comando da DGGM

Embora eu não estivesse interessado no cargo, pois a aceitação implicaria o meu afastamento das actividades de investigação no campo, a hipótese deveria ter sido considerada.

E eu admito que, se o problema me tivesse sido apresentado, nos seus correctos termos, poderia ter revisto a minha atitude, considerando meu dever cívico a aceitação desse cargo.com todas as dificuldades que teria de enfrentar.

De facto, tinha sido já a consciência dos meus deveres cívicos que determinara a minha aceitação de funções docentes em vários estabelecimentos de ensino superior e médio, com deficiente remuneração, ou mesmo sem remuneração e até com despesas não reembolsadas.

Registo que Jorge Gouveia já me tinha oferecido um lugar de Director de Serviço, … com a condição de eu deixar de realizar trabalho de campo!!!, - oferta que eu obviamente rejeitei pelas razões que expus.

Constou, que o Ministro tentara encontrar exteriormente, pessoa idónea para o cargo de Director-Geral de Minas, mas não fora bem sucedido nas suas diligências

A triste realidade, a que se assistiu, foi que o Ministro, desprezando totalmente as disposições dos Decretos que fez publicar e as recomendações quanto à exigência de competência profissional, em vez de corrigir os monstruosos erros que tinha cometido, ao ter permitido o assalto aos lugares de chefia, por técnicos incompetentes e de duvidoso carácter, tomou a atitude simplista de aceitar como candidato ao cargo de Director-Geral de Minas, um dos 4 “assaltantes” que tinham conseguido instalar-se como subdirectores-gerais.

Acontecia, porém, que um destes promovidos a candidatos, o Engenheiro José Maria da Costa Almeida, tinha um passado de subserviência relativamente ao anterior detentor do cargo, que o não recomendava. A realidade era que ele já só se preocupava com diligências para se aposentar com a categoria de assessor da letra B, à semelhança do que outros funcionários tinham conseguido.

Dos outros três, o Geólogo Delfim de Carvalho e o Engenheiro Jorge Gouveia estavam ocupando cargos de Director dos Serviços Geológicos e Director do SFM;

Restava o Geólogo Alcides Pereira, que tinha magríssimo currículo (Ver post n.º 126) e era, de facto,"um corpo estranho" na DGGM.
Fora nomeado, em comissão de serviço, subdirector-geral, apenas por favoritismo político desconhecendo-se as funções que exercera, desde que, há dois anos fora investido no cargo que detinha.

Perante estes factos, o Ministro resolveu arriscar, nomeando Alcides Pereira,
que era, talvez, o detentor de pior currículo, dentre todos os técnicos superiores da DGGM, embora em interinidade, na esperança de que melhor solução viesse a surgir.

Foi assim que se sucederam despachos, com datas 1-4-1980 e 15-9-1980 para Alcides Pereira exercer o cargo, em regime de substituição, até que, em 11-11-1980, é feita a nomeação, por urgente conveniência de serviço.

Só, porém, em 2-1-1981 é emitido um despacho conjunto do Primeiro-Ministro e do Ministro da Indústria, nos seguintes termos:

Licenciado Alcides Rodrigues Pereira, técnico superior principal do quadro do Gabinete de, Pesquisa e Exploração de Petróleo, exercendo, em comissão de serviço, as funções de subdirector-geral de Geologia e Minas – nomeado para exercer, em comissão de serviço, o cargo de director-geral de Geologia e Minas, nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 2.ºn.º 2 do artigo 4.ºdo Decreto-Lei n.º 191-F/79 de 26 de Junho. De acordo com o determinado naquele despacho conjunto (que anula o publicado no Diário da República, 2.ª série, n.º 261 de 11 de Novembro findo), o exercício destas funções teve início a partir da data do mesmo, em virtude de esta nomeação ter sido feita, por urgente conveniência de serviço, ao abrigo no disposto no n.º 2 do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 146-C/80 de 22 de Maio.

Com tais antecedentes, não era difícil prever que, mais uma vez, viria a ter plena confirmação a lei de Murphy, como revelarei em futuros posts.

sábado, 4 de setembro de 2010

138 – A obstinação do 4.º Director do SFM em destruir o Organismo que lhe foi confiado

Em fins de 1979, eu ainda conseguia manter dois núcleos de actividade em prospecção mineira (Secções de Caminha e de Talhadas), apesar das várias investidas dos “assaltantes” dos novos cargos directivos, para deles se apropriarem e dos constantes obstáculos à minha actuação.

