quarta-feira, 5 de setembro de 2012

205 – As investigações mineiras na Região de Cercal – Odemira. Continuação 3


A ocorrência de minérios de ferro e manganés, na Região de Cercal – Odemira é conhecida, desde remota antiguidade.
A “Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira” menciona explorações atribuídas aos romanos, na Herdade do Raco de Baixo, próxima do Cercal do Alentejo,

Mas o interesse mineiro da Região não se limita aos óxidos de ferro e manganés contidos nos extensos filões, que afloram exuberantemente, nos cumes das suas principais serras, uma das quais até tem o nome de Serra da Mina.
O ferro e o manganés são provável manifestação superficial de jazigos de metais mais valiosos, existentes em profundidade.

Desnecessário é acentuar a importância da revelação de ambiente geológico semelhante ao da Faixa Piritosa Sul-Alentejana.

Passou a justificar-se prospecção para detectar concentrações de pirites complexas, idênticas às que deram origem às importantes minas daquela Faixa.

A reforçar esta hipótese, há mineralizações de cobre, zinco e chumbo em diversos locais da Região, bem expressivas num pequeno jazigo excepcionalmente rico em calcopirite, blenda e galena, com elevado teor de prata, descoberto, por mim próprio, num afluente da Ribeira do Torgal, perto de Odemira, (Ver post N.º 17).
Este jazigo, que passei a designar por Torgal, foi, objecto de pesquisas, á cota de 32 m e a cotas superiores, por carência de material de esgoto, que seria necessário, para poder fazer trabalhos, abaixo do nível hidrostático
Era essencial investigar a maior profundidade, até porque se havia observado um notável enriquecimento, nos níveis inferiores
Esteve prevista uma ligação, por galeria, ao jazigo de ferro e manganés dos Pendões, começando à cota de 32m, para conhecer a composição do minério deste jazigo, em profundidade, que se não tornara possível, com sondagens ali realizadas.

Todas as ocorrências cupríferas, plumbíferas ou zincíferas conhecidas nesta zona sul da Região de Cercal - Odemira derivaram provavelmente de remobilização de sulfuretos existentes, em volumosas massas, a maior profundidade, tal como acontece em Castro Verde – Almodôvar, onde as minas de Algaré, Barrigão, Brancanes e Porteirinhos foram preciosos guias, para a descoberta do jazigo de Neves-Corvo.

Perante a relevância que assumia a geologia na Região de Cercal – Odemira, eu próprio dei início a levantamentos geológicos, sobre base topográfica à escala de 1:5.000, em longas estadas, no Cercal do Alentejo e em Odemira; para avaliar a extensão das manchas de rochas vulcânicas, que tinha descoberto, bem identificáveis, pelos seus grandes fenocristais, no Cerro dos Cunqueiros, na Herdade do Castelo (Ver post N.º 17)
Apercebendo-me da vastidão destas manchas, encarreguei o assalariado João Joaquim, que anteriormente tinha instruído nas funções de Colector, para dar continuidade ao levantamento, sob a minha directa supervisão.
Foi assim levantada uma área de cerca de 399 km2.
A classificação das rochas foi feita, quase exclusivamente, por simples exame macroscópico,
Tal levantamento era, portanto, uma fase preliminar da investigação da geologia da Região.
Muito raras foram as amostras estudadas em Laboratório e nem todos os resultados dos exames, feitos por Colaborador supostamente especializado, foram fidedignos, conforme revelei no post N.º 198.

Em mapa geológico, à escala de 1:250.000, inserido no relatório “Prospecção de Pirites no Baixo Alentejo”, que foi publicado em 1955, fiz constar as manchas de rochas genericamente classificadas como pórfiros, que este levantamento geológico revelou.
No mesmo relatório fiz considerações sobre a potencialidade da Região de Cercal – Odemira para jazigos de pirite idênticos aos da Faixa Piritosa.

