quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

193 - Um novo Plano Mineiro Nacional. Continuação 17

Na ânsia de encontrar rapidamente reservas minerais, para prolongar a vida de minas em lavra activa, ou para iniciar novas explorações, é vulgar que empresas privadas e certos núcleos de “serviços oficiais” decidam passar à fase de sondagens, sem ter esgotado as capacidades de técnicas menos onerosas, que possibilitariam melhor selecção dos alvos a sondar.

É também vulgar serem algo secundarizados os reais objectivos das sondagens, ao descurar os procedimentos aconselháveis a uma boa recolha de testemunhos inteiros, de modo a obter a melhor representação possível das formações interceptadas.

É ainda corrente não se controlar, periodicamente, de modo eficaz, a trajectória dos furos, tanto em inclinação como em direcção, acontecendo ocorrerem enormes desvios dos alvos pretendidos, sobretudo em furos longos e (ou) com pequeno diâmetro inicial.
O uso de giroscópio torna-se essencial. O procedimento com bússola magnética não é rigoroso, porque as hastes ficam fortemente magnetizadas pelo atrito com as paredes dos furos e perturbam o campo magnético terrestre.

Também é frequente não se fazer a determinação sistemática das densidades e, em certos casos, a medição de susceptibilidades magnéticas dos testemunhos, análise geoquímica dos detritos, etc.

Seria de esperar recomendação de Goinhas no sentido de evitar a repetição de tais deficiências.

Todavia, tal não consta do documento intitulado "A Prospecção Mineira em Portugal. Áreas potenciais para implantação de projectos”, publicado no Boletim de Minas, que o autor classificou como pedagógica contribuição para o novo Plano Mineiro Nacional.

De facto, no parágrafo final desse documento, declara
“julgar ser a primeira vez que se aborda o problema das potencialidades dos recursos minerais do País, de forma integrada e sistematizada, que poderá conter, para além do simples interesse informativo, também um interesse pedagógico”.

A seguir, cito mais casos de actuação indisciplinada, relativamente à fase de sondagens.

11 –Na Faixa Metalífera da Beira Litoral.

A importância desta Faixa é bem evidenciada no “Catálogo Descritivo da Secção de Minas (Grupos I e II)" da Exposição Industrial das Indústrias Fabris, coordenada sob a direcção de José Augusto das Neves Cabral, por Severiano Monteiro e por João Augusto Barata, publicado pela Imprensa Nacional em 1889.
Nele são descritos trabalhos, em minas, que, nessa época, já atingiam profundidades de centenas de metros, chegando, num caso, aos 400 m.
São referidas, de Norte para Sul, as minas de Palhal, Telhadela, Braçal, Malhada, Coval da Mó e Barbadalhos, nas quais se exploravam minérios de cobre, chumbo, zinco, e secundariamente, prata, níquel e cobalto.

Já anteriormente, Carlos Ribeiro, na sua “Memória sobre o grande filão metalífero que passa a Nascente de Albergaria-a-Velha e Oliveira de Azeméis”, publicada em 1861, fizera pormenorizada descrição dessas e de outras minas, que considerava relacionadas com o acidente tectónico, onde se instalou aquele filão metalífero.

José Goinhas, apesar de considerar “de grande interesse prospectivo” esta banda blasto-milonítica, com zona de cisalhamento associada, onde ocorrem. mineralizações ainda metalogeneticamente pouco conhecidas”, de chumbo, cobre e antimónio, em particular na zona de Coimbra e na região entre Águeda e Oliveira de Azeméis, Braçal – Talhadas, Caima, etc...”, apenas lhe dedica meia dúzia de linhas, no seu extenso documento.

A tão “erudito” arrazoado, só faltou referir as “rochas flebociménicas", inspirando-se em nomenclatura usada por Vitorino Correia.
O leitor não se preocupe, pois ainda não encontrei Geólogo que conhecesse tal modo de designar filões.
Talvez venha a fazer post sobre esta manifestação de sabedoria, que não foi exclusiva de Vitorino.

