segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

209 – Reflexões sobre os recursos naturais de Portugal

    

        Ouço, com frequência, apresentar a pobreza de Portugal em recursos naturais, como uma das principais causas do nosso atraso relativamente à maioria dos países da União Europeia.
       
        Ouço ainda acusações de estarmos a viver acima das nossas possibilidades, recorrendo a empréstimos, por alegadamente não dispormos de recursos para oferecer, nas trocas comerciais, querendo manter um nível de vida próximo do desses países.
       
        Somos incluídos num grupo pejorativamente designado por “PIGS”, o que, em inglês, significa “PORCOS”, acrónimo constituído com as letras iniciais de países, que, como o nosso, enfrentam grandes dificuldades económicas (Portugal, Italy Greece, Spain).
        Seremos “porcos”, talvez por “emporcalharmos” a nossa dignidade, mendigando bens alheios, por não sabermos aproveitar os que temos.
       
        O que é grave é a nossa pobreza nesses recursos ser naturalmente assumida por personalidades investidas em cargos de elevada responsabilidade na vida nacional.

        De facto, ouvi, no programa de Televisão, “Prós e Contras”, emitido em 19 de Novembro passado, sobre problemas do ensino superior (universitário e politécnico), acentuar a nossa pobreza em recursos naturais, sendo até depreciativamente afirmado não ser com o petróleo de Peniche, o gás do Algarve ou o ouro de Jales que resolveremos a crise com que o País se debate.
       
        Os Reitores realçaram a utilidade dos conhecimentos que o ensino superior proporciona e censuraram vigorosamente os anunciados cortes nas dotações orçamentais que, a confirmarem-se, inviabilizariam um ensino de qualidade.
       
        Chamaram, no entanto, a atenção para a eficiência do ensino superior que se estava praticando, traduzida no baixo custo por aluno, até inferior ao do ensino secundário!

        Perante as reflexões antecedentes, afigurou-se-me oportuno interromper, uma vez mais, a análise crítica que vinha fazendo ao documento intitulado “A prospecção mineira em Portugal”, com o qual o Geólogo José Goinhas pretendeu contribuir para a elaboração de um “Novo Plano Mineiro Nacional”.

        Antes de caracterizar, quanto ao seu real mérito, os nossos recursos naturais, seria normal identificar a sua natureza.  
       
        Em primeiro lugar, temos, obviamente, os recursos humanos e, a este respeito, estou inteiramente de acordo com os senhores Reitores quanto à necessidade imperiosa de dar adequada formação, a diferentes níveis, a todos os portugueses, segundo as suas vocações e capacidades.

       Em segundo plano, vêm os recursos minerais, os agrícolo-pecuários e os piscatórios.

        De nada nos servirão os recursos deste segundo plano, se não tivermos gente capaz de os identificar e aproveitar racionalmente!

        É-me difícil compreender o empenho em dar formação superior a grande número de jovens, para depois os aconselhar a emigrarem, por não encontrarem emprego no País.
        O Estado, isto é, todos nós, contribuintes, fazemos grandes investimentos na formação destes jovens (os 3000 € a 4000 € por aluno, citados pelos Reitores) e depois é o Governo a aconselhá-los a emigrarem para países desenvolvidos, onde ajudarão a desenvolver ainda mais estes países, enquanto por cá muito há para fazer, aproveitando os recursos que temos e os que ainda nem identificamos!”
        Isto corresponde a exportar riqueza (a chamada massa cinzenta), gratuitamente!

        Relativamente aos recursos que considerei em segundo plano, vou concentrar-me, quase exclusivamente nos recursos minerais, pois foi na sua área que desempenhei a minha actividade profissional, longa de 47 anos.

        Nestas “Vivências Mineiras”, cuja leitura sugiro aos Senhores Reitores, que estiveram presentes no programa da TV a que atrás aludi, já muita informação se contém que, no âmbito mineiro, está em desacordo com ideias expressas sobre o seu real valor.
       
        Repetindo algo do que escrevi, começo por citar três jazigos minerais, bem demonstrativos da posição privilegiada que Portugal ocupa, a nível mundial, apesar da exiguidade do seu território.

        Merece especial referência o jazigo de Neves – Corvo, situado na região de Castro Verde – Almodôvar, recentemente descoberto, que se tornou o maior produtor europeu de minério de cobre, quando entrou em exploração (ver posts N.ºs 37 a 43).
       
        No que respeita a minérios de tungsténio, Portugal é, desde longa data, um dos maiores produtores da Europa, sendo as suas reservas avaliadas em 1% das reservas mundiais.
        Na Mina da Panasqueira, situada no concelho do Fundão é explorado o seu principal jazigo, bem conhecido pelas belas e valiosas amostras (autênticos bibelots) exibidas na maioria dos principais museus mineralógicos, de todo o Mundo.
       
        Portugal, tem, além disso, enormes reservas de minério de ferro no jazigo de Moncorvo, já avaliadas em cerca de 600 milhões de toneladas.
        Todavia, de acordo com resultados de técnicas geofísicas recentemente aplicadas, essas reservas poderão ascender a biliões de toneladas, igualando ou ultrapassando os grandes jazigos suecos de Kirunavaara e Luossavaara (Ver posts N.ºs 67 e 67-A).
        O jazigo de Moncorvo não está em exploração, provavelmente por se situar em Portugal.
        Se ocorresse na Suécia, na Alemanha ou noutro país dos mais industrializados, há muito que seria uma das principais fontes de abastecimento dos altos-fornos europeus.

        Se, possuindo estes três gigantescos jazigos, somos pobres em reservas minerais, eu pergunto: que exigimos para nos considerarmos ricos.

        Lembrando a anedota contada por Soares Carneiro, quando ocupou o cargo de Director - Geral de Minas, Deus não estaria, realmente, distraído, quando privilegiava Portugal, na distribuição da riquezas minerais pelos países do mundo.
        Carneiro utilizava a anedota para justificar a incapacidade de os portugueses bem aproveitarem os recursos com que a Natureza prodigamente os bafejou.
        Esquecia, porém, as suas grandes responsabilidades, em tal matéria (ver post N.º 191).

        A este propósito, ocorre-me ainda a expressão do Professor Veiga Simão, quando presidia a reunião sobre temas mineiros, na qualidade de Ministro da Economia: Disse Veiga Simão:
         Costuma dizer-se que somos um País pobre de recursos. No entanto, depois da exposição que aqui foi feita, chego à conclusão que não somos tão pobres como dizem.
        O que somos é pobres em tomar decisões e iniciativas rápidas. Nisso somos pobres ou quase nulos”(ver post N.º 155).

        Mas Veiga Simão, conforme tive oportunidade de o esclarecer, pessoalmente, (ver posts N.ºs 166 a 173) não estava inteiramente correcto.
       
