quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

33 – Os contratos de prospecção com empresas privadas. 2.ª parte

As minhas recomendações à Mining Explorations (International) (MEI) sobre a aplicação intensiva da gravimetria, de preferência às sondagens com insuficiente apoio geofísico, não foram tidas na devida consideração e a Companhia via passar o tempo sem obter resultados positivos.

Começou a ficar desanimada e chegou a ponderar o abandono da área que lhe estava adjudicada, antes do termo do contrato.

Aconteceu, porém, um facto que levou MEI a rever esta atitude negativa.

O SFM acabava de revelar, na área de Aljustrel, que tinha conservado para as suas próprias investigações, uma grande concentração de minério piritoso com disseminação abundante de blenda e menor percentagem de galena e calcopirite.

Esta concentração mineral, que se situa no mesmo horizonte onde se localiza o jazigo de Feitais, anteriormente descoberto através dos estudos da Lea Cross Geophysical Company, ficou designada como jazigo da Estação, dada a proximidade da estação de caminho de ferro de Aljustrel.

Perante tão notável êxito, (a ele dedicarei um próximo post), MEI recuou na sua decisão, criando novo ânimo para continuar os seus estudos, por reconhecer que a parcela da Faixa Piritosa, que lhe estava adjudicada, mantinha ainda intactas áreas com forte potencialidade para a ocorrência de novos jazigos.

MEI, consciente do decisivo papel que eu tinha vindo a desempenhar na valorização da Faixa Piritosa Alentejana e da valiosa colaboração que tinha vindo a prestar-lhe, teve a simpatia de festejar a descoberta, no dia 28-3-1968, convidando-me para um jantar, no Hotel Tivoli, no qual estiveram presentes os mais altos dirigentes das Companhias que participavam no Consórcio.

Foram eles: Dr. Stanley Holmes (Presidente de MEI), Dr. Armstrong (Presidente de Cominco canadiana), Dr. Taylor (Presidente de Union Corporation sul-africana), Geólogo sénior Dr. Stam, Professor José Ávila Martins (representante de MEI em Portugal), Dr. Robert Batey (principal responsável pelos trabalhos de campo de MEI).

No final do repasto, houve discursos exaltando o mérito do êxito e manifestando o forte empenho de MEI em dar continuidade às suas investigações.

Quando chegou o momento para eu agradecer tão grande manifestação de apreço, causei alguma perplexidade aos meus anfitriões, ao declarar que se MEI ainda não tinha descoberto jazigo algum foi porque ainda o não merecera.

Salientei que a descoberta da Estação tinha sido a consequência de 20 anos de persistentes estudos, sem esmorecimentos perante alguns inevitáveis resultados negativos quanto a descobertas, mas positivos pela acréscimo de informação que auxiliara a encontrar os alvos desejados.

Classificava a actividade de MEI insuficiente para poder aspirar a um sucesso. Apesar de MEI já ter despendido cerca de 30 000 contos (o equivalente a perto de um milhão de euros actuais) era preciso trabalhar muito mais!

Mais tarde, o Geólogo Dr. Batey que estava encarregado da maior parte dos estudos no terreno, cujo esforço talvez não estivesse a ser devidamente apreciado, agradeceu-me vivamente esta intervenção.

Todavia, não se verificou no terreno a intensificação prometida, sobretudo em campanhas de gravimetria que eu tinha recomendado vigorosamente.
MEI não criou a sua própria equipa para a aplicação desta técnica.

Expirado o prazo de validade do seu contrato, sem ter descoberto jazigos, MEI não se interessou em celebrar novo contrato, preferindo fazer os seus investimentos em áreas de outros países onde estava a obter francos sucessos.

O seu Presidente Dr. Stanley Holmes formou novo Consórcio com capitais de outras Companhias e firmou contrato com o Estado para uma área envolvente das Minas de S. Domingos e Bicada, onde considerava existirem boas probabilidades de existência de novas massa de pirite, apesar das muitas sondagens que nessa área já tinham sido feitas.

O Director-Geral, por motivos que não me foram revelados, decidiu não me nomear seu representante junto desta nova Companhia, acontecendo que, sendo eu o único Engenheiro da Direcção-Geral a acompanhar os estudos de todas as Companhias que actuavam na Faixa Piritosa e a neles colaborar, era o único que não era remunerado por esta actividade suplementar!

