sexta-feira, 8 de abril de 2016

56 A – 13.ª parte- Continuação 1

            XLV –A minha proposta de instituição de um Centro de Investigação em Prospecção Mineira, no Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências do Porto, vocacionado para prestar serviços à comunidade, começando pela imediata retoma dos estudos na Região de Vila Nova de Cerveira - Caminha - Ponte de Lima

Tenho vindo a dar o devido relevo às diligências da CEE, em diferentes épocas, no sentido de facilitar a adopção de medidas conducentes a um racional aproveitamento dos recursos minerais existentes nos países seus constituintes, ao mesmo tempo que acentuo o contraste com deliberações, em sentido oposto, de portugueses investidos em altos cargos directivos, que ocasionaram a progressiva extinção de importantes núcleos de actividade do Serviço de Fomento Mineiro (SFM) da Direcção-Geral de Minas e dos Serviços Geológicos (DGMSG).

Foram responsáveis por tais deliberações, Engenheiros e Geólogos, inexperientes em prospecção mineira, que conseguiram apropriar-se de cargos directivos, através de estratagemas, aos quais nem faltou descarada ostentação de currículo falso (Ver 5.ª parte deste post), tudo isto agravado pelo “regabofe” subsequente à Revolução de Abril de 1974 (Ver posts N.ºs 126 e 127).

Tão ignorantes, quanto arrogantes, na tomada de decisões erradas, estes reais criminosos, sem respeitarem as determinações reiteradamente expressas no Decreto-lei N:º 29725 de 1939, foram originando a sucessiva eliminação de núcleos que, em certos casos, tinham atingido notável capacidade técnica.

O primeiro Director do SFM, o Engenheiro António Bernardo Ferreira, tinha criado esses núcleos, nas principais zonas mineiras, de Norte a Sul do território continental português, confiante de que o pessoal técnico para eles destacado teria, no decurso do tempo, o voluntarismo de evoluir, da sua formação académica de base, até níveis que lhe permitissem resolver, correctamente, os complexos problemas que inevitavelmente iriam enfrentar.
Bernardo Ferreira não hesitou mesmo em recorrer a empresas estrangeiras, para facilitar essa evolução, introduzindo as mais modernas técnicas, então conhecidas.
Infelizmente Bernardo Ferreira faleceu em 1947.
Todos os dirigentes, que lhe sucederam, revelaram espantosa mediocridade para o exercício de tão importante cargo.
O segundo Director, o Engenheiro Guimarães dos Santos, cedo demonstrou preocupação em dar por findos estudos iniciados na vigência directiva de Bernardo Ferreira.
Em sua opinião. os estudos no terreno, deveriam ter curta duração.
E, curiosamente, exprimia o parecer de que não deveríamos ter a pretensão de “tudo” descobrir! Algo deveríamos deixar para as gerações vindouras!!!

Ele não tinha o elementar cuidado de se actualizar, tomando conhecimento do que se publicava.
Se consultasse os livros e os artigos que se editavam, constataria que uma das principais características da prospecção é o seu período de gestação, sobretudo a nível estatal, podendo necessitar-se de alongamentos por 10, 20, 30 ou mesmo 50 anos, para se obterem resultados positivos, que serão sempre compensadores dos investimentos, se bem orientados.
Exigia relatórios finais, em vez de relatórios de fases de estudo completadas, cujos resultados mereciam divulgação, não impondo necessariamente a extinção dos núcleos que tinham sido instituídos, para permitir esses estudos.

Foi assim que mandou terminar a campanha de prospecção na Faixa Piritosa Alentejana, quando nem sequer o levantamento pelo método electromagnético Turam, da responsabilidade da Empresa sueca ABEM, tinha abrangido todas as áreas potenciais definidas pelo levantamento litológico que eu tinha sugerido e que dera origem, para sua execução, à 1.ª Brigada de Levantamentos Litológicos.

Os primeiros grandes sucessos do SFM tiveram origem nas iniciativas de Bernardo Ferreira.

Fora, de facto, em investigação de forte anomalia registada pelo método electromagnético Turam que se descobrira importante concentração de minério piritoso em Aljustrel.

Este resultado foi inserido em artigo, de minha autoria, publicado na Revista do SFM, intitulado “Prospecção de Pirites no Baixo Alentejo”, no qual exprimi o parecer de que o estudo da Faixa Piritosa estava apenas na sua fase inicial, muito havendo ainda a investigar por outras técnicas, com especial relevância para a gravimetria.

Um extracto desse artigo, limitado à descoberta em Aljustrel foi, depois, objecto de novo artigo também de minha autoria, que fui convidado a elaborar, pela Direcção da EAEG (European Association of Exploration Geophysicists), para ser inserido em publicação destinada a divulgar, internacionalmente, os maiores êxitos da aplicação de métodos geofísicos, em determinado período.

A Guimarães dos Santos, também não interessava a investigação, por técnicas apropriadas, de potencialidades, antes insuspeitadas, que os estudos, criteriosamente conduzidos, iam revelando, em áreas inicialmente seleccionadas para pesquisas por sanjas, galerias, poços.

Era óbvio que haveria de se regressar a essas zonas precipitadamente abandonadas, para investigar todas as potencialidades, que se iam revelando.
Mas como já disse, para Guimarães dos Santos métodos diferentes dos tradicionais trabalhos mineiros, só no Sul tinham cabimento!

Foi assim que eu também fui intimado a dar por findo o estudo dos jazigos ferro-manganíferos da Região de Cercal – Odemira, com o argumento de já se prolongar por 14 anos.

