quinta-feira, 8 de junho de 2017

56 A – 15.ª parte


XLVI– A imprevista utilidade do Relatório circunstanciado da minha actividade, na Região de Vila Nova de Cerveira - Caminha - Ponte de Lima, cuja apresentação me foi exigida, sem  o texto estar  acabado e sem a revisão final, invocando a sua  urgente necessidade


A Universidade do Minho, onde a Dr.ª Raquel Alves exerce actividade docente, já era minha conhecida, por contactos havidos, quase desde a sua fundação.

De facto, as Professoras Graciete Dias e Maria Amália, quando a Universidade ainda funcionava em pavilhões provisórios, tinham-me feito convite para reger Curso de Mestrado em Educação, Especialização em Biologia e Geologia. Disciplina de: Recursos Geológicos e Ambiente. Métodos de prospecção de jazigos minerais.

Os 13 mestrandos demonstraram grande interesse em conhecer aqueles métodos, cuja utilidade eu pude justificar, exemplificando com importantes descobertas, conseguidas por Instituição estatal portuguesa.

Dr.ª Raquel Alves preparava doutoramento, quando tive oportunidade de a conhecer.
Licenciada em Biologia e Geologia, escolhera zona da Região de Caminha – Vila Nova de Cerveira, para as suas investigações.

Surpreendeu-me o seu invulgar interesse em conhecer a nossa riqueza em recursos minerais, para seu racional aproveitamento, atitude que contrastava com o comportamento de vários técnicos da DGMSG, especialmente do SFM que, além de nada produzirem, ainda se ocupavam a dificultar a actuação dos que se dedicavam ao trabalho útil, como tenho vindo a descrever.


Das conversas que tivemos, quer directas ou telefónicas, quer por e-mail, destaco os seguintes temas:


1 – O meu blogue
Frequenta com assiduidade, este blogue, dele imprimindo todos os posts. Mas pede alguns esclarecimentos. Por exemplo, o que quero dizer com teorias negativistas.

Recordo-lhe, entre outros, o caso de Soares Carneiro, quando era Director-Geral de Minas e desvalorizava os jazigos filonianos.

Para ele, só formações mineralizadas estratificadas teriam interesse, não apoiando, consequentemente, as investigações que, sob minha direcção, decorriam, há anos, na Faixa Metalífera da Beira Litoral, para detectar ocorrências de cobre, chumbo, zinco, cobalto, etc.

Em sua opinião, Cu, Pb e Zn contidos nas pirites alentejanas cobririam amplamente todas as necessidades destes metais.

Outra opinião negativista do mesmo Director-Geral impediu que se investigasse a possível existência de jazigos de tungsténio, porque, dizia ele, já todos tinham sido descobertos “com as botas”, devido à intensa procura, durante a 2.ª Grande Guerra Mundial!

Também não acreditava poderem ocorrer metais do grupo da platina, no maciço de rochas básicas de Bragança - Vinhais, apesar das revelações de Cotelo Neiva, por exames microscópicos.

Não autorizou, por isso, que se iniciassem novos estudos nessa zona.

Registo, ainda o caso de Geólogo oriundo do prestigiado BRGM francês, demonstrativo de não ter lido o excelente Tratado de “Mining Geology”, de Mc Kinstry, quando este autor aconselha prudência, quanto ao mérito atribuído aos modelos geológicos.

De facto, esse Geólogo, perante os resultados de uma sondagem projectada para investigar anomalia gravimétrica, detectada pelo SFM, na região de Castro Verde – Almodovar, interpretou não existir jazigo, por ter sido ultrapassada, a sua habitual localização na série estratigráfica, sem que ele tivesse sido intersectado.

A consequência de não ter tentado explicar expressiva anomalia gravimétrica, foi um atraso de 5 anos na descoberta do maior jazigo de cobre, zinco, chumbo, e também oligoelementos essenciais às novas tecnologias, existente na Europa,

Para além do que consta do blogue, a Dr.ª Raquel Alves tem amplo conhecimento da actividade do Organismo, que sucedeu ao SFM, tendo tido presença, em vários núcleos, entre os quais o de Alfragide, ainda para mim desconhecido.

Soube, por esse facto, haver em Alfragide, documentos comprovativos de contratos, respeitantes à sua zona de estudo, sendo um deles com Empresa à qual o Eng.º Barros tem ligações.


2- O GEPAAV  - Minas e mineiros em Vilar de Mouros, no século XX

O GEPAAV é uma notável instituição, criada em janeiro de 2004, que se dedica ao estudo e preservação do património de Vilar de Mouros.

Dentre as suas actividades, contam-se publicações sobre a história de Vilar de Mouros.

A Dr.ª Raquel, enquanto preparava o seu doutoramento, ocupava-se, também, em colaboração com 5 outros estudiosos, na elaboração de livro que se intitularia “Minas e mineiros em Vilar de Mouros, no século XX”.

Tencionando citar os estudos do SFM, solicitou autorização para inserir a minha fotografia publicada no blogue, o que eu, obviamente, consenti.

Prometeu-me um exemplar, quando fosse publicado.