Foi este o modo que o Director-Geral encontrou para manifestar o seu apreço pelo êxito da Estação de que eu tinha sido o principal autor. Mas não foi único, como irei revelar, nas devidas oportunidades.

Imediatamente após a libertação da vasta área que havia sido adjudicada a MEI, promovi que fossem realizados levantamentos gravimétricos numa área de cerca de 100 km2 que abrangia a Mina de Algaré e outras ocorrências cupríferas,

Logo começou a evidenciar-se extensa e pronunciada anomalia que viria a dar origem à descoberta do já célebre jazigo de Neves-Corvo.

A este tema dedicarei vários posts, para reposição da verdade que tem sido escandalosamente desrespeitada, em artigos publicados com grosseiros erros, em prestigiadas Revistas de vários países.

Alguns Geólogos oportunistas têm-se feito passar por autores do êxito, no qual tiveram intervenção insignificante, nula ou até negativa, chegando ao cúmulo de receber louvores em Diário do Governo e condecorações do Governo francês, com apoio presencial de altos dirigentes nacionais.

Continua ...

sábado, 13 de dezembro de 2008

32 – Os contratos de prospecção com empresas privadas.

O SFM foi criado para suprir a escassez de iniciativa privada séria para o aproveitamento dos recursos minerais do País.

Para impedir que viessem a ser requeridas concessões dentro das suas áreas de estudo, aproveitando resultados conseguidos pelo SFM sem as correspondentes contrapartidas, foram declaradas cativas para o Estado, por portarias publicadas no Diário do Governo, vastas áreas, sobretudo no Alentejo, onde decorria a quase totalidade das investigações em prospecção mineira.

Todavia, uma incompreensível morosidade da Direcção do SFM em dar andamento ao processo de aquisição de equipamentos de prospecção, considerados essenciais (são disso exemplo os 10 anos para se adquirir um gravímetro, apesar das insistentes referências à sua indispensabilidade, feitas em projectos de trabalhos e em outros documentos !!), deu origem a que empresas, sobretudo estrangeiras, se antecipassem ao SFM, mostrando-se interessadas na aplicação de técnicas modernas, para aumentar as suas reservas minerais, e requeressem autorizações para investigar zonas situadas no interior de áreas cativas para os trabalhos do SFM.

Para alguns destes requerimentos, chegou a ser pedida a minha informação.
Como o papel do SFM não era impedir a iniciativa privada mas, pelo contrário, estimulá-la, as minhas informações foram favoráveis, enquanto o SFM se não equipava convenientemente.

Foi assim que foram concedidas autorizações a todos os concessionários radicados na Faixa Piritosa Alentejana, sem outras condições para além da apresentação de relatórios periódicos sobre a sua actividade e sobre os resultados conseguidos.

Já revelei, em post anterior, a generosidade excessiva do contrato celebrado em 1960 com a CRAM (Compagnie Royale Asturienne des Mines), para o qual não fora pedida a minha informação.

Em 1965, começaram a aparecer outras empresas e outros grupos empresariais a manifestar interesse em fazer investimentos em Portugal, com vista à futura exploração de jazigos minerais

O Director-Geral então em exercício, acolheu bem este interesse mas informou que a generosidade dos contratos anteriores não iria repetir-se.

O SFM encontrava-se já razoavelmente preparado para cumprir os programas de prospecção para que tinha sido criado e estava em curso a aquisição de novos equipamentos e a especialização de técnicos para deles fazer bom uso.

Por isso, só seriam concedidos direitos de prospecção, no interior de áreas cativas, com vista à futura atribuição de novas concessões de exploração dos jazigos que viessem a ser revelados, mediante compensações.

Foi para a Faixa Piritosa Alentejana que se celebraram os principais contratos, por negociação directa com as entidades interessadas.

Em 1966 foi adjudicada a quase totalidade da Faixa.

O SFM apenas manteve, para estudos nesta Faixa, uma pequena área envolvente das Minas de Aljustrel, onde tinha em curso campanha de prospecção com aplicação privilegiada da técnica gravimétrica.