        É que, em 1939, quando o País assistia, eufórico, a uma desenfreada exploração de minérios de tungsténio, desbaratando uma riqueza que se não se renova, houve um Ministro, o Engenheiro Ferreira Dias, que tomou a iniciativa de instituir um Organismo de Estado - o Serviço de Fomento Mineiro (SFM) - com o objectivo de proceder ao inventário dos nossos recursos minerais e disciplinar o seu aproveitamento.
        E houve, depois, o Engenheiro de Minas António Bernardo Ferreira que muito se empenhou na concretização destes objectivos.
       
        Mas a Bernardo Ferreira, prematuramente falecido, sucederam, dirigentes que estiveram longe de corresponder ao que deles seria legítimo esperar, daí resultando, graves erros e enormes atrasos nas investigações necessárias ao cumprimento dos objectivos do SFM.
       
        Todavia, apesar dos incríveis obstáculos criados por esses incompetentes dirigentes, houve funcionários dedicados que foram capazes de tomar iniciativas, que conduziram a significativos êxitos, destacando-se dentre eles, a descoberta do jazigo de Neves – Corvo, que foi apresentado ao Ministro como uma enorme riqueza mineira nacional.
       
        Conforme tenho referido exaustivamente, nestas “Vivências Mineiras”, foi com grande empenho e persistência, durante muitos anos, que organizei uma Brigada de Prospecção Mineira, constituída por pessoal com especialização, a diversos níveis, em levantamentos geológicos e em levantamentos por variados métodos geofísicos (gravimétrico, magnético, eléctricos, electromagnéticos, etc.) e geoquímicos.
       
        Foi à actuação desta Brigada, que se ficou a dever a anomalia gravimétrica que se revelou ser a assinatura do jazigo de Neves – Corvo.
        As vicissitudes por que passou o SFM, após a Revolução de Abril de 1974, originaram a desorganização Brigada, na qual se depositavam as maiores esperanças no aperfeiçoamento geral dos estudos do SFM (ver posts N.ºs 81 a 91).

        As técnicas que tinham sido introduzidas mantiveram-se em aplicação, no terreno, mas faltou supervisão apta a fazer a correcta interpretação dos resultados.
       
        De facto, foi com enorme perplexidade que, já afastado compulsivamente dessa Brigada, deparei com artigo publicado na Revista do SFM, com dados referentes à Região de Montemor-o-Novo, que são sugestivos da existência de enorme jazigo de sulfuretos, maior que Neves - Corvo.
        Estranhamente estes dados continuam por investigar, apesar de para eles eu ter chamado a atenção do Governo! (ver post N.º202)
       
         Quanto ao ouro da Região de Jales – Três Minas e aos produtos petrolíferos líquidos ou gasosos em Peniche ou no Algarve, tão depreciados pelo Senhor Reitor da Universidade de Coimbra, não posso deixar de manifestar o meu total desacordo.

        Em Jales e Três Minas, já os romanos extraíram ouro, usando os procedimentos primitivos, então conhecidos.
        Recentemente, houve intensa exploração, pois os romanos só conseguiram extrair o que se encontrava no estado livre, deixando intacto o que se localizava nas redes cristalinas de outros minerais.
        Pelo que chegou ao meu conhecimento, o jazigo nunca foi devidamente reconhecido, como aliás era regra na maioria dos jazigos portugueses.
        Quando pretendi aplicar, neste jazigo, técnicas geofísicas, que tinham sido bem-sucedidas no jazigo de Aparis em Barrancos, cujas características são algo semelhantes, não encontrei apoio da Direcção do SFM e o assunto foi sendo sucessivamente adiado. (ver post N.º30)

        Por alguma razão, aparecem Companhias sobretudo estrangeiras interessadas em investir nesta Região.
        Têm a noção de que o consultor mineiro canadiano Thomas Elliot tem razão quando afirma.
        Old mines never die…they just close down, and rest a while”.
        Thomas Elliot tinha chegado a esta conclusão, após análise de êxitos e insucessos da indústria mineira, num período de 59 anos.
        Em publicação do CIM, aconselhava o Governo a olhar para as minas antigas não como tendo esgotado os respectivos jazigos, mas como zonas potenciais, susceptíveis de ainda produzirem grandes riquezas e proporcionarem trabalho a muita gente.
       
        E quanto aos produtos petrolíferos, penso que, neste País, ninguém sabe o que realmente se passa. Trata-se de matéria altamente especializada, na qual não temos técnicos suficientemente preparados.
        Se grandes empresas continuam interessadas em investigar, quer a área emersa (on-shore), quer a extensa área imersa (off-shore) sobre a qual o País tem jurisdição, não é, com certeza, para divertimento!
       
        Não é, realmente, “apenas“ com o ouro de Jales, cujo valor está por determinar, nem com os produtos petrolíferos, cuja real importância ignoramos, que resolveremos os nossos problemas.
        Mas é com estes e outros recursos, quando convenientemente identificados, que teremos de contar. Não devemos desprezar qualquer dos nossos recursos, nem ignorar as nossas potencialidades.
        Novo provérbio vem à minha mente: “Fui a casa do vizinho, envergonhei-me!; fui à minha casa, remediei-me!”:

        A este respeito, reconheço que o País está longe de investigado, quanto aos seus recursos minerais e que os serviços oficiais têm grandes responsabilidades em tal situação.
       
        Na realidade, contra o que seria expectável, os principais dirigentes, em vez de estimularem os estudos com vista ao cumprimento dos nobres objectivos do SFM, muito os dificultaram, conforme tenho denunciado nestas “Vivências Mineiras”.
       
        O poder e o saber continuaram dissociados, como no tempo do Barão de Eschwege (Ver post N.º 1)
        “Lamentava o Barão que o saber estivesse dum lado e o poder de outro, com a agravante de o poder ser exercido sem atender aos reais interesses do País.
Passados mais de 100 anos, o País não aprendeu a lição, insistindo neste deplorável erro.”

        Na zona Sul do País, onde os trabalhos de prospecção, nas suas diversas fases, tiveram maior desenvolvimento, os sucessos aconteceram, recompensando magnanimamente os investimentos feitos para os produzir.
        No Norte e no Centro do País, apenas duas áreas foram objecto de estudos sistemáticos: a Região de Vila Nova de Cerveira Caminha – Ponte de Lima, essencialmente em prospecção de minérios de tungsténio; a Faixa Metalífera da Beira Litoral, para minérios diversos, com predomínio dos de cobre, chumbo e zinco.
        Apesar de dispor apenas de pessoal recrutado com escassa formação académica (a antiga 4.ª classe de Instrução Primária), foram registados resultados de muito interesse, devido à capacidade de aprendizagem e à dedicação exemplar demonstradas por esse pessoal.