Apesar das potencialidades evidenciadas justificarem o prosseguimento dos estudos (até com intensificação de meios), o Director do SFM, Eng.º Guimarães dos Santos, uma vez mais manifestou a sua incapacidade de compreender os riscos inerentes à prospecção mineira, os quais são bem enfatizados no Decreto-lei de criação do SFM.
Insensível aos meus apelos, ordenou o encerramento da Secção de Cercal e Odemira, apenas condescendendo em deixar concluir a fase preliminar de levantamento geológico e os trabalhos de pesquisa que estavam em curso na Mina do Torgal.
Deu ordens terminantes para que eu apresentasse o relatório final do que tinha sido realizado para investigação das existências de minérios ferro-manganíferos na Região.
Não permitiu sequer que se concluísse a campanha de sondagens, que se encontrava em curso, ordenando a retirada da sonda, quando havia ainda vários furos por executar.

Era óbvio que teria de voltar a esta Região, criando ou não um núcleo local, para dar continuidade aos estudos.

A mente de Guimarães dos Santos era perturbada pela permanência de um núcleo do SFM, durante 14 anos, no mesmo local!!.
Mas não era perturbada pelo facto de as tarefas a cumprir pela Secção jamais terem obtido, da sua parte, o apoio ou o estímulo que seriam de esperar de um dirigente.
Fora essa mentalidade que, em 1949, dera por terminada, a investigação da Faixa Piritosa, quando o estudo estava apenas numa fase muito primitiva, conforme demonstrei no relatório publicado sobre “Prospecção de Pirites no Baixo Alentejo”.

Este dirigente chegou ao cúmulo de declarar, ex-cathedra: Temos que deixar alguma coisa para as gerações futuras descobrirem!.
Nem vale a pena comentar!

Quando isto acontecia, encontrava-se no Região, o Geólogo holandês Klein, ocupado em trabalho de campo, sob a orientação do Professor Mc Gillavry, com vista à sua tese de doutoramento.
A ambos, eu tinha proporcionado visitas a locais, com especial interesse para o seu objectivo, entre os quais, os trabalhos subterrâneos da Mina do Torgal.

Mc Gillavry, a quem eu dera conhecimento de ter em fase terminal o relatório sobre os jazigos ferro-manganíferos de Cercal – Odemira, assumiu, de moto -próprio, o compromisso de não fazer publicar a tese de Klein, antes de publicado o meu relatório.

Tendo mencionado este compromisso, em relatório mensal da Brigada do Sul, o Director do SFM teve uma imediata e inesperada reacção, que interpretei como significativa de que, no seu entendimento, eu teria ultrapassado abusivamente, as competências da minha posição na hierarquia do SFM!!

Enviou ofício, a informar que: “Não sabia quando e se seria publicado tal relatório”.

A minha surpresa foi enorme, porque era prática corrente publicar os estudos feitos, as mais das vezes, até sem o carácter final que tinha este relatório, relativamente às mineralizações ferro-manganíferas.

Grande foi também a minha decepção, perante o esmero com que o estava elaborando e a certeza de ser documento cuja publicação prestigiaria o SFM, servindo mesmo de guia para estudos oficiais ou privados, em outras áreas.
Além disso, era oportunidade a não desperdiçar para corrigir os erros indesculpáveis bem patentes em publicações anteriores, relativamente à geologia da Região, à génese dos jazigos e á planificação de trabalhos de reconhecimento dos principais jazigos, aos quais oportunamente aludi.

Perante esta reacção do Director do SFM, de imediato libertei Mc Gillavry do seu compromisso para comigo.

Em 1957, fiz seguir exemplares do meu Relatório, em 4 volumes, para a Direcção do SFM no Porto, e para a DGMSG, em Lisboa.
O terceiro exemplar ficou arquivado na Brigada do Sul, em Beja; o quarto ficou na minha posse.

