sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

190 - Um novo Plano Mineiro Nacional. Continuação 14

Sendo a prospecção mineira actividade de elevado risco, envolvendo grandes investimentos, é essencial que se respeitem, escrupulosamente, as fases em que se deve processar.
Tenho vindo a revelar que esta metodologia, não está patente nas vagas informações contidas nos quadros que constam da história da “Prospecção Mineira em Portugal”, da autoria de José Goinhas, apesar do propósito manifestado de a investigação histórica ter sido feita, com a intenção de contribuir para novo Plano Mineiro Nacional, destinado a aumentar a eficácia da nossa indústria mineira, que se encontrava em acentuada decadência.
Exemplo bem elucidativo do desrespeito pela disciplina, fundamental em prospecção mineira, é a “atitude de bombeiro”, que Soares Carneiro frequentemente assumiu (ver post N.º 2), em ostensivo abuso dos poderes do seu cargo de Director-Geral de Minas, convencido de que “queimando etapas”, rapidamente conseguiria chegar a grandes descobertas. (ver post N.º 56)

Sem a mínima consideração pelas funções que competiam ao Director do SFM e aos Chefes de Serviços, decidiu orientar directamente alguns estudos.
Em vários casos, passou à fase de sondagens, prescindindo dos trabalhos em que elas se deveriam fundamentar.
Destas acções indisciplinadas, nem um único sucesso resultou. Além de mau uso de dinheiros públicos, por quem tinha obrigação de dar bons exemplos, atrasou-se o cumprimento dos programas racionalmente estruturados.

O SFM, no seu período inicial, teve, naturalmente, que recorrer a empresas estrangeiras, para trabalhos especializados.
Visando encontrar novas reservas de minérios de ferro e de pirites complexas, firmou contratos com a empresa sueca ABEM, para aplicação de técnicas de prospecção, por métodos geofísicos, que começavam, então, a ser introduzidas na indústria mineira. (ver post N.º 5)
Para reconhecimento da Faixa Carbonífera do Douro e do carvão do Moinho da Ordem (Santa Susana, Alcácer do Sal), contratou a empresa de sondagens “Société Anonyme Belge d’Entreprise de Forage & de Fonçage (Foraky). (ver post N:º 52)

Previdentemente, acompanhou, com grande empenho, os procedimentos técnicos de ambas as empresas, extraindo ensinamentos para poder vir a encarregar-se, futuramente, de realizar, com equipamentos próprios, trabalhos dessa natureza.
No decurso dos tempos, o SFM foi obtendo os equipamentos necessários para atingir os seus objectivos.
Foi também adquirindo experiência na respectiva utilização.
Ficou, portanto, apto a realizar, não apenas trabalhos mineiros tradicionais, mas também a aplicar técnicas de prospecção geofísica e a fazer sondagens.
De realçar, o valiosíssimo material recebido, ao abrigo do Plano Marshall. (ver post N.º 15)
A aplicação de técnicas geofísicas, directamente pelo SFM, de modo sistemático, só teve início na década de 50, por manifesto desinteresse do Engenheiro, a quem foi confiada a denominada Brigada de Prospecção Geofísica (BPG), com tolerância do Director. (ver post N.º 13)

Porém, já em 1947, o SFM fora capaz de efectuar a sua primeira sondagem.
Este acontecimento, notável para a época, ficou a dever-se à iniciativa dos Agentes Técnicos de Engenharia, Luís de Albuquerque e Castro e Fernando Gonçalves Macieira, oriundos da sede em Lisboa, os quais eram dotados de grande capacidade organizativa, lamentavelmente desperdiçada e até hostilizada, pelo Engenheiro Norberto Queiroz, quando ocupou o cargo de Director do SFM.
A sondagem foi implantada próximo da Mina de chumbo do Braçal e teve por objectivo investigar a causa de anomalia electromagnética, registada em campanha a cargo da ABEM de Estocolmo.
O SFM realizou, depois, outras sondagens, em diversas zonas da Faixa Piritosa Sul - Alentejana, com base em anomalias electromagnéticas, seguindo também recomendações da ABEM de Estocolmo, a cujo cargo decorrera a campanha de 1944-49. (ver post N.º 10)
Na Região de Cercal – Odemira, onde tinham decorrido, durante 14 anos, importantes trabalhos de pesquisa e reconhecimento de filões ferro-manganíferos, projectaram-se e executaram-se sondagens, para reconhecer os filões, a profundidade que os trabalhos mineiros não puderam alcançar, por dificuldades de esgoto dos abundantes caudais de água encontrados.
Pretendeu-se aproveitar a experiência que a Brigada com especialização em Sondagens ia evidenciando, para reconhecer a profundidade superior a 300 m, o principal filão ferro – manganífero (na Serra do Rosalgar), na expectativa de que viessem a encontrar-se sulfuretos do grupo BGPC (blenda, galena, pirite, calcopirite).
Em caso afirmativo, seria mais um bom indício a favor da hipótese de estarmos em presença de uma área de características idênticas às da Faixa Piritosa, podendo os filões ser atribuídos a remobilizações provenientes de massas mineralizadas de grandes dimensões.
Todavia, a sondagem não foi realizada, por não se possuir ainda material com capacidade para tal empreendimento e o Director do SFM não ter considerado oportuna a sua aquisição.
Chegou ainda ao meu conhecimento terem sido realizadas sondagens, na década de 50, com equipamentos do SFM, para investigação do jazigo de ferro de Vila Cova do Marão.
Todavia, nem relatórios, nem logs, nem os testemunhos destas sondagens se encontraram, quando, pretendi fazer a sua consulta, no desempenho de novas funções que, em 1963, me foram atribuídas. (ver post N.º 30)

Também na década de 50, a Brigada de Sondagens deu execução a um vasto programa, na região de Barrancos, envolvendo furos, não só no exterior, mas também a partir de trabalhos interiores da Mina de cobre de Aparis.
A maioria destas sondagens apoiou-se em resultados da aplicação do método electromagnético Turam, obtidos em campanha efectuada sob minha orientação, ainda na qualidade de Chefe da Brigada do Sul, com equipamento que o SFM tinha adquirido, o qual a BPG se tinha mostrado incapaz de pôr em funcionamento. (ver posts N.ºs 20 e 21)

É de assinalar que a campanha no exterior esteve em risco de ser suspensa, logo no seu início, por dificuldade de obtenção de testemunhos.
A Brigada de Sondagens teve, porém, o mérito de solucionar este problema.
Entretanto, prosseguiam também sondagens na Faixa Carbonífera do Douro, em sucessivas campanhas, por contrato com a empresa belga Foraky, enquanto o Director do SFM não se dispunha a aproveitar a capacidade técnica que a Brigada de Sondagens vinha demonstrando, para adquirir equipamento com possibilidade de realizar furos com comprimentos da ordem dos 800 m.

Após a minha nomeação para chefiar um Serviço de Prospecção Mineira, com âmbito de actuação extensivo a todo o território metropolitano nacional, rapidamente começaram a surgir alvos justificativos de investigação por sondagens, resultantes da aplicação de variados métodos geofísicos e geoquímicos, em áreas previamente seleccionadas, através estudos geológicos pormenorizados.
A Brigada de Sondagens do SFM foi encarregada de dar a natural sequência aos estudos do Serviço de Prospecção e foi desempenhando, na generalidade dos casos, muito satisfatoriamente esse encargo, em cumprimento de projectos devidamente fundamentados.
Foi assim que puderam concretizar-se os êxitos variados, a que já fiz pormenorizada referência.

O Director-Geral de Minas, Soares Carneiro que, no início do seu mandato, não só não interferia na actividade disciplinada que ia decorrendo, como fazia questão de a revelar ao Ministro da tutela para demonstrar a eficácia do Organismo que lhe estava confiado, passou, a partir de determinada data, a encarregar-se de orientar directamente alguns estudos e a criar obstáculos à investigação, por sondagens, dos alvos que o Serviço de Prospecção, a meu cargo, ia definindo.

No post anterior, antecipei que, em matéria de sondagens, tinham sido cometidos pelos “serviços oficiais”, isto é, pela Director-Geral de Minas e pelo Director do Serviço de Fomento Mineiro, actos escandalosos e, até criminosos.
Vou, agora, referir exemplos desses actos (nalguns casos verdadeiramente anedóticos), para os quais, em tempo oportuno, chamei a atenção, em relatórios e, também em exposições ao Governo.

1 - A sondagem do nevoeiro em Caminha.
A seguir, transcrevo o que consta da coluna de Observações da peça desenhada N.º 149 (Log da sondagem N-º 3 da Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima) do “Relatório Circunstanciado”, a que tenho vindo a fazer frequente referência:

“Esta sondagem foi projectada por técnico do concessionário, com autorização do Director do Serviço de Fomento Mineiro, durante curta ausência, no Alentejo, do responsável pelos estudos na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima.
Tendo tomado conhecimento, após o meu regresso, de que esta sondagem se encontrava em curso, manifestei ao Director do Serviço a minha total discordância quanto à sua implantação, para a qual não encontrava qualquer justificação técnica ou científica e a minha estupefacção pela indisciplina que representava a sua autorização.
Como reacção recebi a informação de que “as coisas não se passavam como eu julgava”, que “o Director-Geral estava ao corrente”, que “o concessionário também conhecia o jazigo e tinha, portanto, o direito de projectar sondagens!!!!”
Tendo, mais tarde, encontrado casualmente, na mina da Cerdeirinha, o autor do projecto e tendo-lhe perguntado os fundamentos da implantação desta sondagem, foi-me respondido que o furo fora iniciado em local errado, porque, no dia da sua marcação, esteve denso nevoeiro e o alinhamento que traçou, para o efeito, saiu defeituoso".(!!!!!!!)


Esta autêntica anedota foi o primeiro sinal da indisciplina que progressivamente se instalaria, assumindo proporções escandalosas, de verdadeiros crimes.

2- Suspensão de campanha de sondagens na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima

Quando decorria, com normalidade, sob a minha direcção, a investigação, por sondagens, das existências de mineralizações tungstíferas, na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, estando projectado o furo N.º 69, com base em pronunciada anomalia magnética, com apoio geológico e geoquímico, fui surpreendido com ordem superior no sentido de ser suspensa a campanha.
Na tentativa de justificar esta inesperada decisão, o Director-Geral Soares Carneiro, convocou-me para participar em reunião, em Lisboa, que teria por objectivo fazer a distribuição das poucas sondas que o SFM possuía, tendo em atenção as prioridades dos programas que as solicitavam.
Também participaram, nessa reunião, além do Engenheiro Múrias de Queiroz , Director do SFM, e do Engenheiro Fernando José da Silva, que pouco tempo antes, assumira a chefia da Brigada de Sondagens, o Geólogo José Goinhas, em representação da 1.ª Brigada de Prospecção, onde também decorriam sondagens e o Engenheiro Francisco Limpo de Faria.
O argumento apresentado para a decisão tomada foi a urgência em investigar um “muito promissor jazigo tungstífero”, que os denominados “scheeliteiros” tinham descoberto em Cravezes, na região de Mogadouro.
Encontrando-se em utilização todas as sondas de que o SFM dispunha, haveria que transferir uma delas, de programa com menor prioridade.
E o programa escolhido foi o que estava a decorrer, a meu cargo, na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha - Ponte de Lima!

Deveras surpreendentes foram declarações produzidas pelo Engenheiro Fernando Silva.