        Na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, a partir da data em que o SFM iniciou a sua actuação, todas as explorações do concessionário local, que se mantinha em actividade, foram apoiadas em dados fornecidos pelo SFM
        Por outro lado, o interesse da Companhia americana Union Carbide em celebrar contratos com os concessionários e com o Estado, para participar nas investigações mineiras, deveu-se exclusivamente ao conhecimento dos dados que lhe foram facultados pelo SFM.

        Na Faixa Metalífera da Beira Litoral, muitas foram as zonas de anomalias geoquímicas e geofísicas, que justificavam investigação por sondagens.
        Dentre elas, destaquei, no post N.º 138, as seguintes: Braçal - Cabeço do Telégrafo, Alto da Serra (antiga mina de Vale do Vau, Bertufo, Boa Aldeia, Cabeço Santo, Sanguinheiro, Bostelim, Agrelo, Boi.
        Todavia, os dirigentes não deram sequência a projecto de sondagens apresentado para a zona do Cabeço de Telégrafo, apesar de terem conhecimento de que sondas estiveram inactivas … com o argumento de não haver projectos (ver posts N.º s 66 e 190)!!
       
Esta atitude obstrucionista tinha origem no “pouco entusiasmo” por esta Região, que Soares Carneiro, quando ocupou o cargo de Director-Geral de Minas, repetidamente manifestava, porque, em sua opinião, “os filões não têm interesse e é nas pirites do Alentejo que se contem todo o chumbo, zinco e cobre de que o País precisa, não só para prover às necessidades internas, mas também para exportar”.
Sem diminuir a importância da Faixa Piritosa quanto a reservas de minérios de chumbo e zinco, para cuja revelação me orgulho de muito ter contribuído, sempre declarei a minha total discordância pelo abandono a que o Senhor Director-Geral pretendia votar outras possíveis riquezas minerais.
Citei, então, exemplos de nações muito mais desenvolvidas que a nossa, que não desdenhavam aproveitar jazigos de pequenas dimensões, até para um desenvolvimento regional equilibrado, embora dispusessem de jazigos de grandes dimensões, à escala mundial.
Referi o caso da Suécia, que, embora explorando os enormes jazigos de ferro do distrito de Kiruna – Malmberget, que contêm reservas certas de cerca de 3 000 milhões de toneladas de minério de ferro, a grande mina de cobre de Aitik, a mina de Laisvall, que é a maior reserva de minério de chumbo da Europa, não deixa de aproveitar jazigos pequenos e relativamente pobres, tais como os de ferro de Risbergsfaltet, Blottberget, Ragsberg, Vintjarn e Ramhall e o de chumbo de Falun (V. “Industrie Minérale” de Fevereiro de 1974). (ver post N.º66).

        É ainda digno de registo o facto de a antiga Mina do Sanguinheiro, redescoberta pelo método geoquímico, pois não constava dos arquivos dos serviços mineiros oficiais do Norte, ter sido utilizada por um docente da Universidade de Aveiro, para a sua tese de doutoramento.
        Esta era mais uma demonstração de estreita colaboração que se tinha estabelecido com a Universidade de Aveiro, que só haveria vantagem em manter e até reforçar.

        Mas a formação profissional, em ligação com o aproveitamento dos nossos recursos naturais, será objecto de análise no próximo post.

        Parece-me legítimo extrapolar para as vastas áreas do Norte e do Centro do País, onde não incidiram estudos sistemáticos, potencialidades idênticas às que já se traduziram, nas duas áreas atrás mencionadas, em reservas justificativas de exploração remuneradora, ou em claras indicações de existência de possíveis reservas igualmente remuneradoras.

        Esta é, sem dúvida, a explicação para os 70 contratos de prospecção celebrados, recentemente por diversas Companhias com o Estado Português (ver post N.º 206)

Continua …

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

208 - O regresso ao tema do "Novo Plano Mineiro Nacional. Continuação 1



Ao retomar, no post anterior, a análise do documento da autoria de José Goinhas, “A prospecção mineira em Portugal,” salientei, uma vez mais, as omissões e deturpações, patentes nesse documento.

É, de facto, incompreensível que escassa referência tenha sido feita ao acontecimento mais relevante, em matéria de prospecção mineira, que foi a instituição do “Serviço de Fomento Mineiro” (SFM).

A circunstância de este Organismo de Estado ter encontrado, inicialmente, sérias dificuldades para cumprir os seus projectos, só reforça o mérito dos êxitos que conseguiu ou preparou para que outros os conquistassem.

O seu primeiro Director estava ciente de que as dificuldades tinham origem principalmente em deficiências na formação académica dos técnicos contratados pelo SFM, pois idênticos problemas havia encontrado nos Serviços Centrais de Lisboa.

Planeara, por isso, em consonância com o Director-Geral - Engº. Castro e Solla, proporcionar formação pós-graduada aos futuros candidatos a exercer funções na DGMSG, fazendo-os passar previamente por núcleos do SFM, onde poderiam adquirir experiência directa no terreno, em actividades diversificadas.

Esperava, deste modo, melhorar a eficácia da DGMSG. (Ver post N.º 1)

Porém, o impulso que conseguiu imprimir, no período inicial, ao SFM, apesar das dificuldades que teve de enfrentar, não teve a projectada continuidade.

Bernardo Ferreira faleceu em 1948 e este trágico acontecimento foi extremamente funesto para o SFM.

Os dirigentes que lhe sucederam não tiveram procedimentos melhores que os adoptados pelos “técnicos de papel selado” dos Serviços Centrais de Lisboa.

Pouco ou nenhum interesse demonstraram na valorização do pessoal técnico, chegando até a contrariar sugestões apresentadas, em variados documentos, por funcionários que se esforçavam por dar eficaz cumprimento às tarefas inerentes aos cargos em que tinham sido investidos.

Conforme revelei, no post anterior, o departamento de prospecção mineira do SFM, quando ficou sob minha chefia, conseguiu vencer o obstrucionismo dos novos dirigentes, tornando-se a primeira real Escola de Prospecção Mineira do País.

A Universidade do Porto, apercebendo-se deste notável facto, convidou-me, em 1970, para reger disciplina de “Prospecção Geológica, Geofísica e Geoquímica”, tornando-se também pioneira, na introdução desta matéria, nos Cursos de Geologia e de Engenharia de Minas.

Lembro que a OCDE tinha já criado em 1961, um Grupo “ad hoc” com o objectivo de promover a aplicação de métodos modernos de prospecção mineira, nos seus países constituintes, para acorrer à escassez de matérias-primas que neles estava a acentuar-se. (Ver post N.º 4),

Lembro também a aceitação que teve um ante-projecto de prospecção aérea, abrangendo áreas do Alentejo, por mim apresentado, na qualidade de representante de Portugal nesse Grupo “ad hoc”,.em que tinha sido investido, pelo Director-Geral Castro e Solla.