À Mining Explorations (International) (MEI) foi adjudicada uma vasta parcela de cerca de 4.000 km2, desde a fronteira nas proximidades da Mina de S. Domingos até às Minas de Aljustrel.

À Sociedade Mineira de Santiago, afiliada da CUF (Companhia União Fabril), foi atribuída a Bacia Terciária do Sado, entre as Minas de Aljustrel e Louzal.

A Mines et Industries, concessionária das Minas de Caveira e de Louzal, foi adjudicada uma área envolvente das suas concessões.

Todos estes contratos incluíam cláusulas sobre compensações ao Estado, que foram consideradas vantajosas.

Incluíam, além disso, outra cláusula, segundo a qual a Direcção-Geral de Minas nomearia um seu representante, junto de cada um dos contratantes, para acompanhar os trabalhos e prestar colaboração, tendo em vista facilitar a sua actividade.

Eu fui o representante junto de MEI; o Chefe do 3.º Serviço, que tinha a seu cargo os Petróleos e as Sondagens, foi o representante nomeado junto de Mines et Industries; outro Engenheiro que estava destacado na Circunscrição Mineira do Sul, mas exercia sobretudo funções de adjunto do Director-Geral (o apelidado de Ajax) foi o representante junto da Sociedade Mineira de Santiago.

Nem o Chefe do 3.º Serviço nem o adjunto do Director-Geral tinham a mínima experiência nas técnicas de prospecção aplicáveis na Faixa Piritosa, nem tinham exercido qualquer actividade nesta Faixa.

Estes dois Engenheiros e o Engenheiro Chefe do 4.º Serviço, que tinha a seu cargo o inventário das pedreiras, constituíam o designado “Gabinete de Estudos”, que funcionava junto do Director-Geral.
Nunca conheci a que estudos se dedicaram, nem percebi a razão pela qual os Chefes dos 3.º e 4.º Serviços exerciam as suas funções em Lisboa, junto do Director-Geral, quando eu (Chefe do 1.º Serviço) e o Chefe do 2.º Serviço desempenhávamos as nossas actividades a partir da sede do SFM em S. Mamede de Infesta.

Mas o Director-Geral resolveu compensá-los da sua dedicação, nomeando dois deles representantes simbólicos da Direcção-Geral junto das empresas, para lhes poder atribuir remuneração adicional.

Perante a sua total impreparação, fui eu o efectivo representante da Direcção Geral de Minas junto de todas as empresas contratantes.
A experiência adquirida durante os 20 anos que passara no Alentejo, sem nunca descurar o problema das pirites, dava-me essa possibilidade sem grande esforço.
Nas raras reuniões em que esses simbólicos representantes estiveram presentes, o que eu mais desejava era que as suas descabidas intervenções não viessem perturbar a análise dos problemas suscitados pelos trabalhos que se iam realizando.

Entre o Serviço de Prospecção do SFM, sob minha chefia, e as empresas estabeleceu-se uma estreita colaboração de que resultaram benefícios mútuos.

A elevada competência dos Geólogos integrados em todas as Empresas foi de grande utilidade para um conhecimento mais profundo da estrutura geológica da Faixa Piritosa.

Por outro lado, a experiência que o SFM vinha adquirindo com a aplicação das técnicas geofísicas, foi de extrema utilidade para as Empresas, pois todas, reconhecendo a sua qualidade, passaram a solicitar que o SFM realizasse para elas, campanhas sobretudo de gravimetria.
O SFM facturava essas campanhas com uma sobrecarga de 50% sobre o seu custo, valor que era considerado pelas empresas muito atractivo, quando comparado com o custo que seria facturado por especialistas estrangeiros que viessem cumprir contratos a Portugal.

As solicitações eram tantas que cheguei a ponderar a aquisição de um terceiro gravímetro. Já tínhamos dois gravímetros quase totalmente absorvidos pelas solicitações das empresas, atrasando assim os nossos programas próprios. Não fiz proposta, apenas porque continuava a enfrentar o grave problema da remuneração ao pessoal assalariado que teria que recrutar localmente e fazer preparar. Apesar das constantes exposições sobre este grave problema e de fazer notar que a actividade do 1.º Serviço não constituía encargo para o erário público, a Direcção-Geral da Contabilidade Pública não dava andamento às propostas de revisão salarial que lhe eram remetidas, segundo informava o Director do SFM. Dificilmente já conseguíamos manter o pessoal ao qual tínhamos dado formação especializada. Já tínhamos que atribuir, a vários deles, categorias de mais elevados salários da tabela superiormente aprovada, que não correspondiam às funções realmente desempenhadas.