Conforme revelei no meu post n.º 61, a Secção de Talhadas estivera prestes a ser extinta, em Novembro de 1972, porque, na curiosa expressão do Director do SFM de então, “não estava a dar nada”!

Também o Director-Geral declarava, em reuniões da chamada Comissão de Fomento, não ter entusiasmo pela vasta área que eu denominara Faixa Metalífera da Beira Litoral, seguindo a designação do eminente Geólogo Carlos Ribeiro, na sua “Memória sobre o grande filão metalífero que passa ao nascente de Albergaria-a-Velha e Oliveira de Azeméis”, publicada em1861, na qual revela a grande importância desta Região mineira.

Porém, os resultados dos estudos sob minha orientação, os quais eu descrevia, em pormenor, em diversos relatórios e em exposições orais, não só desmentiam aquelas opiniões negativistas, como eram muito apreciados por entidades científicas externas à DGGM.

Por exemplo, o Professor Edmundo Fonseca, do Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, tendo tomado conhecimento das investigações em curso na Faixa Metalífera, convidou-me, em 2 de Junho de 1978, a participar em Seminário Internacional de Geoquímica que a Universidade ia realizar, de 27 a 30 desse mês de Junho.
Seriam também conferentes J. Barbier do BRGM francês, B. Bolviken de Universidade norueguesa, Clifford James e H. Roesler de outras Universidades estrangeiras, Lopes Nunes da Universidade de Braga e Santos Oliveira do SFM
Insistiu, então, que contava com a minha colaboração como do “pão para a boca”, já que pouco esperava da colaboração de Santos Oliveira.
Manifestei-lhe a minha disposição de apresentar sobretudo resultados obtidos na Faixa Metalífera, pela Secção de Talhadas, durante os últimos 10 anos, aplicando técnicas geoquímicas e geofísicas, com ênfase para o método geoquímico, com amostragem de sedimentos de linhas de água.
Salientei os resultados, nas seguintes áreas
Braçal - Cabeço do Telégrafo
Alto da Serra (antiga mina de Vale do Vau).
Bertufo
Boa Aldeia
Cabeço Santo
Sanguinheiro
Bostelim
Agrelo
Boi

Edmundo Fonseca imediatamente deu o seu acordo e logo incluiu o meu nome, como conferente, em prospecto que fez distribuir por entidades possivelmente interessadas, intitulando a comunicação que eu iria apresentar como “Casos concretos de prospecção integrada em Portugal”

Em 30-6-78, ocupei quase toda a manhã com a minha exposição, socorrendo-me de numerosos mapas, que previamente tinha afixado.
Apresentei, também, alguns resultados da actividade na Região de Vila Nova de Cerveira - Caminha – Ponte de Lima.

Senti necessidade de acentuar que as investigações na Faixa Metalífera da Beira Litoral não tinham grande apoio, a nível superior, com os argumentos de que filões não têm interesse e que todo o chumbo e zinco, de que o País necessita, se contem nas pirites alentejanas.

Chamei, por isso, especial atenção para um extenso alinhamento de anomalias geoquímicas de Pb, na área do Cabeço do Telégrafo, situada nas proximidades da antiga Mina do Braçal, para cuja investigação apresentara, em 1974, projecto de sondagens que aguardava ainda aprovação.

Relativamente à actividade na Região de Vila Nova de Cerveira - Ponte de Lima, mostrei os excepcionais resultados de sondagem efectuada na Costa das Vinhas, pela Empresa americana Union Carbide, exclusivamente com base em pronunciadas anomalias magnéticas e geoquímicas de tungsténio, anteriormente detectadas pelos trabalhos do SFM.
A sondagem de Union Carbide fora implantada em local próximo de furo, por mim projectado, com o n.º 69, o qual a Direcção do SFM decidiu não efectuar, para dar preferência à outros furos na Região de Mogadouro, com o fundamento de se tornar imperioso investigar o jazigo (?) de scheelite de Cravezes, a que Geólogos inexperientes davam muita importância, mas que, na realidade, não passava de ocorrência pouco significativa.