Começou por dizer que tinha sondas em armazém, em tarefas de manutenção, por não lhe terem sido apresentados projectos para pôr em execução!
Assim contradizia, sem disso se ter apercebido, a argumentação do Director-Geral para suspender a campanha a meu cargo. Penso que ignorava esta argumentação, pois não era de esperar que ousasse afrontar o Director-Geral.
De facto, havia projectos, e não só, para a Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima. Também havia, para a Faixa Metalífera da Beira Litoral, há anos aguardando concretização.
Não se tinham apresentado projectos envolvendo muitos furos, porque se usava a boa prática de fazer depender cada novo furo dos resultados do anterior.
Mas era previsível a necessidade de executar campanhas mais ou menos longas, nas diversas áreas onde se registaram extensos alinhamentos de anomalias geofísicas e (ou) geoquímicas.
Quando chamei a atenção para a enorme disparidade entre o rendimento da sonda do SFM que tinha estado a actuar em Caminha, e o rendimento de sondas que actuavam para a Companhia americana Union Carbide, o Engenheiro Fernando Silva só encontrou um comentário: Os americanos eram super-homens! E ninguém contestou tão estranha afirmação!
Não teve o brio nem o zelo que manifestaram os Agentes Técnicos de Engenharia Fernando Macieira e Luís Albuquerque e Castro, que, na década de 40, se não tinham intimidado e conseguiram introduzir a técnica das sondagens no SFM, nem idêntico brio e zelo demonstrado por vários outros técnicos, que foram desenvolvendo o sector das sondagens.
Nem lhe ocorreu seguir o exemplo da minha persistente luta para introduzir as técnicas geofísicas e geoquímicas, cujo sucesso foi de tal ordem, que empresas privadas nacionais ou estrangeiras, passaram a solicitar a colaboração do SFM em trabalhos desta natureza, dando-lhes preferência relativamente às empresas especializadas estrangeiras, por lhes reconhecerem maior qualidade.
Seria natural que um chefe diligente, tivesse manifestado o propósito de providenciar no sentido de o SFM passar a agir com rendimento idêntico ou superior ao que demonstravam os sondadores contratados por Union Carbide.
Mas Fernando Silva, que se declarou ignorante em matéria de sondagens, porque a sua actividade anterior se passara em trabalhos diferentes, ao resignar-se a manter a Brigada que chefiava em tal situação de inferioridade, não se mostrou sequer disposto a aproveitar o mérito dos colaboradores que herdara dos seus antecessores.
Demonstrou, uma vez mais, a mediocridade, de que tinha dado abundantes provas, em vários cargos que ocupara.
A decisão de suspender a campanha de sondagens que decorria na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima foi referida, em relatórios trimestrais e anuais e em outros documentos, como mais uma dificuldade a acrescentar a muitas outras que deliberadamente vinham sendo provocadas ao desempenho das minhas funções, no SFM.

Transcrições parciais desses documentos, constam da “Introdução do Relatório Circunstanciado”, da qual dei directo conhecimento ao Ministro Veiga Simão, com as consequências descritas nos posts N.ºs 164 a 173.

A seguir, reproduzo curtas passagens desses documentos:

a) Na página 7 do Relatório da Actividade do 1.º Serviço durante o ano de 1976:

“Os levantamentos magnéticos e geoquímicos efectuados na zona da Costa das Vinhas, cobrindo o flanco NE da grande estrutura anticlinal, que temos vindo a investigar pormenorizadamente, revelaram diversas anomalias com interesse suficiente para justificarem sondagens.
Dentre estas, destaca-se, junto à Ribeira de S João, a cerca de 400 m a Norte da confluência da Ribeira de Arga com esta Ribeira, uma anomalia magnética de mediana intensidade, com bom apoio geoquímico, registada em ambiente geológico francamente favorável à ocorrência de mineralizações de tungsténio.
Esta anomalia foi seleccionada para implantação da sondagem N.º 69.
Tal sondagem não chegou, porém, a efectuar-se, por superiormente se ter decidido suspender a campanha de sondagens, na Região de Caminha, conforme já referimos.
...
Parece-nos ainda de interesse registar que, no mês de Dezembro, a Companhia americana Union Carbide Exploration Corporation requereu superiormente autorização para estender os seus trabalhos de prospecção e pesquisa a uma área envolvente das concessões de Geomina Limitada, que coincide com aquela onde tem ultimamente incidido a actuação do 1.º Serviço e da qual foi retirada a equipa sondadora, por haver outra zona com maior prioridade para execução de sondagens.

b) De páginas 15 e 16 do Relatório da Actividade do 1.º Serviço, no ano de 1977

"Não podemos ainda deixar de referir um importante êxito obtido pela Companhia americana Union Corporation Exploration Corporation, na área cativa para o Estado que, recentemente lhe foi adjudicada para trabalhos de prospecção, pesquisa e exploração mineira.
Esta Companhia não teve quaisquer dúvidas em transferir imediatamente, uma das sondas que, na região, tem em serviço, para investigar a zona de anomalias magnéticas e geoquímicas que havíamos seleccionado para a implantação da sondagem N.º 69.
Lembramos que, em Setembro de 1976, quando se deveria efectuar este furo, a chamada Comissão de Direcção do Serviço de Fomento Mineiro decidiu retirar a sonda que, há 8 anos, se encontrava em trabalho na região de Caminha, com argumentos inconsistentes, como oportunamente assinalamos, em diversos documentos.
Lembramos também que, num desses documentos, chamamos a atenção para o facto de poucas sondagens se terem efectuado, na Região de Caminha e até em todo o Serviço de Fomento Mineiro, com tão sólidos fundamentos, como a que se projectou com o N.º 69.
Conclui-se que a Comissão dita de Direcção do Serviço de Fomento Mineiro, está pouco interessada em obter êxitos.
Prefere que eles sejam preparados pelos sectores sãos do Serviço, para que outros os concretizem, com a maior das facilidades!
Foi o que aconteceu neste caso.
A Companhia americana, investigando as anomalias definidas pelo Serviço, sem necessidade de proceder a quaisquer outros estudos, intersectou, na sondagem que efectuou, à profundidade de cerca de 50 m, um nível de skarn, com espessura superior a 5 m e com um teor médio de WO3 de 1,5%!
A mineralização, muito semelhante à de Valdarcas, consta de pirrotite maciça, com volframite e scheelite. Nalgumas zonas, ocorre, ainda, a calcopirite, em relativa abundância.”


Este resultado, francamente positivo, encorajou Union Carbide a efectuar várias outras sondagens, com as quais definiu reservas justificativas de futura exploração. Requereu e obteve a respectiva concessão, a que deu o nome de Telheiras.
Com estas novas reservas, aproximou-se significativamente do total de 1 milhão de toneladas com o teor médio de 0,8%, disperso por várias parcelas, que considerava necessário para passar à fase de exploração.
Todavia, uma acentuada baixa de cotação do tungsténio, provocada pela China, tornou anti-económica a exploração de numerosas minas, a nível mundial.
Por esse motivo, Union Carbide decidiu abandonar o seu projecto de Covas. (ver posts N.ºs 148 e 149)

Por minha indicação e não porque tal formalidade constasse de contrato com o Estado, Union Carbide entregou vasta documentação, que eu tencionava usar para reprogramar os estudos na Região, tendo em consideração estes novos dados.

Foi, porém, grande a minha surpresa, ao verificar que esta documentação me foi deliberadamente ocultada e que se tinham intrometido nos estudos da Região, como se nada mais houvesse a fazer no SFM, o Engenheiro Reynaud, recém-admitido, com a categoria de Director de Serviço (!) e um Engenheiro de nome Gonzalez, que não cheguei a conhecer, mas que soube ter vindo, por diversas vezes, clandestinamente, retirar testemunhos das sondagens do SFM, sem que eu chegasse a saber o que deles fazia.
Quando, em 2-2-84, me desloquei a Lisboa, convocado pelo Director do SFM, para análise do projecto de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, e este Director não pôde comparecer, por se ter declarado “doente”, enquanto se aguardava o seu restabelecimento, o Engenheiro Reynaud, quis demonstrar os seus talentos, explicando-me novo cálculo de reservas que fizera, para a zona de Telheiras, com o propósito de aperfeiçoar a avaliação feita por Union Carbide, com base nos resultados das sondagens que projectara e fizera executar.

Registo que Telheiras era a zona onde eu projectara a sondagem N.º 69.
Não atribuí, obviamente, qualquer mérito a esta reavaliação, que considerei despropositada e um simples trabalho académico.
Não compreendia que Reynaud tivesse aceite os locais de implantação das sondagens, o exame dos testemunhos, as amostragens e os resultados das análises e só pusesse em dúvida a avaliação das reservas feita por técnicos directamente envolvidos no projecto.
A decisão dos dirigentes de não executar esta sondagem marcou o fim da campanha de sondagens na Região, sob a minha orientação!!!
Lembro que, a este respeito, escrevi no post N.º 156.
Reynaud aproveitou a oportunidade para falar de um relatório, que disse estar a elaborar, sobre as minas de Covas, com base nos dados de Union Carbide!!!!
Propunha-se racionalizar o aproveitamento do jazigo, promovendo a integração das concessões numa única entidade exploradora.

Parecia-me muito estranho que Reynaud nada revelasse sobre actividade própria, não parasitária, que estivesse a desempenhar, em cumprimento dos programas do SFM, sabendo-se quão atrasado se encontrava o estudo de muitas outras áreas do País, com grandes potencialidades para a ocorrência de minérios vários, e estivesse a intrometer-se no projecto de Caminha, sem nunca lá ter efectuado qualquer trabalho e sem ter demonstrado sequer ter percebido o significado dos resultados das técnicas que lá se aplicavam.
Tomava a sua exposição como um exercício académico, procurando a aprovação do professor.
Nesta atitude, comentei que o seu conhecimento era muito incompleto, que não bastaria usar documentos de outros, que era necessário um conhecimento mais real, que só a presença nas minas, no terreno, facultaria.
Além disso, não era de técnico com a sua formação e mantendo a sua residência no Sul, que o projecto de Caminha estava necessitado. Até Daniel percebera ser no domínio da geologia estrutural que maior carência se notava, apesar dos progressos conseguidos pelos cerca de 20 Geólogos que haviam passado pela Union Carbide.

A deslocação da sonda, para a região de Mogadouro, redundou num dos maiores “fiascos” registados no SFM.
O Director-Geral de Minas, Soares Carneiro, que tinha passado 20 anos no Norte, principalmente em serviços de fiscalização de minas de estanho e volfrâmio, afinal ignorava a propriedade da scheelite, de se tornar fluorescente, quando sobre ela incide radiação de determinado comprimento de onda.
Ao aperceber-se de que eu vinha obtendo êxitos, ao fazer uso desta propriedade, no conjunto de técnicas visando a descoberta de novas ocorrências tungstíferas na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, aplicando um velho “mineralight” que trouxera do Alentejo, logo pensou que também ele poderia chegar às grandes descobertas, se tirasse partido dessa propriedade.
A scheelite não se distingue facilmente, à simples observação visual, de um conjunto de minerais estéreis, entre os quais pode ocorrer disseminada.

Uma campanha de prospecção apoiada simplesmente no uso de um “mineralight”, sem necessidade de aplicação de outras técnicas mais sofisticadas, poderia conduzir a espectaculares descobertas, as “Torres dos Clérigos”, como gostava de as designar, em reuniões da Comissão de Fomento. (Ver post N.º 56)
Nestas reuniões, estava sempre presente o Director do SFM, Múrias de Queiroz, que apoiava, sem discussão, todas as decisões de Soares Carneiro.
Tão confiante se mostrara no êxito da campanha, que não hesitou, em destacar, para sua execução, 10 funcionários da sede do SFM, aos quais adicionaria trabalhadores localmente recrutados.
Da Ordem de Serviço N.º 18/75 (Ver post N.º 106), constam os seguintes, que constituíam o denominado “Grupo de Trabalho do Tungsténio”:
Três Geólogos (Santos Oliveira, Francisco Viegas e Farinha Ramos), um prospector, um auxiliar de prospecção, um ajudante de preparador, um ajudante de Laboratório, dois motoristas, um jornaleiro, diverso pessoal eventual a contratar nos locais de trabalho.
É elucidativa o confronto com o núcleo sediado em Caminha, constituído apenas por 4 a 5 funcionários, actuando sob a minha direcção e com a minha participação, os quais tinham sido admitidos nos locais de trabalho, apenas com a instrução primária e tinham adquirido, por meu intermédio, preparação nas técnicas que estavam a ser aplicadas.
À acção deste núcleo se ficou devendo a continuidade da exploração nas Minas de Valdarcas, Fervença e Cerdeirinha e a introdução de Union Carbide na Região.
O denominado “Grupo de Trabalho do Tungsténio” actuou, durante anos, sob a orientação do Director-Geral, em áreas de Mogadouro, Tarouca, Freixo de Numão e Lagoaça.