Mining Explorations (International), detentora da maior área, privilegiava a execução de sondagens, com base nos seus estudos geológicos e em alguma gravimetria.

Na minha qualidade de representante da Direcção Geral de Minas junto da Companhia e de seu colaborador, apresentei relatórios com recomendações de trabalhos, acentuando a importância da técnica gravimétrica e aconselhando o seu mais amplo uso, antes de se passar à execução de sondagens.

No meu 3.º relatório, com data de 15-3-1968, do qual anexei cópia ao meu relatório mensal enviado ao Director do SFM, chamei vigorosamente a atenção de MEI para a necessidade de incrementar o uso da técnica gravimétrica, considerando a vastidão da área que lhe estava adjudicada.

Deste relatório, destaco as seguintes passagens:

“Além das áreas que já anteriormente foram objecto de levantamentos gravimétricos, muitas outras há, dentro da concessão de Mining explorations (International), onde nunca o método foi utilizado.

Recordamos, por exemplo, que na vasta área de rochas vulcânicas de Castro Verde – Panoias, que tem uma extensão superior a 30 km e uma largura que atinge 10 km, muito poucos trabalhos de prospecção gravimétrica se fizeram, até à data.”

“Noutras vastas áreas, como as de Albernoa, Juliana, Pomarão, Alcoutim e Ourique, onde a potencialidade é também grande, nada, praticamente foi feito, em matéria de prospecção gravimétrica.

Aconselhamos vigorosamente a aplicação deste método.
Lembremo-nos de que, a todos os jazigos novos conhecidos na Faixa Piritosa Alentejana correspondem anomalias bem definidas pela gravimetria, o mesmo não podendo afirmar de qualquer dos outros métodos que têm sido aplicados.

O Serviço de Fomento Mineiro poderá continuar a prestar a sua colaboração na matéria, em campanhas de curta duração, tal como fez em anos anteriores. As numerosas solicitações que tem de várias Companhias e o seu programa próprio não lhe permitem comprometer-se em campanhas longas.
Como o tempo de que dispõe Mining Ezxplorations (International), contando já com as prováveis prorrogações, é muito limitado para a cobertura de todas as áreas favoráveis, é aconselhável que Mining Explorations (International) disponha de, pelo menos, uma equipa de gravimetria, em trabalho permanente, até ao termo do contrato com o Estado Português.
Na impossibilidade de o Serviço de Fomento Mineiro lhe poder dar este apoio permanente, sugerimos que Mining Explorations (International) crie a sua própria equipa.
Computamos em cerca de 4.000$00/dia a despesa de uma destas equipas (contando já com a amortização de gravímetro, taqueómetro, níveis, viatura e outro equipamento auxiliar, em 5 anos, e duas estadias de Mr. Roux em Portugal, como supervisor deste trabalho).

Não se aconselham novas sondagens na Faixa Piritosa, sem haver um número suficientemente grande de anomalias gravimétricas que permita fazer uma selecção das verdadeiramente auspiciosas.
Quanto maior for o número de anomalias para escolha, maior será a probabilidade de sucesso.
Não deve esquecer-se que as maiores despesas na procura de jazigos minerais são as feitas pelas sondagens.
Um mês de trabalho com o gravímetro (considerando 50 observações diárias com malha d 100m x 100m) dá informação sobre 13 km2, a um custo muito inferior a 10 contos por km2. Uma só sondagem custa geralmente, algumas dezenas de vezes mais e a informação que presta é muito mais limitada”


Continua...

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

31 - A inauguração oficial das novas instalações do SFM em S. Mamede de Infesta

A inauguração oficial das novas instalações do SFM ocorreu em Agosto de 1964, com a presença do Presidente da República e de membros do Governo, do Director-Geral em exercício e do Director-Geral cessante.

