quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

33 – Os contratos de prospecção com empresas privadas. 2.ª parte

As minhas recomendações à Mining Explorations (International) (MEI) sobre a aplicação intensiva da gravimetria, de preferência às sondagens com insuficiente apoio geofísico, não foram tidas na devida consideração e a Companhia via passar o tempo sem obter resultados positivos.

Começou a ficar desanimada e chegou a ponderar o abandono da área que lhe estava adjudicada, antes do termo do contrato.

Aconteceu, porém, um facto que levou MEI a rever esta atitude negativa.

O SFM acabava de revelar, na área de Aljustrel, que tinha conservado para as suas próprias investigações, uma grande concentração de minério piritoso com disseminação abundante de blenda e menor percentagem de galena e calcopirite.

Esta concentração mineral, que se situa no mesmo horizonte onde se localiza o jazigo de Feitais, anteriormente descoberto através dos estudos da Lea Cross Geophysical Company, ficou designada como jazigo da Estação, dada a proximidade da estação de caminho de ferro de Aljustrel.

Perante tão notável êxito, (a ele dedicarei um próximo post), MEI recuou na sua decisão, criando novo ânimo para continuar os seus estudos, por reconhecer que a parcela da Faixa Piritosa, que lhe estava adjudicada, mantinha ainda intactas áreas com forte potencialidade para a ocorrência de novos jazigos.

MEI, consciente do decisivo papel que eu tinha vindo a desempenhar na valorização da Faixa Piritosa Alentejana e da valiosa colaboração que tinha vindo a prestar-lhe, teve a simpatia de festejar a descoberta, no dia 28-3-1968, convidando-me para um jantar, no Hotel Tivoli, no qual estiveram presentes os mais altos dirigentes das Companhias que participavam no Consórcio.

Foram eles: Dr. Stanley Holmes (Presidente de MEI), Dr. Armstrong (Presidente de Cominco canadiana), Dr. Taylor (Presidente de Union Corporation sul-africana), Geólogo sénior Dr. Stam, Professor José Ávila Martins (representante de MEI em Portugal), Dr. Robert Batey (principal responsável pelos trabalhos de campo de MEI).

No final do repasto, houve discursos exaltando o mérito do êxito e manifestando o forte empenho de MEI em dar continuidade às suas investigações.

Quando chegou o momento para eu agradecer tão grande manifestação de apreço, causei alguma perplexidade aos meus anfitriões, ao declarar que se MEI ainda não tinha descoberto jazigo algum foi porque ainda o não merecera.

Salientei que a descoberta da Estação tinha sido a consequência de 20 anos de persistentes estudos, sem esmorecimentos perante alguns inevitáveis resultados negativos quanto a descobertas, mas positivos pela acréscimo de informação que auxiliara a encontrar os alvos desejados.

Classificava a actividade de MEI insuficiente para poder aspirar a um sucesso. Apesar de MEI já ter despendido cerca de 30 000 contos (o equivalente a perto de um milhão de euros actuais) era preciso trabalhar muito mais!

Mais tarde, o Geólogo Dr. Batey que estava encarregado da maior parte dos estudos no terreno, cujo esforço talvez não estivesse a ser devidamente apreciado, agradeceu-me vivamente esta intervenção.

Todavia, não se verificou no terreno a intensificação prometida, sobretudo em campanhas de gravimetria que eu tinha recomendado vigorosamente.
MEI não criou a sua própria equipa para a aplicação desta técnica.

Expirado o prazo de validade do seu contrato, sem ter descoberto jazigos, MEI não se interessou em celebrar novo contrato, preferindo fazer os seus investimentos em áreas de outros países onde estava a obter francos sucessos.

O seu Presidente Dr. Stanley Holmes formou novo Consórcio com capitais de outras Companhias e firmou contrato com o Estado para uma área envolvente das Minas de S. Domingos e Bicada, onde considerava existirem boas probabilidades de existência de novas massa de pirite, apesar das muitas sondagens que nessa área já tinham sido feitas.

O Director-Geral, por motivos que não me foram revelados, decidiu não me nomear seu representante junto desta nova Companhia, acontecendo que, sendo eu o único Engenheiro da Direcção-Geral a acompanhar os estudos de todas as Companhias que actuavam na Faixa Piritosa e a neles colaborar, era o único que não era remunerado por esta actividade suplementar!

Foi este o modo que o Director-Geral encontrou para manifestar o seu apreço pelo êxito da Estação de que eu tinha sido o principal autor. Mas não foi único, como irei revelar, nas devidas oportunidades.

Imediatamente após a libertação da vasta área que havia sido adjudicada a MEI, promovi que fossem realizados levantamentos gravimétricos numa área de cerca de 100 km2 que abrangia a Mina de Algaré e outras ocorrências cupríferas,

Logo começou a evidenciar-se extensa e pronunciada anomalia que viria a dar origem à descoberta do já célebre jazigo de Neves-Corvo.

A este tema dedicarei vários posts, para reposição da verdade que tem sido escandalosamente desrespeitada, em artigos publicados com grosseiros erros, em prestigiadas Revistas de vários países.

Alguns Geólogos oportunistas têm-se feito passar por autores do êxito, no qual tiveram intervenção insignificante, nula ou até negativa, chegando ao cúmulo de receber louvores em Diário do Governo e condecorações do Governo francês, com apoio presencial de altos dirigentes nacionais.

Continua ...

sábado, 13 de dezembro de 2008

32 – Os contratos de prospecção com empresas privadas.

O SFM foi criado para suprir a escassez de iniciativa privada séria para o aproveitamento dos recursos minerais do País.

Para impedir que viessem a ser requeridas concessões dentro das suas áreas de estudo, aproveitando resultados conseguidos pelo SFM sem as correspondentes contrapartidas, foram declaradas cativas para o Estado, por portarias publicadas no Diário do Governo, vastas áreas, sobretudo no Alentejo, onde decorria a quase totalidade das investigações em prospecção mineira.

Todavia, uma incompreensível morosidade da Direcção do SFM em dar andamento ao processo de aquisição de equipamentos de prospecção, considerados essenciais (são disso exemplo os 10 anos para se adquirir um gravímetro, apesar das insistentes referências à sua indispensabilidade, feitas em projectos de trabalhos e em outros documentos !!), deu origem a que empresas, sobretudo estrangeiras, se antecipassem ao SFM, mostrando-se interessadas na aplicação de técnicas modernas, para aumentar as suas reservas minerais, e requeressem autorizações para investigar zonas situadas no interior de áreas cativas para os trabalhos do SFM.

Para alguns destes requerimentos, chegou a ser pedida a minha informação.
Como o papel do SFM não era impedir a iniciativa privada mas, pelo contrário, estimulá-la, as minhas informações foram favoráveis, enquanto o SFM se não equipava convenientemente.

Foi assim que foram concedidas autorizações a todos os concessionários radicados na Faixa Piritosa Alentejana, sem outras condições para além da apresentação de relatórios periódicos sobre a sua actividade e sobre os resultados conseguidos.

Já revelei, em post anterior, a generosidade excessiva do contrato celebrado em 1960 com a CRAM (Compagnie Royale Asturienne des Mines), para o qual não fora pedida a minha informação.

Em 1965, começaram a aparecer outras empresas e outros grupos empresariais a manifestar interesse em fazer investimentos em Portugal, com vista à futura exploração de jazigos minerais

O Director-Geral então em exercício, acolheu bem este interesse mas informou que a generosidade dos contratos anteriores não iria repetir-se.

O SFM encontrava-se já razoavelmente preparado para cumprir os programas de prospecção para que tinha sido criado e estava em curso a aquisição de novos equipamentos e a especialização de técnicos para deles fazer bom uso.

Por isso, só seriam concedidos direitos de prospecção, no interior de áreas cativas, com vista à futura atribuição de novas concessões de exploração dos jazigos que viessem a ser revelados, mediante compensações.

Foi para a Faixa Piritosa Alentejana que se celebraram os principais contratos, por negociação directa com as entidades interessadas.

Em 1966 foi adjudicada a quase totalidade da Faixa.

O SFM apenas manteve, para estudos nesta Faixa, uma pequena área envolvente das Minas de Aljustrel, onde tinha em curso campanha de prospecção com aplicação privilegiada da técnica gravimétrica.

À Mining Explorations (International) (MEI) foi adjudicada uma vasta parcela de cerca de 4.000 km2, desde a fronteira nas proximidades da Mina de S. Domingos até às Minas de Aljustrel.

À Sociedade Mineira de Santiago, afiliada da CUF (Companhia União Fabril), foi atribuída a Bacia Terciária do Sado, entre as Minas de Aljustrel e Louzal.

A Mines et Industries, concessionária das Minas de Caveira e de Louzal, foi adjudicada uma área envolvente das suas concessões.

Todos estes contratos incluíam cláusulas sobre compensações ao Estado, que foram consideradas vantajosas.

Incluíam, além disso, outra cláusula, segundo a qual a Direcção-Geral de Minas nomearia um seu representante, junto de cada um dos contratantes, para acompanhar os trabalhos e prestar colaboração, tendo em vista facilitar a sua actividade.

Eu fui o representante junto de MEI; o Chefe do 3.º Serviço, que tinha a seu cargo os Petróleos e as Sondagens, foi o representante nomeado junto de Mines et Industries; outro Engenheiro que estava destacado na Circunscrição Mineira do Sul, mas exercia sobretudo funções de adjunto do Director-Geral (o apelidado de Ajax) foi o representante junto da Sociedade Mineira de Santiago.

Nem o Chefe do 3.º Serviço nem o adjunto do Director-Geral tinham a mínima experiência nas técnicas de prospecção aplicáveis na Faixa Piritosa, nem tinham exercido qualquer actividade nesta Faixa.

Estes dois Engenheiros e o Engenheiro Chefe do 4.º Serviço, que tinha a seu cargo o inventário das pedreiras, constituíam o designado “Gabinete de Estudos”, que funcionava junto do Director-Geral.
Nunca conheci a que estudos se dedicaram, nem percebi a razão pela qual os Chefes dos 3.º e 4.º Serviços exerciam as suas funções em Lisboa, junto do Director-Geral, quando eu (Chefe do 1.º Serviço) e o Chefe do 2.º Serviço desempenhávamos as nossas actividades a partir da sede do SFM em S. Mamede de Infesta.

Mas o Director-Geral resolveu compensá-los da sua dedicação, nomeando dois deles representantes simbólicos da Direcção-Geral junto das empresas, para lhes poder atribuir remuneração adicional.

Perante a sua total impreparação, fui eu o efectivo representante da Direcção Geral de Minas junto de todas as empresas contratantes.
A experiência adquirida durante os 20 anos que passara no Alentejo, sem nunca descurar o problema das pirites, dava-me essa possibilidade sem grande esforço.
Nas raras reuniões em que esses simbólicos representantes estiveram presentes, o que eu mais desejava era que as suas descabidas intervenções não viessem perturbar a análise dos problemas suscitados pelos trabalhos que se iam realizando.

Entre o Serviço de Prospecção do SFM, sob minha chefia, e as empresas estabeleceu-se uma estreita colaboração de que resultaram benefícios mútuos.

A elevada competência dos Geólogos integrados em todas as Empresas foi de grande utilidade para um conhecimento mais profundo da estrutura geológica da Faixa Piritosa.

Por outro lado, a experiência que o SFM vinha adquirindo com a aplicação das técnicas geofísicas, foi de extrema utilidade para as Empresas, pois todas, reconhecendo a sua qualidade, passaram a solicitar que o SFM realizasse para elas, campanhas sobretudo de gravimetria.
O SFM facturava essas campanhas com uma sobrecarga de 50% sobre o seu custo, valor que era considerado pelas empresas muito atractivo, quando comparado com o custo que seria facturado por especialistas estrangeiros que viessem cumprir contratos a Portugal.