Foi em Cravezes, na região de Mogadouro, que declarou ter descoberto “ um muito promissor jazigo”, a exigir imediata investigação por sondagens, assumindo estas, tal prioridade, que se justificaria, para as efectuar, retirar a sonda que se encontrava a cumprir campanha na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha - Ponte de Lima.
Isto acontecia, quando estava projectado o furo N.º 69, que tinha óptimo apoio geológico, geofísico e geoquímico, como realcei anteriormente!
Esta descoberta de Cravezes começou por ser apresentada como um grande sucesso dos “scheeliteiros”, mas a realidade acabou por surgir, com toda a crueza. Os teores de WO3, quer em trabalhos à superfície, quer nas sondagens, eram insignificantes, muito longe de permitirem exploração remuneradora.
Não se estava, de facto, em presença de”jazigo”, mas de simples ocorrência de scheelite em rochas classificadas como calco-silicatadas, que deveria ter sido objecto de cuidadosa análise, por estudos de geologia estrutural, geofísicos e geoquímicos, a fim de serem seleccionados alvos realmente dignos de investigação por sondagens.

Os “sheeeliteiros” pretenderam despertar o interesse da Companhia americana Union Carbide que actuava na Região de Covas.
Todavia, o dirigente desta Companhia, Bobby Glenn Cahoon, falando comigo, a este respeito, comentou que o propagandeado minério de Cravezes tinha teor de WO3 inferior ao do estéril da lavaria que funcionava na Mina de Valdarcas.
Procurou também despertar o interesse da Companhia Billinton, que então se encontrava no País a realizar trabalhos de prospecção, em outras áreas.

Conforme revelei no post Nº 114, o scheeliteiro Luís Viegas, quando se propunha fazer a apresentação da Mina à Billinton, não foi capaz de informar a localização dos furos de sonda que tinham sido efectuados, limitando-se a dizer que se situavam junto a umas oliveiras, que eram as árvores que mais abundavam na região.
Também não pôde mostrar os logs das sondagens, por não terem sido feitos. Não soube indicar onde se encontravam os respectivos testemunhos.
E não existiam relatórios finais dos estudos que realizaram!!!
E eram estes “sábios prospectores” que se propunham tomar conta dos estudos na Região de Vila Nova de Cerveira – Ponte de Lima!! (ver post N.º 114)

É oportuno registar que todas as sondagens efectuadas na Região de Vila Nova de Cerveira - Caninha - Ponte de Lima se encontram pormenorizadas descritas em logs, dos quais consta, para cada uma:
a) No rosto
Coordenadas do furo, no sistema Hayford-Gauss, em relação ao Ponto Central, aproximadas ao centímetro, calculadas através de levantamento topográfico propositadamente efectuado; altitude da origem; direcção inicial; pendor inicial; sonda utilizada; data do início; data da conclusão; diâmetros dos testemunhos; legenda das formações atravessadas; principais resultados.
b) Ao longo de várias colunas do log, à escala de 1:100:
Percentagem de testemunhos; distâncias à origem; orientação do furo (rumo e pendor ao longo do furo); formações atravessadas (representação colorida e descrição pormenorizada); densidades; susceptibilidades magnéticas; análises químicas (WO3, Au e Ag); observações.
Estes logs e perfis geológicos passando pelas sondagens constituem as peças desenhadas N.ºs 146 a 246 do “Relatório circunstanciado”. (ver post N.º 158)

Continua …

domingo, 4 de dezembro de 2011

189 - Um novo Plano Mineiro Nacional. Continuação 13

Continuo a comentar documento, com o qual José Goinhas pretendeu contribuir para a elaboração de um novo Plano Mineiro Nacional, destinado a "aumentar a eficácia da nossa indústria mineira, que apresentava preocupante decadência".
Esperava-se que, neste documento, intitulado Prospecção Mineira em Portugal. Áreas potenciais de aplicação de projectos”, tivesse sido feita análise criteriosa da história da indústria mineira nacional, sobretudo desde que o Estado assumiu, em 1939, papel preponderante no inventário e no racional aproveitamento dos nossos recursos minerais.
Esperava-se, também, que Goinhas tivesse extraído ensinamentos, para que a sua contribuição resultasse útil.
Terá, porém, grande desilusão quem verdadeiramente interessado em conhecer a história da prospecção mineira em Portugal, se disponha a consultar este documento.
Já denunciei, nos 10 posts anteriores, muitos dos clamorosos erros de que enferma, não obstante quase só me ter concentrado em temas em que estive directamente envolvido, no desempenho das minhas funções no SFM.
Continuando na minha apreciação, vou denunciar mais algumas graves deficiências.

Goinhas ocupa 45 páginas, isto é, 50% do documento, com mapas e quadros onde repete dados pouco relevantes, reservando limitadíssimo espaço para a informação sobre resultados de estudos, quer do SFM, quer das empresas privadas.
Além disso, esta reduzida informação nem crédito merece, como revelei no post anterior. É expressivo exemplo o facto de estudos bem sucedidos, conduzidos sob a minha supervisão, ou não serem referidos ou serem mencionados de modo muito impreciso.
Mapas plurianuais, com criteriosa selecção da informação útil, cobrindo todo o quinquénio, em vez de mapas anuais, teriam sido muito mais elucidativos.
Os dados contidos nos quadros teriam sido, vantajosamente substituídos por descrições, no texto, concretas e objectivas, embora sucintas, relativamente a cada uma das áreas, onde incidiram estudos, quer do SFM, quer das empresas.
Para se ajuizar da qualidade da informação prestada, pretensamente representativa da prospecção mineira em Portugal, bastará referir, por exemplo, que mencionou, como actividade digna de realce, a abertura de roços para colheita de amostras, em filão aurífero ocorrente na Mina de Latadas (Mirandela) e em aluviões de Arganil.
Para o ridículo ser completo, só ficou faltando que citasse quantos roços foram abertos, qual a sua profundidade e largura, quais os equipamentos utilizados e informasse se a amostragem tinha sido feita por pessoal especializado, para não se incorrer no erro denunciado pelo Geólogo Farinha Ramos, em artigo publicado em Revista da Universidade de Coimbra, a propósito do “denominado” jazigo de Cravezes, em Mogadouro (Ver post N.º 56).
Não referiu resultados de análises e sua implicação na explorabilidade dos jazigos, mas considerou essencial informar que o Laboratório ainda não tinha emitido os respectivos boletins.
Inacreditável é que, tendo estes roços merecido honras de referência, nada tenha sido mencionado sobre mais de cem mil amostras de sedimentos de linhas de água, colhidas, por vezes, em difíceis circunstâncias, na Faixa Metalífera da Beira Litoral (Ver post N.º 29), nem sobre as análises geoquímicas expeditas, efectuadas no Laboratório do SFM instalado em Beja.
Goinhas também ignorou “deliberadamente”, pois foi assunto muito badalado, o criminoso acto do Geólogo Santos Oliveira, quando ocupou o cargo de Director do Laboratório do SFM em S. Mamede de Infesta, ao mandar destruir estas valiosas amostras (muitos milhares de contos, na moeda da época), que tinham sido arquivadas para serem objecto de futuras análises, mais completas, quando o Laboratório de S. Mamede de Infesta passasse a ter rendimento compatível com a suas reais possibilidades.
É digno de registo que tão indigno acto, a adicionar a outros pouco edificantes, não impediu promoção de Santos Oliveira à categoria de Investigador Coordenador!!

Da descrição das actividades no quinquénio deveria, obviamente, constar esclarecimento justificativo do seu generalizado insucesso, em contraste com que acontecera anteriormente, no SFM e nas empresas que conseguiram apropriar-se de áreas valorizadas pelo SFM.
Excluem-se, obviamente, os continuados sucessos, em Neves-Corvo, resultantes de estudos do SFM, anteriores ao quinquénio.

Retomando as fases da prospecção mineira, registo que, da escassa informação contida nos excessivos quadros, e de factos que tive oportunidade de observar directamente, não deduzo que tenha sido respeitado o velho princípio de “aplicar sempre, em primeiro lugar, a técnica menos dispendiosa”.
Não vejo alusões a pequenos trabalhos mineiros, sobretudo sanjas, para investigação de anomalias geofísicas e geoquímicas, interpretáveis como tendo origem superficial.
Noto que, em geral, terá sido dispensada esta fase de simples execução e se terá passado de imediato, à investigação por sondagens, muito mais onerosas e até menos informativas.
E o que aconteceu, nesta fase das sondagens, foi verdadeiramente escandaloso e até criminoso.
No próximo post citarei casos comprovativos desta afirmação.