É surpreendente a afirmação de se tratar de mineralizações metalogeneticamente pouco conhecidas, sabendo-se quão intensamente foram exploradas, desde o tempo dos romanos.

As mineralizações são, de facto, bem conhecidas, mas não tenho notícia da ocorrência de antimónio, que é citada por Goinhas.

Admito que Goinhas quisesse acentuar a insuficiente conhecimento geológico da zona, pois essa era uma notória realidade, mas longe de ser exclusiva da Faixa Metalífera.

Embora no período a que se reporta Goinhas, numerosos Geólogos tivessem ingressado no SFM, os minuciosos estudos de natureza estrutural, que se impunham, não eram realizados.

Inexperientes, na sua generalidade, esses Geólogos demonstravam pouca apetência para trabalhar no campo e, muito menos, no interior de minas.
Era mais fácil usurpar trabalho de outros, apresentando-se como seus autores.

O Geólogo Vítor Correia Pereira, chegou ao cúmulo de incluir, em currículo publicado em Diário da República, a autoria de levantamento geológico realizado pelos Geólogos checos Yanecka e Strnad, na região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima.
Os mapas contendo este levantamento geológico, que me foram oferecidos pelos seus autores, como retribuição pelos mapas magnéticos que eu lhes fornecera, foram por mim cedidos a Vítor Pereira, a seu pedido, com vista à inserção no Livro Guia de Excursão incluída no programa do CHILAGE, que teve lugar em 1970-71.
Os autores deste levantamento não são citados na bibliografia!
Contrastando com esta atitude, em comunicação que apresentei ao CHILAGE sobre os trabalhos de prospecção que dirigia na mesma Região, também incluí esse levantamento, mas tive o cuidado de mencionar os verdadeiros autores.

Delfim de Carvalho, Vítor Oliveira, Santos Oliveira e também José Goinhas tiveram procedimentos semelhantes.
Já tive oportunidade de referir alguns, deles.
Dentre todos, os mais escandalosos foram, sem dúvida, os artigos sobre a descoberta do jazigo de Neves - Corvo, da autoria de Delfim de Carvalho, publicados, no Boletim de Minas e na “Economic Geology”, sendo certo que Delfim de Carvalho, não tendo tido a mínima intervenção em tão extraordinário sucesso, até incorre em grosseiros erros. (Ver posts N.ºs 38 e 41 a 43)

Estes Geólogos foram, além disso, alguns dos principais responsáveis pela progressiva degradação do SFM, que haveria de conduzir à extinção deste Organismo.

Goinhas demonstrou não ter lido as desenvolvidas descrições dos jazigos minerais da Faixa Metalífera, constantes quer de documentos publicados, quer de numerosos “relatórios internos”, sendo deveras estranho que nem os cite, na sua extensa bibliografia.

Além das publicações já mencionadas, seriam de consulta obrigatória.

a) Relatório acerca das Minas do Braçal, Palhal, Carvalhal e Pena, do distrito Administrativo de Aveiro, elaborado por José Augusto César das Neves Cabral, publicado pela Imprensa Nacional, em 1859 (87 páginas e 12 peças desenhadas).

b) Relatório de minha autoria, apresentado em 31 de Dezembro de 1972, com o título “Região de Braçal - Talhadas. Sua potencialidade Mineira”. Volumes I e II (Texto dactilografado com 22 páginas e um Apêndice) e 23 peças desenhadas).

Declarando mal conhecidas as mineralizações desta Faixa, Goinhas não explica porque lhes atribui grande interesse prospectivo.

Deduz-se que incluiria a Faixa Metalífera da Beira Litoral nas “Áreas potenciais para aplicação de projectos”.

Tal atitude, discordante da assumida pelos Directores-Gerais que sucederam a Luís de Castro e Solla e pelos Directores do SFM que sucederam a Guimarães dos Santos, deixou-me surpreendido, sabendo da sua cumplicidade com estes dirigentes, gerada após os procedimentos irregulares, por eles aconselhados ou consentidos, com a minha veemente repulsa, que tinham originado o meu compulsivo afastamento da chefia da 1.ª Brigada de Prospecção (Ver posts N.ºs 77 e 81 a 91).