As solicitações eram tantas que cheguei a ponderar a aquisição de um terceiro gravímetro. Já tínhamos dois gravímetros quase totalmente absorvidos pelas solicitações das empresas, atrasando assim os nossos programas próprios. Não fiz proposta, apenas porque continuava a enfrentar o grave problema da remuneração ao pessoal assalariado que teria que recrutar localmente e fazer preparar. Apesar das constantes exposições sobre este grave problema e de fazer notar que a actividade do 1.º Serviço não constituía encargo para o erário público, a Direcção-Geral da Contabilidade Pública não dava andamento às propostas de revisão salarial que lhe eram remetidas, segundo informava o Director do SFM. Dificilmente já conseguíamos manter o pessoal ao qual tínhamos dado formação especializada. Já tínhamos que atribuir, a vários deles, categorias de mais elevados salários da tabela superiormente aprovada, que não correspondiam às funções realmente desempenhadas.

Mining Explorations (International), detentora da maior área, privilegiava a execução de sondagens, com base nos seus estudos geológicos e em alguma gravimetria.

Na minha qualidade de representante da Direcção Geral de Minas junto da Companhia e de seu colaborador, apresentei relatórios com recomendações de trabalhos, acentuando a importância da técnica gravimétrica e aconselhando o seu mais amplo uso, antes de se passar à execução de sondagens.

No meu 3.º relatório, com data de 15-3-1968, do qual anexei cópia ao meu relatório mensal enviado ao Director do SFM, chamei vigorosamente a atenção de MEI para a necessidade de incrementar o uso da técnica gravimétrica, considerando a vastidão da área que lhe estava adjudicada.

Deste relatório, destaco as seguintes passagens:

“Além das áreas que já anteriormente foram objecto de levantamentos gravimétricos, muitas outras há, dentro da concessão de Mining explorations (International), onde nunca o método foi utilizado.

Recordamos, por exemplo, que na vasta área de rochas vulcânicas de Castro Verde – Panoias, que tem uma extensão superior a 30 km e uma largura que atinge 10 km, muito poucos trabalhos de prospecção gravimétrica se fizeram, até à data.”

“Noutras vastas áreas, como as de Albernoa, Juliana, Pomarão, Alcoutim e Ourique, onde a potencialidade é também grande, nada, praticamente foi feito, em matéria de prospecção gravimétrica.

Aconselhamos vigorosamente a aplicação deste método.
Lembremo-nos de que, a todos os jazigos novos conhecidos na Faixa Piritosa Alentejana correspondem anomalias bem definidas pela gravimetria, o mesmo não podendo afirmar de qualquer dos outros métodos que têm sido aplicados.

O Serviço de Fomento Mineiro poderá continuar a prestar a sua colaboração na matéria, em campanhas de curta duração, tal como fez em anos anteriores. As numerosas solicitações que tem de várias Companhias e o seu programa próprio não lhe permitem comprometer-se em campanhas longas.
Como o tempo de que dispõe Mining Ezxplorations (International), contando já com as prováveis prorrogações, é muito limitado para a cobertura de todas as áreas favoráveis, é aconselhável que Mining Explorations (International) disponha de, pelo menos, uma equipa de gravimetria, em trabalho permanente, até ao termo do contrato com o Estado Português.
Na impossibilidade de o Serviço de Fomento Mineiro lhe poder dar este apoio permanente, sugerimos que Mining Explorations (International) crie a sua própria equipa.
Computamos em cerca de 4.000$00/dia a despesa de uma destas equipas (contando já com a amortização de gravímetro, taqueómetro, níveis, viatura e outro equipamento auxiliar, em 5 anos, e duas estadias de Mr. Roux em Portugal, como supervisor deste trabalho).

Não se aconselham novas sondagens na Faixa Piritosa, sem haver um número suficientemente grande de anomalias gravimétricas que permita fazer uma selecção das verdadeiramente auspiciosas.
Quanto maior for o número de anomalias para escolha, maior será a probabilidade de sucesso.
Não deve esquecer-se que as maiores despesas na procura de jazigos minerais são as feitas pelas sondagens.
Um mês de trabalho com o gravímetro (considerando 50 observações diárias com malha d 100m x 100m) dá informação sobre 13 km2, a um custo muito inferior a 10 contos por km2. Uma só sondagem custa geralmente, algumas dezenas de vezes mais e a informação que presta é muito mais limitada”


Continua...

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

31 - A inauguração oficial das novas instalações do SFM em S. Mamede de Infesta

A inauguração oficial das novas instalações do SFM ocorreu em Agosto de 1964, com a presença do Presidente da República e de membros do Governo, do Director-Geral em exercício e do Director-Geral cessante.

O projecto destas instalações e o acompanhamento da sua construção ficaram a dever-se, ao Arquitecto António Linhares de Oliveira, que tinha ingressado no SFM como desenhador e que tirara o curso como estudante-trabalhador.

Com surpresa minha e de outros funcionários do SFM, o Director-Geral, recentemente nomeado, não lhe atribuiu a designação que lhe competia.

Designou-as como “Laboratórios da Direcção-Geral de Minas”, menosprezando assim o SFM, perante a passividade do dirigente deste Serviço, que se refugiou num total apagamento na cerimónia inaugural.

Esta foi a primeira indicação de que o novo Director-Geral pretendia exercer, as funções que competiam ao Director do SFM, consciente como estava da mediocridade deste e, também, porque confiava poder ser autor de algumas descobertas.
Se as equipas por mim constituídas tinham conseguido resultados notáveis, porque não poderia ele, com outras equipas, obter idênticos sucessos?

À actuação que teve, neste âmbito, ir-me-ei referir em devido tempo.

Recordo do seu discurso na inauguração, os elogios ao chamado “Estado Novo” da era Salazar e o estilo retórico, denunciando as “vestes sebastianistas” que muito fizeram rir o Engenheiro Castro e Solla que, a meu lado, não conteve os seus perspicazes comentários.

Recordo ainda alguns dos meus colegas constrangidos no fato-macaco que raramente usavam, mas que nesse dia se prontificaram a envergar, para dar mais evidência á sua actividade mineira.

A mim, não convidou a colaborar nessa ridícula atitude teatral, pois sabia de antemão que tal não seria aceite, apesar de saber das minhas muitas horas em trabalhos subterrâneos nos 15 anos em que os dirigi, quando exerci as funções de Chefe da Brigada do Sul.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

30 - As reuniões do Director do SFM com os Chefes de Serviço e com o Chefe do MOVIC -2.ª parte

Os temas principais a abordar nestas reuniões deveriam, obviamente, ser os programas dos diferentes Serviços e os procedimentos a adoptar para lhes dar cumprimento.

Pelo que à 1.ª Brigada de Prospecção dizia respeito, estavam já em execução os programas que eu tinha apresentado, ainda como Chefe da Brigada do Sul.
Com esse objectivo, foi progressivamente constituído o Quadro de Engenheiros e Geólogos e promovida a sua especialização, como já disse em post anterior.

Na actividade das Secções, apenas ficou desguarnecida a Secção de Castro Verde, onde decorriam trabalhos de prospecção geofísica, em virtude de o Director ter afectado ao 2.º Serviço o Agente Técnico de Engenharia que a chefiava, o qual tinha obtido boa formação, através dos ensinamentos que lhe transmiti, desde que ingressou no SFM, sem experiência e com insuficiente preparação académica.

Já com alguns anos de actividade diversificada, contava com ele para a concretização das campanhas de prospecção projectadas nesta importante parcela da Faixa Piritosa.
Durante algum tempo, este Agente Técnico de Engenharia, disponibilizou-se para me prestar colaboração, para além das tarefas que lhe estavam distribuídas no 2.º Serviço, chegando até a acompanhar-me em visitas que, durante as minhas estadias periódicas em Beja, efectuei, em fins de semanas, às antigas minas de cobre de Algaré, Barrigão, Brancanes e Porteirinhos, onde anos mais tarde viriam a ser projectados trabalhos de gravimetria que deram origem à descoberta do jazigo de Neves-Corvo.

Tentei demover o Director da sua teimosa decisão de me retirar a colaboração deste técnico, provocando até, em sábado à tarde, reunião sobre o tema, com presença do Director-Geral.

Manifestei-lhes o receio de que o Agente Técnico de Engenharia, que já revelava grandes divergências com o seu Chefe, pudesse abandonar o SFM, perante oportunidade que empresa privada lhe estava a oferecer, com melhor remuneração.
As minhas reflexões não foram consideradas e o Agente Técnico de Engenharia abandonou, de facto, o SFM, assim se consumando mais uma perda de valioso elemento com formação adequada ao cumprimento dos objectivos do SFM.

Perante a situação que se lhe deparou, a solução que o Engenheiro citado encontrou para orientar os trabalhos mineiros da Secção de Castro Verde foi deslocar a esta Secção, em tempo parcial, um dos Agentes Técnicos de Engenharia da Secção de Moura e Barrancos.

Não considerou a hipótese de ele próprio fazer essa orientação, como lhe competia, certamente por se não sentir preparado.

A lacuna criada ao 1.º Serviço foi resolvida com maior assistência no terreno pela equipa sediada em Beja.

Esta é uma amostra do ambiente que se ia gerando nas reuniões, que se foi progressivamente deteriorando, sendo eu elemento estranho ao grupo há muito constituído no Norte, que alguém apelidou de “companheiros da opa”, pelas suas idênticas religiosidades hipócritas.

As minhas ingénuas esperanças de que o Director apreciasse a leal colaboração que lhe estava a prestar, contribuindo para o seu próprio prestígio, foram-se progressivamente desvanecendo perante a impossibilidade de conseguir no Norte resultados idênticos aos obtidos no Sul.

Tornou-se-me evidente a deliberada preocupação deste dirigente em dificultar a minha actividade.

Não conseguiu, inicialmente, causar grande dano, pois nessa época, o Director-Geral dava-me grande apoio e até iria aproveitar a obra conseguida pelas equipas sob minha chefia, para demonstrar a governantes a importância do SFM e da Direcção-Geral de Minas onde o SFM se integrava.

Recordo uma reunião em que o Director e seus acólitos perderam totalmente a serenidade na manifestação das suas divergências para comigo, estando o gravador com a fita magnética a rodar, supostamente a registar tudo quanto se dizia. Mas o Director, não tendo conseguido que eu alinhasse neste tipo de procedimento, acabou por revelar que afinal a fita rodava mas não gravava, por não ter sido accionado o botão adequado. Esperteza saloia que me deixou estupefacto.

O Director, por exemplo, achara estranho e manifestara-se violentamente contra o facto de eu ter inserido em relatórios, documentos de transmissão de poderes, quando foram integradas no 1.º Serviço as Brigadas de Levantamentos Litológicos, de Prospecção Geofísica, etc., destacando as suas actividades anteriores à integração. E estes documentos, a mim, afiguravam-se essenciais até para evitar repetições de estudos que tivessem qualidade.

No Norte e no Centro do País, antes de completada a fase de documentação, podiam imediatamente considerar-se os três problemas que constituíram a plano inicial de reconhecimento mineiro do País, isto é: o inventário das existências de carvões e de minérios de ouro e de ferro.

No que respeita aos carvões, a situação que encontrei foi de grande desorganização. Havia sondagens em curso e muitas das efectuadas estavam por estudar, tanto na bacia carbonífera do Douro como na zona carbonífera de Ourém, em condições que descreverei proximamente.
Tornava-se necessário pôr ordem nestes estudos, antes de projectar nova fase de investigações, como se pretendia.

Quanto ao problema do ouro, duas regiões sobressaíam: a de Jales - Três Minas e a Faixa antimonífera e aurífera do Douro.
Relativamente à primeira, informei já ter estabelecido contacto pessoal com o Director Técnico da Mina de Jales, na sequência de inquérito formulado no âmbito de um Plano de Fomento, em que tinha participado, por nomeação do Director-Geral.
Desse contacto resultou o meu conhecimento de que a empresa concessionária enfrentava um problema que o SFM poderia ajudar a resolver.
Esse problema era encontrar a continuidade para Sul, do filão principal que a Empresa estava a explorar.
Como o SFM tinha tido sucesso na detecção do sistema filoniano de Aparis, pela aplicação do método electromagnético Turam, apresentei plano que já tinha preparado para a região de Jales – Três Minas com uso da mesma técnica.
Esperava, não só encontrar a continuidade do filão conhecido, mas também, eventualmente, outros filões.
Tornava-se, obviamente necessário que me fosse disponibilizado pessoal que eu prepararia para dar execução a este projecto.
Tal não aconteceu e o projecto não teve concretização.