Continua …

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

188 - Um novo Plano Mineiro Nacional. Continuação 12

Prossigo a análise de artigo de José Goinhas, produzido com a intenção de contribuir para um novo Plano Mineiro Nacional.
Conforme acentuei, tal Plano não chegou a ser apresentado. Caiu no esquecimento, porque, afinal, era desnecessário.
Planos eram, de facto, anualmente submetidos a aprovação do Governo, no âmbito da política de fomento mineiro instituída pelo Decreto-lei N.º 29725 de Agosto de 1939 e tinha sido em seu cumprimento que se registaram notáveis sucessos na nossa indústria mineira.
O declínio, que se tornou mais patente, a partir de meados da década de 70, resultou, não da falta de planos, mas da incapacidade, que passou a verificar-se, de os executar cabalmente, devido à grande indisciplina originada pelo mau uso das liberdades conquistadas pela Revolução de Abril de 1974.
É verdade do Senhor de La Palice que, em qualquer actividade, são essenciais competência e diligência, para se obterem os resultados pretendidos.
E o que aconteceu, na Direcção-Geral de Minas, particularmente no Serviço de Fomento Mineiro (SFM), durante o mandato de Soares Carneiro, a partir de determinada data, e depois, persistentemente, no mandato de Alcides Pereira, foi o total desrespeito por estes elementares preceitos.
O documento de Goinhas, com o ambicioso título de “Prospecção Mineira em Portugal. Áreas potenciais de aplicação de projectos”, publicado no Boletim de Minas, é um expressivo exemplo da incompetência e da falta de diligência que passaram a dominar, sobretudo no SFM.
Pode considerar-se, também, uma amostra representativa da preferência pela filiação partidária, no recrutamento e na promoção de funcionários (os denominados “boys”), que passou a adoptar-se, na generalidade dos Organismos públicos, secundarizando e até hostilizando a competência profissional.
A grave crise por que estamos a passar, actualmente, na qual acabam por “pagar os justos, pelos pecadores”, tem aí as suas raízes profundas.
Nos 9 posts anteriores (N.ºs 179 a 187), assinalei já muitos dos erros, de que enferma este documento da autoria de Goinhas.
Não posso deixar de manifestar, mais uma vez, a minha surpresa por Goinhas pouco ter aprendido, durante as reuniões em que participou, sob a minha presidência, na 1-ª Brigada de Prospecção, na qual esteve integrado.
Essas reuniões eram verdadeiras lições, que eu prodigalizava a Geólogos e a Engenheiros de Minas, com nula preparação em prospecção mineira, quando ingressaram no SFM.
Nelas, eu procurava transmitir a experiência de 20 anos, que já contava, no exercício efectivo e diversificado da profissão.
Se Goinhas tivesse estado atento, teria evitado apresentar, sob a forma de mapas eivados de erros de nomenclatura e muito pouco elucidativos, as actividades dos “serviços oficiais” e das empresas privadas, no quinquénio de 1980-1984, considerado representativo da prospecção mineira em Portugal.
Confunde tipos da prospecção com as suas fases! Prospecção regional e prospecção específica são tipos de prospecção; não são fases, como Goinhas regista.
Apenas o SFM fez, nalguns casos, prospecção regional, isto é, investigações com a finalidade de descobrir as substâncias minerais ocorrentes em determinada região, susceptíveis de exploração lucrativa, independentemente da sua natureza.
Na maior parte dos casos, porém, o SFM praticava prospecção específica, orientada para a descoberta de concentrações de um determinado minério ou de uma classe de minérios bem definida.
Em conformidade com a lei vigente, as empresas privadas só poderiam efectuar prospecção específica, uma vez que nas concessões que lhes viessem a ser outorgadas deveria constar a natureza dos minérios que estariam autorizadas a explorar.
Se outros minérios viessem a encontrar, só poderiam explorá-los, após autorização que teriam de requerer.
Esclareço que Goinhas, quando beneficiou de bolsa de estudo, para aperfeiçoar a sua preparação profissional, nos EUA, manteve comigo correspondência – de que conservo cópias – para bem desempenhar a sua missão.
Do que consta nessa correspondência, destaco informações que prestei, a seu pedido, sobre a legislação mineira portuguesa. Goinhas demonstrou ter esquecido estas informações !
As fases da prospecção são caracterizadas pelos meios utilizados, seguindo o velho princípio “Always send the cheapest man first”.
Sendo a prospecção mineira, actividade de altíssimo risco, há que projectar os trabalhos, criteriosamente, evitando dispêndios injustificados, sobretudo quando estão em causa dinheiros públicos.
Da análise dos 5 quadros e dos 5 mapas (um quadro e um mapa para cada ano, de 1980 até 1984!), não se conclui que isto tenha sido respeitado, nem pelos denominados “serviços oficiais”, nem sequer pelas empresas privadas.
A informação contida em tão excessivo número de quadros e mapas é vaga e carece de credibilidade.
Pouco mais ficou a saber-se além de terem sido realizados trabalhos pelos “serviços oficiais” e pelas empresas privadas, em numerosas áreas do País.
Poderia até inferir-se, extrapolando para os 45 anos já decorridos, desde que o Estado chamou a si a responsabilidade de promover o inventário da riqueza mineira nacional, que os resultados de todos os trabalhos de prospecção mineira foram praticamente nulos.
Porém a actividade no quinquénio de 1980-84, não foi, de modo algum, representativa da prospecção mineira em Portugal, mas sim do seu acelerado declínio.
Já referi, em posts anteriores, os notabilíssimos sucessos obtidos em áreas do Sul do País, sobretudo na Faixa Piritosa Sul-Alentejana, em resultado de estudos conduzidos sob minha orientação e com a minha activa participação.
Mas não foi apenas no Sul do País que se obtiveram importantes êxitos. Também nas regiões do Norte e do Centro eles aconteceram.
Goinhas nem se deu ao trabalho de consultar os meus relatórios sobre os estudos que dirigi, na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima e na Faixa Metalífera da Beira Litoral.
Também não tinha lido a comunicação que apresentei ao CHILAGE, sobre êxitos da aplicação do método magnético nesta Região. Nem sequer a citara, na sua extensa lista bibliográfica!
Goinhas sabia, porém, que o Director-Geral Alcides Pereira atribuíra tal importância aos resultados que eu vinha obtendo, na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, que deles quis apropriar-se, com o falacioso argumento de se tornar necessário reprogramar os estudos ali em curso.
Ordenara, então que eu apresentasse um “Relatório circunstanciado” desses estudos.
Esta apropriação, que se consumou, sem me ter sido consentido terminar o texto, mas já com as 246 peças desenhadas concluídas, visava, sem dúvida, compensar os insucessos em áreas que estavam a ser investigadas por técnicos inexperientes, aos quais era inútil fazer idênticas exigências.
Apoiando-se nos dados que apresentei, outros técnicos (Geólogo Francisco Viegas, na qualidade de Chefe de Divisão e Engenheiro Laurentino Rodrigues, colocado na sua dependência hierárquica) foram encarregados de dar sequência aos estudos na Região, sendo eu deles desligado.
Impreparados, esses técnicos, com pressa em obter resultados, logo passaram à fase de sondagens, com base em anomalias geofísicas, que interpretaram erradamente.
Não conseguindo explorar a enorme soma de dados dos trabalhos realizados sob a minha direcção, extinguiram o núcleo que tinha sede em Caminha, defraudando as expectativas de Alcides Pereira.
Houve, porém quem se mostrasse muito interessado na utilização desses dados.
Foi o caso de um professor do departamento de Geologia da Faculdade de Ciências do Porto, que tendo conseguido, por meu intermédio, acesso às 246 peças desenhadas do Relatório, que lhe foram facultadas (não foi facultado o texto!), fez cópia de todas elas, para proceder a novas investigações na mesma Região.
Tive, há poucos dias, conhecimento de que também docente da Universidade do Minho, que está preparando tese de doutoramento, sobre geologia e mineralizações na Região, teve acesso a essas peças desenhadas e as considerou com tal interesse que resolveu fazer a sua digitalização, para fácil consulta.
E no que respeita à Faixa Metalífera da Beira Litoral, Goinhas não só se dispensou de consultar os denominados “relatórios internos” (mensais e anuais) de minha autoria, como ignorou o meu relatório intitulado “Região de Braçal – Talhadas. Sua potencialidade mineira”., que não mencionou na sua longa lista bibliográfica.
Também não fez referência à palestra que proferi, na Universidade de Aveiro, num “Seminário Internacional de Geoquímica”, com o título “Casos de prospecção mineira integrada”, a convite do Professor Edmundo Fonseca, a qual mereceu elogios de cientistas estrangeiros que também tinham sido palestrantes. (Ver post N.º 117)
É digna de registo a surpresa destes cientistas, por não terem sido investigadas por sondagens, algumas zonas onde se haviam registado significativos alinhamentos de anomalias, sobretudo pela aplicação do método geoquímico.
Nestes casos, incluíam-se as anomalias geoquímicas de chumbo, no Cabeço do Telégrafo, próximo das antigas Minas do Braçal, definindo claramente, na extensão de mais de 1 km, jazigo com provável interesse económico.
A surpresa destes indivíduos aumentou quando informei que o Director-Geral não aprovou projecto de sondagens por mim apresentado, há alguns anos, com o argumento de que filões não têm interesse, para exploração. Em sua opinião, só massas estratificadas como as da Faixa Piritosa Sul - Alentejana, deviam merecer investigação!!

Continua …

terça-feira, 22 de novembro de 2011

187 – Um novo Plano Mineiro Nacional. Continuação 11

Investigar a história da prospecção mineira em Portugal e, a partir dos seus ensinamentos, aperfeiçoar novos estudos, com vista ao correcto inventário dos nossos recursos minerais e ao racional aproveitamento destes, não é tarefa fácil.

O Geólogo José Goinhas, que já tinha evidenciado carácter desleal, no desempenho de funções, no âmbito da prospecção mineira, em sectores muito limitados do SFM (Ver post N.º 88), não era, obviamente, pessoa de quem pudesse esperar-se honestidade e capacidade para tão exigente tarefa.

Na vaga de assaltos a cargos de chefia, criados pelo Decreto-lei N.º 548/77, conseguira conquistar a posição de Director de Serviço e vira confirmada essa categoria, por despacho do Ministro da Indústria e da Energia de 26-1-1981, publicado no Diário da República de 1-4-1981.

À semelhança do que acontecera com outros assaltantes, a Goinhas também não correspondiam funções justificativas da sua nova categoria.

Constou ter-lhe sido atribuída, “clandestinamente” a Prospecção Mineira.
“Clandestinamente”, porque não foi divulgada a respectiva Ordem e porque eu não fui convidado a transmitir-lhe o departamento de Prospecção, que continuei a dirigir, cabendo-me, todavia, apenas a categoria de Assessor!!!

Talvez essa simbólica atribuição tenha motivado a incumbência de historiar a prospecção!

É certo que Jorge Gouveia, na sua nova e efémera passagem pelo SFM, agora na qualidade de seu dirigente máximo, a que surpreendentemente lograra alcandorar-se, chegou a fazer-me a afronta de despachar para Goinhas, documento em que o perverso Viegas, solicitava que pessoal da Secção de Talhadas, de mim dependente e que havia sido por mim preparado, fosse executar trabalhos para os quais não se sentia competente.

Viegas, no tsunami de assaltos, tinha conseguido o cargo de Chefe de Divisão, e já se havia apropriado da Secção fantasma de Coimbra, da qual se não conhecia actividade útil.
De facto, tinham já sido dados por terminados os trabalhos na antiga Mina de Barbadalhos, que tinham sido apresentados como justificativos da criação dessa Secção. (Ver post N.º 103).
Goinhas teve a ousadia de despachar favoravelmente a pretensão de Viegas!!!

É oportuno lembrar que Gouveia, quando exercia funções em Moçambique, tendo ficado impressionado com a Comunicação que eu apresentara, em 1965, naquela província ultramarina, sobre notáveis êxitos de várias técnicas de prospecção mineira, nas regiões de Portel e de Barrancos, se deslocara, propositadamente, à Metrópole, para me pedir auxílio na preparação de estágios de funcionários dos Serviços de Geologia e Minas de Moçambique, nas técnicas de prospecção que eu tinha introduzido no SFM. (Ver posts N.º 20 e N.º44)

Em ocasião, em que eu manifestava a Gouveia a minha profunda decepção pelo inconcebível comportamento que passou a adoptar para comigo, na qualidade de meu superior hierárquico, a justificação que apresentou foi apenas a seguinte: “Rocha Gomes, teve que ser assim!!!!
E disse mais: Goinhas estava indigitado para o cargo de Director-Geral, que se encontrava vago, devido à exoneração de Soares Carneiro!!!

Mas Goinhas não teve coragem de assinar o seu documento na qualidade de Director do Serviço de Prospecção.
Surpreendeu-me que o tivesse assinado com a categoria de Assessor.

Ao aceitar o encargo de historiador e conselheiro, demonstrou bom conhecimento do ambiente que dominava a DGGM, propício à irresponsabilidade e à desonestidade.
Não se preocupou em analisar com seriedade os temas de que se ocupou.
Tal atitude seria desnecessária e até poderia conduzir à divulgação de factos desprestigiantes sobretudo para o Director-Geral de Minas.

Em posts anteriores, já revelei algumas deficiências do documento.

Vou prosseguir na minha análise, sem pretender esgotar o manancial de erros, omissões e deturpações que contém.

Regressando à fase de aplicação de métodos geofísicos e geoquímicos, ocorrem-me ainda os seguintes comentários:

a) Sendo o objectivo historiar a prospecção mineira, seria natural que tivesse realçado a persistente luta que eu tive que travar, para que os “serviços oficiais” se encarregassem de aplicar os métodos geofísicos e geoquímicos, directamente, evitando o oneroso recurso a empresas especializadas estrangeiras.

Não é referido, por exemplo, que um Director do SFM que se manteve no cargo durante 15 anos, considerava injustificada a aquisição de um gravímetro, pois, em sua opinião, exigiria elevado dispêndio e não teria utilidade fora da Faixa Piritosa, além de não julgar fácil dominar esta nova técnica.
Quando finalmente, ao fim de 10 anos, se conseguiu começar a aplicar a gravimetria, a atitude modificou-se e o Director passou a considerar isso banal!
Confirmou-se, mais uma vez, que “Santos da casa não fazem milagres”.

É só quase a terminar o seu documento, que Goinhas apresenta quadro informativo dos equipamentos de prospecção adquiridos pelos “serviços oficiais”.