É-me doloroso lembrar ainda, um lamentável facto ocorrido quando o dirigente máximo do Grupo “ad hoc” se deslocou propositadamente de Paris a Portugal, para avançar com o projecto, que lhe havia merecido tal apreço, que até pretendia estendê-lo para áreas de Espanha de idênticas potencialidades minerais.

Quando isso aconteceu, o novo Director-Geral, Soares Carneiro, entretanto nomeado, já havia designado o ex-Director do SFM Guimarães dos Santos, - que de prospecção nada sabia - , para me substituir na representação do País naquele Grupo de Trabalho.

Em reunião que se realizou em Lisboa, foi sentida a necessidade de solicitar a minha presença, para prestar auxilio a Guimarães dos Santos, mas os meus esforços não foram suficientes para neutralizar a atitude pouco interessada e até soez adoptada pelo Director-Geral e pelo seu servil Adjunto.

O projecto não se concretizou, como era previsível, perante o vergonhoso fracasso da reunião (Ver post N.º22).

Mas não foi apenas a Universidade do Porto a manifestar interesse na experiência do SFM, em prospecção mineira.

Também o instituto Superior de Engenharia do Porto, o Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro e, anos mais tarde, a Universidade de Braga viriam a solicitar idêntica colaboração (Ver posts N.ºs 56, 99, 117).

É digno de realce que a recém criada Universidade de Aveiro, tenha considerado oportuno instituir o Curso de Engenharia Geológica, orientado especialmente para a prospecção mineira, e tenha encarregado dois licenciados pela Faculdade de Engenharia do Porto, da regência das disciplinas relacionadas com o tema.

Digno de realce é também o empenhamento destes dedicados Engenheiros (Luís Fuentefria Menezes Pinheiro e Fernando Ernesto Rocha de Almeida), que, embora já licenciados, não hesitaram em frequentar as minhas aulas, por não ter constado dos seus Cursos a disciplina de Prospecção Mineira.

Tornaram-se, depois, assíduos companheiros, nos trabalhos de campo que eu dirigia na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, nos quais sempre se faziam acompanhar de seus alunos.

A colaboração com a Universidade de Aveiro foi constante, como referi nos posts atrás citados.

Merece, no entanto, especial menção um curiosíssimo caso ocorrido durante um Seminário de Geoquímica realizado, em Janeiro de 1976.

Neste Seminário, onde me apresentei na qualidade, de Chefe da 2.ª Brigada de Prospecção do SFM., a minha comunicação sobre a actividade desenvolvida, sobretudo na Faixa Metalífera da Beira Litoral, com grande incidência no distrito de Aveiro. tinha sido alvo de grande apreço.

O Geólogo José Goinhas, que compareceu em representação da 1.ª Brigada de Prospecção, justificou a sua presença com doença do Engenheiro Vítor Borralho, que era o técnico encarregado da aplicação do método geoquímico.

A doença de Borralho era, obviamente, fictícia. Ele não tivera coragem para me enfrentar, após a sua infame traição. (Ver post N.º 85).

Mas Goinhas, que já antes (Ver post N.º77) denunciara a sua personalidade oportunista, adaptável às circunstâncias, até acentuou que a 1.ª Brigada de Prospecção do SFM era também uma criação do Senhor Engenheiro Rocha Gomes.

A sua exposição enfermou do facto de não dominar a técnica, que aceitou representar.

Não deu a devida ênfase ao facto de ter sido na 1.ª Brigada de Prospecção que introduzira, no País, a técnica geoquímica e de ter sido em Beja que se instalou um pequeno Laboratório, com tal produtividade, que até as amostras da Faixa Metalífera da Beira Litoral, foram, durante muito tempo, lá analisadas para o conjunto de metais pesados, pelo método da ditizona, apesar de haver na sede do SFM em S. Mamede de Infesta um Laboratório de Análises Químicas modelarmente equipado e dispondo de abundante pessoal técnico.

Os dados que apresentou também não foram suficientemente expressivos da contribuição desta nova técnica em alguns dos êxitos alcançados.

Nesse Seminário, Goinhas teve oportunidade de se aperceber do prestígio do SFM, não só no meio universitário, mas também noutras instituições, públicas e privadas, ligadas à indústria mineira, que também tinham enviado representantes.

Se, no documento sobre “A prospecção mineira em Portugal”, que tem a petulância de classificar de “pedagógico”, ignora todos os factos prestigiantes para o SFM, que acabei de descrever, e não lhe ocorre registar que “em equipa ganhadora não deveria ter-se mexido”, como aconselha o velho rifão, é porque tinha plena consciência das suas responsabilidades na “mexida” que originou a crise que o SFM estava então a atravessar, a qual viria a ocasionar a extinção deste Organismo essencial ao desenvolvimento da economia nacional.

Embora sem directa ligação à prospecção mineira, ter-se-ia justificado registar o valioso contributo do Serviço Meteorológico Nacional, do Instituto Geográfico e Cadastral e do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em reuniões periódicas realizadas no âmbito de um Agrupamento Português de Prospecção Geofísica, criado por iniciativa do Engenheiro Castro Solla, quando exerceu as funções de Director-Geral de Minas.

Ao Serviço de Meteorologia e Geofísica ficou a dever-se o conhecimento dos valores da componente horizontal do campo magnético terrestre, no ano de 1960 e da sua componente vertical em 1954-55, em todo o território continental português, e as respectivas variações anuais.

Além disso, ficou a dever-se a indicação de uma área fortemente anómala, no Alto Alentejo, com possível interesse mineiro, que não constava de planos do SFM.

Todos estes dados foram úteis às campanhas de prospecção do SFM.

O Instituto Geográfico e Cadastral, além de ter disponibilizado cartas à escala 1:5000, de áreas cujo levantamento ainda tinha em curso, apresentou cartas gravimétricas (da anomalia de Bouguer completas e de ar livre), que tiveram utilidade sobretudo para conhecer os gradientes de âmbito regional.

O Laboratório Nacional de Engenharia Civil demonstrou ter adquirido grande experiência na aplicação de técnicas para localização de níveis aquíferos, com ênfase para a resistividade eléctrica.

Quando o Geólogo Dr. Ricardo de Oliveira me propôs incluir este método nas aulas da cadeira de Hidrogeologia, que regia como Professor Convidado na Faculdade de Ciências do Porto, concordei com a proposta, uma vez que a sua experiência era, então superior à minha, em tal matéria.