Anos mais tarde, um prestigiado Geólogo português, que estava integrado no departamento mineiro da Companhia petrolífera BP, contactou-me para que lhe indicasse locais do País com potencialidades para a ocorrência de jazigos de ouro. Sugeri-lhe a área de Jales – Três Minas. A BP aceitou a sugestão e, através de contrato com a concessionária, realizou importantes trabalhos de prospecção, mas não conseguiu resultados que justificassem investimentos na exploração do jazigo.

Relativamente à Faixa antimonífera e aurífera do Douro, dela se encarregou o 2.º Serviço, através da execução de trabalhos mineiros, em áreas de concessões em vigor ou abandonadas.

No caso do ferro, salientava-se o jazigo de Moncorvo. As reservas conhecidas eram abundantes, não se colocando, nessa data, defini-las com maior precisão.

As minas estavam em exploração e o minério era expedido, por via férrea, para a Siderurgia Nacional que tinha sido inaugurada em 1960.

O ritmo de exploração era, porém desproporcionado em relação à grandeza das reservas.
Já os livros de Liceu citavam autor espanhol que considerava este jazigo como contendo “as reservas de ferro da Europa”.

O principal problema que, então se colocava era o transporte do minério, em termos económicos, até aos centros siderúrgicos nacionais e estrangeiros,
Estava-se na fase de analisar esses meios de transporte.
A navegabilidade do Rio Douro e a preparação do porto de Leixões para embarque do minério deram origem a várias Comissões de técnicos encarregados dos respectivos estudos.

Como já referi, noutro post, anos mais tarde, foram disponibilizados dois Geólogos para colaborar com a empresa concessionária em projecto de sondagens com vista a mais exacto conhecimento das reservas no sector do Cabeço da Mua, onde se planeava concentrar principalmente a exploração.

Mas não era apenas com os minérios de Moncorvo, de Orada e de Cercal- Odemira que se contava para a metalurgia do ferro em Portugal.

O jazigo de Guadramil, onde o SFM fizera importantes trabalhos de pesquisa e reconhecimento estava fora de causa, não só pela exiguidade das suas reservas, mas principalmente pelas maiores dificuldades de acesso.

Havia Vila Cova do Marão, onde, em 1956, entrara em funcionamento um complexo mineiro e metalúrgico com capacidade de produção de gusa de fundição de 29.000 toneladas/ano.

Nas Minas de Vila Cova o SFM tinha feito realizar, no princípio da década de 40, uma campanha de prospecção magnética, por contrato com a Companhia sueca ABEM.
Em anos mais recentes, tinha dado cumprimento a um projecto de sondagens.
Numa das reuniões, o Director afirmou haver divergências grandes entre resultados dos estudos do concessionário e os do SFM.
Impunha-se uma análise cuidada de toda a documentação respeitante a este jazigo, pois considerava-se a hipótese de deverem ser projectadas novas sondagens.
O Director encarregou-se de encontrar, não só os relatórios, como os logs, plantas e perfis pelas sondagens e os testemunhos destas sondagens.
Em reuniões seguintes, este caso de Vila Cova voltou a ser por mim abordado. Todavia, o Director começou a ficar embaraçado, pois nem relatórios, nem desenhos nem testemunhos se encontravam.

Deste embaraço resultou que não mais se realizaram reuniões!

O Director-Geral, que já em diversas ocasiões se assumira como dirigente do SFM, criou em Janeiro de 1968, uma Comissão a que chamou “Comissão de Fomento”, através da qual passou a ter forte intervenção na actividade do SFM, assim procurando suprir a incapacidade demonstrada pelo dirigente do SFM.

Às reuniões desta Comissão me referirei, em devido tempo.

Não tendo conseguido pessoal para enfrentar os problemas do ouro e do ferro, foi, já na década de 70, que criei as Secções de Caminha e de Talhadas, chefiadas por Colectores, aos quais proporcionei formação adequada, conforme já referi noutro post..

Na Secção de Caminha, os estudos tiveram por objectivo investigar essencialmente a existência de mineralizações tungstíferas.

Na Secção de Talhadas, o objectivo foi detectar sobretudo mineralizações de chumbo e zinco numa área que denominei de Faixa Metalífera da Beira Litoral, que se estende desde as proximidades do Porto até Sul de Coimbra.

A vida atribulada destas duas Secções constituirá matéria para vários posts.

sábado, 29 de novembro de 2008

29 - As reuniões do Director do SFM com os Chefes de Serviços e com o Chefe do Movic -1.ª parte

Num período inicial do exercício das suas funções, o novo Director do SFM, tomou a decisão de promover reuniões com os Chefes dos Serviços instituídos pela nova Orgânica e com o Chefe do Movic.

Esta decisão fez nascer em mim a esperança na dinamização de que o SFM estava necessitado, até porque o Director também manifestara, em reunião com o pessoal mais categorizado que teve lugar na Sala das Sessões, essa mesma esperança, baseado na minha experiência no Sul, cujas provas estavam nos sucessos conseguidos na Faixa Piritosa do Alentejo com a descoberta do jazigo de Carrasco – Moinho, nos jazigos ferro-manganíferos da Região de Cercal – Odemira, nas Minas de zinco da região de Moura, na Mina de cobre de Aparis, e em muitos outros locais.

Embora tivesse manifestado, em documento que entreguei ao Director como resposta ao seu pedido, total discordância relativamente à Orgânica que ele se propunha pôr em vigor, pelos motivos que expus, acolhi com algum entusiasmo a ideia destas reuniões, através das quais pensava que poderiam, sem desrespeito pela Orgânica, ser tomadas as medidas adequadas à concretização dos reais objectivos do SFM.

Nestas reuniões, entre outras matérias, eram analisados os projectos de trabalhos e os meios para os concretizar.

Pelo que ao Serviço de Prospecção Mineira, a meu cargo, dizia respeito, comecei por salientar a dificuldade com que deparava na consulta à documentação sobre minas ou ocorrências minerais já conhecidas na região a Norte do Rio Tejo.

No que respeitava ao Sul do País, o problema estava já a ser resolvido, com a preparação de mapas a escalas apropriadas para fácil consulta. Quanto a minas ou ocorrências minerais, há muito que existiam em arquivo os documentos necessários até porque as minas, nessa zona do País, são muito menos numerosas.

Considerando a importância do sector da Documentação, que também me estava confiado, chamei vigorosamente a atenção do Director para lhe ser dada a devida atenção.

Já havia um princípio de organização neste sector, por iniciativa de um competente Agente Técnico de Engenharia.
Era ele, com a colaboração de algum pessoal administrativo, que se encarregava, não só do arquivo das publicações que davam entrada no SFM, por aquisição ou permuta, mas também da edição dos volumes da Revista “Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro”.

Lamentavelmente, não pude contar com a sua preciosa colaboração, pois este Agente Técnico regressou ao Quadro da Direcção-Geral de Minas em Lisboa, ao qual pertencia, tendo estado destacado no SFM desde a sua criação.

Era ele quem se encarregava da elaboração do Relatório Anual do SFM, com base nos relatórios dos diversos departamentos do SFM. Este relatório figurava num dos volumes da Revista, a que aludi, e era fundamental para dar a conhecer ao País a actividade deste Organismo do Estado.

Na reunião que teve lugar em 4 de Agosto de 1964, apresentei a sugestão de se criar um departamento de real eficiência, a cargo do qual ficariam, não apenas livros e revistas, mas tudo quanto pudesse constituir elemento valioso de consulta, para os estudos do Serviço.

Assim, relatórios internos ou de outras entidades – publicados ou não – documentos de prospecções, amostras de minérios e rochas, lâminas delgadas, superfícies polidas, diagramas, boletins de análises, testemunhos de sondagens, etc. deveriam ser ordenados e catalogados pela “Documentação”, de forma a rapidamente se tornarem acessíveis.
Foi, nessa data que apresentei o modelo de ficha a que me referi no post anterior.

Isto que acabo de escrever consta da página 1 do meu relatório de Agosto de 1964 e ficou também gravado em fita magnética de um gravador que funcionava durante estas reuniões (receio que tanto o relatório como a fita magnética tenham desaparecido).

Esta sugestão não foi tida em consideração e aconteceu que, em 24 de Outubro de 1964, o Director decidiu desligar do 1.º Serviço o sector de Documentação, assumindo-o a seu cargo.

No que respeita a publicações recebidas e editadas pelo SFM, este departamento desempenhou muito satisfatoriamente a sua missão, apesar das instalações desadequadas que lhe foram destinadas, graças à dedicação de funcionários zelosos que do sector ficaram encarregados. Sendo eu o maior cliente deste departamento, sempre encontrei a maior solicitude em dar satisfação aos meus pedidos.

A recusa da minha proposta de criação de um amplo sector de Documentação e a colocação do sector existente a cargo do Director teve várias consequências.

A primeira foi ter deixado de se publicar o relatório anual da actividade do SFM, ficando assim a indústria mineira nacional privada de importante informação que poderia suscitar investimentos em áreas cuja potencialidade ia sendo revelada.

Outra consequência foi a perda de relatórios técnicos que eram retirados, com facilidade, dos arquivos e não eram lá repostos. Posso citar o caso de um relatório de minha autoria que um representante de Empresa privada pretendia consultar e que o Director não conseguiu encontrar. Na minha ausência, foi ao meu gabinete, e lá conseguiu encontrar a cópia que, de direito, me pertencia como seu autor.
Para evitar que casos destes se repetissem, as pastas do meu arquivo deixaram de ter indicação do que lá se continha, confiando eu na minha memória para as consultar, tendo obviamente um esquema organizativo.
Correram rumores de que alguns dos relatórios desviados foram objecto de negociações ilícitas.

Outra das consequências foi a perda de mais de uma centena de milhar de amostras de sedimentos de linhas de água e de solos que haviam sido colhidas, durante dezenas de anos, na Faixa metalífera da Beira Litoral, que um dirigente do Laboratório decidiu destruir, ignorando o seu valor. A maior parte destas amostras, cujo valor ascendia a muitos milhares de contos (na moeda antiga) tinha sido analisada no Laboratório de Beja, apenas para metais pesados (sobretudo zinco), a frio, por incapacidade de outras análises poderem ser efectuadas, quando foram colhidas.
Aguardava-se a oportunidade de as fazer analisar para outros elementos, pelos novos métodos rápidos e eficazes que, entretanto, foram desenvolvidos (absorção atómica, raios X, espectrografia de emissão, etc.).

E, no que respeita a testemunhos de sondagens a situação assumiu aspectos de extrema gravidade a que me referirei, em devido tempo.

…continua …

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

28 – A organização do Serviço de Prospecção Mineira do SFM. - Continuação

A minha nomeação para a chefia do Serviço de Prospecção, a nível nacional, implicou a transferência da minha residência mais frequente, de Beja para o Porto, no final do ano de 1963.

Já então o SFM se encontrava instalado em amplos edifícios que, para o efeito, haviam sido construídos em S. Mamede de Infesta.

No edifício principal, os gabinetes mais espaçosos do piso destinado aos técnicos superiores sem funções laboratoriais, à Secretaria e à Sala de Desenho, estavam já ocupados por pessoal anteriormente residente no Porto.

Tinha-me sido destinado um exíguo gabinete, entre o salão do Director e a Secretaria, onde mal me podia movimentar.

Habituado a ter um grande estirador, onde estendia mapas e neles efectuava os estudos necessários à condução das campanhas de prospecção, estranhei que me tivesse sido destinado tal gabinete, sendo eu o mais categorizado funcionário, a seguir ao Director.

Foi-me explicado que o objectivo era manter-me próximo do Director para facilmente o poder auxiliar na sua missão de dirigente.