Tinha inserido, anteriormente, mapas das áreas do País, onde até à data do documento, - abrangendo, portanto um período muito mais amplo que o do quinquénio 1980-84 - tinham sido usados alguns desses equipamentos.
Não estabeleceu, porém, a correlação entre essa aplicação e os notabilíssimos êxitos alcançados pelo SFM.

Conforme já tive oportunidade de acentuar, Goinhas assumiu a incrível atitude de aceitar e até elogiar a usurpação, por empresas privadas, dos grandes sucessos do SFM, na Faixa Piritosa Sul-Alentejana.

Só encontro explicação, para tão indecorosa atitude, na dificuldade em conciliar a verdade dos factos com as afirmações contidas em documento, que subscreveu, reclamando a punição do principal responsável por esses êxitos.

Mas Goinhas não se contentou com a desvalorização da actividade do SFM na Faixa Piritosa.

Ignorou completamente a aplicação intensiva do método electromagnético Turam, em todas as Secções da Brigada do Sul do SFM (Montemor-o-Novo, Évora, Moura e Barrancos, Cercal - Odemira e Castro Verde – Almodôvar), na década de 50 do passado século, com resultados de muito interesse, sendo de realçar a espectacular definição do sistema filoniano de Aparis, em Barrancos.

Também optou por ignorar o extraordinário sucesso obtido pela aplicação de várias técnicas geofísicas e geoquímicas, na região de Portel, em área que abrange a antiga Mina de Algares.

Informação detalhada sobre estes e outros sucessos, como os dos jazigos de minérios de ferro de Moncorvo, Alagada (Elvas) e de Vale de Pães (Cuba-Vidigueira), encontraria nos chamados “relatórios internos”.

E relativamente aos casos de Algares de Portel e de Aparis, até encontraria ampla informação, em publicação da “Sociedade de Estudos” de Moçambique, pois este Organismo oficial publicou a comunicação que lá apresentei, quando fui encarregado de representar a Metrópole nas Jornadas de Engenharia que lá se realizaram em 1965.

b) Não realça, a fundamental importância da preparação académica dos engenheiros de minas e dos geólogos, nas técnicas da prospecção mineira (geológicas, geofísicas e geoquímicas) para o bom desempenho das tarefas de investigação neste domínio que lhes viriam a ser confiadas.

Não reconhece, portanto, a atitude louvável do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências do Porto, ao decidir, em 1970, colmatar a grave lacuna que existia, nesse âmbito, na preparação dos seus alunos, futuros geólogos.

Foi esse departamento que, por reconhecer a minha experiência em prospecção mineira, teve a iniciativa de me convidar, para o ensino teórico e prático da cadeira de Prospecção Mineira, que passou a fazer parte do curso de Geologia.

Não reconhece, também, o mérito do Departamento de Engenharia de Minas da Universidade do Porto, ao assumir idêntica atitude, nem o mérito da Universidade de Aveiro ao instituir o Curso de Engenheiros-Geólogos.

Não menciona, portanto, a colaboração de professores e alunos destas Universidades nos trabalhos do SFM.

Nem, obviamente, ousaria denunciar a flagrante contradição entre promessas de colaboração com as Universidades, que o Director-Geral de Minas, Alcides Pereira, fez publicamente e os obstáculos que, na realidade, criou para dificultar o ensino que nelas se praticava. (Ver post N.º 160)

c) Revela completa ignorância sobre a instituição do “Agrupamento Português de Prospecção Geofísica”, no qual participaram Organismos do Estado, onde se aplicavam métodos geofísicos, relacionados ou não com actividades mineiras.

Foi, através de reuniões deste Agrupamento, realizadas principalmente no LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil) que se tomou conhecimento da existência de cartas magnéticas e gravimétricas, à escala de 1:500 000, cobrindo todo o território metropolitano nacional, elaboradas pelos Serviços de Meteorologia e Geofísica e pelo Instituto Geográfico e Cadastral, as quais embora não tenham tido objectivos mineiros, forneciam guias não despiciendos para a selecção de áreas a prospectar prioritariamente.

d) Não refere a oferta de colaboração da OCDE, no uso de “Métodos modernos de prospecção” e a incapacidade de aproveitar esta oferta, dando sequência a um projecto de prospecção aérea que lhe foi apresentado e que merecera o melhor acolhimento. (Ver post N.º 22)

e) No seu longo texto e na sua extensa lista de livros, artigos de revistas, relatórios “internos”, que disse ter consultado, nem uma palavra consta acerca da aplicação de técnicas geofísicas ou geoquímicas à prospecção de petróleos.

É, de facto, mais uma grave lacuna, pois se trata de matérias-primas minerais, que apenas têm a peculiaridade de serem líquidas e não constituem excepção, pois também o mercúrio nativo é líquido.
Desnecessário é acentuar a importância que a prospecção de petróleo tem tido no País, desde recuados tempos.
A Revista “Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro” contém artigos muito desenvolvidos sobre a história desta prospecção, que Goinhas poderia e deveria ter consultado.
Contém, além disso, nos relatórios anuais, quando eles ainda eram publicados, detalhada informação sobre o acompanhamento que o SFM fazia dos trabalhos que Empresas privadas realizavam, por contrato com o Estado.
Dentre os trabalhos por técnicas geofísicas, destaca-se a aplicação dos métodos sísmico e gravimétrico, cujos resultados revelam também a existência de outros minérios, de que é exemplo o grande jazigo de sal-gema de Loulé.

f) Na sua análise, não inclui os recursos aquíferos do sub-solo nacional.

É certo que a prospecção destes recursos nunca fez parte dos programas do SFM.

Mas é também certo que, em 12-1-75, aproveitando oportunidade, que me foi dada, de apresentar sugestões para a reestruturação do Organismo encarregado de proceder ao inventário dos recursos minerais do País, propus a criação de um “Instituto Geológico e Mineiro”, cujo campo de acção abrangesse todas as substâncias minerais, nelas se incluindo os minerais metálicos e não metálicos, rochas, águas subterrâneas mineralizadas ou não, petróleos e gases naturais, situados nas áreas emersa e imersa do domínio nacional. (Ver post N.º 78)

A razão de ser desta proposta era o facto de, em todos os locais do Alentejo, onde o SFM efectuara trabalhos de prospecção por métodos eléctricos e electromagnéticos, terem sido detectadas indicações da presença de água, a escassa profundidade, a qual se tornara boa condutora da electricidade, devido aos sais contidos em solução.
Para este assunto, chamei a atenção, por cartas de Março de 2002, ao Presidente da Comissão Regional do Alentejo e ao Presidente do Instituto Geológico e Mineiro, quando ia ser realizado, em Évora um Congresso dedicado às águas subterrâneas. Não obtive qualquer resposta

Por outro lado, em trabalhos mineiros (sanjas, galerias, poços), cuja execução planeei e dirigi, no Alentejo, a presença de água foi uma constante, chegando a impedir, pelos seus elevados caudais, o prosseguimento dos estudos e até tornando impeditiva a exploração de um jazigo.
Foi o caso das Minas da Serra da Preguiça, em Moura, onde o SFM teve que suspender a sua actividade, por não dispor de equipamentos para vencer os caudais encontrados e, onde posteriormente a Compagnie Royale Asturienne des Mines (CRAM) teve que tomar idêntica atitude, apesar de ter usado meios muito mais poderosos.

Esta Companhia chegou a apresentar proposta de colaboração à Junta de Colonização Interna, para aproveitamento de tamanha riqueza, que para ela constituía óbice à futura exploração das reservas evidenciadas. Não obteve qualquer resposta, segundo me informou o Geólogo Michel Ansart da CRAM e esta Companhia não teve alternativa senão abandonar a Região, onde havia realizado trabalhos de elevada qualidade. (Ver post N.º 4)

A água, em zonas dela carecida, como era o Alentejo, antes da construção das grandes barragens, além de ser um valioso sub-produto da prospecção de outras substâncias, poderia e deveria ser objecto de investigação directa, por essas mesmas técnicas.

Continua …

terça-feira, 25 de outubro de 2011

67 A – Carta aberta ao Senhor Ministro da Economia, em 25-10-2011

Senhor Ministro da Economia

Acerca da notícia divulgada por diversos meios de comunicação social, relativamente à exploração do jazigo ferrífero de Moncorvo, tomo a liberdade de sugerir a V. Ex.ª a consulta do post N.º 67 do blog vivenciasmineiras.blogspot.com que iniciei em Agosto de 2008.

Acreditando que, desta vez, a exploração vai, de facto, arrancar, a sério, ouso perguntar se estão previstas instalações metalúrgicas, no País com dimensão adequada às reservas do jazigo (reveladas e a revelar) ou se vamos continuar a comportar-nos como País terceiro-mundista, que exporta minério, a preço baixo, e importa produtos dele derivados, a preços elevados.

Se foi possível instalar a siderurgia do Seixal e se esteve prevista a sua amplificação e até a instalação de dois novos altos-fornos, em Sines, o País espera que se siga o exemplo da iniciativa de Champalimaud, pois será, através do racional aproveitamento dos nossos recursos, que poderemos sair da crise que tanto nos afecta.

Lembro que este objectivo constou de diversos diplomas legais, de que são exemplos a Lei de Minas de 1930 e o Decreto-lei de criação do Serviço de Fomento Mineiro, com data de 1939.

Apresento a V. Ex.ª os meus cumprimentos

terça-feira, 27 de setembro de 2011

186 – O novo Plano Mineiro Nacional. Continuação 10, com reflexões sobre Neves – Corvo.

Para a elaboração de um “Plano Mineiro Nacional”, que o IX Governo Constitucional mandou apresentar, em 1984, a fim de serem resolvidos graves problemas, com que se debatia a nossa indústria mineira, foram nomeadas Comissões compostas por personalidades supostamente idóneas para tal missão.

Foram entregues 22 monografias sobre as substâncias minerais e sobre os grandes projectos mineiros e um estudo intitulado “perfil da indústria extractiva”.

O Secretário de Estado da Indústria e Energia elogiou os autores e até se mostrou agradecido (!), apesar de o Plano não ter sido concluído, durante a vigência do Governo em que participava.
Considerou que tudo tinha sido feito para que o Plano surgisse durante a vigência do Governo seguinte, o que, de facto, não viria a acontecer, pois foi caindo no esquecimento, porque afinal se revelava desnecessário e inoportuno.

Dentre todas as monografias, foi seleccionado para publicação, no Boletim de Minas, o documento subscrito pelo Geólogo José Goinhas, com o título “Prospecção Mineira em Portugal. Áreas potenciais para aplicação de projectos”.

Nos 8 posts anteriores (178 a 185), iniciei a análise deste audacioso documento.
Tive oportunidade de chamar a atenção para alguns dos escandalosos erros que dele constam, referentes a estudos, nos quais tive directa intervenção, durante os 30 anos de actividade em prospecção mineira no SFM, que eu contava, à data desta publicação.

Procurando dar alguma ordem a esse atabalhoado documento, analisei já as fases da prospecção, que precedem a aplicação de técnicas geofísicas e geoquímicas.

Relativamente a esta última fase, analisei no post anterior, com algum pormenor, o caso da descoberta do jazigo de Neves-Corvo, salientando a fundamental importância que nele teve a técnica gravimétrica.

Agora vou estabelecer o confronto dos “meus esforços" nos serviços oficiais (SFM), com os "esforços complementares" (assim classificados por Goinhas) de Xavier Leca, na Associação privada, em que estava integrado.

Analisarei, seguidamente, o que teria acontecido, sem a intervenção desta Associação.

Finalmente, confrontarei o mérito superiormente reconhecido a ambos estes esforços.


1 – Confronto de esforços

1.1 – Os meus esforços no SFM

Foram as seguintes as fases da prospecção cumpridas, com minha supervisão e activa participação:

1.1.1Em 1945-46:

No desempenho das funções de Chefe de uma Brigada instituída em Agosto de 1944, com o objectivo de descobrir novas concentrações de minério, na Faixa Piritosa Sul-Alentejana, propus que fossem efectuadas investigações geológicas, em toda a Faixa, para se localizarem e implantarem, em cartas à escala de 1:50 000, os afloramentos de rochas eruptivas idênticas às que habitualmente acompanham os jazigos de pirite, pois esta fundamental fase da prospecção estava por cumprir.