O projecto destas instalações e o acompanhamento da sua construção ficaram a dever-se, ao Arquitecto António Linhares de Oliveira, que tinha ingressado no SFM como desenhador e que tirara o curso como estudante-trabalhador.

Com surpresa minha e de outros funcionários do SFM, o Director-Geral, recentemente nomeado, não lhe atribuiu a designação que lhe competia.

Designou-as como “Laboratórios da Direcção-Geral de Minas”, menosprezando assim o SFM, perante a passividade do dirigente deste Serviço, que se refugiou num total apagamento na cerimónia inaugural.

Esta foi a primeira indicação de que o novo Director-Geral pretendia exercer, as funções que competiam ao Director do SFM, consciente como estava da mediocridade deste e, também, porque confiava poder ser autor de algumas descobertas.
Se as equipas por mim constituídas tinham conseguido resultados notáveis, porque não poderia ele, com outras equipas, obter idênticos sucessos?

À actuação que teve, neste âmbito, ir-me-ei referir em devido tempo.

Recordo do seu discurso na inauguração, os elogios ao chamado “Estado Novo” da era Salazar e o estilo retórico, denunciando as “vestes sebastianistas” que muito fizeram rir o Engenheiro Castro e Solla que, a meu lado, não conteve os seus perspicazes comentários.

Recordo ainda alguns dos meus colegas constrangidos no fato-macaco que raramente usavam, mas que nesse dia se prontificaram a envergar, para dar mais evidência á sua actividade mineira.

A mim, não convidou a colaborar nessa ridícula atitude teatral, pois sabia de antemão que tal não seria aceite, apesar de saber das minhas muitas horas em trabalhos subterrâneos nos 15 anos em que os dirigi, quando exerci as funções de Chefe da Brigada do Sul.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

30 - As reuniões do Director do SFM com os Chefes de Serviço e com o Chefe do MOVIC -2.ª parte

Os temas principais a abordar nestas reuniões deveriam, obviamente, ser os programas dos diferentes Serviços e os procedimentos a adoptar para lhes dar cumprimento.

Pelo que à 1.ª Brigada de Prospecção dizia respeito, estavam já em execução os programas que eu tinha apresentado, ainda como Chefe da Brigada do Sul.
Com esse objectivo, foi progressivamente constituído o Quadro de Engenheiros e Geólogos e promovida a sua especialização, como já disse em post anterior.

Na actividade das Secções, apenas ficou desguarnecida a Secção de Castro Verde, onde decorriam trabalhos de prospecção geofísica, em virtude de o Director ter afectado ao 2.º Serviço o Agente Técnico de Engenharia que a chefiava, o qual tinha obtido boa formação, através dos ensinamentos que lhe transmiti, desde que ingressou no SFM, sem experiência e com insuficiente preparação académica.

Já com alguns anos de actividade diversificada, contava com ele para a concretização das campanhas de prospecção projectadas nesta importante parcela da Faixa Piritosa.
Durante algum tempo, este Agente Técnico de Engenharia, disponibilizou-se para me prestar colaboração, para além das tarefas que lhe estavam distribuídas no 2.º Serviço, chegando até a acompanhar-me em visitas que, durante as minhas estadias periódicas em Beja, efectuei, em fins de semanas, às antigas minas de cobre de Algaré, Barrigão, Brancanes e Porteirinhos, onde anos mais tarde viriam a ser projectados trabalhos de gravimetria que deram origem à descoberta do jazigo de Neves-Corvo.

Tentei demover o Director da sua teimosa decisão de me retirar a colaboração deste técnico, provocando até, em sábado à tarde, reunião sobre o tema, com presença do Director-Geral.

Manifestei-lhes o receio de que o Agente Técnico de Engenharia, que já revelava grandes divergências com o seu Chefe, pudesse abandonar o SFM, perante oportunidade que empresa privada lhe estava a oferecer, com melhor remuneração.
As minhas reflexões não foram consideradas e o Agente Técnico de Engenharia abandonou, de facto, o SFM, assim se consumando mais uma perda de valioso elemento com formação adequada ao cumprimento dos objectivos do SFM.