Aproveito o ensejo para, uma vez mais, exprimir o parecer de que as águas subterrâneas devem ser consideradas como minério, com a característica particular de ser líquido, tal como acontece, por exemplo, com o mercúrio nativo.

Continua …

domingo, 4 de novembro de 2012

207 – O regresso ao tema do “Novo Plano Mineiro Nacional”


Após oportuna interrupção, retomo a minha análise crítica à Resolução de um Conselho de Ministros que exigia a apresentação, em 1984, de um “Novo Plano Mineiro Nacional”
Conforme já revelei, não obstante terem sido numerosos os técnicos distraídos das suas funções normais, para produzirem o Plano, este não apareceu.

Repetiu-se o “fiasco” de 1975, quando um membro do Governo dessa data, que de minas nada entendia, também se propunha promover a “dinamização da indústria mineira” (Ver post N.º 79).
Mais uma vez “A montanha nem um rato pariu”!
Não era de surpreender que tais Planos abortassem, pois da sua elaboração tinham sido encarregados, sobretudo, os principais responsáveis pela crise que se pretendia combater.

É elucidativo que, na DGGM, em ambos os Planos, tenha sido dispensada a minha participação, não obstante eu manter, em conformidade com Orgânica em vigor, a responsabilidade pelas actividades de prospecção mineira do SFM, em todo o território metropolitano nacional

Dentre as 22 monografias que aqueles distinguidos funcionários produziram, para a preparação do Plano, teve a honra de publicação, no Boletim de Minas, a que tem por título “A prospecção mineira em Portugal”, da autoria do Geólogo José Goinhas.

É desta monografia que tenho vindo a ocupar-me, desde o post N.º 178.

Vale a pena analisar melhor quem era o autor deste documento, qual o seu passado em prospecção mineira, que o tenha creditado para escrever sobre o tema.

José Goinhas tinha sido incorporado, em 1967, na 1.ª Brigada de Prospecção do SFM, para participar nas investigações, que estavam em curso, sob minha direcção, na Faixa Magnetítica e Zincífera Alentejana.

A Geologia Mineira era, então, uma área em que os Geólogos da DGGM demonstravam grande ignorância.

São bem elucidativos os casos, que citei, de Guadramil, Três Minas, Talhadas, Barbadalhos e muitos outros no Norte do País; e os casos das minas de ferro de Montemor-o-Novo, da Faixa Magnetítica, da Região de Cercal – Odemira, da Faixa Piritosa, na zona Sul.

Quando o sector da Geologia ficou sob a minha responsabilidade, um dos principais problemas que tive de enfrentar, foi providenciar no sentido de os Geólogos passarem a dar cumprimento, de modo eficaz, às tarefas que lhes competiam, no âmbito das investigações mineiras.

José Goinhas beneficiou, para esse efeito, da prolongada presença, que lhe proporcionei, ao serviço de empresa mineira especializada em prospecção e exploração de jazigos de zinco, e também de bolsa de estudo em Universidade dos Estados Unidos. (Ver posts N.ºs 27 e 188)

Todavia, em vez de aplicar, no terreno, com afinco e brio profissional, os conhecimentos de Geologia Mineira que era suposto ter adquirido, preferiu manter-se sentado à secretária, no seu gabinete, pouco se deslocando ao campo e, consequentemente, pouco progresso introduzindo nas investigações que estavam em curso.

Desrespeitando as minhas instruções, não efectuou o exame mais completo das sondagens que tinham sido efectuadas na área de Algares de Portel, de modo a possibilitar melhor definição da estrutura geológica onde se encaixa a formação mineralizada.

Era norma instituída, nos departamentos que dirigi, submeter a apreciação superior relatórios sobre as fases de prospecção, quando estas se considerassem concluídas, ou suficientemente avançadas, para que se tornasse conveniente prestar informação mais completa, que a contida nos relatórios periódicos.

Estes relatórios, mais pormenorizados, eram preparados para publicação, visando, deste modo, prestar contas ao País das verbas despendidas nos estudos realizados.

Tinha sido em obediência a esta disciplina que eu próprio apresentara, entre vários outros, os relatórios sobre “Prospecção de pirites no Baixo Alentejo” sobre os “Jazigos ferro-manganíferos de Cercal – Odemira”, sobre o “jazigo de cobre, chumbo e zinco do Torgal” sobre as “Formações zincíferas da Serra da Preguiça”, sobre a “Mina de cobre da Crugeira”, sobre a “Mina de ferro da Preguiça N.º 6”.

Enquanto actuou na minha directa dependência, Goinhas foi sucessivamente protelando a contribuição que lhe competia, para poderem ser concluídos os relatórios sobre avançadas fases de estudo, nas zonas de Vale de Vargo, Algares de Portel e Vale de Pães da Faixa Magnetítica e Zincífera.

Acabou por conseguir libertar-se deste encargo, em 1975, quando deixou de me estar hierarquicamente subordinado, após o êxito de documento traiçoeiro, que subscreveu, desejado ou até aconselhado por dirigentes que sabia serem corruptos e incompetentes, no qual era exigido o meu afastamento da 1.ª Brigada de Prospecção, que era uma obra de minha exclusiva autoria, em cuja criação eu muito me havia empenhado. (Ver posts N.ºs 81 a 91).

No maior escândalo ocorrido na DGGM, que foi o “tsunami de assaltos” para ocupação das categorias directivas instituídas pelo Decreto-lei N.º 548/77, em que currículos negativos foram preferidos aos positivos. José Goinhas conseguiu ser nomeado Director de Serviço, sem funções definidas, tal como acontecera na maioria das outras nomeações.

É clandestinamente que surge como detentor do pelouro da Prospecção, porquanto não chegou ao meu conhecimento Ordem de Serviço a tal respeito.

A realidade é que a Orgânica de 1964, se mantinha em pleno vigor e eu continuava a exercer a chefia efectiva da 2.ª Brigada de Prospecção do Serviço de Fomento Mineiro e das suas Secções de Caminha e Talhadas, e me mantinha “provisoriamente” afastado da 1.ª Brigada de Prospecção, aguardando inquérito demonstrativo das monstruosas acusações de que tinha sido alvo, o qual foi deliberadamente adiado até cair no esquecimento.

Dava-se, assim, a curiosa circunstância de a Prospecção Mineira ter dois Chefes!!:
Um, real, que era eu;
Outro, fictício, que era José Goinhas, assim denominado, apenas para justificar a confortável remuneração, que passou a auferir.