Tendo a minha proposta merecido bom acolhimento, foi organizada uma Brigada, e foi em resultado da sua actividade que se localizaram as grandes manchas de rochas vulcânicas da Região de Castro Verde – Almodôvar, anteriormente desconhecidas e, portanto, não incluídas na tradicional Faixa Piritosa Sul-Alentejana. (Ver Posts N.º 5 e 8)

1.1.2Em 1947:

Em Novembro de 1947, planeei a investigação da zona de Castro Verde - Panoias.
Eu próprio me encarreguei de iniciar a piquetagem preparatória das observações, que iriam ser feitas, usando o método electromagnético Turam.
Fiz passar o eixo dos xx (base 0) pelos vértices Monte do Serro 1.º e Tosquiado, distantes de 13 km entre si e o eixo dos yy (linha 0) pelo vértice Águia 2.º.

Foram iniciadas as observações, sob a minha supervisão, mas em Janeiro de 1948, fui nomeado Chefe da Brigada do Sul, que se dedicava essencialmente a trabalhos de pesquisa e reconhecimento em minas concedidas ou abandonadas. (Ver post N.º 5 e 6).

Por esse motivo transmiti a Brigada de Prospecção Eléctrica (BPE) ao Engenheiro Fernando Silva, que eu previamente tinha instruído na aplicação do método Turam.
Mantive, todavia, contactos regulares com esta Brigada.

1.1.3 Em 1951 – 1955:

Apesar dos meus frequentes contactos com a BPE, não consegui impedir que o Director do SFM, nomeado após o falecimento do dinâmico Engenheiro António Bernardo Ferreira, ordenasse o termo dos estudos na Faixa Piritosa, antes de terem sido prospectadas todas as zonas, que os levantamentos geológicos, referidos em 1.1.1, tinham revelado com potencialidade para a ocorrência de jazigos de pirite.

Não foi inteiramente prospectada a zona de Castro Verde – Almodôvar e ficaram por estudar as zonas de Alçaria Ruiva e Albernoa, nas quais os levantamentos geológicos tinham evidenciado a presença de rochas vulcânicas.
Ficou também por investigar a Bacia Terciária do Sado, onde o método electromagnético Turam se revelara ineficaz.

O Engenheiro Guimarães dos Santos, na qualidade de Director do SFM, em que fora investido, manifestava constante preocupação de dar por terminados estudos que se encontravam em curso, ainda longe de terem sido exploradas potencialidades, por vezes inicialmente imprevistas, que se iam evidenciando. (Ver post N.º 7)

Após a extinção da BPE, no cumprimento das minhas funções de chefia de uma Brigada de âmbito regional, que tinha a seu cargo a investigação das existências de jazigos minerais, no território metropolitano nacional, a sul do Rio Tejo, passei a incluir nos Planos de Trabalho, que anualmente submetia a apreciação superior, a continuação das investigações na Faixa Piritosa Sul-Alentejana.

Desde 1951, fui sistematicamente chamando a atenção, nesses Planos, quanto a premente necessidade de privilegiar, não só o aperfeiçoamento dos levantamentos geológicos mas também a aplicação de técnicas geofísicas e geoquímicas e sondagens, nas investigações a cargo da Brigada, embora não excluísse e até promovesse grande desenvolvimento dos trabalhos mineiros clássicos (sanjas, galerias, poços).
Com esta atitude, pretendia atingir, mais rapidamente e a menor custo, os objectivos previstos no Decreto-lei de criação do SFM.

Nesses Planos, figuravam novos estudos geológicos na região de Almodôvar.
O Director do SFM encarregou a 2.ª Brigada de Levantamentos Litológicos (2.ªBLL), que era chefiada por um funcionário com a categoria de Geólogo, de proceder à sua realização.
Todavia, os estudos desta 2.ªBLL foram de muito fraca qualidade, nada tendo contribuído para as fases seguintes.
Ocorriam-me palavras do prestigiado Professor Carlos Teixeira:
“Não basta, para ser Geólogo, ter um diploma, seja ele de licenciatura em Ciências Geológicas ou de Engenharia de Minas, ou qualquer outro. Muito menos, basta ter feito exame de umas tantas cadeiras respeitantes às Ciências Geológicas.
É necessário para merecer o nome de Geólogo, possuir não só amplos conhecimentos teóricos, mas também uma longa prática de trabalhos sobre o terreno”.

Procurei colmatar a lacuna, com novos levantamentos, muito mais pormenorizados, sobre base topográfica à escala 1:5 000, sob a directa orientação de dois Engenheiros da Brigada do Sul (eu e o Engenheiro que tinha chefiado a 1.ª BLL).

1.1.4Em 1955:

Em Abril de 1955, apresentei um relatório intitulado “Prospecção de Pirites no Baixo Alentejo”, no qual descrevia a campanha de prospecção pelo método electromagnético Turam, levada a cabo, pelo SFM, no período de 1944-49, na Faixa Piritosa Sul-Alentejana e seus resultados, acrescentando em capítulo final, um programa de trabalhos para dar continuidade aos estudos desta Faixa, que considerava apenas iniciados.

Este relatório, totalmente por mim elaborado, foi publicado no Volume X da Revista do SFM, figurando como co-autor, a meu convite, o Engenheiro Fernando José da Silva, por serem da sua responsabilidade os levantamentos geológicos que conduziram à implantação das manchas de rochas vulcânicas inseridas numa das peças desenhadas e por ter sido ele quem ficou a chefiar a Brigada de Prospecção Eléctrica (BPE), quando eu fui indigitado para chefiar a Brigada do Sul. (BS) (Ver post N.º 11).

No programa de trabalhos, chamei a atenção para a importância da Região de Castro Verde – Almodôvar, nos seguintes termos:

“A área de Almodôvar a investigar não é, senão, a continuação para sudoeste da de Castro Verde - Panoias.
Não há, efectivamente, motivo ponderoso para não prosseguir a prospecção desta zona, antes de se abrangeram, na sua totalidade, as manchas de pórfiros e de se incluírem os filões de cobre que, em grande densidade aqui ocorrem, parecendo constituir uma região cuprífera digna de atenção. A sua litologia foi já sumariamente estudada pelo Serviço, com o objectivo primacial de demarcar as manchas de pórfiros.”

Considerei fundamental que esse programa fosse cumprido por técnicos portugueses que tivessem adquirido a necessária especialização em geologia aplicada e prospecção geofísica e geoquímica, conforme prevê o Decreto-lei de criação do Serviço, só aceitando a intervenção de técnicos estrangeiros, como consultores ou em execução de campanhas de curta duração, principalmente com o propósito de proporcionar instrução a pessoal português.

1.1.5Em 1955 -1962:

Nos Planos de trabalhos da BS que apresentei, durante este período, continuei a dar grande realce à gravimetria.
Não tendo tido sucesso as minhas insistentes propostas para que o SFM desse início à aplicação desta promissora técnica, pensei aproveitar a excelente oportunidade que se me ofereceu, quando a Empresa Lea Cross Geophysical Company que actuava, em 1961, na Mina de S. Domingos, utilizando variadas técnicas, entre as quais a gravimétrica, me solicitou a indicação de um Geólogo ou Engenheiro de Minas para colaborar nos seus trabalhos.

Logo contactei o recém-licenciado em Engenharia de Minas Marques Bengala, que acabara de ser destacado para a Brigada de Prospecção Geofísica (BPG), estimulando-o a ir colaborar com a Lea Cross, aprendendo as técnicas que a Companhia estava a usar.
Apesar de não ter demonstrado o mínimo entusiasmo, não teve coragem para rejeitar a oportunidade rara que eu lhe oferecia de se especializar em técnica de grande futuro (Ver post N.º 14).

De imediato, elaborei proposta, que apresentei ao Chefe da BPG, para que ele, se concordasse, a enviasse ao Director do SFM, como se tivesse sido de sua iniciativa.
O Director do SFM, certamente pensando que a proposta era, de facto, da iniciativa do Chefe da BPG, deu o seu acordo.

O estágio foi iniciado e teve o meu constante apoio.
Nas minhas frequentes deslocações à Secção de Moura e Barrancos, a cujo cargo decorriam na Mina de cobre de Aparis, sob minha supervisão, importantes trabalhos de reconhecimento, fazia o meu regresso a Beja com passagem pela Mina de S. Domingos, para avaliar da evolução deste estágio.

Terminado o estágio, o Director do SFM aceitou, finalmente que fosse adquirido um gravímetro!!
Tinham passado 10 anos sobre a data da minha primeira referência à necessidade de aquisição deste aparelho!!!

Iniciaram-se, então, campanhas de gravimetria, em áreas já seleccionadas para sua aplicação, muitas das quais exteriores à Faixa Piritosa Sul-Alentejana.

Ainda no âmbito da BPG, tive a surpresa de constatar que Marques Bengala tinha tirado insuficiente proveito do seu estágio.
Não sabia fazer nivelamentos geométrico e como também não havia na BPG quem se desembaraçasse nesse simples trabalho de topografia, tive que me encarregar de ensinar pessoal assalariado da BPG a fazer esta operação, essencial para as correcções a introduzir nas leituras feitas no gravímetro.

Como eu tinha identificado uma extensa Faixa, idêntica à Faixa Piritosa, a Norte desta, com ocorrências de sulfuretos sobretudo de zinco, coincidente com a Faixa de magnetites anteriormente conhecida, não resisti a verificar o seu interesse, começando por ela a aplicação da gravimetria.
Foi na Mina de pirite da Herdade da Caieira em Montemor-o-Novo, que mandei fazer a primeira aplicação, para procurar confirmação de intensa anomalia electromagnética que ali se havia registado. Não se obteve essa confirmação. A anomalia electromagnética era originada por xisto negros, carbonosos, com rara pirite disseminada.

1.1.6Em 1963-66:

Numa reorganização que se verificou no SFM, eu fui designado para chefiar um departamento designado por 1.º Serviço, com o encargo de proceder à prospecção do território metropolitano nacional.
Logo passei a desenvolver todas as técnicas geofísicas, dando especial relevo à gravimetria.
Foi adquirido um 2º gravímetro, o que permitiu atacar, simultaneamente, a Faixa Magnetítica e Zincífera e a Faixa Piritosa.
Na primeira, foi feita aplicação na área da antiga Mina de Algares de Portel, obtendo-se um espectacular resultado (Ver post N.º 44).
Também se aplicou nas Minas da Serra da Preguiça em Moura.

Na Faixa Piritosa Sul-Alentejana, além de definir, com muito mais clareza, as anomalias sobre os jazigos de Carrasco – Moinho e Feitais, a ponto de conseguir avaliar, com o seu apoio, as reservas destes jazigos, promovi as descobertas dos jazigos de Estação e Gavião, também em Aljustrel, às quais tenho feito frequentes referências (Ver posts N.º 35 e 36).

1.1.7Em 1966-71:

Em 1965, começaram a aparecer empresas e grupos empresariais a manifestar interesse em fazer investimentos em Portugal, com vista à futura exploração de jazigos minerais.

Embora o SFM se encontrasse já preparado para cumprir os programas de prospecção para que tinha sido criado, o Director-Geral, Fernando Soares Carneiro, então em exercício, acolheu bem este interesse.
Foi para a Faixa Piritosa Sul-Alentejana que se celebraram os principais contratos, por negociação directa com as entidades interessadas.

Em 1966, foi adjudicada a quase totalidade da Faixa. O SFM apenas manteve, para estudos nesta Faixa, uma pequena área envolvente das Minas de Aljustrel, onde tinha em curso campanha de prospecção com aplicação privilegiada da técnica gravimétrica.