Mas aconteceu que minha filha, na ignorância destes antecedentes, viu o livro à venda em livraria de Caminha e logo fez a aquisição, consciente do meu interesse em o ler.

As referências ao SFM são pormenorizadas, ao ponto de serem mencionados os nomes de todas as pessoas que compunham o núcleo deste Organismo, que esteve sediado em Caminha.

Ocorreu-me, então, oferecer um exemplar a D. Vitória Paulo, viúva de José Catarino, para ela ficar ciente do apreço em que foram tidos, externamente ao SFM, os estudos em que seu marido colaborou muito dedicadamente.

Na ignorância do e-mail de Dr.ª Raquel, dirigi-me ao GEPPAV, que para ela encaminhou o meu pedido.

Dr.ª Raquel, ofereceu-me 2 exemplares, um dos quais com simpática dedicatória.

A Mina do Castelhão é o principal alvo dos estudos, em Vilar de Mouros.

São descritas conversas com antigos mineiros, que se revelaram mais úteis do que os relatórios oficiais que consultou.

Era ainda acessível uma galeria, segundo o filão, do qual constatou só ter sido extraída a parte mais rica. Observou existir muita volframite, nas escombreiras.

Costumava, por isso, levar lá os seus alunos, a fim de procurarem e levarem amostras deste valioso mineral.


3 - Os estudos de Dr.ª Raquel, na sua zona de doutoramento


Tendo lido o meu artigo sobre prospecção magnética, na Região de Caminha, inserido em publicação do CHILAGE (Congresso Hispano – Luso – Americano de Geologia Económica), apercebeu-se da importância fundamental deste documento, para conhecer a estrutura geológica da formação mineralizada que tinha sido alvo de intensa exploração lucrativa.

Um clássico exemplo de excepcionais resultados da prospecção magnética, (duas anomalias, formando dipolos) ocorre na Mina da Fervença, onde ainda pode observar-se, no Rio Coura, junto à ponte, e perto de um dos pilares, minério rico em scheelite e ferberite, em associação com a pirrotite magnética.

O método magnético teve ainda uma curiosa aplicação, no interior da Mina de Valdarcas.

O Director Técnico, desorientado para encontrar o jazigo, em piso inferior ao 3.º, só acessível por poço interior, pediu o meu auxílio e foi com uso de magnetómetro que lhe indiquei como reencontrá-lo.

Dr.ª Raquel entrevistara antigos mineiros, realçando o caso do capataz João de Cabração, que embora trôpego e com dificuldade em se expressar, conservava memória, para descrever acontecimentos nas Minas de Covas.

Tinha já conhecimento directo da geologia e dos recursos minerais da sua zona de estudo, merecendo referência a descoberta de novas ocorrências de scheelite, de minerais de lítio, tantalites e columbites e ouro!

Minerais de lítio tinham sido anteriormente encontrados por Leal Gomes.

Merece-lhe também referência a intensa actividade de Companhia francesa, em mina de Cabração, na qual detectou, não só lítio, mas também tântalo e nióbio.

Ficara ciente das dificuldades, que enfrenta o ensino das Ciências da Terra, em Portugal.

Na sua zona de estudo, foram Geólogos estrangeiros (o alemão Bayer, os checos Yanecka e Strnad), que desvendaram a real estrutura geológica, que estava erradamente caracterizada como filoniana, e era afinal formação estratificada, com dobramento em doma, cuja charneira já tinha sido erodida.

As minas, que estiveram em exploração (Valdarcas, Lapa Grande, Cerdeirinha, Fervença), localizam-se nos flancos deste doma, tendo as respectivas concessões sido atribuídas a duas empresas (Geomina e Gaudêncio, Valente & Faria)

É curioso registar que, na Mina de Valdarcas, uma galeria aberta, próximo da superfície, sob um afloramento onde a formação mineralizada apresenta grande espessura, nenhuma mineralização intersectou!

Isto acontecia porque se interpretava o jazigo como filoniano.

A galeria passara, sob uma dobra secundária do doma, como se deduz do citado artigo de minha autoria.


4 - Mineralometria


Dr.ª Raquel tem aplicado mineralometria, inicialmente com uso de lupa binocular e um íman.

Tentou equipamento Franz. Mas houve desentendimento com pessoal do Laboratório e não se tem servido dele.

Quis saber a minha opinião sobre a aplicabilidade da mineralometria, onde a usei em Caminha.

Disse-lhe que quase só a utilizei, para substituir as análises geoquímicas, que o Chefe do Laboratório do SFM decidira não mandar efectuar.

Ficou entusiasmada quando viu, no meu blogue o meu parecer de que a técnica deveria ser extensiva a todo o País, em conjunto com a colheita de amostras para análise geoquímica.

Aproveitei o ensejo para sugerir a colaboração de todas as Universidades nesta matéria, cada uma se encarregando de uma parcela do território, para o ir estudando, sem pressas. E admiti que muitas surpresas seriam de esperar.