Rapidamente, porém, se me tornou difícil realizar o trabalho a que estava habituado.
Não tinha, além disso, condições para receber condignamente os representantes de Empresas portuguesas e estrangeiras que frequentemente me procuravam, interessados em documentar-se sobre áreas com potencialidades para justificarem campanhas de prospecção mineira a que se pretendiam candidatar por contrato com o Estado.
O Director concordou na minha transferência para um gabinete mais amplo, perto da Sala de Desenho, à qual tinha de recorrer amiudadas vezes.

Neste novo gabinete, funcionei como Chefe do Serviço de Prospecção e Chefe da 2.ª Brigada, que ia começar a organizar, seguindo critério idêntico ao utilizado na 1.ª Brigada.

Relativamente à documentação sobre as Minas do Centro e do Norte do País, a organização de um arquivo de rápida consulta apresentou-se-me muito menos fácil do que tinha sido no Sul, por vários motivos.

Em primeiro lugar eram muito mais numerosas as concessões em vigor, abandonadas ou já anuladas.
A febre do volfrâmio, durante a 2.ª Guerra Mundial, tinha dado origem a concessões por todo o lado, sem contar com as ocorrências conhecidas onde tinham sido efectuadas explorações ilegais vulgarmente designadas por “pilhas”

Em segundo lugar, pouco pessoal qualificado me foi disponibilizado para efectuar a pesquisa dos dados úteis contidos nos processos dessas concessões, que a Circunscrição Mineira do Norte me facultava.

Em terceiro lugar, muitos dos dados contidos nos relatórios das empresas privadas e mesmo das entidades oficiais tinham pouco interesse ou eram de rigor duvidoso, depreendendo-se que teriam sido elaborados apenas para cumprir formalidades legais.

Tornou-se evidente a necessidade de criar uma ficha que condensasse os elementos essenciais de cada mina ou simples ocorrência.
Para o efeito, consultei modelos em uso noutros países e consultei entidades que já tivessem enfrentado o problema ou tivessem nível para poder prestar contribuição útil.
A ficha foi criada e alguns milhares de exemplares foram mandados imprimir, em oficina de Beja onde costumavam ser encadernados os relatórios finais ou intercalares das investigações mineiras.

Foi dado início ao preenchimento das fichas, mas não se verificou a continuidade prevista, por carência de pessoal.
As fichas foram, anos mais tarde, aproveitadas principalmente pelo 4.º Serviço, que entretanto havia sido criado para proceder ao inventário das pedreiras, apesar de não terem sido preparadas para esse fim.
Deste novo Serviço foi encarregado um Engenheiro do SFM que regressara da Junta de Energia Nuclear, onde estivera destacado.

Não tendo conseguido constituir uma base de dados, por meio destas fichas, fui ao longo do tempo formando, no meu amplo gabinete, um arquivo com cópias de relatórios ou dados deles extraídos sobre minas situadas em áreas onde planeei executar campanhas de prospecção, pelo conhecimento que ia adquirindo das potencialidades desta zona do País.
Constituí também, um arquivo dos mapas à escala 1:5.000 e a outras escalas, tanto do Norte como do Sul do País.
Com o decorrer do tempo este arquivo foi crescendo, atingindo à data da minha aposentação, largas dezenas de milhar de cartas topográficas, geológicas, geofísicas e geoquímicas.
Segundo informação que recentemente me foi prestada, tive a satisfação de tomar conhecimento de que este espólio tem estado a ser devidamente informatizado, evitando assim a sua perda, que era de recear, perante o facto de os mapas serem, na sua grande maioria, cópias em papel ozalid, susceptíveis de se tornarem imperceptíveis com o seu envelhecimento.

Para a 2.ª Brigada de Prospecção foram inicialmente destacados um Geólogo, dois Agentes Técnicos de Engenharia e um Colector, que pertenciam ao Quadro de funcionários da sede de SFM, quase desde a sua fundação.
Estavam-lhes atribuídas funções relacionadas com o estudo da Bacia Carbonífera do Douro e com a Zona Carbonífera de Ourém.

Em 1964, regressou ao SFM um Geólogo que tinha sido destacado para a Junta de Energia Nuclear, quando da criação deste Organismo.
Foi integrado, logicamente no Serviço de Prospecção mas, considerando que a sua especialização era a cartografia geológica e que o prestigiado Professor da Universidade de Lisboa e acérrimo defensor da Geologia, Dr. Carlos Teixeira, se propunha supervisionar a sua actividade, e dado que o conhecimento geológico do território nacional é basilar para a prospecção, este Geólogo manteve-se sobretudo a prestar colaboração aos Serviços Geológicos de Portugal na região trasmontana, com vista não só à publicação de novas cartas geológicas à escala 1:50.000, mas também a uma nova edição da carta à escala 1:500.000

Em fins de 1964, foi também considerado integrado no Serviço de Prospecção sob minha chefia, o Geólogo Dr. António Ribeiro que, como bolseiro da Fundação Gulbenkian, vinha procedendo a estudos na região trasmontana, integrado na equipa do Geólogo do SFM a que acima me referi, sob a orientação superior do Professor Carlos Teixeira.
Registo que não foi emitida a respectiva Ordem de Serviço, apesar de o facto ter sido realçado no meu relatório do mês de Novembro desse ano. Isso constituiu um primeiro indício da indisciplina que o Director passou a introduzir na Orgânica que ele tinha instituído.
Registo que, apesar desta lacuna, o Dr. António Ribeiro se considerou integrado no Serviço de Prospecção, sempre tendo prestado contas da sua actividade em relatórios mensais, até que a indisciplina introduzida após a Revolução de Abril de 1974, alterou a situação. A essa indisciplina me referirei oportunamente.
Conforme já registei em outro post, recorri ao saber do Dr. António Ribeiro em diversas ocasiões, em outras áreas, sem perturbar os seus estudos em Trás-os-Montes.

Alguns anos depois, outro Geólogo que ingressou no SFM já com tarefa indicada, também se considerou integrado no Serviço de Prospecção que eu chefiava, apesar de a respectiva Ordem de Serviço não ter sido emitida.
Sempre descreveu pormenorizadamente a sua actividade em relatórios mensais que apresentava e que eu anexava ao meu, tal como fazia com todos os relatórios dos diferentes departamentos do 1.º Serviço.

Ele foi prestar colaboração à Empresa Ferrominas, onde decorriam sondagens, segundo projecto do Dr. António Ribeiro, para definição de reservas na área do Cabeço da Mua, que se pretendia explorar para abastecimento da Siderurgia Nacional.

Anos mais tarde, outros Geólogos e Engenheiros de Minas recém-formados, foram ingressando no SFM.
Sem Ordens que os colocassem no Serviço de Prospecção, actuaram sem adequado controlo, vagamente orientados pelo Director-Geral, como foi o caso dos denominados “Scheeliteiros”.

No que respeita aos Agentes Técnicos de Engenharia que ingressaram no Serviço de Prospecção, a situação não foi estimulante.
Não tinham experiência válida em prospecção mineira, mas ambos eram tidos como especializados em trabalhos de topografia.
A realidade provou ser diferente. Trabalho de piquetagem de que encarreguei um deles na região de Caminha, foi tão imperfeito, que veio a ocasionar-me sérios problemas para sua correcção.
Proporcionei-lhe estágio no Sul do País, em Secções da 1.ª Brigada, não só em piquetagem rigorosa, mas também em técnicas geofísicas e geoquímicas.
Lamentavelmente de pouco valeu este estágio, pois estavam bem enraizados vícios antigos, nunca corrigidos, talvez por excessiva benevolência dos dirigentes ou incapacidade destes para detectarem os erros que seguramente cometeram.
A situação, por se ter tornado insustentável, levou-me a denunciá-la ao Director, que decidiu colocá-lo sob sua directa chefia.

O outro Agente Técnico de Engenharia foi útil sobretudo em trabalhos de gabinete.
Fez a consulta aos documentos de carácter técnico sobre Minas concedidas, em vigor ou já anuladas, existentes no arquivo da Circunscrição Mineira do Norte, procedendo à cópia dos que se revelaram com interesse e preenchendo as respectivas fichas.

Prestou também colaboração ao Geólogo que estava encarregado dos estudos na Faixa Carbonífera do Douro, não só em trabalhos de gabinete, mas também em levantamentos topográficos.

Para a 2.ª Brigada de Prospecção, transitou um Colector que pertencia à equipa do Geólogo encarregado dos estudos nas bacias carboníferas.

Este Colector, apesar das suas limitadas habilitações legais (tinha apenas a antiga 4.ª Classe da Instrução Primária) revelou-se um excelente colaborador.

Foi com ele e com outro Colector que transferi da Secção de Évora da 1.ª Brigada de Prospecção para a 2.ª Brigada, que contei para a execução das campanhas de prospecção, às quais me foi possível dar início no Norte do País. A elas e, às vicissitudes por que tiveram que passar, me referirei oportunamente.

A minha presença na sede do SFM, longe de constituir situação favorável ao cumprimento dos objectivos do SFM, tornou mais difícil a concretização desses objectivos.

Perante as dificuldades que encontrei para desenvolver a prospecção no Norte, decidi continuar a concentrar a minha maior atenção nos problemas do Sul, onde a interferência do Director menos se fazia sentir, sempre na esperança de que meios materiais e humanos acabassem por me ser disponibilizados para dar cabal cumprimento aos planos de trabalhos no Norte do País, que anualmente ia apresentando.

Em próximos posts descreverei os êxitos que consegui no Norte, com a preciosa colaboração dos dois Colectores a que dei formação, transformando-os em prospectores competentes, não só em trabalho de campo, mas também nas fases iniciais do respectivo trabalho de gabinete. Eles supriram bem a carência de pessoal com melhor formação académica, que intencionalmente me não foi disponibilizado

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

27 – A organização do Serviço de Prospecção Mineira do SFM

Investido nas funções de Chefe do Serviço de Prospecção Mineira, duas foram as minhas preocupações essenciais:
a) Constituir um arquivo de fácil e rápida consulta, do qual constassem cópias de documentação técnica relevante, sobre a geologia de Portugal, sobre as minas portuguesas e ocorrências minerais conhecidas e também os novos documentos que fossem produzidos.
b) Promover a especialização de técnicos (Geólogos, Engenheiros de Minas, Agentes Técnicos de Engenharia, Prospectores, Topógrafos, Colectores, etc.) nas variadas técnicas previstas para a detecção de novas concentrações minerais.

A minha presença efectiva, de cerca de 20 anos, no Sul do País, em actividades de prospecção, pesquisa e reconhecimento de jazigos minerais, facilitou a organização do novo Serviço, aproveitando pessoal já adestrado e documentação devidamente arquivada. Foi, pois pelo Sul do País que comecei a organizar o Serviço de Prospecção.

À data da criação deste departamento do SFM, já havia na Brigada do Sul abundante documentação sobre concessões em vigor, abandonadas ou anuladas e sobre campanhas de prospecção efectuadas quer pelo SFM, quer por empresas privadas. Mapas a diversas escalas e com dimensões variadas, por vezes referentes a áreas com localização imprecisa, não tornavam fácil a consulta.

Programou-se, por isso, a redução ou ampliação, conforme os casos, de todos os mapas e a implantação de toda informação neles contida em mapas topográficos à escala de 1:5.000, abrangendo cada mapa uma área de 2 km x 2 km.
Digna de registo é a redução manual de milhares de mapas elaborados em papel milimétrico, com dimensões, em geral, de 0,70 m x 0,70 m, contendo as curvas do método electromagnético Turam, respeitantes à campanha de 1944-49, na Faixa Piritosa.
Para a execução desta enorme tarefa, houve que preparar desenhadores em todas as Secções. Afigurou-se, inicialmente, tarefa morosa de concretizar, mas a persistência compensou e, em muito menos tempo que o previsto, todas as reduções tinham sido conseguidas.
Os mapas respeitantes aos novos trabalhos de prospecção obedeceram ao mesmo esquema.
Todos os mapas foram arquivados em armários, com arrumação de Norte para Sul e Oeste para Este.
Além dos mapas a 1:5.000, organizaram-se reduções para a escala 1:25.000 e 1:100.000
Nalguns casos, mapas à escala 1:1.000 forma considerados necessários.
Assim se constituiu um valioso arquivo que, com o decorrer do tempo atingiu muitas dezenas de milhar de mapas, de fácil consulta.