Esses dirigentes sempre exprimiram abertamente o seu desacordo pelo estudo desta Faixa, assim justificando os obstáculos que deliberadamente foram criando, os quais culminaram com a suspensão, em 1980, de todos os trabalhos que nela decorriam, com notável sucesso, desde 1968. (Ver post N.º 138).

A realidade é que Goinhas, embora, no seu documento atribua grande interesse prospectivo a esta Faixa, nenhumas diligências fez para que o seu estudo fosse facilitado, não obstante até lhe ter sido “clandestinamente” atribuída a Prospecção Mineira, quando conseguiu a categoria de Director de Serviço, na onda de assaltos aos cargos directivos. (Ver post Nº 187)

Vários factos evidenciaram, mais uma vez, as incoerências de Goinhas, tornando indesculpável o seu real “desinteresse” por uma Faixa que classifica de grande “interesse” prospectivo.

Vou citar alguns desses factos.

a) Goinhas, que até tinha elaborado um relatório sobre a Mina do Braçal, com data de 1-9-64, num período em que, por minha intervenção, esteve prestando serviço na Compagnie Royale Asturienne des Mines, sabia que a Mina tinha cessado a laboração, em 1959, não por carência de matéria-prima, mas apenas por conjuntural baixa de cotação do chumbo.

Sabia também, que, sem justificação alguma, tinha sido revogada a respectiva concessão, porquanto não era normal isto acontecer!
Em casos como este, em que o concessionário abdicava dos seus direitos de exploração, a concessão passava à situação de abandonada, podendo ser novamente adjudicada, se não estivesse incluída em área cativa para o Estado.

O conhecimento da Legislação Mineira do País é um óbvio dever dos funcionários da DGGM, sobretudo dos que ocupam os escalões hierárquicos mais elevados.
Mas, nesta matéria, Goinhas tem maiores responsabilidades, não só pela categoria de Director de Serviço que conseguiu conquistar, mas porque, quando, em 1971-72, à custa do erário público, frequentou Curso de Economia Mineira, em Universidade de Arizona, teve o meu permanente apoio, através de correspondência assídua, que com ele mantive, constando dessa correspondência, a seu pedido, dados circunstanciados, acerca da legislação mineira de Portugal, para inserir nos trabalhos do Curso. (Ver post N.º 88)

O facto de se ter revogado esta concessão, que era a mais antiga do País, impedindo que fosse novamente adjudicada, não podia deixar de ser referido numa história da prospecção mineira em Portugal, à qual se pretendia atribuir um efeito pedagógico.

Mas a referência não deveria aí confinar-se, porquanto, erro muito mais grave foi o facto de o Serviço de Fomento Mineiro não ter usado as disposições do Decreto-lei N.º 29 725, para se substituir ao concessionário.

Era do mais elementar bom senso evitar a perda da valiosíssimo capital humano, experiente nas variadas profissões que se tinham desenvolvido, para manter, não apenas a Mina em laboração, mas também o estabelecimento metalúrgico localmente instalado, no qual se produzia chumbo metálico e seus derivados, para consumo no mercado nacional.

Teria sido muito mais útil ao País dar continuidade ao estudo desta Mina, do que iniciar estudos nas Minas de Talhadas, que, há longos anos, se encontravam inactivas.

A Mina do Braçal, apesar de, nos tempos recentes, se manter em exploração, durante mais de uma década, sendo até a mais importante produtora de minério de chumbo e seus derivados, estava longe de poder considerar-se reconhecida, de modo a ficarem definidas as suas reais reservas.
Impunham-se estudos idênticos aos que estavam, então, em curso na Mina de cobre de Aparis, em Barrancos, para que a exploração pudesse realizar-se segundo as boas regras da “arte de minas” e não de modo artesanal, como era vulgar acontecer, comprometendo o bom aproveitamento dos jazigos.