A 1.ª Brigada de Prospecção, não terá colocado obstáculo a esta simbólica chefia, pois se encontrava já em processo de desagregação.
De facto, Delfim de Carvalho tinha sido destacado para Lisboa, como Subdirector-Geral (!), para dirigir os Serviços Geológicos (!).
Vítor Borralho, tinha sido nomeado ou estava em vias de nomeação para Administrador de Minas de Aljustrel, com base nas suas oportunistas ideias políticas revolucionárias.
O núcleo fantasma de Coimbra, praticamente sem actividade, onde o perverso José Viegas tinha conseguido ser nomeado Chefe de Divisão, também não se terá oposto a essa chefia, que até lhe agradaria.

Goinhas não teve, porém, coragem para se apresentar como meu superior hierárquico, não ousando interferir nos estudos que eu orientava, apesar de saber que teria o apoio do Director Jorge Gouveia.
Tinha conseguido melhor remuneração e isso era o que verdadeiramente lhe interessava. As “vastas e delicadas tarefas da 1.ª Brigada de Prospecção”, as quais, no seu entendimento eu muito prejudicara, deixaram de o preocupar.
Preparava-se até, para mais altos voos. Esteve indigitado para vice-governador civil de Beja e até para Director-Geral de Minas (!!).
Não conseguiu, porém, qualquer destes cargos.
Como Vítor Borralho, após reunião com Ministro, fora rejeitado para Governador - Civil, José Goinhas, que o acompanharia, perdeu igualmente a esperada benesse.

E Alcides Pereira reunia melhores condições, em matéria de ignorância no âmbito mineiro, para lhe ser dada preferência, quando o cargo de Director-Geral de Minas ficou vago.
Mas Goinhas acabaria por não lhe ficar atrás. Conseguiria melhor cargo. Viria a ser nomeado Director-Geral dos Serviços de Prospecção e Exploração de Petróleo, pois além de reunir as ideais condições de elevada ignorância em matéria de petróleos, tratava-se de um departamento com actividade praticamente nula (Ver posts N.ºs 88 e 118).
Goinhas tinha plena consciência de não vir a ser incomodado a prestar a contribuição que lhe competia e que continuava em falta, para os relatórios que mencionei serem submetidos a apreciação superior.

Os novos dirigentes nem sequer se apercebiam desta quebra de disciplina, tão ocupados se encontravam com problemas de ”lana caprina”!

Foi assim que Goinhas apareceu com o encargo de preparar a monografia sobre “A prospecção mineira em Portugal”, que tenho vindo a comentar.

É óbvio que, José Goinhas, se nem das tarefas que lhe tinham sido distribuídas conseguiu desembaraçar-se, quando a 1.ª Brigada de Prospecção ainda actuava disciplinadamente, apesar das condições extraordinárias que lhe foram generosamente oferecidas, não seria de esperar que se desembaraçasse de matéria que lhe era estranha, pois de técnicas de mineralometria, geofísica, geoquímica e trabalhos mineiros muito escassos eram os seus conhecimentos.
É certo que tinha estado presente nas reuniões periódicas, sob minha direcção, nas quais se discutiam os programas a cumprir pela 1.ª Brigada de Prospecção, mas pelo que só tardiamente me apercebi, pouco assimilou das lições que eu nelas prodigalizava, pois cometeu erros gravíssimos, desde que deixou de me estar subordinado.

A Comissão Editorial do Boletim de Minas tornou-se sua cúmplice, por não ter evitado induzir em mais erros os incautos leitores de publicação oficial.
Analisando, porém, a composição desta Comissão, noto que os seus elementos constitutivos inspiravam confiança idêntica à que merecia Goinhas, pois tinham ascendido aos cargos em que se instalaram, no mesmo “tsunami de assaltos”, a que me referi.

Do seu documento sobre a Prospecção Mineira, exclusivamente apoiado em documentação, uma primeira conclusão que se extrai, é a defeituosa selecção dos artigos mencionados em extensa bibliografia, pois, na sua maioria, são descabidos para o objectivo em vista, tendo sido omitidos quase todos os que seriam fundamentais.
Deduz-se também que não leu ou, se leu, interpretou erradamente os raros que realmente tinham interesse.

Em Portugal, não é possível abordar, com seriedade, o tema da prospecção mineira, sem realçar o papel importantíssimo do Serviço de Fomento Mineiro (SFM), no inventário dos recursos minerais do País.

A instituição, no âmbito do Estado, de um Organismo com aquela finalidade, foi até salientada, a nível internacional.
Isso consta, por exemplo, da publicação da OCDE, “La prospeccion minerale en Europe”, da autoria de James Nc Divitt, editada em 1961.

Dela destaco a seguinte passagem:
“L’Espagne, la France, la Grèce, la Norvège, le Portugal, la Suède et la Turquie possèdent des services oficels qui s´occupent directement de prospection et dont les activités semblent augmentar, plutôt que diminuir”

“L’interêt qui portent les gouvernements à la mise en valeur des richesses minerals est loin d’être un fait nouveau; dans bien des pays européens, cést un phénomene déjà ancien`; mais il semble qu’à l’époque moderne, il se confirme et s’étende, pour des raisons d’ailleurs actuelles.”

Antes da criação do SFM, algumas empresas privadas estrangeiras, tinham realizado, sobretudo na Faixa Piritosa Alentejana, estudos nesse âmbito, os quais porém, se restringiam, a pequenas áreas que não excediam ou pouco excediam as áreas das respectivas concessões.

Foi o SFM que passou a proceder à investigação sistemática da riqueza mineira do País.

No seu período inicial, esta investigação não foi isenta de erros, por vezes graves, que eram devidos à deficiente preparação académica dos técnicos que dela foram encarregados.
Todavia, no decurso do tempo, alguns sectores do SFM foram progressivamente criando experiência nas diversas técnicas de prospecção, conseguindo notáveis êxitos.

O SFM, tornou-se, então, uma verdadeira Escola de Prospecção Mineira, onde até vinham estagiar técnicos, sobretudo contratados pelo Ministério do Ultramar.

Nenhuma das Universidades do País dedicava à Prospecção Mineira, a devida atenção, até porque não havia docentes habilitados a reger a cadeira.

Lembro que em 1961 (Ver post N.º 4), quando acompanhei o Professor Robert Woodtly da Universidade de Lausanne à Junta de Energia Nuclear em Lisboa, ao Instituto Superior Técnico, à Faculdade de Engenharia do Porto e à Direcção do SFM do Porto, para conhecer o interesse dos Organismos portugueses onde se ensinava ou praticava a prospecção mineira, em aproveitar a oferta de colaboração da OCDE na aplicação de métodos modernos de prospecção, só encontrei franca receptividade na Direcção-Geral dos Serviços de Prospecção da Junta de Energia Nuclear.

Surpreendentemente, até o Engenheiro Guimarães dos Santos que, nessa data, ocupava o cargo de Director do SFM, declarou não haver, no Norte do País, matéria justificativa da aplicação desses métodos!!! (Ver post N.º 4)

Foi só a partir de 1970, que uma Universidade do País passou a inserir no elenco do Curso de Geologia, uma disciplina de Prospecção Mineira.