Ao grupo empresarial “Mining Explorations (International) (MEI)” foi adjudicada uma vasta parcela de cerca de 4 000 km2, que abrangia a grande mancha de rochas vulcânicas de Castro Verde – Almodôvar (Ver post N.º32)

Na qualidade, em que fui investido, de representante do Estado junto de MEI, tive uma participação muito activa no planeamento dos seus trabalhos, justificado pela minha longa experiência no estudo desta Faixa.
Foi grande a minha insistência para que a Companhia desse preferência à aplicação da técnica gravimétrica, à execução de sondagens com escasso apoio geofísico e desse a devida atenção à região de Castro Verde – Almodôvar, considerando a elevada potencialidade desta região, para a ocorrência de minérios cupríferos.
Cheguei a elaborar um relatório chamando vigorosamente a atenção da Companhia para estas minhas recomendações.
Uma cópia de tal relatório está anexa ao meu relatório do mês de Março de 1968.

Todavia a MEI, pressionada pela escassez de tempo e dos meios que tinha consignado ao estudo de tão vasta área, não deu a devida atenção às minhas recomendações.
Deixou caducar, em 1971, o seu contrato, sem ter conseguido qualquer êxito.
Perdeu, assim, a oportunidade de descobrir Neves – Corvo.

Sobre a importância que sempre atribuí à gravimetria, é bem esclarecedor o que escrevi, em documento de 25 páginas dactilografadas, subordinado ao título “Prospecção de pirites no Baixo Alentejo. Breve história, com especial relevo para a região de Aljustrel. Minha posição neste problema” que, por motivos expostos no meu post N.º 35, enviei, em 1 de Março de 1968, ao Director-Geral de Minas.

Dele destaco as seguintes afirmações:
“No plano para 1952, apresentado em 8-6-1951, escrevemos, a página 6, a propósito da Bacia Terciária do Sado”:
Prováveis campanhas de prospecção sísmica e gravimétrica executadas separadamente ou em conjunto, com vista à detecção de massas de pirite”

“Nos planos de trabalho posteriores a 1955, em relatórios anuais e em informações, continuamos a insistir na necessidade da prospecção gravimétrica e de outros métodos, para a localização de jazigos de pirite.
Foi pregar no deserto, durante longos anos.

“Se tivesse dada sequência aos programas propostos pela Brigada do Sul, desde 1951,… provavelmente todas as descobertas em Aljustrel, nos últimos 20 anos, teriam sido obra do Serviço de Fomento Mineiro”

Premonitoriamente, chamei ainda a atenção para os êxitos que estariam para surgir.

Fui informado, pelo Engenheiro Adjunto do Director-Geral, que este não apreciou tal documento e, por isso, nem sequer lhe deu entrada!.
Todavia, eu inseri-o, como anexo, ao meu relatório do mês de Março de 1968 e ao anual de 1968.

1.1.8 - Em 1971 – 1972:

Conforme revelei, no post N.º 33, quando MEI abandonou a vasta área que lhe esteve adjudicada, o Serviço de Prospecção do SFM, sob minha direcção, deu imediatamente início a campanha de prospecção gravimétrica de uma área de cerca de 100 km2, abrangendo a Mina do Cerro do Algaré e várias outras ocorrências cupríferas que tinham originado pequenas explorações mineiras, em épocas anteriores.

Quando esta campanha se encontrava em curso e já estava revelada grande parte da anomalia que viria a dar origem
à descoberta do jazigo de Neves – Corvo, fui surpreendido pela adjudicação da totalidade da área anteriormente atribuída a MEI, a um Grupo empresarial, com forte participação de capitais franceses.

Nos termos contratuais, logo dei conhecimento dos resultados que estávamos a obter na área de 100 km2 onde então incidia a nossa actividade de prospecção.

O Grupo empresarial deu imediata continuidade à campanha gravimétrica, nessa parcela de 100 km2, definindo completamente a anomalia.

Passou, seguidamente, à fase de sondagens.

Deu por terminada a sondagem N.º 1, ao atingir a profundidade de 200 metros, por interpretar que já tinha sido ultrapassado o nível estratigráfico, onde se localizaria jazigo de pirite, se existisse.
Passou a investigar outras zonas da vasta área que lhe fora adjudicada.

Surpreendido com esta decisão ainda chamei a atenção dos técnicos do Grupo Empresarial, para a sua atitude precipitada, dizendo-lhes que deveriam ter continuado a perfuração, uma vez que não estava explicada a anomalia gravimétrica.

Tal como aconteceu, várias vezes com MEI, também este Grupo Empresarial se não mostrou impressionado com as minhas reflexões. Nele predominavam Geólogos, sem sensibilidade para dar a devida importância aos resultados gravimétricos.

1.1.9Em 1972 – 1978:

O Grupo Empresarial, que se auto-denominou de Sindicato, andou durante cerca de 5 anos “perdido” sobretudo na região de Mértola, sem quaisquer resultados encorajantes.

Entretanto, ocorreu a Revolução de 25 Abril de 1974 e, como já revelei, alguns oportunistas interpretando no pior sentido as liberdades conquistadas, conseguiram afastar-me da direcção dos estudos no Sul do País (Ver post N.º 83).

Aconteceu que, em 5 de Abril de 1977, encontrei na Universidade de Aveiro, o Geólogo Xavier Leca do Sindicato que, tal como eu, tinha ido assistir a palestras sobre tectónica de placas. (Ver post N.º 37)

Ainda interessado sobre os problemas da Faixa Piritosa, perguntei-lhe que zona da vasta área que lhe estava adjudicada estavam a estudar.

À sua resposta de que tinham regressado à zona da grande anomalia gravimétrica onde tinham realizado a sondagem N.º 1, estando já em curso a sondagem N.º 2, tive a seguinte reacção textual: “Os meus parabéns! Se a área regressasse para estudo pelo SFM e eu ainda estivesse nas funções de Chefe da 1.ª Brigada de Prospecção, era para essa zona que eu voltaria imediatamente”. Noto que a validade do contrato do Sindicato, com o Estado, estava prestes a expirar.

Esta curta conversa, em intervalo das sessões, terminou por terem sido reiniciadas as palestras.

Em 20 de Maio de 1977, pelas 20 horas e 30 minutos, recebi telefonema do Geólogo Nabais Conde do Quadro de Técnicos do Sindicato, informando-me que a sondagem N.º 2 tinha começado a cortar jazigo de pirite, estando nessa data já com 20 metros em minério que se mostrava com boa percentagem de calcopirite.

Pretendia saber se tinham sido os Geólogos do SFM a escolher a área para ser prospectada por gravimetria.

Informei-o que não, que tinha sido sempre eu quem acreditara nos bons indícios representados pelas ocorrências cupríferas de Algaré, Barrigão, Brancanaes e Porteirinhos, e nas potencialidades de um ambiente geológico idêntico ao da tradicional Faixa Piritosa revelado pelo SFM na década de 40.

Na verdade, eu até tinha dúvidas de que o Geólogo destacado para apoiar os estudos do SFM na Faixa Piritosa, cumulativamente com estudos em áreas do Norte do Alentejo, alguma vez tivesse visitado a zona, antes de ela ter sido seleccionada para investigação por gravimetria.
O seu conhecimento da zona resultava das informações que eu prestava, durante as reuniões periódicas que tinha com os Engenheiros e com os Geólogos da 1.ª Brigada de Prospecção.

Os outros dois Geólogos da Brigada estavam encarregados de apoiar os estudos em curso na região de Cercal - Odemira e na Faixa Magnetítica e Zincífera Alentejana. Só acidentalmente prestavam colaboração na Faixa Piritosa.

Em 25 de Maio de 1977, foi o Geólogo Xavier Leca do BRGM a telefonar-me, pelas 16 horas e 55 minutos, de Beja, a informar-me de que a sondagem estava a cortar pirite na anomalia de Neves. Já tinham cortado 38 metros de pirite com bastante chumbo e algum cobre. Dei-lhe os meus parabéns e mostrei a minha satisfação por este êxito.

Reagiu ele dizendo que os parabéns eram para mim, por ter sido eu quem promovera a cobertura gravimétrica daquela área. Disse ainda que eu era o pai do jazigo! Salientou ter sido o seu Director em Paris, J. P. Prouhet a ordenar-lhe que me telefonasse a informar do êxito. Lembrou, a este respeito, a nossa conversa em Aveiro que fora interrompida pelo reinício das palestras sobre tectónica de placas.

1.2 – Os esforços de Leca

Leca era um dentre mais de 10 técnicos superiores do Sindicato.
Lembro-me, dos seguintes: Edgar Wahnon, Almeida Fernandes, Ferreira da Silva, Nabais Conde, Schermerhorn, Xavier Leca, L. Albouy, A. Morikis, F. Foglierini, Pedro Carvalho.

Todos participaram, obviamente, nas decisões tomadas.

Os glorificados esforços do Sindicato consistiram apenas em mandar implantar sondagens na zona da anomalia gravimétrica definida pelos trabalhos de minha iniciativa descritos em 1.1.

Todavia, estes “esforços” começaram por ser ineficazes, porque o Sindicato deu mais peso às suas interpretações (erradas) geológicas, que aos resultados da gravimetria, não procurando explicação para a intensa anomalia gravimétrica.
Abandonou a zona de Castro Verde – Almodôvar, talvez por a não considerar pertencente à Faixa Piritosa Sul - Alentejana.

Cinco anos depois, decepcionado com os insucessos em áreas dentro da tradicional Faixa Piritosa, preparava-se para dar por terminada as suas investigações na vasta área que lhe tinha sido adjudicada, tomando atitude semelhante à de MEI.

Porém, para “descargo de consciência”, decidiu implantar uma segunda sondagem na zona da anomalia detectada pelo SFM.
Também esta sondagem estava a decepcionar e, segundo afirmou Delfim de Carvalho, (Ver post N.º 41), Leca, já sem esperança alguma, mandou perfurar alguns metros mais, talvez influenciado pela conversa que comigo tinha tido em Aveiro.

Aconteceu, então, o que os Geólogos do Sindicato consideravam muito improvável. Tinham penetrado no enorme jazigo de Neves – Corvo!

Na euforia da descoberta, ninguém se lembrou de responsabilizar os técnicos do Sindicato pelo clamoroso erro, que fez atrasar 5 anos a descoberta.

Na mesma euforia, Leca apelidou-me de Pai do jazigo, mas rapidamente se arrependeu, para não desagradar ao Director-Geral de Minas e aos técnicos da 1.ª Brigada de Prospecção, pois apesar de estar ao corrente da sua infame traição, era com eles e não comigo que desejaria manter boas relações, pela aceitação que manifestavam na atribuição dos louros da vitória ao Sindicato, de que Leca se apresentava como o principal representante!

2 – O que teria acontecido, se o SFM não tivesse interrompido os seus trabalhos de prospecção, na região de Castro Verde - Almodovar

Se o SFM não tivesse sido forçado, por inesperada imposição superior, a interromper os estudos na região de Castro Verde – Almodôvar, teria continuado os seus trabalhos, respeitando escrupulosamente a metodologia que eu vinha aperfeiçoando, ao longo de 30 anos.
Teria terminado, muito mais rapidamente e com mais rigor e pormenor, a definição da anomalia gravimétrica, que estava a evidenciar-se vigorosamente, quando fui obrigado a suspender o estudo da área.
Teria tentado a confirmação desta anomalia por outros métodos geofísicos e pelo método geoquímico.
Teria, obviamente, passado à fase de sondagens e, como era procedimento corrente em todas as sondagens, teria feito a determinação sistemática das densidades dos testemunhos, com equipamento simples, que eu próprio concebera.
Não teria terminado sondagem alguma, sem que ficasse explicada a anomalia para que se procurava a causa. A este respeito, é esclarecedor o que aconteceu com sondagens baseadas em anomalias espúrias (cálculos errados!) ou mal implantadas (erros topográficos) (Ver post N.º 38).
Teria, portanto, encontrado o jazigo, em 1972, isto é, 5 anos antes do que acabou por acontecer.