A Mina do Braçal reunia até condições excepcionais para ser utilizada como Mina-Escola, à semelhança do que eu tinha advogado para a Mina de Aparis, quando esta se encontrava ainda em estudo pelo SFM (Ver post N.º 21).
Na Mina do Braçal, nem sequer faltavam instalações para alojamento dos estagiários, que ali fossem completar a sua formação.
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Mas os dirigentes, nessa época, optaram, irresponsavelmente, pelo estudo das Minas de Talhadas, para manter activo o sector de Trabalhos Mineiros do Norte, até se esquecendo da fobia do Director-Geral de Minas pelos filões.

É certo que também se tinham esquecido desta fobia, quando consentiram que o 2.º Serviço continuasse a reconhecer um pequeno filão cuprífero, na Mina do Barrigão, localizada no Sul do País, no concelho de Almodôvar, apesar de se situar no interior de área que tinha sido adjudicada a Companhia canadiana para prospecção mineira!!!

Para esta decisão, pode ter contribuído uma real dependência técnica, que Engenheiros classificáveis como “de papel selado”, arvorados em dirigentes, que se refugiavam no conforto do9s seus gabinetes, manifestavam relativamente a um Agente Técnico de Engenharia, que se insinuara junto deles, por aliar a alguma experiência mineira, muito servilismo.
Este Agente Técnico de Engenharia tinha, aliás, adquirido a sua experiência, na Brigada do Sul, mas estava longe da capacidade desenvolvida pelos seus colegas que permaneceram no Sul.

Aconteceu até que os estudos a seu cargo, que incidiram na Mina do Cabeço de Macieira, enfermando de deficiente apoio geológico, tiveram que ser dados por concluídos, sem terem conseguido resultados com interesse económico.
Estando em reconhecimento um filão, em piso iniciado pelos anteriores exploradores, deparou-se com uma falha, não se tendo conseguido localizar a parte rejeitada.
Galerias abertas, em várias direcções, revelaram bem a desorientação do responsável pelos estudos.

É ainda digno de registo que os mesmos dirigentes que não aprovaram a investigação por sondagens, das espectaculares anomalias geoquímicas do Cabeço do Telégrafo, autorizaram a realização de várias sondagens, na Mina do Cabeço de Macieira, a partir de uma galeria, para reconhecer, a maior profundidade, um filão que não revelara características especialmente animadoras, em pisos superiores!

Eu que, nessa época, dirigia trabalhos na Mina de Aparis, em Barrancos, cuja importância não era inferior aos que decorreram na Mina do Braçal, poderia facilmente encarregar-me de dirigir também os trabalhos nesta Mina, orientando devidamente a actividade do Agente Técnico de Engenharia João de Oliveira Vidal, que lá residia, e tinha demonstrado grande motivação, que supria insuficiente preparação técnica, tal como eu tinha procedido com os Agentes Técnicos de Engenharia Oliveira Barros e Carlos de Araújo, no caso da Mina de Aparis.

b) Goinhas participara, em representação da 1.ª Brigada de Prospecção, no “Seminário em Geoquímica da Universidade de Aveiro”, realizado em 23 e 24 de Janeiro de 1976, por iniciativa dos docentes Britaldo Rodrigues e Edmundo Fonseca. (Ver post N.º88)

Tomara, então, conhecimento da minha comunicação, na qual informava terem sido colhidas, até àquela data, cerca de 130 000 amostras de sedimentos de linhas de água, cobrindo uma superfície aproximada de 1 800 km2.

Sabia, também, até porque se considerara apto a representar a 1.ª Brigada de Prospecção, no âmbito da Geoquímica, que, a maior parte das amostras, tinha sido analisada, no Laboratório daquela Brigada, em Beja, pelo método da ditizona, para determinação dos metais pesados solúveis, a frio, no citrato de amónio (MPef).

Obteve, então, a informação de que, se tinha definido, no Cabeço do Telégrafo, próximo da antiga Mina do Braçal, em resultado de análises efectuadas, por espectrofotometria de absorção atómica, no Laboratório de S. Mamede de Infesta, sobre amostras colhidas em perfis piquetados em áreas de fortes anomalias de MPef, um alinhamento de anomalias de Cu, Pb e Zn, que justificava a imediata execução de sondagens, tendo sido apresentado em 17-10-1974, o projecto da sondagem n.º 1.