Escusado será dizer que Gouveia e a quase totalidade dos 22 (!!) novos Chefes primaram pela ausência neste seminário. Não lhes interessava saber o que realmente se passava nos poucos núcleos do SFM onde havia actividade útil e disciplinada e os ensinamentos que os professores estrangeiros poderiam trazer.
Só me lembro de ter visto o Chefe de Divisão Viegas, que chegou atrasado e o Director de Serviço, Santos Oliveira, que apresentou fraca comunicação sobre prospecção de scheelites.
Dentre as intervenções, após a minha apresentação, destaco as seguintes:
1 - Barbier, surpreendido por se não ter sondado a série de anomalias de Pb no Cabeço do Telégrafo. Expandira-se, depois, com Edmundo Fonseca, usando a expressão: “Aqui há substância!” para contrastar com o que ouvira, no dia anterior a Santos Oliveira.
2 – Viegas, elogiando (!) e aproveitando a oportunidade para perguntar se dados de trabalhos por mim dirigidos em Carviçais (Moncorvo), nos quais estava interessado, lhe poderiam ser cedidos. A minha resposta foi que tais dados pertenciam ao SFM e seriam facultados a quem tivesse o direito de os reclamar.
3 – Luís Gaspar, dos Serviços Geológicos, a manifestar estranheza com a fase incipiente de trabalhos, ainda em curso, apesar de a campanha ter sido iniciada há 10 anos e com o facto de se não ter decidido estudar a Mina do Braçal, após o seu abandono pela Empresa que detivera a concessão. Concordei com as suas objecções, repetindo a minha explicação inicial sobre a falta de apoio, a nível superior, porque o Director-Geral entendia que filões não têm interesse e que todo o Pb e Zn de que o País precisa se contem nas pirites do Alentejo. Salientei, no entanto, as contradições desse dirigente, a tal respeito, em publicações de sua autoria. Quanto à retoma da actividade nas Minas do Braçal, exprimi o parecer de que, para o actual SFM, tal retoma seria muito difícil, senão impossível, uma vez que já tinha sido extinto o sector de Trabalhos Mineiros.

Impressionado com o sucesso da prospecção geoquímica na redescoberta da antiga Mina de chumbo do Sanguinheiro, Edmundo Fonseca manifestou o desejo de fazer a sua tese de doutoramento com base nesta Mina.
A Mina do Sanguinheiro não constava da documentação que eu tinha consultado nos arquivos da Circunscrição Mineira do Norte. Apesar de se situar no distrito de Coimbra, os documentos a seu respeito estavam arquivados na Circunscrição Mineira do Sul. Os trabalhos, desta Mina, totalmente ocultos por densa vegetação, foram encontrados, através dos resultados das análises geoquímicas de Pb.

Tendo obtido a minha concordância, Edmundo Fonseca fez deslocar, à área desta Mina, o orientador da sua tese, Professor H. Martin, de Universidade belga, e o Professor da Universidade de Aveiro, Renato Araújo.
Passou, depois a prestar colaboração, nos trabalhos que ali decorriam.
Uma sonda da Universidade e pessoal que tinha adestrado foram utilizados para colheita de dados sobre a formação mineralizada.

Ao Professor Edmundo Fonseca, facultei também, acesso aos dados de estudos que eu tinha dirigido no Sul do País, na área de Algares de Portel, a fim de ele poder estabelecer o confronto de mineralizações de chumbo e zinco, em diferentes ambientes litológicos.

Jorge Gouveia, com total desprezo por este longo passado do SFM, na Faixa Metalífera da Beira Litoral e sem consideração pelo prejuízo que iria ocasionar à Universidade de Aveiro, na formação dos seus alunos e professores, passou a tomar decisões com vista a extinguir a Secção de Talhadas.

Começou por emitir ordens directas à Secção de Talhadas, para que cerca de 50% do seu pessoal fosse prestar serviço na Secção de Coimbra dirigida pelo Geólogo Viegas.
Esta deslocação de pessoal, apresentada com carácter temporário, foi-me, depois justificada, porque “o sector de Coimbra não tem estruturas à altura dos projectos que lhe estão cometidos, nem é oportuno desenvolvê-las, no momento presente (!!!!!)

Pelo Colector Silvestre Vilar fui informado de que Viegas, dispondo de uma aparelhagem de resistividade eléctrica Askania, de elevada qualidade, herdada dos extintos Serviços de Prospecção de Junta de Energia Nuclear, pretendia efectuara 49 sondagens eléctricas, para investigação de ocorrências de argila.
Soube que tais sondagens não chegaram a ser efectuadas, por terem avariado a aparelhagem, visto ninguém se ter preparado, para seu uso e muito menos para a interpretação dos resultados que viessem a obter.

Apesar deste revés, Jorge Gouveia acabou por dar cumprimento ao seu propósito inicial. Deu ordem para suspender a actividade na Faixa Metalífera da Beira Litoral, passando a utilizar todo o seu pessoal, em trabalhos de duvidosa qualidade e utilidade.