Deste relatório consta:
a) Texto de 290 páginas dactilografadas, do qual saliento a descrição individualizada dos estudos efectuados nas 129 minas conhecidas na Região e os respectivos resultados, finalizando na avaliação de reservas, quando tal se justificou.
Os jazigos de Serra da Mina, Serra do Rosalgar, Serra Comprida e Serra da Velha, devido à sua maior importância, são tratados, de modo mais desenvolvido.
Saliento, também, as minhas reflexões sobre o problema do ferro no Sul do País, chamando a atenção para a potencialidade da Faixa magnetítica, que justificaria uma campanha de prospecção aeromagnética.
b) 86 peças desenhadas, figurando todos os trabalhos realizados (sanjas, galerias, poços, chaminés, sondagens), em plantas e perfis geológicos transversais e longitudinais, com localização de amostragens, apresentação de quadros com as respectivas análises de Fe%, Mn% e SiO2% e indicação dos blocos considerados nas avaliações de reservas certas e prováveis.
Destaque para as 3 cartas litológicas e mineiras, à escala de 1:25.000, obtidas por redução dos levantamentos efectuados à escala de 1:5.000, numa área de 399 km2.
c) 45 fotografias, com destaque para as vistas panorâmicas dos afloramentos dos filões da Serra da Mina, Serra do Rosalgar, Serra Comprida e Serra da Velha, onde se evidenciam os trabalhos antigos a cotas elevadas e as bocas das recentes galerias a flanco de encosta, a cotas inferiores.
Destaco, também, as amostras de pórfiros da Mina do Cerro dos Cunqueiros na Herdade do Castelo, com bem evidentes fenocristais.
d) Despesas, com destaque para o mapa de avanços e despesas respeitante ao período de 1 de Janeiro de 1949 a 31 de Agosto de 1956, no qual estão registados os progressos em trabalhos anteriormente iniciados e os novos trabalhos, com as respectivas secções, e as formações atravessadas, discriminando, com todo o pormenor, as correspondentes despesas em perfuração, remoção do escombro, revestimento, ventilação, esgoto, transportes, diversos, terminando com o custo por metro de avanço e por m3 de rocha desmontada.
e) Apêndice relativo a amostras enviadas para análises mineralógicas, da maioria das quais não recebi resultados

O que o ofício de Guimarães dos Santos deixava prever realmente aconteceu. O relatório não foi publicado!!!!

No post N.º 17, fiz já referência ao facto de eu ter manifestado ao Director-Geral de Minas, que era então o Eng.º Luís de Castro e Solla, a minha surpresa pelo tratamento discriminatório que estava a ser dado a todos os relatórios de minha autoria.
Castro e Solla, simpaticamente, logo telefonou procurando explicação para esta situação anormal.
Guimarães dos Santos, verdadeiramente embaraçado, apresentou o esfarrapado argumento de ser muito dispendiosa a publicação dos meus relatórios, por serem muito longos, o que estava longe de ser verdade.
Longo era apenas o respeitante à Região de Cercal – Odemira, por corresponder a uma intensa actividade, durante muitos anos, com resultados positivos, que seria útil divulgar!

Guimarães acabou por seleccionar para publicação, alguns dos meus relatórios que, de facto, não eram longos.
Todos estes relatórios tinham interesse e estavam devidamente preparados para publicação.
Um deles até deu origem a contrato com empresa privada, que se propôs dar continuidade aos estudos programados pelo SFM (Ver post N.º 3).
Mas o relatório sobre os Jazigos ferro - manganíferos de Cercal – Odemira manteve-se em arquivo, completamente ignorado da comunidade mineira.

O argumento do elevado custo era mais uma das falácias, em que este Director era fértil.

Nem sequer foi publicado o relatório sobre o jazigo do Torgal, que tem apenas 48 páginas, apesar do abundante conteúdo de sulfuretos de cobre, zinco e chumbo deste jazigo constituir relevante justificação para campanhas de prospecção, pelo SFM ou por entidades privadas, incluindo obviamente, os concessionários locais, com o objectivo de detectar concentrações destes metais, idênticas às da Faixa Piritosa.