Sabia, obviamente, que, à data do seu documento, a este projecto ainda não tinha sido dado cumprimento, pela Brigada de Sondagens.

Estava também consciente da descarada mentira do Director-Geral, quando mandou retirar a sonda da Região de Caminha, com o pretexto de não haver sondas disponíveis para todos os projectos, havendo, por isso, que estabelecer prioridades, porque estivera presente, em reunião em Lisboa, em 18-4-1975, acerca da distribuição das sondas do SFM (Ver post N.º 90).

Nessa reunião, o Eng.º Fernando Silva, na sua qualidade de Chefe da Brigada de Sondagens, desmentiu o Director-Geral, afirmando ter sondas paradas por falta de projectos, sendo certo que o projecto do Cabeço do Telégrafo, estava, há mais de um ano, por cumprir!!!!
Seria pedagógico que Goinhas explicasse, na sua história da “Prospecção Mineira em Portugal”, porque factos destes aconteciam!!!

c) Goinhas tivera conhecimento de que a Universidade de Aveiro iria realizar de 28 a 30 de Junho de 1978, um Seminário Internacional de Geoquímica, porque aquela Universidade enviara circular informativa. a todas as entidades públicas ou privadas do País, às quais o tema pudesse interessar.

Pelo teor da circular, ficara a saber que eu iria apresentar comunicação sobre “Casos concretos de prospecção integrada em Portugal”.

De facto, eu tinha sido, de modo amigável, praticamente “intimado”, pelo Dr. Edmundo Fonseca, organizador do Seminário, a colaborar, com comunicação, a que ele próprio se encarregou de dar título, sabendo das minhas actividades de prospecção, em diversas zonas do País.
Conforme me declarou, contava com ela, como “pão para a boca”.

Na comunicação que apresentei, descrevi os principais resultados da campanha de prospecção, por variados métodos (geoquímico com análises de MPef, Cu, Pb, Zn; magnético; resistividade eléctrica e electromagnético), que, então, se encontrava em curso, na Faixa Metalífera da Beira Litoral, apoiando-me nos mapas de anomalias.
Numerosas eram os casos, onde já se justificava a passagem à fase de sondagens. Dentre elas, salientei as seguintes:
Cabeço do Telégrafo
Alto da Serra (antiga mina de Vale do Vau),
Bertufo,
Boa Aldeia,
Cabeço Santo,
Sanguinheiro,
Bostelim,
Agrelo,
Boi

Um dos casos que mais interesse suscitou foi o do Cabeço do Telégrafo.

Os conferentes estrangeiros, que Edmundo Fonseca tinha convidado (Barbier do BRGM francês, B. Bolviken de Universidade norueguesa, Clifford James e H. Roesler de outras Universidades), interpelaram-me sobre os resultados de sondagens que acreditavam ter sido executadas para investigar tão espectacular alinhamento de anomalias geoquímicas, sobretudo de Pb.

Tive dificuldade em explicar porque tais anomalias se mantinham por investigar.
De facto, não era compreensível mais uma atitude negativista e prepotente do Director-Geral de Minas, não aprovando a sondagem do Cabeço do Telégrafo, apenas com o argumento esfarrapado de não gostar de filões!

Escusado será dizer que o Dirtector do SFM e a quase totalidade dos 22 (!!) novos Chefes primaram pela ausência neste Seminário.

Não lhes interessava saber o que realmente se passava nos poucos núcleos do SFM, onde havia actividade útil e disciplinada e os ensinamentos que os professores estrangeiros poderiam trazer

Só me lembro de ter visto o Chefe de Divisão Viegas, que chegou atrasado e o Director de Serviço, Santos Oliveira, que apresentou fraca comunicação sobre prospecção de scheelites.