Sabia da presença de Eng.º do SFM Adalberto de Carvalho, na região, em pesquisa de ouro e eu expliquei como este indivíduo, quando era ainda Agente Técnico de Engenharia, se considerou especializado, na prospecção à bateia.

Ele e outros técnicos, supostos especialistas em investigações mineiras, tinham sido destacados para missão a Moçambique, na década de 40 do passado século, mas encontraram lá quem sabia mais do que eles.

Mostrou grande admiração quando a informei da minha descoberta do jazigo de cobre, chumbo, zinco e prata, do Torgal, em Odemira, através da simples investigação dos materiais que convergem nas linhas de água.

Dr.ª Raquel tinha-se deslocado à sede do SFM, em S. Mamede de Infesta, com o objectivo de consultar, na Biblioteca deste Organismo, Revistas e livros sobre mineralometria e sobre artigos respeitantes à sua zona de estudo.

Pretendia, sobretudo, consultar a Memória do BRGM N.º 69, sobre “Prospecção à bateia no Maciço Armoricano”, face à importância que lhe tinha atribuído o seu orientador, o Professor Leal Gomes, que fora meu aluno, na Faculdade de Ciências do Porto.

A bibliotecária informou que tal Memória estava por mim requisitada.

Para a poder consultar, combinou-se que eu lha entregaria, na residência onde me encontrava.

Dr.ª Raquel compareceu, como se combinara, recebeu a Revista e informou que a digitalizaria.

Quando ma devolveu, ofereceu um DVD contendo a Memória do BRGM, desenhos de Valdarcas, etc.


5 - Os estudos de Union Carbide


Union Carbide, quando decidiu fazer investimentos em Portugal, com o objectivo de explorar minerais de tungsténio, deu preferência à Região de Caminha, para os seus trabalhos visando definir reservas desses recursos, por ter lido o meu artigo publicado pelo CHILAGE e por minhas informações posteriores àquela publicação.

Durante a sua presença no País, prestei-lhe permanente colaboração.

Por tal motivo a Companhia, chegou a solicitar ao Director-Geral de Minas, a minha nomeação como seu consultor, à semelhança do acontecido com contratos celebrados na Faixa Piritosa Alentejana.

Todavia, não obteve resposta.

Tive oportunidade de contactar com 20 Geólogos, que Union Carbide fez passar pela sua zona de estudo, talvez para lhes proporcionar estágios de formação.

Registo o caso do Geólogo sénior Holingsworth, que tendo vindo a Portugal, por curto período, para resolver carência que se deparou à Empresa, me pediu para auxiliar Cahoon, ainda pouco experiente, nas funções de Geólogo – Chefe, para que tinha sido nomeado.

Achei estranho o facto de, em alguns ambientes mineiros, se atribuir a Union Carbide o maior mérito nas investigações na zona das Minas de Covas, em detrimento da actividade do SFM.

A realidade era, porém, que esta Importante Companhia americana se limitava a pormenorizar, sobretudo através de muitas sondagens e de ensaios mineralúrgicos, as anteriores investigações do SFM, pois o seu objectivo era definir reservas certas, em quantidade e qualidade, que justificassem passar à exploração.

Pretendia atingir um milhão de toneladas com o teor mínimo de 0,8 % de WO3 e quase isso conseguiu.

Aconteceu, porém, que uma imprevista desvalorização do tungsténio, provocada pela concorrência da China, nos mercados internacionais, levou ao encerramento da quase totalidade das minas de tungsténio da Europa.

Union Carbide, também afectada por este acontecimento decidiu rescindir os seus contratos com empresas privadas e com o Estado Português.

Embora a Empresa enviasse à DGMSG, relatórios da sua actividade, no cumprimento das leis em vigor, eu sabia, pelos contactos que com ela mantinha, de documentação importante, que não era enviada, sendo certo que a Circunscrição Mineira do Norte, também a não exigia, por ignorar a sua existência.

Ao tomar conhecimento da decisão de Union Carbide, dirigi-me ao Dr. Bronkorst, que era então o seu dirigente, a solicitar a entrega dessa documentação, bem como os testemunhos das sondagens de sua iniciativa.

Se o jazigo não tinha interesse para grande Empresa, com sede longínqua, seria eventualmente valioso para empresa nacional bem administrada e tal documentação poderia ser útil a uma reavaliação.

O pedido foi bem acolhido, tendo-me Bronkorst informado que faria a entrega dos documentos na DGMDG, em Lisboa e se encarregaria do transporte dos testemunhos para local que lhe fosse indicado, desde que disso o informassem, até ao fim do ano.

Tal como acontecera, em outros casos, Dr.ª Raquel ficara perplexa com o que encontrou, em vários dos meus posts, sobre o parasitismo, praticado na documentação por mim requerida a Bronkorst.

Os “técnicos de papel selado”, comodamente instalados em Lisboa, estavam a parasitar esta documentação, para mostrar trabalho, sem necessidade de fazerem estudos, no terreno!

Assim se explicava a demora, que eu estranhava, para tal documentação me chegar às mãos!

Quanto ao transporte dos testemunhos e ao incrível desleixo na sua arrumação, a perplexidade não foi menor.

Continua …