Foi, sem dúvida, um propósito deliberado de ocultar os êxitos conseguidos com os estudos realizados por minha iniciativa.

A este propósito, ocorre-me referir que um grupo de Geólogos ambiciosos, recém – ingressados no SFM, menos interessados nos objectivos deste Serviço, do que na ocupação de cargos para que não tinham competência, a fim de justificarem o seu estranho comportamento, punham em dúvida o mérito do meu passado profissional, com o argumento de que poucos artigos de minha autoria encontravam publicados! (Ver post N.ºs 94 e 127)

Era, conhecido o critério do Director do SFM, na aplicação dos dinheiros que o Governo prodigamente disponibilizava, com a propósito de proporcionar o integral aproveitamento dos nossos recursos minerais, cuja potencialidade se evidenciava vigorosamente.

Em vez de apresentar bons resultados da aplicação dos dinheiros despendidos, vangloriava-se com a exibição de grandes saldos, no fim de cada ano.
Quando se apercebeu de que as dotações anuais teriam em conta os gastos dos anos anteriores, passou a evitar esses grandes saldos, não com aplicação dos dinheiros em estudos bem planificados e realizados, mas com aquisições de equipamentos de duvidosa utilidade, quando se aproximava o final de cada ano!

O que o Director, de facto, revelou, foi grande desorientação no uso das verbas concedidas ao SFM.

Durante o seu mandato, quase toda a actividade do SFM, que decorria sob sua directa orientação, no Norte e no Centro do País, foi mal planificada e deficientemente posta em prática, conduzindo a enorme desperdício de dinheiros públicos.

Dela não resultou significativa contribuição para acréscimo da riqueza mineira nacional (Ver post N.º 200).

Com base nos elementos constantes dos relatórios anuais, publicados até 1964, deduzi que as Brigadas do SFM, que actuaram no Norte e no Centro do País, unicamente, definiram reservas significativas, no jazigo de ferro de Guadramil e no jazigo de chumbo argentífero de Terramonte. Só este último foi objecto de exploração por empresa privada.

Tudo isto pude confirmar, após a deserção de Guimarães dos Santos, para Lisboa, para ocupar vaga de Inspector Superior, com muito menores responsabilidades, quando o novo Director me nomeou Chefe do Serviço de Prospecção Mineira, com âmbito de acção extensivo a todo o território metropolitano nacional.

Se Guimarães dos Santos pretendia parcimónia nos gastos, deveria ter seguido os exemplos, da Brigada de Prospecção Eléctrica e da Brigada do Sul, quando tive a meu cargo a respectiva chefia.

Tinha obrigação de ter valorizado os seguintes factos:
a) a redução de despesas equivalente a cerca de 1,2 milhões de euros, na moeda actual, quando adicionei às minhas funções normais de Chefe da Brigada de Prospecção Eléctrica, a orientação de toda a actividade no campo que estava a cargo de um dos engenheiros suecos, libertando o País dos pesados encargos resultantes da presença deste técnico. (Ver post N.º 7)
b) a diminuição de despesas equivalente a mais de 2,25 milhões de euros na moeda actual, com a substituição de 4 Agentes Técnicos de Engenharia, por operários localmente admitidos, que foram instruídos na execução das tarefas antes a cargo desses técnicos, daí resultando até aumento de produtividade (Ver também post N.º7).
c) Embora não seja possível quantificar a economia consequente da reorganização que introduzi, no período de 1948-56, na Secção de Cercal e Odemira, porque, relativamente ao período de 1942-48, não havia registo das despesas correspondentes aos trabalhos efectuados, é significativo o acréscimo de 30% da actividade no 2.º período, em que se enfrentaram problemas de maior dificuldade.
É, no entanto possível quantificar a diminuição das despesas, originada pela redução do número de técnicos envolvidos nos estudos. De 5 técnicos, passou-se para 2 em tempo integral e 1 (eu), em tempo parcial.
Esta diminuição foi equivalente a cerca de 1 milhão de euros, na moeda actual.