Curiosa foi a intervenção do Geólogo Luís Gaspar, que tendo ingressado nos Serviços Geológicos, em data recente, ainda não tinha sido contaminado pelo mau ambiente que estava a dominar a DGGM, com os interesses de algumas pessoas a sobreporem-se aos interesses do País.
Manifestou estranheza com a fase incipiente de trabalhos, ainda em curso, apesar de a campanha ter sido iniciada há 10 anos e com o facto de se não ter decidido estudar a Mina do Braçal, após o seu abandono pela Empresa que detivera a concessão.
Concordei com as suas objecções, repetindo a minha explicação inicial sobre a falta de apoio, a nível superior, porque o Director-Geral entendia que filões não têm interesse e que todo o Pb e Zn de que o País precisa se contem nas pirites do Alentejo.
Salientei, no entanto, as contradições desse dirigente, a tal respeito, em publicações de sua autoria.
Quanto à retoma da actividade na Mina do Braçal, exprimi o parecer de que, para o actual SFM, tal retoma seria muito difícil, senão impossível, uma vez que já tinha sido extinto o sector de Trabalhos Mineiros.

d) Era, também, do conhecimento de Goinhas um acontecimento revelador, não só da correcta metodologia que estava a ser adoptada na investigação da Faixa Metalífera da Beira Litoral, mas também de muito significativas consequências dos resultados que estavam a ser obtidos.

De facto, após a comunicação referida na alínea anterior, o Geólogo Edmundo Fonseca da Universidade de Aveiro, solicitou-me autorização para utilizar o sucesso da prospecção geoquímica na redescoberta do jazigo de chumbo do Sanguinheiro, como tema principal da sua tese de doutoramento. (Ver post N.º 138)

Tendo obtido a minha concordância, Edmundo Fonseca fez deslocar, à área desta Mina, o orientador da sua tese, Professor H. Martin, de Universidade belga, e o Professor da Universidade de Aveiro, Renato Araújo.

Passou, depois a prestar colaboração, nos trabalhos que ali decorriam.

Uma sonda da Universidade e pessoal que tinha adestrado foram utilizados para colheita de dados sobre a formação mineralizada.

A Edmundo Fonseca, facultei também, acesso aos dados de estudos que eu tinha dirigido no Sul do País, na área de Algares de Portel, a fim de ele poder estabelecer o confronto de mineralizações de chumbo e zinco, em diferentes ambientes litológicos.
Foi Goinhas que, ainda na minha qualidade de Chefe da 1.ª Brigada de Prospecção, eu introduzira no estudo da área de Algares de Portel, quando esta já se encontrava em fase muito avançada, quem prestou a colaboração nesta matéria, a Edmundo Fonseca.

e) A suspensão dos trabalhos na Faixa Metalífera da Beira Litoral.

Quando deteve o cargo de Director-Geral de Minas, Soares Carneiro insistia em declarar, em reuniões da chamada Comissão de Fomento, não ter entusiasmo pela vasta área que eu denominara Faixa Metalífera da Beira Litoral.

Jorge Gouveia, quando lhe foi atribuído o encargo de dirigir o SFM, não teve o elementar cuidado de se informar sobre o real mérito desta Faixa.

Com total desprezo pelo longo passado do SFM, na Faixa e sem consideração pelo prejuízo que iria ocasionar à Universidade de Aveiro, na formação dos seus alunos e professores, passou a tomar decisões com vista a extinguir a Secção de Talhadas.

Começou por emitir ordens directas à Secção de Talhadas, para que cerca de 50% do seu pessoal fosse prestar serviço na Secção de Coimbra dirigida pelo Geólogo Viegas.

Esta deslocação de pessoal, apresentada com carácter temporário, foi-me, depois justificada, porque “o sector de Coimbra não tem estruturas à altura dos projectos que lhe estão cometidos, nem é oportuno desenvolvê-las, no momento presente" (!!!!!).

Nesta sua decisão, até teve o apoio de José Goinhas,” na fase em que “clandestinamente” esteve designado para dirigir a Prospecção!! apesar de considerar a Faixa “com grande interesse prospectivo”!!!