A geologia sempre foi o elo mais fraco nas diversas fases da prospecção. Por isso, lhe dediquei maior atenção.
Estava instituído o sistema, originado nos Serviços Geológicos, de confiar a Colectores, isto é, a funcionários contratados ou assalariados instruídos na colheita de amostras de rochas e sua referenciação em mapas a escalas apropriadas, a maior parcela do trabalho de campo.
Os Geólogos permaneciam excessivamente no gabinete e tinham insuficiente presença no terreno, sendo certo que também não tinham, em geral, adequada preparação para assinalar dados de natureza estrutural, essenciais às fases seguintes da prospecção e à interpretação dos resultados da aplicação dos métodos geofísicos e geoqímicos.

O Geólogo que em 1948 conseguiu tornar-se independente da Brigada do Sul, quando fui nomeado para chefiar esta Brigada, foi, na nova Orgânica, integrado no Serviço de Prospecção Mineira.
Registei com agrado que, em desabafo para comigo, mostrasse desalento por ter recusado proposta que lhe tinha feito para fundir as duas Brigadas (Brigada do Sul e Brigada de Levantamentos Litológicos), é que ele começava a ficar entusiasmado com os estudos que passou a ter a seu cargo, nos quais revelava qualidades até então desaproveitadas

A três Geólogos recém-formados, que foram destacados para o Serviço de Prospecção, foram proporcionadas excepcionais condições de formação pós-graduada, começando por aproveitar a presença que, então se verificava, de Companhias estrangeiras na Faixa Piritosa, em cumprimento de contratos de prospecção, as quais dedicavam à geologia primordial importância.

Dois dos novos Geólogos fizeram estágios orientados por prestigiados Geólogos ingleses, numa área envolvente da Mina de S. Domingos.
O terceiro Geólogo, natural de Beja, já tinha solicitado a minha intervenção para ser colocado nos Serviços Geológicos.
Sugeri-lhe, então, que aproveitasse o interesse que a CRAM (Compagnie Royale Asturienne des Mines) me tinha manifestado em contratar Geólogo ou Engenheiro de Minas para colaborar nos estudos que tinha em curso na zona de Moura - Ficalho da Faixa Magnetítica e Zincífera.
A minha sugestão foi aproveitada, e esse Geólogo esteve durante alguns anos a prestar colaboração à CRAM, não só em Portugal mas também no Norte de África.
Já com melhor preparação, voltou a contactar-me e mostrou desejo de ingressar no SFM.
Acolhi o pedido com grande satisfação, pois estavam em curso importantes estudos sobre formações zincíferas, na região de Portel e era de esperar que da sua especialização em jazigos de zinco pudesse resultar considerável aperfeiçoamento desses estudos. Fiz proposta e o Geólogo foi admitido.

Mas não foram só estas as possibilidades de aperfeiçoamento profissional proporcionadas a Geólogos. Também foram conseguidos estágios prolongados na Universidade de Tucson (Arizona), nos Estados Unidos da América do Norte, a dois deles e na Universidade de Paris ao terceiro.

Devo reconhecer que, dadas as características pessoais destes três Geólogos, os resultados das excepcionais condições que lhes foram facultadas ficaram aquém das expectativas.
Demasiado preocupados com a promoção pessoal, a sua actividade orientou-se muito para a publicação de artigos, muitas vezes com matéria de que não tinham sido autores e sem minha autorização.

O Geólogo que destaquei para aperfeiçoar a geologia da Região de Cercal - Odemira, não contribuiu significativamente para este aperfeiçoamento e, apesar da minha relutância, acabou por conseguir transferir para um Colector o trabalho que lhe competia fazer no terreno.

Durante a minha chefia dos trabalhos no Sul do País não conheci o desenvolvimento estrutural que dele esperava, apesar de contar com a base da tese de doutoramento do Geólogo holandês Klein.

Eu tinha-lhe sugerido que procurasse tirar partido das alterações das rochas da região como guias da prospecção, manifestando o parecer de que poderíamos estar em presença de alterações hidrotermais.
A comprovar-se o carácter hidrotermal destas alterações, esperava a definição de halos com composição mineralógica variada, para chegar a alvos a sondar.
Mas o Geólogo pretendeu ser original e, em vez destes halos preferiu distinguir zonas de alteração fraca, média ou forte, das quais não resultou a definição de qualquer alvo com credibilidade, face ao carácter subjectivo das suas observações no terreno.
Depois de eu ter sido afastado da chefia da 1.ª Brigada de Prospecção, por motivos aos quais me referirei oportunamente, este Geólogo, que tivera activa participação na desorganização criada, apresentou-se como autor da descoberta do que ele chamou “jazigo do Salgadinho”. A este assunto dedicarei um post, mas posso desde já revelar que a descoberta de mineralização cuprífera na área do Salgadinho, teve como base uma discreta anomalia gravimétrica, em local de geologia favorável, definido anteriormente à sua integração no SFM. Não teve, pois qualquer intervenção na descoberta, nem sequer se tinha apercebido do bom indício (bom indício, não mais do que isso!) representado pela disseminação cuprífera encontrada.
A ele se ficou devendo o projecto da sondagem N.º 2, em S. Luís, apenas com base em dados geológicos que ele me convenceu serem indicativos da forte possibilidade de ocorrência de jazigo mineral, conforme tinha aprendido no seu estágio nos Estados Unidos. Esta sondagem redundou num total fracasso, de que me penitencio por ter acreditado nas certezas inconscientes de um inexperiente em prospecção mineira.

O geólogo com quem eu contava para o aperfeiçoamento da geologia da Faixa Zincífera, deu-me a sensação de vir cansado da sua presença na CRAM, pois não se mostrou muito diligente e não fez novo estudo dos testemunhos das sondagens de Algares de Portel, conforme lhe tinha determinado.

Pequena foi a sua contribuição nesta Faixa.

Mas, tal como o Geólogo anteriormente referido, passou a tomar como certezas as hipóteses que eu havia formulado sobre a possibilidade de haver jazigos do tipo dos “porfiry coppers” associados à grande mancha de pórfiros que se estende de Montemor-o-Novo a Serpa.
Um dos objectivos da sua presença em estágio nos Estados Unidos foi esclarecer se esses pórfiros tinham características para gerarem tais tipos de depósitos.
Mas aconteceu que, pouco antes do seu regresso dos Estados Unidos, um grupo de conceituados Geólogos franceses tinha passado por Beja e eu tinha-lhes apresentado essa hipótese.
Esses Geólogos, um dos quais me tinha oferecido a sua tese de doutoramento sobre os “porfiry coppers” do Irão, após estudos minuciosos de fotogeologia, apoiados também, em algum trabalho de campo, não se mostraram apoiantes da hipótese e eu passei a secundarizar o projecto, não lhe concedendo a prioridade que o Geólogo regressado dos Estados Unidos pretendia dar-lhe, em detrimento dos estudos geológicos na Faixa Zincífera, de que o tinha encarregado.
Este tema chegou a gerar troca de ofícios, pois o Geólogo, em relatório mensal da sua actividade, em vez de descrever o que tinha produzido durante o mês, anunciou o estudo que se propunha fazer para descobrir os tais jazigos de cobre associados aos pórfiros, levando-me a suspeitar que nada tinha realizado durante esse mês.
Só anos mais tarde, após a minha demissão da chefia da 2.ª Brigada de Prospecção e da sua contribuição para este facto, fiquei a conhecer o seu carácter.

O terceiro Geólogo recém-formado que ingressou no Serviço de Prospecção, também não revelou as qualidades que dele seriam de esperar. Tendo a seu cargo estudos na faixa Piritosa e na área Norte-Alentejana, escassa foi a sua contribuição em ambas as áreas.
Regressado de estágio em França, vinha com a novidade dos “altos fundos” e logo resolveu fazer brilharete com artigo a inserir nas publicações do CHILAGE, encaixando descabidamente essa teoria, a propósito do filão dolerítico que atravessa todo o Alentejo, preenchendo falha com rejeição de 3 km.
Embora discordando da publicação, não pude evitá-la e isso até surpreendeu Geólogo holandês que estava a estudar a geologia da Faixa Piritosa, integrado na Sociedade Mineira de Santiago, por destoar do carácter sério dos artigos apresentados por quase todos os Engenheiros e Geólogos da 1.ª Brigada de Prospecção. Só não se fez representar com artigos ao CILAGE o Engenheiro que tinha a seu cargo a técnica geoquímica, por se encontrar ausente em Birmingham onde fazia estágio.

Estes três Geólogos, para além do estudo dos testemunhos de sondagens que estavam em curso com base em resultados de técnicas geofísicas e geoquímicas, pouco mais conseguiam fazer e até disso se queixavam.
Nem sequer conseguiram tempo para reexaminarem testemunhos de sondagens efectuadas antes da sua integração no SFM, pois deles se esperava um aperfeiçoamento das classificações feitas por Agentes Técnicos de Engenharia e por mim próprio.

Devo realçar a boa colaboração prestada no Sul do País pelo Geólogo António Ribeiro que, integrado no Serviço sob minha chefia, estava procedendo a estudos de geologia estrutural no Nordeste Trasmontano que iriam constituir a sua magistral tese de doutoramento.
Para dialogar em pé de igualdade com os Geólogos das Companhias que se encontravam a cumprir contratos de prospecção mineira na Faixa Piritosa, recorri ao seu saber e assisti a acesas e proveitosas discussões, em que carreamentos eram objecto de grande controvérsia.

Apesar da presença destes três novos Geólogos na 1.ª Brigada de Prospecção, foram ainda os mapas à escala 1:5.000, elaborados durante a minha chefia da Brigada do Sul, elementos basilares nas campanhas de prospecção, até para as Companhias estrangeiras que cumpriam contratos com o Estado Português.

Aos Geólogos destas Companhias, que não se apoiavam em Colectores, se ficou devendo o maior progresso verificado no conhecimento da geologia da Faixa Piritosa.

Os trabalhos de prospecção geofísica e geoquímica ficaram a cargo de quatro Engenheiros de Minas, recentemente ingressados no SFM.

O Engenheiro encarregado do método magnético deu continuidade, com maior rendimento, à actividade que se encontrava em curso, há alguns anos, nas condições que já descrevi. Forneci-lhe documentação técnica que havia compilado, para poder passar a fazer interpretação dos resultados, em bases científicas.

Ao Engenheiro que ficou encarregado dos métodos eléctricos, transmiti-lhe a experiência que tinha adquirido na Brigada de Prospecção Eléctrica e indiquei-lhe documentação técnica que deveria consultar, para bem desempenhar a sua missão. Proporcionei-lhe ainda estágio nas Minas do Louzal, onde decorria a aplicação de método de polarização induzida, que eu tencionava vir a usar, propondo a aquisição dos equipamentos respectivos. Esta técnica era considerada adequada para a detecção de jazigos com mineralizações de sulfuretos disseminadas, como era o caso do Salgadinho, onde não se justificariam novas sondagens antes da sua aplicação.

Quanto ao método gravimétrico, cuja enorme importância já realcei, manteve-se a cargo do Engenheiro que, por minha iniciativa, tinha feito estágio na Mina de S. Domingos, onde actuava a Companhia inglesa Lea Cross Geophysical Company.
Foi também de grande utilidade para a preparação nesta técnica a vinda ao País, por minha indicação, de um especialista em gravimetria da Companhia sul-africana Union Corporation, que integrava, juntamente com a Companhia canadiana Cominco e um grande capitalista americano, a Mining Explorations (International), a qual cumpria, então, contrato de prospecção em vasta área do Alentejo.