Perante a situação que se lhe deparou, a solução que o Engenheiro citado encontrou para orientar os trabalhos mineiros da Secção de Castro Verde foi deslocar a esta Secção, em tempo parcial, um dos Agentes Técnicos de Engenharia da Secção de Moura e Barrancos.

Não considerou a hipótese de ele próprio fazer essa orientação, como lhe competia, certamente por se não sentir preparado.

A lacuna criada ao 1.º Serviço foi resolvida com maior assistência no terreno pela equipa sediada em Beja.

Esta é uma amostra do ambiente que se ia gerando nas reuniões, que se foi progressivamente deteriorando, sendo eu elemento estranho ao grupo há muito constituído no Norte, que alguém apelidou de “companheiros da opa”, pelas suas idênticas religiosidades hipócritas.

As minhas ingénuas esperanças de que o Director apreciasse a leal colaboração que lhe estava a prestar, contribuindo para o seu próprio prestígio, foram-se progressivamente desvanecendo perante a impossibilidade de conseguir no Norte resultados idênticos aos obtidos no Sul.

Tornou-se-me evidente a deliberada preocupação deste dirigente em dificultar a minha actividade.

Não conseguiu, inicialmente, causar grande dano, pois nessa época, o Director-Geral dava-me grande apoio e até iria aproveitar a obra conseguida pelas equipas sob minha chefia, para demonstrar a governantes a importância do SFM e da Direcção-Geral de Minas onde o SFM se integrava.

Recordo uma reunião em que o Director e seus acólitos perderam totalmente a serenidade na manifestação das suas divergências para comigo, estando o gravador com a fita magnética a rodar, supostamente a registar tudo quanto se dizia. Mas o Director, não tendo conseguido que eu alinhasse neste tipo de procedimento, acabou por revelar que afinal a fita rodava mas não gravava, por não ter sido accionado o botão adequado. Esperteza saloia que me deixou estupefacto.

O Director, por exemplo, achara estranho e manifestara-se violentamente contra o facto de eu ter inserido em relatórios, documentos de transmissão de poderes, quando foram integradas no 1.º Serviço as Brigadas de Levantamentos Litológicos, de Prospecção Geofísica, etc., destacando as suas actividades anteriores à integração. E estes documentos, a mim, afiguravam-se essenciais até para evitar repetições de estudos que tivessem qualidade.

No Norte e no Centro do País, antes de completada a fase de documentação, podiam imediatamente considerar-se os três problemas que constituíram a plano inicial de reconhecimento mineiro do País, isto é: o inventário das existências de carvões e de minérios de ouro e de ferro.

No que respeita aos carvões, a situação que encontrei foi de grande desorganização. Havia sondagens em curso e muitas das efectuadas estavam por estudar, tanto na bacia carbonífera do Douro como na zona carbonífera de Ourém, em condições que descreverei proximamente.
Tornava-se necessário pôr ordem nestes estudos, antes de projectar nova fase de investigações, como se pretendia.

Quanto ao problema do ouro, duas regiões sobressaíam: a de Jales - Três Minas e a Faixa antimonífera e aurífera do Douro.
Relativamente à primeira, informei já ter estabelecido contacto pessoal com o Director Técnico da Mina de Jales, na sequência de inquérito formulado no âmbito de um Plano de Fomento, em que tinha participado, por nomeação do Director-Geral.
Desse contacto resultou o meu conhecimento de que a empresa concessionária enfrentava um problema que o SFM poderia ajudar a resolver.
Esse problema era encontrar a continuidade para Sul, do filão principal que a Empresa estava a explorar.
Como o SFM tinha tido sucesso na detecção do sistema filoniano de Aparis, pela aplicação do método electromagnético Turam, apresentei plano que já tinha preparado para a região de Jales – Três Minas com uso da mesma técnica.
Esperava, não só encontrar a continuidade do filão conhecido, mas também, eventualmente, outros filões.
Tornava-se, obviamente necessário que me fosse disponibilizado pessoal que eu prepararia para dar execução a este projecto.
Tal não aconteceu e o projecto não teve concretização.