Perante estas reais economias, o custo da publicação que Guimarães dos Santos recusou teria sido insignificante.

Importantíssima foi a contribuição que estudos criteriosamente conduzidos deram, não só para o acréscimo da riqueza mineira nacional, mas também na formação de pessoal, para o correcto desempenho das variadas tarefas, no campo e no gabinete, exigidas para cumprimento dos objectivos do SFM.

Como já tinha constatado o desaparecimento de alguns relatórios do arquivo do SFM, cheguei a ter dúvidas quanto ao destino deste e de outros relatórios não publicados, de minha autoria.

De facto, Múrias de Queiroz, em vez de se preocupar em resolver esta grave situação, optou por solução fácil, quando não foi encontrado, na Secretaria, relatório de minha autoria, que entidade privada pretendia consultar.
Na minha ausência, teve a ousadia de retirar do meu gabinete, a cópia pessoal, que eu lá conservava, facto de que só tomei conhecimento, quando precisei de a usar e não a encontrando procurei saber a causa do desaparecimento.
A partir deste insólito acontecimento, todas as pastas do arquivo, que tive de organizar no meu gabinete, deixaram de ter, na lombada, indicação do seu conteúdo, socorrendo-me eu de um esquema memorizado, para as consultar (Ver post N.º 39).

Correram rumores de que relatórios respeitantes a minas de ouro, que tinham sido retirados do arquivo do SFM foram objecto de negociação.

Foi, porém, com satisfação, que tomei conhecimento de que, Gomes Moura, docente da Faculdade de Ciências do Porto, autor de valiosos livros de carácter didáctico, sobre os recursos minerais do País, conseguira consultar, nas actuais instalações do LNEGI, em S. Mamede de Infesta, o meu relatório sobre os jazigos ferro – manganíferos de Cercal – Odemira.
O seu comentário, no post N.º 15, destas “Vivências Mineiras”, é deveras elucidativo.
Classificou de “impressionante” este relatório.

Tenho também razões para acreditar que o exemplar arquivado em Beja ainda lá pode ser consultado, pois felizmente o núcleo mineiro oficial criado nesta cidade, que resistiu à destruição do SFM, com fortes responsabilidades dos autores de nefando documento (Ver posts 81 a 91), está actualmente entregue a pessoa com provas dadas de dedicação à causa mineira.

Suponho que o exemplar enviado à DGMSG em Lisboa foi cedido ao principal concessionário, para que dele fizesse uso, na retoma da lavra activa nas suas minas.
As minas entraram, de facto, em exploração, sendo o minério expedido para a Siderurgia Nacional, que o dinâmico empresário Champalimaud instalara no Seixal.

Conforme assinalei no post N.º 198, o meu relatório não foi publicado deliberadamente, mas o Colaborador do SFM, Cotelo Neiva já se tinha encarregado de preencher esta previsível lacuna.

Apresentou à III Assembleia Geral do “Instituto del Hierro y del Acero”, realizada em Madrid, em 1955, comunicação intitulada “Minerais ferro – manganesiens du Portugal”.
As duas visitas que lhe proporcionei à Região foram suficientes para descrever os jazigos, para mencionar as reservas certas e prováveis do seu conjunto, e para pôr em destaque as potencialidades para sulfuretos de cobre, chumbo e zinco.

E o Director do SFM fez publicar esta comunicação no Volume X de “Estudos, Notas e Trabalhos do SFM”!!!