Faltava, para completar o quadro de técnicos da 1.ª Brigada de Prospecção, um especialista no método geoquímico.
Dirigi convite ao Engenheiro que tinha conhecido, quando estagiou na Lea Cross Geopysical Company, na área da Mina de S. Domingos, onde tinha adquirido experiência no método.
O convite foi aceite e, após a minha proposta, ele foi integrado na Brigada, o que permitiu dar início à aplicação da técnica geoquímica no SFM.
Por sua iniciativa, foi instalado um pequeno Laboratório, para ensaios expeditos, em prédio contíguo àquele em que se encontrava a Brigada do Sul, que por feliz casualidade se encontrava devoluto e, por isso se conseguiu alugar. Com a boa colaboração de pessoal assalariado que ele instruiu, obteve-se alto rendimento em análises de metais pesados, a frio.
Esta capacidade permitiu-me utilizar o Laboratório até para análises de amostras colhidas em áreas do Norte do País.
Foi ainda proporcionada a este Engenheiro formação pós-graduação em geoquímica, na Universidade de Birmingham, em Inglaterra, durante um ano.

Nas Secções, foi em geral confiado a Agentes Técnicos de Engenharia o cumprimento dos trabalhos de campo por mim planeados com a colaboração dos Engenheiros e Geólogos.

Além destes técnicos, contei com pessoal dotado de grande experiência em topografia, em levantamentos electromagnéticos pelo método Turam, e algum domínio no que respeita a trabalho de campo pelo método magnético, que transitou sobretudo da Brigada do Sul.
Este pessoal desempenhou um papel fundamental na aplicação, no terreno, das técnicas geofísicas e geoquímicas.

Até à data do meu afastamento compulsivo da chefia da 1.ª Brigada de Prospecção, nenhum dos Engenheiros e Geólogos desta Brigada tinha demonstrado nível que me aconselhasse a transmitir a um deles a respectiva chefia.

Todos manifestaram o desejo de que eu mantivesse a orientação e coordenação dos estudos em curso, até porque, entre eles, segundo me informaram, não havia bom relacionamento e reconheciam em mim um ascendente que respeitavam.

Eu confiava que, com o decurso do tempo, a situação pudesse vir a evoluir de modo a eu não ter que me ocupar tão intensamente com os problemas desta Brigada para poder dedicar mais atenção à 2.ª Brigada de Prospecção, no Norte do País.

Apesar das deficiências que apontei, foram a esta equipa constituída no Alentejo, que se ficaram devendo os maiores êxitos do SFM, em toda a sua existência. Mas não foi aos três Geólogos novos que coube o principal papel, como eles proclamaram ou deram a entender, sobretudo quando eu fui afastado da chefia da 1.ª Brigada de Prospecção.
Não foi também aos Engenheiros radicados em Beja que coube esse papel. Fundamental foi o desempenho dos Agentes Técnicos de Engenharia das Secções e sobretudo do seu pessoal auxiliar que, disciplinadamente, davam cumprimento às instruções que lhes eram transmitidas.

A escolha das áreas a prospectar, a indicação dos métodos a usar e das modalidades da sua aplicação e a interpretação dos resultados obtidos foram sempre de minha responsabilidade, sem deixar, obviamente de ouvir os pareceres de todos os técnicos, em reuniões periódicas, que, para o efeito, convocava.

Quando deixei de orientar a 1.ª Brigada de Prospecção, por ordem insensata de Director incompetente, os resultados foram desastrosos. Não mais se obteve qualquer êxito.
Passaram a ser apresentados como êxitos, casos que deveriam ter dado origem a procedimento disciplinar, por esbanjamento de dinheiros públicos, em trabalhos mal projectados, como em devido tempo revelarei.

Esta foi a causa original da extinção do SFM.

No próximo post, descreverei a organização que procurei instituir na 2.ª Brigada de Prospecção.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

26 – A nova ORGÂNICA DO SFM

Em finais de 1963, o Director do SFM em exercício, concebeu uma nova “Orgânica”, com a qual pretendia aumentar a eficácia do Organismo que lhe iria ser confiado.

O SFM transformar-se-ia numa Direcção de Serviços, cada um dos quais teria a seu cargo as seguintes Divisões:

1.º SERVIÇO (Prospecção Mineira)
Geologia
Prospecção Geofísica
Prospecção Geoquímica
Topografia
Desenho
Documentação

2.º SERVIÇO ( Trabalhos Mineiros e Laboratórios)
Trabalhos Mineiros
Higiene e Segurança
Laboratório de Mineralogia
Laboratório de Química
Preparação Mecânica de Minérios

3.º SERVIÇO (Petróleos e Sondagens)
Petróleos
Sondagens

Haveria ainda um Departamento denominado MOVIC, a cujo cargo ficariam: Materiais, Oficinas, Viaturas, Instalações, Compras.

As Divisões poderiam criar Brigadas e Secções, mantendo as já existentes, com diferente distribuição e com as mesmas ou outras designações.

O Director assumia-se, mais como árbitro em previsíveis divergências entre os intervenientes nas diversas actividades do SFM, do que como autor de projectos e orientador da sua execução.

Antes de pôr esta Orgânica em execução, o Director em exercício submeteu-a à apreciação dos Engenheiros que iriam chefiar os três Serviços e o Movic.

Manifestei-me abertamente contrário à criação de tantas Divisões, sem que, para elas se vislumbrassem chefias com a necessária competência.
No comentário que apresentei relativamente ao 1.º Serviço, que eu iria chefiar, acentuei a necessidade de formação de técnicos com preparação adequada ao eficaz cumprimento das variadas tarefas da prospecção mineira. Estes técnicos, alguns ainda a admitir, seriam integrados em Brigadas estrategicamente colocadas no território nacional.

Já o Engenheiro Luís de Castro e Solla, quando no exercício do cargo de Director-Geral, perante a escassez de Engenheiros nos Quadros da DGM, havia emitido circular para as Universidades, chamando a atenção para as possibilidades de colocação que se abriam na DGM.

Desta circular resultou que vários estudantes mudaram de curso e alguns deles, concluídos os seus estudos, estavam a ingressar no SFM.

Apesar das minhas objecções, a Orgânica foi posta em vigor.

O modo como eu resolvi os problemas previsíveis, foi assumir, não apenas a chefia do 1.º Serviço, mas também as chefias das duas Brigadas que o passaram a constituir: a 1.ªBrigada de Prospecção, com sede em Beja, incluindo as Secções de Vila Viçosa, Évora, Serpa e Castro Verde; a 2.ª Brigada de Prospecção, com sede no Porto, com Secções ainda a criar.

Não criei Divisões, por considerar que as actividades nelas previstas podiam ser desempenhadas por técnicos que tivessem adquirido a necessária especialização, dentro das Brigadas.

Esta Orgânica nunca foi submetida a aprovação ministerial e funcionou sempre como organização interna, de fácil alteração, segundo o discutível critério do Director, acontecendo que, tendo eu as responsabilidades de diversas chefias, fui remunerado em pé de igualdade com técnicos recém-admitidos, sem experiência e com má preparação académica.

Apesar das minhas discordâncias, sempre cumpri esta Orgânica, não invadindo áreas de outros Serviços.

Todavia, o Director do SFM e até o Director-Geral, que praticamente chegou a assumir-se como dirigente do SFM, foram os seus maiores desrespeitadores, introduzindo grande perturbação na disciplina que eu pretendia manter.

Oportunamente me referirei a esta indisciplina provocada por quem tinha o dever de respeitar e fazer respeitar a Orgânica que tinha sido posta em vigor.

domingo, 9 de novembro de 2008

25 – Alterações ocorridas, em 1962-63, em cargos directivos da DGM: Suas consequências.

Em 1962, ocorreu um acontecimento inédito. O Engenheiro Luís de Castro e Solla decidiu abdicar do cargo de Director-Geral de Minas que, há mais de 20 anos vinha exercendo, e requerer colocação como Inspector Superior, para ocupar vaga criada por aposentação de anterior titular.

Este requerimento surpreendeu Salazar, que considerou necessário promulgar Decreto para permitir esta descida de categoria, sem ser interpretada como punição.

Devo declarar que senti alguma apreensão com esta atitude do Engenheiro Castro e Solla, pois sempre mantive com ele a melhor relação e sempre tive o seu apoio.

Era para mim muito gratificante observar que, quando entrava no seu gabinete, ele imediatamente deixava o que estava a fazer e declarava: “Vamos ouvir!” Eu, então, dava conta das minhas actividades e dos resultados que ia obtendo e só encontrava estímulos. Percebia que o Engenheiro Castro e Solla, pessoa de fino trato e grande cultura geral, não tinha experiência profissional adquirida em actividade directa em minas, mas tinha a inteligência para perceber os problemas que lhe apresentava, e procurava ajudar a resolvê-los.
De facto, ele e o falecido Engenheiro António Bernardo Ferreira, tinham sido os impulsionadores entusiastas da obra do SFM.

Em 1959, o Engenheiro que desempenhava a função de Chefe da Circunscrição Mineira do Norte, fez artigo com o título “A riqueza da indústria extractiva metropolitana”, que conseguiu publicar em “Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro”. Nele fez a análise da situação do País no que respeita aos seus recursos minerais, apontando defeitos quanto ao modo como estavam a ser aproveitados e sugerindo medidas correctivas.

Alguns desses defeitos, como por exemplo a atribuição de concessões mineiras sem efectiva demonstração do valor industrial dos “jazigos” que os requerentes se propunham explorar, eram de sua responsabilidade.
De tal tolerância resultou a proliferação de concessões onde não se registava qualquer actividade, tornando-se os respectivos concessionários apenas negociadores dos direitos que lhes tinham sido conferidos, não obstante a lei vigente exigir que as minas se mantivessem em lavra activa.
Mas estes concessionários apresentavam justificações da sua total inactividade que eram aceites!
Competiria, obviamente, ao Chefe de Circunscrição Mineira zelar pelo cumprimento das disposições legais em vigor.

Por outro lado, como o autor reconhece na Introdução do seu artigo, lutou com falta de elementos para uma análise verdadeiramente séria da situação. Tratava-se pois de uma abordagem do problema mineiro do País, feita por Engenheiro que tinha feito curta passagem pelo Serviço de Fomento Mineiro, sem ter tido tempo para se inteirar da dimensão dos reais problemas da nossa indústria mineira.

Não obstante a realidade destas limitações, julgo ter sido a publicação deste artigo que esteve na base da indigitação do referido Engenheiro para suceder ao Engenheiro Luís de Castro e Solla no cargo de Director-Geral de Minas.

A sua posse teve lugar em Agosto de 1962 e suscitou então esperanças de que viesse a registar-se um maior dinamismo na resolução das deficiências de que enfermava a nossa indústria mineira, as quais ele tinha comentado.

Em Abril de 1963, também o Engenheiro que desempenhava, desde 1948, as funções de Director do SFM, abandonou o cargo, indo ocupar, em Lisboa, vaga de Inspector Superior ocorrida no Conselho Superior de Minas.

As funções de Director do SFM passaram a ser exercidas interinamente pelo Engenheiro que ocupava secretária no gabinete do anterior Director, estando encarregado principalmente de assuntos respeitantes à aquisição dos equipamentos necessários à manutenção dos trabalhos mineiros em curso.

Não se lhe conhecia currículo que o creditasse para as exigentes funções de dirigente máximo do SFM. Sobressaía a protecção resultante de ser filho de prestigiado professor universitário (um dos melhores professores que tive na Faculdade de Ciências do Porto) e o seu alinhamento com o regime político então vigente.

Perante a perspectiva da sua nomeação definitiva, em conversa com o novo Director-Geral, chamei-lhe a atenção para as consequências previsíveis se tal viesse a acontecer. A sua reacção foi dar-me a conhecer o teor de pergunta do Secretário de Estado da Indústria, Engenheiro Edgar de Oliveira, que interpretou como sugestão ou ordem:

A pergunta foi: “Então, já temos novo Director do SFM?”, referindo-se a esse Engenheiro que além de colega de curso, fora, como ele, membro da JUC (Juventude Universitária Católica).

E o Director-Geral desabafa comigo: “Que havia eu de fazer?”
Considerava, porém, que a nomeação seria transitória, reconhecendo que o meu currículo me creditava muito mais para o exercício do cargo.

Em Abril e em Maio de 1962, o Engenheiro indigitado para novo director do SFM, efectuou visitas à Brigada do Sul que eu chefiava e, assumindo-se já nessa qualidade, embora não tivesse ainda nomeação definitiva, informou-me que, em nova organização que tencionava instituir, eu ficaria a chefiar um Serviço que, entre outras atribuições, teria a seu cargo os estudos geológicos e os trabalhos de prospecção mineira, em todo o território metropolitano.