A grande maioria dos trabalhos decorrera, durante os últimos 7 anos, sob minha directa orientação, tendo para tal contribuído a possibilidade que me foi proporcionada de usar óptimo equipamento, gratuitamente posto à disposição do SFM, ao abrigo do Plano Marshall.

A muito custo, ainda consegui autorização para concluir o levantamento geológico de uma área de 399 km2, abrangendo a totalidade das ocorrências conhecidas de minérios de ferro e manganés.
Apresentei o relatório respectivo, em 4 exemplares. cada um com 4 grossos volumes (enviados para Direcção do SFM em S. Mamede de Infesta, para a sede da DGMSG em Lisboa, para o arquivo da sede da Brigada do Sul em Bela, ficando eu com o 5.º exemplar).

Neste volumoso relatório, corrigi erros grosseiros de anteriores publicações do SFM, não detectados, em prévia apreciação feita pelo Conselho Superior de Minas.
Estas anteriores publicações, subscritas por um Engenheiro de Minas, um Geólogo e vários Agentes Técnicos de Engenharia, estavam totalmente erradas, nas referências geológicas e até continham grosseiro erro topográfico, mas mereceram elogio da “Brigada do Reumático” em que se convertera o Conselho Superior de Minas.

 Tão extraordinário elogio originou promoção do Engenheiro, coautor dos erros grosseiros que eu corrigi!!
E foi assim, que tamanho ignorante em Geologia e em Topografia me ultrapassou na classificação no Quadro da DGMSG, chegando, com base na posição hierárquica conquistada, a dar-me ordens, muitas vezes despropositadas!!!

Eu estava convencido de que o meu relatório seria publicado, como era regra instituída. (Ver post Nº 205)
Tal não aconteceu, porém, com o falacioso argumento de que seria muito dispendiosa a sua publicação.
Outras matérias, apresentadas em grosso volume, como por exemplo, o Catálogo das Minas de ferro do Continente, de inferior mérito, por não representarem trabalho original, tiveram honras de figurar na Série “Relatórios” do SFM.
O mesmo viria a acontecer com a maioria dos outros relatórios de minha autoria, conforme já tenho assinalado.

Mas Guimarães dos Santos, que nunca se libertara das características burocráticas herdadas da sua passagem pela sede da DGMSG em Lisboa, chamou para seus mais directos colaboradores, os então jovens Engenheiros Múrias de Queiroz e Orlando Cardoso que, durante a vigência directiva de Bernardo Ferreira, pouco ou nada de útil tinham produzido

Isto contribuiu, muito significativamente, para o completo falhanço da maioria dos estudos realizados, durante o seu mandato, nas zonas Norte e Centro do País.

Mas havia também os Agentes Técnicos de Engenharia, Fernando Macieira e Luís de Albuquerque e Castro, dotados de grande capacidade organizativa, que Bernardo Ferreira tinha destacado da sede em Lisboa, para seus directos colaboradores e Guimarães dos Santos não desdenhou mantê-los nas funções que antes bem desempenhavam.

Uma dessas funções era a preparação dos relatórios da actividade do SFM, da qual se encarregava Fernando Macieira, compilando os principais dados constantes dos relatórios dos diferentes núcleos do SFM (no terreno e nos laboratórios).

Estes relatórios da actividade total do SFM eram, depois, publicados na Revista, “Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro”, que tinha sido criada por iniciativa do colaborador Cotelo Neiva.

Da actividade descrita, destacava-se sempre o que acontecia na Brigada do Sul, sendo obviamente omitidos os meus comentários aos obstáculos introduzidos pelo Director e pelos seus colaboradores, que podiam integrar-se no velho aforismo “dividir para governar”.

Era este realmente, o resultado da criação de Brigadas ditas especializadas, que se revelaram verdadeiras anedotas, por terem sido confiadas a técnicos sem a preparação adequada ao desempenho das funções que lhes foram atribuídas.
Quem hoje quiser saber o que foi feito, nesta Região de Cercal – Odemira, pode, pelo menos, consultar estes relatórios da actividade do SFM.

Perante o regabofe a que esteve sujeito o SFM, não me admiraria se o meu relatório de Cercal-Odemira tivesse sido destruído.

Fica aqui, para tal eventualidade, a informação de que conservo um exemplar em meu poder.

Mas aconteceu um facto surpreendente. 

Eu tinha solicitado ao Professor da Universidade de Coimbra, Dr. Cotelo Neiva, na sua qualidade de Colaborador do SFM, auxílio na resolução de problemas no âmbito da geologia estrutural, que se me deparavam, na Região de Cercal - Odemira.

Acedendo ao meu pedido, Cotelo Neiva fez duas visitas à Região, durante as quais lhe transmiti as minhas ideias sobre as potencialidades que eu detectara, quanto à ocorrência de concentrações de sulfuretos de cobre, chumbo e zinco, quer nos filões ferro-manganíferos, bem evidenciadas no jazigo do Torgal, por mim descoberto, nas proximidades de Odemira, quer em massas estratificadas idênticas às da Faixa Piritosa.

O auxílio de Cotelo Neiva foi praticamente nulo, mas este Colaborador, sem o mínimo escrúpulo, usou procedimento que afinal já adoptava normalmente, na zona Norte do SFM.
Ao seu vastíssimo currículo, adicionou artigo sobre as ocorrências minerais (conhecidas e potenciais) da Região de Cercal - Odemira, incluindo até as reservas minerais evidenciadas pelo SFM!!!-

E este artigo foi publicado na Revista do SFM !!!!.

 Continua …