Digno de realce é o contraste entre as atitudes do Professor Mc Gillavry da Universidade de Amsterdam e as do Professor Cotelo Neiva da Universidade de Coimbra.
Mc Gillavry, que viera, a Portugal, a título gratuito, orientar discípulos seus, que trouxe para prepararem teses de doutoramento, de que constariam investigações geológicas de alta qualidade, sobretudo do ponto de vista estrutural, respeitantes a diversas áreas do Alentejo (Ver post N.º 179), comprometera-se a não publicar a tese de Klein, antes de publicado o meu relatório, porque eu lhe facultara alguns dados sobre a Região de Cercal – Odemira.
Mc Gillavry chegara a desabafar comigo a pouca receptividade que encontrara nos Serviços de Geologia sediados em Lisboa, salientando o facto de me encontrar a mim, em actividade no campo, e não aos Geólogos desses Serviços.
Cotelo Neiva, em vez de prestar a colaboração que eu lhe pedira, para a qual era bem remunerado, apressou-se a publicar, sem minha autorização, os dados que ingenuamente lhe facultei, nas duas únicas visitas que lhe proporcionei à região.
Habituado, no Norte do País, a inverter os papéis, colocando Engenheiros e Agentes Técnicos de Engenharia a trabalhar para produzir documentos cuja publicação alimentasse a sua vaidade (Ver post N.º 198) achou natural adoptar idêntico procedimento no Sul, para comigo.
Conforme referi, foi grande a minha estupefacção por tamanho desrespeito por princípios éticos da parte de quem tinha o dever de dar bons exemplos nesse âmbito.
Quem, actualmente, quiser saber algo sobre os jazigos ferro – manganíferos de Cercal – Odemira, encontrará publicado este artigo de Cotelo Neiva e outra informação copiada do meu relatório de 1957, subscrita por Delfim de Carvalho, no Livro – Guia de Excursão que se realizou, em 1970-71, no âmbito do CHILAGE (Ver post N.º15) .

Conforme voltei a realçar, era essencial aprofundar o reconhecimento geológico da Região, não só para selecção das zonas de aplicação prioritária de métodos geofísicos e geoquímicos, mas também para facilitar a interpretação dos resultados obtidos com estes métodos.

A oportunidade surgiu quando, após a reorganização do SFM verificada em 1964, todos os estudos de geologia do SFM passaram a ficar sob a minha responsabilidade, incluídos nas atribuições do Serviço de Prospecção Mineira.

Começaram, então a ingressar no SFM novos Geólogos, e o Director, que então ainda respeitava a Orgânica de sua autoria (Ver post N.º 25), destacou, em 1966, o Delfim de Carvalho, para colaborar nos estudos programados, no Sul do País.

Foi este Geólogo que encarreguei de dar continuidade aos estudos na Região de Cercal – Odemira, tendo-lhe sugerido, logo de início, que analisasse a possibilidade de alterações hidrotermais constituírem guias a utilizar.

Todavia, Delfim de Carvalho, apesar das excepcionais condições de que desfrutou para bem desempenhar a sua missão, deixou-se dominar pela desmesurada ambição de rápida promoção pessoal, que lhe foi facilitada pela vaga de oportunismos gerados no pós – 25 de Abril.
Desrespeitou ostensivamente a disciplina que vigorava na 1.ª Brigada de Prospecção e os princípios de ética profissional (Ver post N.º86).
O caso do Salgadinho apressadamente promovido a Jazigo mineral, comparável a Neves – Corvo é bem elucidativo, a esse respeito.

Delfim de Carvalho acabou por se tornar o grande responsável por não ter sido feita cabal investigação das potencialidades da região de Cercal – Odemira, para jazigos idênticos aos da Faixa Piritosa.
Tenho tomado conhecimento, por diversas fontes, de contratos de prospecção, com várias empresas, para investigação desta Região, mas não consta que tivesse sido registado sucesso algum.

Assim se confirma o que anteriormente acontecia. As empresas privadas só eram bem sucedidas quando o sucesso já estava praticamente concretizado pelo SFM, como foram os casos de Carrasco – Moinho e Gavião, em Aljustrel, Neves – Corvo, em Castro Verde - Almodôvar e o caso presente dos jazigos ferro –manganíferos de Cercal – Odemira, que escapou á pedagógica história da prospecção mineira em Portugal, apresentada por José Goinhas.