Pelo Colector Silvestre Vilar fui informado de que Viegas, dispondo de uma aparelhagem de resistividade eléctrica Askania, de elevada qualidade, herdada dos extintos Serviços de Prospecção de Junta de Energia Nuclear, pretendia efectuar 49 sondagens eléctricas, para investigação de ocorrências de argila.

Soube que tais sondagens não chegaram a ser efectuadas, por terem avariado a aparelhagem, visto ninguém se ter preparado, para seu uso e muito menos para a interpretação dos resultados que viessem a obter.

Apesar deste revés, Jorge Gouveia acabou por dar cumprimento ao seu propósito inicial.

Deu ordem para suspender a actividade na Faixa Metalífera da Beira Litoral, passando a utilizar todo o seu pessoal, em trabalhos de duvidosa qualidade e utilidade.

Foi do seguinte teor o ofício que me dirigiu em14-1-1980:
“Não tendo sido incluído no Programa Min - de Inventário e Valorização dos Recursos Minerais de País” do PIDDAC para 1980, o sub-projecto, relativo à área de Talhadas deverão os respectivos trabalhos ser suspensos”.

Continuando a usar os escassos recursos de que dispunha, registei, em relatórios, as arbitrariedades dos dirigentes, que estavam a reduzir a eficácia do SFM, conduzindo à sua previsível extinção. (Ver post N.º 136)

Não resisto a transcrever, de novo, o que deixei registado em “relatório interno”, que Goinhas tinha obrigação de ter consultado, na sua pesquisa para contribuir pedagogicamente para um novo Plano Mineiro Nacional.

“Não fora a falta de tempo e o desejo de não alongar demasiado este documento, gostaríamos de fazer mais profunda incursão no Programa para 1980.
Trata-se, de facto, de um documento exótico, que quase nos provocaria hilaridade, não fora o que de trágico está nele subjacente.
Na verdade, justificar o atraso ou não cumprimento de programas com argumentos tais como:
“Uma parte do corpo de técnicos licenciados do SFM do SFM foi chamada, no âmbito da reestruturação da DGGM, a desempenhar funções no quadro dirigente. Este facto veio agravar, ainda mais a situação, que já era carente nesses técnicos. Assim só o recrutamento de pessoal, de acordo com o novo quadro orgânico, poderá repor a capacidade de resposta do sector Norte, para levar a cabo as tarefas aqui programadas”é, pelo menos, um ultraje à inteligência de quem tiver que apreciar o aludido programa.
A nós, não restavam quaisquer dúvidas de que a reestruturação que paulatinamente se tem vindo a processar na Direcção-Geral de Minas só tem tido efeitos nefastos para o País.
Os interesses de alguns oportunistas têm sido satisfeitos, mas os Serviços têm-se degradado, como repetidamente temos denunciado.
No entanto, poderíamos esperar tudo, menos que os responsáveis por esta degradação viessem declará-lo, em documento de tamanha importância.
E não podemos deixar de manifestar a nossa surpresa por não termos notado reacções superiores a tão surpreendentes afirmações.
Pelo que nos diz respeito, queremos deixar aqui registado que, desde 1944, sempre temos exercido, efectivamente, dentro do Serviço de Fomento Mineiro, funções de chefia, sem que, por tal facto, tivéssemos recebido qualquer remuneração adicional.
Nunca abdicamos, porém, das funções técnicas e, a atestá-lo, está a obra que podemos apresentar, de que não nos envergonhamos, da qual outros se têm aproveitado e continuam a aproveitar…
Não podemos, por isso, deixar sem reparo que os agora alcandorados a cargos de chefia, quase sempre sem base em competência profissional ou qualquer outra e, em muitos casos, sem efectivamente exercerem o cargo … argumentem agora que não trabalham, porque já são chefes e os chefes só mandam…
Consequentemente, a suspensão dos trabalhos nesta Faixa constitui grave erro, que consideramos intencional, apenas com o propósito de retirar ao signatário a possibilidade de concretizar os êxitos que, com persistente labor e entusiasmo, vai preparando.”

Continua…