Nessa data, como referi, já um sector bem definido do SFM tinha conseguido introduzir, para uso corrente, as variadas técnicas de Prospecção Geológica, Geofísica e Geoquímica, e tinha obtido, através da sua criteriosa aplicação, alguns notáveis sucessos.

Apercebendo-se deste facto, o Professor Miguel Montenegro de Andrade, que então dirigia o Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências do Porto, fez-me convite para reger cadeira sobre aquela matéria.

Nessa época, o Director-Geral, Soares Carneiro encontrava-se ainda na sua fase positiva.
Não só não criou qualquer obstáculo à colaboração que era solicitada, como considerou justificadas facilidades, quanto a horários, para que de tão honroso convite, resultasse uma boa preparação dos futuros Geólogos, em matéria de tanto interesse para o desenvolvimento da nossa indústria mineira. (Ver post N.º 160).
Alguns anos mais tarde, a Faculdade de Engenharia seguiu o exemplo, convidando-me também para lá reger idêntica cadeira.
Consegui prestar o auxílio que me fora pedido, juntando os alunos de Ciências e de Engenharia, nas mesmas aulas. (Ver post N:º1)

Ocupava, então, o cargo de Director-Geral, o Geólogo Alcides Pereira.

Este novo Director - Geral, tendo sido informado de que eu acumulava funções de professor, em dois estabelecimentos de ensino superior, ficou preocupadíssimo com as remunerações excessivas que eu estaria auferindo.
Não consentiria que tamanha ilegalidade se praticasse na DGGM, que era um “poço de virtudes”, de que ele era o exemplo mais representativo!
Logo decidiu certificar-se se era real essa irregularidade, enviando ofício ao Reitor da Universidade do Porto.

O Reitor, ficou deveras surpreendido, pois até tinha conhecimento de que, em data anterior, Alcides Pereira declarara publicamente o seu firme propósito de prestar toda a colaboração às Universidades, para que estas produzissem os bons técnicos de que o País necessitava. (Ver post N.º 160)
Alcides deve ter ficado profundamente decepcionado quando recebeu a informação de que a minha colaboração à Faculdade de Engenharia era prestada sem remuneração alguma e, acrescento agora, até com despesas não despiciendas.

Ao sucesso da introdução da disciplina de “Prospecção Mineira” nos Cursos de Geologia e de Engenharia de Minas da Universidade do Porto se ficou devendo a preferência das empresas mineiras que cumpriam contratos de prospecção, em áreas do País, em contratar os técnicos licenciados por esta Universidade. (Ver post N.º 135).

É, pois, indesculpável o intencional apagamento, no texto de José Goinhas, da acção do Serviço de Fomento Mineiro no âmbito da prospecção.

Goinhas nem sequer menciona o fundamental Decreto-lei de criação do Serviço de Fomento Mineiro, nem refere o facto de este Serviço, no cumprimento das suas atribuições, submeter anualmente, a aprovação ministerial, os seus Planos de Trabalho.

No documento são feitas numerosas citações de artigos de “cronistas”, entre os quais se contam Delfim de Carvalho e ele-próprio, mas omitem-se os verdadeiros autores dos estudos que foram copiados para as suas “crónicas.
Foram usados, sobretudo, os habitualmente denominados “relatórios internos”, não publicados, geralmente sem menção dos seus autores.

Mas Goinhas não se lembrou de consultar os relatórios anuais do SFM, que eram publicados em “Estudos Notas e Trabalhos de SFM”, e que deixaram de ser, quando Múrias de Queiroz foi nomeado Director deste Organismo

Embora tenha sido este Organismo de Estado que o acolheu, nele depositando grandes esperanças no aperfeiçoamento de estudos que há muitos anos se encontravam em curso, com insuficiente apoio geológico, Goinhas não foi capaz de perceber o alcance que teria para a economia nacional um Serviço devidamente estruturado para fazer o correcto inventário dos recursos minerais do País e para promover o seu racional aproveitamento.

Só timidamente menciona o Serviço de Fomento Mineiro.
Prefere atribuir genericamente à DGGM a organização que levou à constituição de um valioso arquivo técnico, que não só serviu de base aos êxitos conseguidos, mas também suscitou o interesse de empresas privadas para dar continuidade aos estudos da DGGM.

A realidade, que ele tinha obrigação de conhecer, visto que participava nas reuniões de trabalho periodicamente realizadas, na 1.ª Brigada de Prospecção, em Beja, sob a minha direcção, onde todos os temas de prospecção eram abertamente discutidos, era, porém, bem diferente do que ele apresentava.
Devia ter plena consciência de que “a experiência no campo da prospecção mineira” tinha sido adquirida no SFM e não em quaisquer outro departamento da DGGM e que a constituição de “um património notável de informação e conhecimento da problemática dos recursos minerais do Pais” era obra excusivamente minha.

Continua …

terça-feira, 16 de outubro de 2012

206 – Os recentes contratos de prospecção mineira


Nesta data (Setembro - Outubro de 2012), em que aos portugueses são exigidos pesados sacrifícios, a adicionar a outros não menos pesados que já estão a suportar, cuja justificação é apresentada com a necessidade urgente de corrigir os graves erros de Governos anteriores, afigura-se-me da maior oportunidade, antes de prosseguir na análise dos casos em que o SFM, no cumprimento dos seus programas, executou desenvolvidos trabalhos mineiros, lembrar que, desde o post N.º 178, tenho vindo a comentar resolução do Conselho de Ministros de um desses incompetentes Governos, que impunha à DGGM a apresentação, em 1984, de novo “Plano Mineiro Nacional”.

O argumento para tal imposição era a profunda crise que a indústria mineira nacional estaria atravessando.

Já demonstrei quão falacioso era este argumento, porquanto seria precisamente nessa época, que iria ocorrer o mais sensacional acontecimento mineiro do século

Uma nova mina, na região de Castro Verde – Almodôvar, que se denominaria de Neves – Corvo, iria dar início à exploração de importante jazigo, cuja descoberta representava o corolário lógico dos persistentes e criteriosos estudos de um sector do Serviço de Fomento Mineiro, que conseguia manter-se produtivo.

Esse jazigo viria a revelar-se o maior e mais rico depósito europeu de minério de cobre, zinco e outros metais.

Demonstrei também que novo Plano Mineiro não só era supérfluo, como prejudicial, pois a sua preparação ocuparia funcionários, que teriam de ser distraídos das suas funções normais.
Custa a aceitar tamanha leviandade de um Governo, relativamente a matéria à qual declarara atribuir grande importância.