Eu teria que deixar os Trabalhos Mineiros.
Estes seriam confiados a dois Engenheiros que eu considerava, como já disse, incapazes de dirigir eficazmente tão importante sector, resultando dessa circunstância, a sua total dependência da competência de Agentes Técnicos de Engenharia.

Ficariam integradas no Serviço, que eu iria dirigir:
a Brigadas de Prospecção Geofísica, com a sua Secção de Serpa;
a Brigada de Levantamentos Litológicos, com a sua Secção de Vila Viçosa;
a Secção de Évora da Brigada do Sul onde já decorriam, essencialmente, estudos geológicos e levantamentos electromagnéticos.

Eu ia assim perder duas das Secções da Brigada do Sul (Moura e Barrancos; Castro Verde), dotadas do melhor pessoal habituado a comigo cooperar, e recebia em troca Secções onde os hábitos de trabalho eram muito menos exigentes.

Tentei explicar a gravidade desta decisão, pois considerava fácil manter sob minha orientação os Trabalhos Mineiros no Sul do País, perante a organização que tinha conseguido implementar. Já em documentos vários me tinha pronunciado a favor da fusão de todas as Brigadas que actuavam no Sul do País, em cumprimento de projectos por mim apresentados.

Da “Orgânica” posta em vigor em fins de 1963, a que me referirei em próximo post, resultaram consequências positivas e negativas.

Consequência positiva: O Serviço de Prospecção Mineira, a meu cargo, tornou-se o mais importante departamento de todo o SFM e até de toda a Direcção-Geral de Minas, como irei demonstrar. Notáveis êxitos, até a nível internacional, foram conseguidos. A eles me referirei, na devida oportunidade.

Consequência negativa: Os Trabalhos Mineiros, no Sul do País, foram gradualmente diminuindo de intensidade, tal como eu tinha previsto, até à sua completa extinção. Assim se perdeu uma experiência que laboriosamente se tinha obtido e que não seria fácil recuperar.

domingo, 2 de novembro de 2008

24 - A importância da formação profissional

É uma verdade do Senhor de La Palice que, sem técnicos competentes, não se poderiam cumprir eficazmente os objectivos do SFM. Embora tão evidente, nunca este axioma foi compreendido pelos dirigentes máximos do SFM.

Já no artigo 3.º do Decreto-lei N.º 29725, da criação do SFM, se previa a especialização de técnicos, no estrangeiro, para a execução dos previstos trabalhos de prospecção e pesquisa mineiras.

Um dos primeiros problemas enfrentados pelo SFM, foi a manutenção dos técnicos que nele ingressavam, perante a concorrência quer de Empresas privadas, que remuneravam muito melhor, quer de outros Organismos do Estado.

O procedimento adoptado para ultrapassar a deficiente remuneração aos Engenheiros e aos Agentes Técnicos de Engenharia, era atribuir-lhes residência oficial em Lisboa, compensando-os, quando actuando nas Brigadas ou Secções, com ajudas de custo e subsídios pelas suas deslocações às áreas de trabalho.

Lembro-me de ter assinado, do mesmo modo que os colegas que comigo ingressaram no SFM, em 1943, documentos que nos comprometia a ter residência oficial em Lisboa.

Devo dizer que nunca concordei com este modo de remunerar mais eficazmente o trabalho, por vezes, bastante árduo, que nos era exigido para dar cumprimento às variadas tarefas da profissão.
Além de haver a noção de que não era uma forma normal de remuneração, sentia-se que, estaria ao arbítrio de um dirigente alterar esta norma superiormente estabelecida, fixando as residências em locais mais próximos das áreas de trabalho, prejudicando assim os orçamentos dos agregados familiares dos técnicos, que com o decurso dos tempos foram constituídos.

Por outro lado, esta compensação julgada útil e necessária, não contaria, obviamente para a futura pensão de aposentação.

Havia outras formas de remunerar condignamente, com toda a legalidade, o trabalho dos técnicos do SFM, como várias vezes sugeri.
Por exemplo, eu nunca recebi qualquer remuneração extra pelos cargos de chefia que desempenhei, nem nunca recebi pagamento pelas numerosas horas extraordinárias que dediquei ao SFM, incluindo sábados, domingos e férias que deixei de gozar.

Mais adiante revelarei que a fixação das residências oficiais mais próximo dos locais de trabalho foi, de facto, tentada, embora sem êxito, por Director do SFM

A realidade é que, apesar destas compensações, muitos foram os Engenheiros e Agentes Técnicos de Engenharia que abandonaram o SFM.

Poderei citar o caso dos dois Engenheiros e dos três Agentes Técnicos de Engenharia que saíram em 1948 para Moçambique, deixando a Brigada do Sul profundamente desfalcada.

Foi nessa data que eu fui designado para chefiar a Brigada do Sul, ficando a substituir os dois Engenheiros que haviam saído.

Também eu fui, por essa data convidado pelo Engenheiro Rogério Cavaca para chefiar uma Brigada que iria ser constituída em Angola com o objectivo de desenvolver a indústria mineira nessa então colónia portuguesa.

Era-me oferecida uma remuneração cerca de 4 vezes a que estava auferindo no SFM.
Dirigi-me pessoalmente ao Engenheiro Cavaca a informá-lo que me não sentia ainda apto a desempenhar cabalmente tão importante cargo, dada a pouca experiência que tinha em trabalhos mineiros, pois acabava de deixar uma Brigada de Prospecção, onde só fizera trabalho à superfície.
Solicitei-lhe que me deixasse adquirir essa experiência na Brigada do Sul do SFM, após o que já me propunha aceitar o cargo, se ainda fosse oportuno
Foi grande a surpresa do Eng.º Cavaca com essa minha atitude, pois não estava habituado a que alguém se considerasse inapto para desempenhar qualquer cargo.

Vários outros convites me foram feitos, que recusei por ter criado um bom ambiente de trabalho com os Chefes das várias Secções e por me sentir entusiasmado com a actividade que ia desenvolvendo, longe da sede do SFM.
Com os meios de transporte e as estradas então existentes, a deslocação do Porto ao Alentejo demorava um dia inteiro e era cansativa.
As perturbações que o Director do SFM conseguia introduzirnas suas raras visitas aos locais de trabalho da Brigada do Sul, não afectavam gravemente a minha acção.

Outro caso de deserção de Engenheiros e de um Geólogo ocorreu quando o Director do SFM não foi capaz de impedir que a prospecção de minérios radioactivos ficasse a cargo da recém-constituída Junta de Energia Nuclear.

Não deixa de ser elucidativo que, para a prospecção de uma única classe de minérios, por sinal a de mais fácil execução, tivesse sido criada uma Direcção-Geral de Serviços de Prospecção e que, apesar dessa facilidade, o seu dirigente tivesse tido o cuidado de mandar especializar em França os Engenheiros que conseguiu recrutar.

Em todas as funções que desempenhei no SFM, uma das minhas principais preocupações foi formar técnicos a variados níveis e promover a especialização em locais apropriados dos técnicos fora da especialização que eu próprio já tinha conseguido. Muito tive que ensinar a Engenheiros, Agentes Técnicos de Engenharia e a assalariados preparados apenas com a antiga 4.ª Classe, que eram destacados ou recrutados para as Brigadas que chefiei.

Devo aqui declarar que a minha formação fez-se ao nunca desperdiçar contactos com empresas especializadas que vinham actuar no País por contrato com os concessionários das Minas de pirite de S. Domingos, Aljustrel e Louzal e com Professores Universitários ingleses, belgas e franceses que essas Empresas contratavam para estudos nas áreas das suas concessões e também com Professores holandeses que orientavam teses de doutoramento de alunos seus.
Citarei, por exemplo, a Compagnie Génerale de Géophysique francesa, a Companhia canadiana Mc Phar, a Excalibur canadiana a Companhia inglesa Lea Cross, os Professores ingleses Bruckshaw, David Williams, John Webb, o Professor holandês Mac Gillavry e seu aluno Klein, o Dr. Strauss autor de uma magistral tese de doutoramento sobre a Mina do Louzal.
Por outro lado, sempre fui o maior cliente da Biblioteca do SFM, requisitando Revistas para me manter actualizado sobre a evolução das técnicas de prospecção. Fui também o maior requisitante de tratados sobre prospecção mineira que iam sendo publicados e dos quais tomava conhecimento através das Revistas.

Foi assim que adquiri uma sólida preparação, que mais tarde, viria a ser aproveitada pelas Universidades de Porto (Faculdades de Ciências e de Engenharia), Aveiro (Departamento de Geociências), Braga (Mestrado em Ciências da Terra).

Todavia, como já disse em posts anteriores, o Director do SFM não considerava necessária esta formação! Não teve dúvidas em nomear, para a chefia da Brigada de Prospecção Geofísica, um Engenheiro sem qualificação para o desempenho do cargo. Também não se interessou em aproveitar a oferta da OCDE para a formação de especialistas em técnicas modernas de prospecção.

E, para cúmulo, chegou a emitir Ordem de Serviço fixando a residência dos técnicos próximo dos locais de trabalho, arriscando-se a perder os especialistas que se iam criando.

Quando recebi esta Ordem, em meados da década de 50 do século passado, logo me dirigi ao Director-Geral, Engenheiro Castro e Solla a pedir esclarecimento sobre as causas da revogação da norma que tinha vigorado durante mais de uma dezena de anos.

O Director-Geral manifestou surpresa e foi de parecer que eu estaria a interpretar erradamente o texto da Ordem de Serviço, sugerindo-me que a autoria não seria do Director do SFM mas do seu adjunto. Chamou o Secretário Auditor Jurídico para se pronunciar sobre o caso e também este foi de parecer que a Ordem não tinha a intenção que eu lhe estava a atribuir.
O Director-Geral aconselhou-me então, que fosse ao Porto e falasse directamente com o Director do SFM, para esclarecer o assunto.

Assim fiz, nesse mesmo dia e, no dia seguinte, em presença do Director do SFM, referindo-me à Ordem de Serviço, afirmei que para mim ela era clara.
A intenção seria terminar com a utilização das ajudas de custo como forma de melhorar a remuneração dos técnicos deslocados em actividades de prospecção e pesquisa mineiras.
Afirmei-lhe que o Director-Geral e o Secretário Auditor Jurídico, com os quais estivera na véspera, tinham sido de parecer que eu estaria a dar errada interpretação e que me aconselharam a esclarecer pessoalmente a situação, como estava fazendo.
A reacção não se fez esperar. O Director do SFM informou que eu estava a dar correcta interpretação à Ordem. A situação existente era ilegal e ele pretendia corrigi-la.
Chamei-lhe a atenção para a possibilidade de alguns técnicos, provavelmente os mais experientes, abandonarem o SFM.

A sua reacção foi: Vão-se uns; vêem outros!!!!

Considerando-me esclarecido, aqui dei por terminada a conversa, passando logo a germinar no meu espírito a decisão de abandonar o SFM, talvez para o Ultramar, perante as necessidades que sabia aí existirem.

Regressando a Beja, à passagem por Lisboa, de novo me dirigi ao Director-Geral a solicitar-lhe colocação em Lisboa, pois tinha lugar no Quadro de funcionários da Direcção-Geral, estando destacado no SFM.

O Director-Geral disse-me não ser oportuna a minha ida para Lisboa e eu regressei a Beja já com o propósito firme de abandonar o SFM, e tentar colocação no Ultramar.

À chegada a Beja, à uma hora da manhã, tinha à minha espera um funcionário administrativo da Brigada do Sul a dar-me os parabéns pelo êxito da missão que me levara a Lisboa e ao Porto. A Ordem de Serviço tinha sido anulada! Manifestei a minha grande surpresa, pois não era essa a ideia com que tinha ficado.

Mas, no dia seguinte, apareceu, de facto, nova Ordem a anular a anterior!

A este candente tema das ajudas de custo, voltarei mais tarde, pois ele está na base da destruição de um Organismo essencial ao País, como era o Serviço de Fomento Mineiro.