E se o Director-Geral de Minas, que se permitiu alienar, em prol de potência estrangeira, tão importante parcela do património mineiro nacional, tivesse sido demitido, como se impunha (correram rumores de que a sua posterior demissão, nunca explicada à população, esteve relacionada com esta alienação), talvez tivesse sido possível cumprir as minhas recomendações de que fossem os portugueses a beneficiar exclusivamente deste valioso património, como aliás estava expresso no Decreto-lei N.º 18713 de 1930, que regulava a nossa indústria mineira.

Também não teria escapado a presença de cassiterite nos testemunhos, como aconteceu ao Sindicato. Não só a maior densidade deste mineral chamaria, de imediato, a atenção para conhecer, através da análise laboratorial de que mineral se tratava, mas também, era prática rotineira, fazer análises geoquímicas dos detritos da perfuração e fazer nos testemunhos das primeiras sondagens que detectavam jazigo, análises completas das zonas mineralizadas, por métodos físicos (Raios X, absorção atómica) e químicos tradicionais.

3- O reconhecimento superior

3.1 - O reconhecimento dos dirigentes da DGGM pelos meus esforços na concretização dos maiores êxitos do SFM, com destaque para a descoberta do jazigo de Neves - Corvo

O reconhecimento dos Directores-Gerais que sucederam a Luís de Castro e Solla e dos Directores do SFM que sucederam a António Bernardo Ferreira, pela minha fundamental contribuição para os maiores êxitos na nossa indústria mineira, nos tempos recentes, entre os quais se destaca a descoberta do jazigo de Neves – Corvo, traduziu-se em numerosos factos, relatados em posts anteriores, bem demonstrativos do apreço em que foram tidos todos os meus “esforços”.

Dentre esses factos, saliento os seguintes:

3.1.1 – A minha demissão da chefia da 1,ª Brigada de Prospecção, que eu pacientemente tinha organizado e que, em cumprimento de programas por mim instituídos, contando com a minha activa participação, fora a autora da maior parte daqueles êxitos.
Demissão motivada pela minha intransigente recusa em pactuar com procedimentos fraudulentos, aconselhados pelo Director-Geral. (Ver post N.º 75)

3.1.2 – A declaração de um Director do SFM, perante representante do Secretário de Estado, quando eu, ao apresentar o meu currículo, para dar peso às declarações que iria fazer, enumerava os êxitos que tinha conseguido, de que “se eu fizera tudo isso, fora porque ele deixara!”, isto é, porque o não tinha conseguido impedir! (Ver post N.º 112)

3.1.3 – Os relatórios de minha autoria que deliberadamente se não publicavam, para não ser conhecido externamente o meu invejável currículo (Ver post N.º 3).

3.1.4 – A ameaça de ”sanções” disciplinares, até às últimas consequências, por me recusar a cumprir ordens emitidas por Comissões ilegalmente constituídas.
Estas ameaças só não foram concretizadas porque Resoluções de Conselhos de Ministros condenaram asperamente a ilegalidade cometida com as nomeações de tais Comissões. (Ver posts N.º 105, 126, 127 e 128)

3.1.5 – A ameaça de expulsão da função pública, em reunião da Comissão de Trabalhadores, proferida por Delfim de Carvalho arvorado em membro de Comissão de Direcção do SFM, por eu ter procurado auxílio externo para travar a marcha do SFM para destruição que acabou por verificar-se (Ver post N.º 101)

3.1.6 – Os obstáculos à actividade que eu dirigia na Região de Vila Nova de Cerveira - Caminha – Ponte de Lima e na Faixa Metalífera da Beira Litoral (Ver posts N.º 116, 138)

3.1.7 – Os obstáculos às minhas funções docentes na Faculdade de Ciências do Porto, ao auxílio que prestava à Faculdade de Engenharia do Porto e ao Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro. (Ver posts N.º 149, 158 e 160)

3.1.8 – A suspensão dos trabalhos na Faixa Metalífera da Beira Litoral, para que Geólogos inexperientes pudessem utilizar pessoal que eu tinha preparado para o estudo daquela Faixa, em trabalhos de duvidosa utilidade, que se mostraram incapazes de orientar. (Ver post N.º 138)

3.1.9 – A ordem para entregar a Secção de Caminha a um denominado Grupo de Trabalho do Tungsténio que, além de ilegal, era constituído por Geólogos inexperientes (Ver post N.º 114)

3.1.10 – As promoções a cargos de chefia, instituídos pelo Decreto-lei N.º 548/77, de indivíduos, com currículos fracos ou negativos, sem dignidade profissional, contrariando disposições legais que os sucessivos Governos insistiam em que fossem respeitadas.

Durante 29 anos, fui, com a categoria de Engenheiro de 1.ª Classe, o 2º funcionário na hierarquia do SFM.
Assisti, depois, com estupefacção, à rápida promoção a categorias com remuneração igual à que eu auferia, de técnicos recentemente admitidos, com muito deficiente preparação académica, sem experiência, alguns dos quais tinham sido beneficiados com ensinamentos que tive que lhes ministrar, pois manifestavam confrangedora ignorância nas técnicas de prospecção mineira.
Além disso, após a Revolução de Abril de 1974, muitos desses técnicos, através de práticas fraudulentas, aconselhadas pelo Director-Geral de Minas, conseguiam receber mensalmente quantias muito superiores às que eu auferia.

Em 1978, fui bafejado em conjunto com outros técnicos que haviam ingressado no SFM, muitos anos depois de mim, com promoção a uma categoria indefinida, à qual foi dada a designação de “Assessor”, com algum benefício pecuniário.

Mas, nesse mesmo ano de 1978, verificou-se o assalto aos cargos de chefia instituídos pelo Decreto-lei N.º 548/77.
Passaram então a ocupar cargos de hierarquia superior à minha (Subdirectores-gerais. Directores de Serviço, Chefes de Divisão), 28 (vinte e oito!!!) técnicos, alguns vindo de outros Organismos públicos ou de empresas privadas, (Ver post N.º 127).
Dentre esses, destaco alguns dos traidores da 1.ª Brigada de Prospecção, promovidos pelas atitudes que conduziram à destruição do SFM.

Mantendo-se em vigor a Orgânica instituída em 1964, para que os estudos pudessem prosseguir, geraram-se situações caricatas. Os novos Chefes, sem departamentos para chefiarem, apenas introduziram perturbações nos estudos que estavam em curso, ao tentarem, neles, ter intervenção.
Jorge Gouveia, na sua curta passagem como Director do SFM chegou a tentar colocar-me na dependência do traidor Goinhas e de Francisco Viegas, um dos mais perniciosos elementos que passaram pelo SFM!!!.

3.1.11 – O “despacho” do Director-Geral Alcides Pereira, proibindo-me de fazer trabalho de campo, com a alegação de que era necessário programar convenientemente as actividades da DGGM!!!! (Ver post 156).
Curiosa proibição, lembrando que eu havia recusado promoção a Director de Serviço, que me fora oferecida pelo ex-Director do SFM, Engenheiro Jorge Gouveia, porque tal oferta fora feita, com a incrível condição de eu não mais fazer trabalho de campo (Ver post n.º 139)
Só posso interpretar esta obsessão de vários dirigentes, como receio de que, com as minhas actividades, no campo, viesse a ocasionar novos “enormes prejuízos ao Estado”, descobrindo outros importantes jazigos minerais! (Ver post N.º 83)

3.1.12 – Quando foi instituída a classificação anual dos funcionários, os meus avaliadores totalmente ignorantes acerca das tarefas em que eu me ocupava, começaram por me atribuir classificação de “Muito Bom”.
Considerando ultrajante ser avaliado por ignorantes, denunciei sistematicamente tal farsa, para que o Governo passasse a dar um carácter digno a este procedimento, teoricamente fundamental para a promoção dos funcionários pelo seu mérito e não por filiação política ou qualquer outro favoritismo, como estava prescrito em Resoluções de Conselhos de Ministros e em outras disposições legais.
Aconteceu, então, que passei a ser mal classificado no item de “Relações humanas”, eu que logo no início da minha vida profissional (Ver post N.º 98), fui considerado “excelente condutor de homens”.
A má classificação deste item deu origem a um resultado final de “Bom”, contrastando com as classificações da quase totalidade dos funcionários, nos quais se incluíam os traidores da 1.ª Brigada de Prospecção e outros destruidores do SFM, que obtiveram “Muito Bom”

3.1.13 – O processo disciplinar que me foi instaurado, por me recusar a cumprir Ordem do Director do SFM Fernando Daniel, para apresentar um “plano de visitas ao campo”, estando proibido de realizar trabalho de campo, por despacho do Director-Geral de Minas Alcides Pereira.
Não sendo religioso e não precisando de acreditar em milagres para me deslumbrar com as maravilhas da Natureza, não posso deixar de assinalar que devo à visita do Papa João Paulo II não ter sido expulso da Função Pública, em consequência deste processo disciplinar e de mais alguns que me estavam prometidos, por declarações que fiz em minha defesa.
Foi o agnóstico Mário Soares que decretou amnistias para processos disciplinares idênticos ao meu, que estivessem em curso, como preito de homenagem a um Papa que nos tinha honrado com a sua visita.
Oportunamente desenvolverei este candente tema.

3.1.14 – Para se ter uma ideia das características da gente que passou a dominar a DGGM, após a Revolução de Abril de 1974, registo que, enquanto eu passei a ser votado ao ostracismo neste Organismo, ao qual dedicava a minha principal actividade, era alvo de especial consideração da parte de Organizações exteriores (Ver posts N.º 140 a 144).
Em futuro post, descreverei expressivas homenagens, quando atingi a idade de me aposentar da Função Pública.

3.2O reconhecimento pelos “esforços complementares” do Sindicato, na concretização da descoberta de Neves – Corvo

É fora de dúvida que aos Engenheiros Edgar Wahnon e Almeida Fernandes, da Sociedade Mineira de Santiago (SMS), se ficaram devendo as diligências para o Sindicato se apoderar da área onde tinha sido detectada a anomalia gravimétrica, que se revelou ser a assinatura do jazigo de Neves – Corvo.
Perante tal alienação, com dispensa do concurso público, que a lei exigia, é legítimo concluir que as compensações oferecidas foram muito atractivas.
Não constou que tenha havido a “merecida” recompensa por este fundamental “esforço” dos Engenheiros da SMS.

Foi o Geólogo Xavier Leca, do Organismo estatal francês BRGM (Bureau de Recherches Géologiques et Minières) a personalidade seleccionada para ser agraciada com condecoração, pelo notável “esforço complementar” exercido pelo Sindicato, ao mandar implantar sondagens na zona da anomalia gravimétrica detectada pelo SFM.
O Governo de França, fez deslocar a Portugal um seu representante, para presidir à cerimónia em que colaboraram autoridades portuguesas, com destaque para o Director-Geral de Minas, Alcides Pereira.

Leca não teve a dignidade de recusar tão grande manifestação de apreço, à qual não tinha o mínimo direito.
A participação do Sindicato na descoberta traduzira-se, como tenho salientado, num atraso de 5 anos, na concretização de um êxito que estava iminente quando o Sindicato se apoderou da área de Castro Verde – Almodôvar que o SFM estava a estudar.
Por este atraso havia responsáveis e Leca seria um deles.

Leca até se esquecera do telefonema que me fizera, cumprindo ordem do seu superior J.P. Prouhet, a dar-me conhecimento do êxito e a apelidar-me de Pai do Jazigo!!

Causou-me grande perplexidade um Editorial do Presidente do BRGM francês, Iean Audibert, com data de meados da década de 80, no qual é atribuída aos seus prospectores a descoberta de Neves – Corvo.
Não esperava de Organismo, pelo qual tinha grande consideração, pelo muito que aprendi na leitura das suas publicações, tão despudorado desrespeito pela verdade dos factos.

Continua …