Anos mais tarde, um prestigiado Geólogo português, que estava integrado no departamento mineiro da Companhia petrolífera BP, contactou-me para que lhe indicasse locais do País com potencialidades para a ocorrência de jazigos de ouro. Sugeri-lhe a área de Jales – Três Minas. A BP aceitou a sugestão e, através de contrato com a concessionária, realizou importantes trabalhos de prospecção, mas não conseguiu resultados que justificassem investimentos na exploração do jazigo.

Relativamente à Faixa antimonífera e aurífera do Douro, dela se encarregou o 2.º Serviço, através da execução de trabalhos mineiros, em áreas de concessões em vigor ou abandonadas.

No caso do ferro, salientava-se o jazigo de Moncorvo. As reservas conhecidas eram abundantes, não se colocando, nessa data, defini-las com maior precisão.

As minas estavam em exploração e o minério era expedido, por via férrea, para a Siderurgia Nacional que tinha sido inaugurada em 1960.

O ritmo de exploração era, porém desproporcionado em relação à grandeza das reservas.
Já os livros de Liceu citavam autor espanhol que considerava este jazigo como contendo “as reservas de ferro da Europa”.

O principal problema que, então se colocava era o transporte do minério, em termos económicos, até aos centros siderúrgicos nacionais e estrangeiros,
Estava-se na fase de analisar esses meios de transporte.
A navegabilidade do Rio Douro e a preparação do porto de Leixões para embarque do minério deram origem a várias Comissões de técnicos encarregados dos respectivos estudos.

Como já referi, noutro post, anos mais tarde, foram disponibilizados dois Geólogos para colaborar com a empresa concessionária em projecto de sondagens com vista a mais exacto conhecimento das reservas no sector do Cabeço da Mua, onde se planeava concentrar principalmente a exploração.

Mas não era apenas com os minérios de Moncorvo, de Orada e de Cercal- Odemira que se contava para a metalurgia do ferro em Portugal.

O jazigo de Guadramil, onde o SFM fizera importantes trabalhos de pesquisa e reconhecimento estava fora de causa, não só pela exiguidade das suas reservas, mas principalmente pelas maiores dificuldades de acesso.

Havia Vila Cova do Marão, onde, em 1956, entrara em funcionamento um complexo mineiro e metalúrgico com capacidade de produção de gusa de fundição de 29.000 toneladas/ano.

Nas Minas de Vila Cova o SFM tinha feito realizar, no princípio da década de 40, uma campanha de prospecção magnética, por contrato com a Companhia sueca ABEM.
Em anos mais recentes, tinha dado cumprimento a um projecto de sondagens.
Numa das reuniões, o Director afirmou haver divergências grandes entre resultados dos estudos do concessionário e os do SFM.
Impunha-se uma análise cuidada de toda a documentação respeitante a este jazigo, pois considerava-se a hipótese de deverem ser projectadas novas sondagens.
O Director encarregou-se de encontrar, não só os relatórios, como os logs, plantas e perfis pelas sondagens e os testemunhos destas sondagens.
Em reuniões seguintes, este caso de Vila Cova voltou a ser por mim abordado. Todavia, o Director começou a ficar embaraçado, pois nem relatórios, nem desenhos nem testemunhos se encontravam.

Deste embaraço resultou que não mais se realizaram reuniões!

O Director-Geral, que já em diversas ocasiões se assumira como dirigente do SFM, criou em Janeiro de 1968, uma Comissão a que chamou “Comissão de Fomento”, através da qual passou a ter forte intervenção na actividade do SFM, assim procurando suprir a incapacidade demonstrada pelo dirigente do SFM.

Às reuniões desta Comissão me referirei, em devido tempo.

Não tendo conseguido pessoal para enfrentar os problemas do ouro e do ferro, foi, já na década de 70, que criei as Secções de Caminha e de Talhadas, chefiadas por Colectores, aos quais proporcionei formação adequada, conforme já referi noutro post..

Na Secção de Caminha, os estudos tiveram por objectivo investigar essencialmente a existência de mineralizações tungstíferas.

Na Secção de Talhadas, o objectivo foi detectar sobretudo mineralizações de chumbo e zinco numa área que denominei de Faixa Metalífera da Beira Litoral, que se estende desde as proximidades do Porto até Sul de Coimbra.

A vida atribulada destas duas Secções constituirá matéria para vários posts.