O problema das remunerações não foi exclusivo dos Engenheiros e dos Agentes Técnicos de Engenharia.
Atingiu, por vezes, grande gravidade no caso do pessoal assalariado. Alguns elementos deste pessoal, com mais de 20 anos de permanência na Brigada do Sul, tinham adquirido elevada especialização, tornando-se essenciais ao cumprimento dos projectos de prospecção e pesquisa mineiras.
Era com muita mágoa que assistia ao abandono do SFM de vários desses elementos especializados, por não lhes serem autorizados aumentos insignificantes que considerávamos justíssimos e que eram objecto de propostas, que apresentara. A esta dificuldade me referi insistentemente, em relatórios vários e em reuniões em que até um Director-Geral participou.
Lembro-me de, num desabafo para com o Director-Geral que sucedeu ao Engenheiro Castro e Solla, ter dito que perante a teimosia superior em não dar andamento às minhas propostas até eu chegar a pensar também em abandonar o SFM.

A reacção desse dirigente, foi: Se quer ir embora, vá!

Como esta reacção contrastou com a que teve, em outra ocasião, quando eu recebi um convite do General Kaulza de Arriaga, para ocupar elevado cargo na Junta de Energia Nuclear, por se ter aposentado o seu Director-Geral dos Serviços de Prospecção!
Então, insistiu para que eu não aceitasse tal cargo, permitindo-se até desvalorizar a sua importância.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

23 – Quando os Chefes tinham sempre razão

Tendo falecido o Chefe da Brigada de Prospecção Geofísica (BPG), o Director do SFM, sem me consultar, como seria eticamente aconselhável, nomeou, para o substituir, o Engenheiro que na Brigada do Sul estava encarregado do estudar as ocorrências de minérios de manganés, por Ordem de Serviço que ele próprio havia emitido, mais de uma dezena de anos antes.

Havia, então minas já estudadas, de que ainda não tinham sido entregues os respectivos relatórios finais.

Havia que apresentar também, documentação dos estudos em curso que não constava dos relatórios mensais das Secções onde se investigavam as ocorrências desses minérios.

Por outro lado, eu não reconhecia a este Engenheiro qualificações para o exercício do novo cargo, sendo certo que nas funções que lhe estavam atribuídas também não demonstrara grande capacidade

Além disso, nos meus Relatórios e Planos de Trabalhos, insistentemente apresentara sugestões no sentido de acabar com a dispersão dos estudos por várias Brigadas actuando com total independência e sem adequado controlo, no cumprimento de planos por mim elaborados.

Eu não teria a mínima dificuldade em dirigir todos os estudos e, da sua concentração numa única Brigada resultaria aumento de eficácia e considerável diminuição de despesas.

Acrescia ainda, que a parcela, de longe, mais importante das investigações geofísicas (o método electromagnético Turam) estava já a cargo da Brigada do Sul, por incapacidade da BPG em o aplicar.

Perante a importância que eu atribuía à prospecção geofísica, da qual muito dependia a actividade futura da Brigada do Sul, eu não poderia ficar indiferente a mais esta aberrante nomeação. Em posts anteriores já demonstrei o que acabo de afirmar.

Fiz, então ofício para o Director-Geral de Minas, Engenheiro Luís de Castro e Solla, com cópia para o Director do SFM, declarando esta nomeação ilegal e contrária aos interesses do SFM.

A nomeação manteve-se e eu recebi do Director do SFM uma admoestação relativamente suave.

Mas um Colega, que exercia funções em Lisboa, fora encarregado de me chamar a atenção para a gravidade do meu gesto, informando-me que os Chefes têm sempre razão .

Perplexo, perguntei-lhe onde se encontrava a lei que tal determinava. E ele enviou-me cópia de um Regulamento dos Serviços Meteorológicos Nacionais onde, de facto havia uma cláusula estabelecendo esse postulado.

Felizmente o Engenheiro em causa não esteve muito tempo no cargo, porque na reestruturação do SFM a que já me tenho referido várias vezes, foi investido em novas funções, para as quais ainda tinha menos aptidões, como irei revelar.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

22 – Projecto de prospecção aérea no Alentejo

Este foi mais um projecto que apresentei, e que tinha o apoio da OCDE, que se frustrou pela acção de dirigentes pouco empenhados na concretização dos objectivos do SFM.

Em Agosto de 1961, quando eu ainda chefiava a Brigada do Sul do SFM, fui nomeado por despacho da Director-Geral de Minas, Engenheiro Luís de Castro e Solla, para representar o País, em reuniões de um Grupo “ad hoc” sobre o tema “Métodos modernos de prospecção” que teriam lugar em Paris nos dias 11 e 12 de Setembro do mesmo ano.

Foi com alguma surpresa que tomei conhecimento desta nomeação, porquanto se mantinha ainda em vigor uma Brigada denominada de Prospecção Geofísica, e era suposto que de prospecção geofísica se fosse tratar.

De facto, o objectivo das reuniões era preparar especialistas em métodos modernos de prospecção que pudessem dar correcta execução a projectos de investigação dos recursos minerais dos países da OCDE.

A OCDE propunha-se participar financeiramente na execução destes projectos, considerando a necessidade de encontrar novas fontes de matérias-primas.

Desempenhei-me da missão com muito agrado e, quando o Presidente às Reuniões me concedeu a palavra, estando presentes representantes de 18 países, tive oportunidade de revelar que Portugal havia criado, em 1939, um Organismo estatal destinado à inventariação dos seus recursos minerais e que até já obtivera notáveis êxitos através da aplicação de métodos geofísicos.
Citei, como exemplos, os casos de Carrasco-Moínho em Aljustrel e Aparis em Barrancos pela aplicação do método electromagnético.

Na sequência destas reuniões, apresentei, em Maio de 1962, ante-projecto de prospecção aérea sobre o Alentejo.

A seguir transcrevo, traduzindo do francês original para português, excertos deste ante-projecto:

“Na parte Sul de Portugal há sobretudo jazigos de pirite, manganés, cobre e ferro.
A pirite está associada com formações porfíricas e forma geralmente grandes massas que se situam numa faixa que atravessa o País numa direcção NW, desde a fronteira com a Espanha perto da Mina de S. Domingos até ao Oceano Atlântico.
Esta faixa é a continuação em Portugal da Faixa Piritosa Espanhola.
Em Portugal, são conhecidos 6 jazigos, quatro dos quais estão actualmente em exploração.
Admite-se que outros possam existir.
Para os encontrar, foram já feitos levantamentos geofísicos sobre o terreno, cobrindo uma parte considerável da faixa portuguesa.
Empregou-se, sobretudo, o método electromagnético Turam.
Os métodos de polarização espontânea, de resistividade, potenciométricos, electromagnéticos (espira vertical), gravimétrico, magnéticos e geoquímico (para o cobre e para o chumbo) foram também utilizados, mas em pequena escala.
Este trabalho está ainda em curso de execução.
Até ao presente, apenas se descobriu uma massa de pirite, mas considera-se que subsistem as possibilidades de existência de outras massas.
Actualmente, as zonas mais interessantes são as que ainda não foram prospectadas por método algum.
Em primeiro lugar colocamos a zona entre as Minas de Aljustrel e do Louzal, que tem uma cobertura de terrenos terciários de uma profundidade variável, mas que, em alguns locais, ultrapassa 100 metros, a qual tem uma alta condutividade que torna difícil a interpretação dos resultados dos métodos eléctricos.
Estes sedimentos, que formam a Bacia Terciária do Rio Sado, estendem-se também para o Norte e nós admitimos que eles escondem formações porfíricas, com as quais podem estar associadas massas de pirite.
Um ambiente geológico análogo ao da Faixa Piritosa, perto de Alcácer do Sal, com afloramentos de pórfiros e de outras rochas eruptivas e de jaspes com mineralizações manganíferas associadas, dá consistência a esta hipótese.
Não sabemos se há já algum método suficientemente desenvolvido para detectar jazigos de pirite sob uma cobertura tão espessa e condutora como a da bacia do Rio Sado.

Outras zonas que nós consideramos com possibilidades para jazigos de sulfuretos são as seguintes:
Região de Cercal-Odemira, onde mineralizações de ferro e manganés associadas a formações porfíricas são já conhecidas;
Grande região de pórfiros, entre Montemor-o-Novo e Serpa:
Todas as zonas da Faixa Piritosa já prospectadas pelo método Turam, porque este método não pode considerar-se eliminatório, sobretudo para profundidades de investigação ultrapassando, em geral, 50 metros, nas condições geológicas da Faixa Piritosa.
O manganés encontra-se nas mesmas condições geológicas da pirite, sob a forma de carbonatos, silicatos e óxidos, em associação com jaspes. Conhecem-se numerosas ocorrências destes minérios, mas poucos jazigos exploráveis. Em muitos casos, há uma pequena percentagem de magnetite, quer nos jaspes, quer nos minérios.

O cobre encontra-se sobretudo sob a forma de calcopirite e seus produtos de alteração, em filões que se situam em formações geológicas variadas.

O ferro apresenta-se geralmente sob a forma de magnetite. Os seus jazigos situam-se “grosso-modo” numa faixa paralela á Faixa Piritosa, que se alonga desde as imediações de Montemor-o-Novo até à fronteira, perto de Moura.
Não temos elementos que nos permitam ajuizar se esta Faixa continua em Espanha. Haveria interesse em estudar esta questão.
Presentemente há apenas um jazigo de magnetite em exploração.
Para encontrar outros que mereçam exploração, cuja existência se crê possível, têm sido feitos levantamentos magnéticos, à superfície, numa parcela importante da Faixa.
Os resultados já obtidos oferecem um certo interesse.
Todavia, há ainda uma extensa zona a estudar, com problemas difíceis de resolver por este método, com observações no solo, devido a pequenas concentrações de magnetite sem interesse económico que se encontram perto da superfície e que, interpondo-se, podem mascarar a influência de massas importantes que eventualmente se encontrem em profundidade.

Acreditamos que um levantamento aéreo, pelos métodos magnético, electromagnético, gravimétrico e talvez radiométrico (se a Junta de Energia Nuclear nisso revelar interesse) cobrindo a área indicada na carta mineira deveria ser considerado, a fim de contribuir para uma mais rápida solução dos problemas enunciados.”

Este ante-projecto incluía um extracto da Carta geológica do Sul de Portugal (a Sul do Rio Tejo), à escala de 1:500 000 e um extracto da carta mineira da mesma área, à mesma escala.

Foi tão boa a aceitação do ante-projecto que a OCDE decidiu considerar a sua extensão ao Sul de Espanha.

Entretanto, ocorreram na Direcção-Geral de Minas alguns acontecimentos que vieram alterar a sequência do ante-projecto.

No segundo semestre de 1962, o Engenheiro Luís de Castro e Solla pediu a exoneração do cargo de Director-Geral de Minas (facto a que oportunamente me referirei mais detalhadamente, pelo seu ineditismo), indicando para o substituir o Engenheiro Fernando Soares Carneiro.

O novo Director-Geral, sem me dar qualquer explicação, nomeou, em Maio de 1963, como representante de Portugal no Grupo de Trabalho da OCDE para a prospecção mineira, o Engenheiro que acabara de deixar o cargo de Director do SFM, no qual se mantivera durante 15 anos.

A experiência deste Engenheiro em prospecção mineira era nula.

Isso se reflectiu, em contactos posteriores com representantes da OCDE vindos a Portugal para reuniões tendo em vista a concretização da prospecção aérea no Sul de Portugal e Espanha.

Numa dessas reuniões, que teve lugar em Lisboa, com presença do Director-Geral de Minas, de um seu Adjunto (o cognominado Ajax), do representante português da OCDE e do dirigente máximo do Grupo de Trabalho da OCDE vindo propositadamente de Paris, foi pedida a minha participação, como elemento mais conhecedor do tema, de que fora autor.

Senti-me tão mal impressionado com a falta de empenhamento dos principais representantes da Direcção-Geral de Minas e com as atitudes grosseiras do novo Director-Geral, que logo me apercebi de que o projecto se iria gorar.

E foi o que aconteceu. Não mais ouvi falar dele!