Foi do seguinte teor o ofício que me dirigiu em14-1-1980:

“ Não tendo sido incluído no Programa Min - de Inventário e Valorização dos Recursos Minerais de País” do PIDDAC para 1980, o sub-projecto, relativo à área de Talhadas deverão os respectivos trabalhos ser suspensos”

Continuando a usar os escassos recursos de que dispunha, registei, em relatórios, as arbitrariedades dos dirigentes, que estavam a reduzir a eficácia do SFM, conduzindo à sua previsível extinção.

A seguir, transcrevo algumas passagens do relatório, respeitante à actividade do 1.º Serviço durante o 1.º trimestre de 1980:

“Provavelmente o Director nem terá lido os nossos relatórios trimestrais, nos quais salientamos os excepcionais resultados de prospecção, ainda sem investigação por sondagens, os quais surpreenderam especialistas estrangeiros, que estiveram presentes, na Universidade de Aveiro, em palestra que ali proferimos essencialmente sobre prospecção mineira na Faixa Metalífera da Beira Litoral.
Provavelmente também, o Geólogo Viegas, por si promovido a Chefe de Divisão de Prospecção de Substâncias Metalíferas das Províncias Metalogénicas Setentrionais” terá modificado a opinião elogiosa que pública e espontaneamente exprimiu a respeito do trabalho que apresentamos em Aveiro….
Aliás, tal mudança de opinião não constituiria já caso inédito.
Alem disso, o Director do SFM jamais nos convidou a expor, de viva voz, a actividade em curso na Faixa Metalífera da Beira Litoral, nem tão pouco manifestou o menor interesse em apreciar os trabalhos no campo.
Concluímos que a exclusão da Faixa Metalífera de Beira Litoral, dos programas para 1980 não tem qualquer fundamento.
Consequentemente, a suspensão dos trabalhos nesta Faixa constitui grave erro, que consideramos intencional, apenas com o propósito de retirar ao signatário a possibilidade de concretizar os êxitos que, com persistente labor e entusiasmo, vai preparando.
É tempo de chamar à responsabilidade quem comete deliberadamente tão graves erros, com total desprezo pelos interesses do País.
O ofício do Director do SFM, suspendendo a actividade da Secção de Talhadas, remete-nos para o Programa “Min - Inventário e Valorização dos Recursos Minerais do País “ do PIDDAC para 1980.
….
Não fora a falta de tempo e o desejo de não alongar demasiado este documento, gostaríamos de fazer mais profunda incursão no Programa para 1980.
Trata-se, de facto, de um documento exótico, que quase nos provocaria hilaridade, não fora o que de trágico está nele subjacente.
Na verdade, justificar o atraso ou não cumprimento de programas com argumentos tais como:
“Uma parte do corpo de técnicos licenciados do SFM do SFM foi chamada, no âmbito da reestruturação da DGGM, a desempenhar funções no quadro dirigente. Este facto veio agravar, ainda mais a situação, que já era carente nesses técnicos. Assim só o recrutamento de pessoal, de acordo com o novo quadro orgânico, poderá repor a capacidade de resposta do sector Norte, para levar a cabo as tarefas aqui programadas”. É, pelo menos, um ultraje à inteligência de quem tiver que apreciar o aludido programa.
A nós, não restavam quaisquer dúvidas de que a reestruturação que paulatinamente se tem vindo a processar na Direcção-Geral de Minas só tem tido efeitos nefastos para o País.
Os interesses de alguns oportunistas têm sido satisfeitos, mas os Serviços têm-se degradado, como repetidamente temos denunciado.
No entanto, poderíamos esperar tudo, menos que os responsáveis por esta degradação viessem declará-lo, em documento de tamanha importância.
E não podemos deixar de manifestar a nossa surpresa por não termos notado reacções superiores a tão surpreendentes afirmações
Pelo que nos diz respeito, queremos deixar aqui registado que, desde 1944, sempre temos exercido, efectivamente, dentro do Serviço de Fomento Mineiro, funções de chefia, sem que, por tal facto, tivéssemos recebido qualquer remuneração adicional.
Nunca abdicamos, porém, das funções técnicas e, a atestá-lo, está a obra que podemos apresentar, de que não nos envergonhamos, da qual outros se têm aproveitado e continuam a aproveitar…
Não podemos, por isso, deixar sem reparo que os agora alcandorados a cargos de chefia, quase sempre sem base em competência profissional ou qualquer outra e, em muitos casos, sem efectivamente exercerem o cargo … argumentem agora
que não trabalham, porque já são chefes e os chefes só mandam…
……..