Aquela extraordinária descoberta não era acontecimento banal, para passar despercebido ao Governo, pois resultara do zeloso cumprimento de Planos do Serviço de Fomento Mineiro, que tinham sido submetidos à sua apreciação e …tinham merecido a sua aprovação!!,

Apesar disso, era inegável haver crise no sector mineiro.

Ela atingia, porém, exclusivamente a DGGM e tinha origem em desmandos de que os Governos se não apercebiam ou consentiam (Ver post N.º 127).

O desbragado uso das liberdades conquistadas, pela Revolução de Abril de 1974, estava a provocar a degradação progressiva do Serviço de Fomento Mineiro, que tinha granjeado justificado prestígio nacional e internacional.

Ocorre, então, perguntar porque exigiu, o Governo novo Plano Mineiro.

A resposta é simples:

O Director-Geral, que sucedeu a Soares Carneiro, na ânsia de querer evidenciar o seu propósito de inaugurar, na DGGM, uma nova era, caracterizada por real eficiência no aproveitamento dos nossos recursos minerais, prestou informações incorrectas ao Ministro da tutela, que ingenuamente nelas acreditou e as transmitiu ao Conselho de Ministros, que também lhes deu crédito.

Soares Carneiro tinha sido exonerado por razões nunca explicitadas, mas que se tinham tornado bem notórias, sobressaindo, em vasto leque, as fortes responsabilidades na degradação que passara a verificar-se no SFM.

Quando consegui falar directamente com o Ministro da tutela e lhe mostrei cópias dos ofícios que lhe tinha endereçado, contendo vigorosos apelos no sentido de corrigir o rumo calamitoso que seguia a DGGM, foi enorme a sua surpresa.

Disse-me, com a maior franqueza:

“Os ofícios sobre temas mineiros são enviados directamente para a DGGM, sem prévia análise!
Julgava que na DGGM tudo corria bem”
E prometeu investigar o que realmente se passava. (Ver post N.º 164)
O que é deveras preocupante é que actualmente, em 2012, a situação, em vez de corrigida, foi fortemente agravada!

Tenho assistido, perplexo, à euforia do Ministro da Economia, a comunicar ao País a celebração de mais de 70 (!) contratos de prospecção mineira.

Que contratos serão esses?

Não consta que as adjudicações tenham sido precedidas de concurso público, como seria normal, quando está em causa a alienação, em prol de entidades privadas, sobretudo estrangeiras, de recursos que são propriedade do Estado, isto é, de todos nós.
Com maior estupefacção, ouvi o Ministro declarar, respondendo a pergunta de jornalista, “que não fala de negócios antes de estarem encerrados, que são questões que são feitas nos bastidores”

O País tem o direito de conhecer os exactos termos desses contratos (localização das áreas adjudicadas, compensações por informações técnicas fornecidas, prazos de validade, estudos previstos, relatórios e outros elementos das investigações efectuadas, nomeadamente testemunhos de sondagens a apresentar, eventuais obrigações relativamente a instalação de estabelecimentos metalúrgicos, respeito pelo ambiente, royalties sobre lucros de futuras explorações, etc.)

A minha mente, surgem as seguintes reflexões:

1: Qual o papel que aos portugueses, compete desempenhar, no aproveitamento dos seus próprios recursos?
Na lei de minas, com data de 1935, que vigorou durante 55 anos, já se anunciava o tratamento metalúrgico dos minérios, no País, como legítimo e normal objectivo a ter sempre presente.
E em Junho de 1939, quando havia fortes prenúncios de que a 2.ª Guerra Mundial estava iminente (foi declarada em Setembro desse ano), isso não constituiu impedimento, antes pelo contrário, para que o Governo decidisse tomar a ousada decisão de atribuir ao Estado um papel fundamental no inventário dos nossos recursos minerais, visando o seu racional aproveitamento, em prol da economia nacional.
Foi um Organismo de Estado, o Serviço de Fomento Mineiro, que ficou com o encargo de fazer a prospecção mineira do País.
Conquanto não se excluísse a participação de empresas privadas, nacionais ou estrangeiras, tal era admitido, essencialmente para projectos que envolvessem técnicas não dominadas por nacionais, sendo porém, dada preferência à especialização de portugueses, nessas técnicas, em adequados centros estrangeiros.

A este respeito, nunca será demais lembrar o que consta na pág.71 do Volume X (Fasc. 1 - 2) de “Estudos Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro”, publicado em 1955, no capítulo final do relatório de minha autoria “Prospecção de pirites no Baixo Alentejo”:

“Todos os estudos a que nos vimos referindo podem e devem, em nosso entender, estar a cargo de técnicos portugueses que hajam, para o efeito, adquirido a necessária especialização, conforme prevê o Decreto-lei de criação do Serviço.

Só aceitamos a intervenção de técnicos de outras nacionalidades, como consultores ou em execução de campanhas de curta duração, principalmente com o propósito de proporcionar instrução a pessoal português.

A favor deste modo de proceder falam, não só a economia como o próprio interesse no assunto, que não poderá esperar-se de outros superior ao dos nacionais.

Ainda que fosse inviável, ou desaconselhada por demasiado especializada, a execução directa pelo Serviço, de determinados estudos, o que não cremos possa vir a acontecer, porquanto o Ultramar é vasto campo onde a especialização adquirida teria sempre ocasião de frutificar, é indispensável para uma eficiente fiscalização, um amplo conhecimento das matérias a fiscalizar”.

Consegui manter esta metodologia, generalizando-a a todos os minérios, nos estudos a meu cargo, durante os 23 anos iniciais do SFM.

A ela se ficaram devendo os maiores êxitos mineiros, de todos os tempos.

Conforme registei, no post anterior, nenhum êxito ficou a dever-se aos contratos com Empresas, que não tivesse por base estudos muito avançados do SFM.

Não posso deixar de lamentar que “técnicos de papel selado”, como sarcasticamente os apelidava Castro e Solla, confortavelmente instalados nos seus gabinetes em Lisboa, tenham ignorado os interesses nacionais, desprezando ostensivamente as recomendações de quem, por viver, directamente no terreno, os verdadeiros problemas mineiros, adquiriu real autoridade na matéria.

2: Quais os benefícios que têm sido obtidos com estes novos contratos.

3: Quais os técnicos dos actuais serviços oficiais com capacidade para fiscalizarem o cumprimento de tantos contratos celebrados, relativamente a variados recursos minerais, e a petróleo ou gás natural.

4: Porque se não aproveita, do antigo Fomento Mineiro, o que conseguiu resistir, em S. Mamede de Infesta e em Beja, aos desmandos de maléficos dirigentes, para organizar um verdadeiro Instituto de investigação dos Recursos Minerais, com posição, na hierarquia do Estado, compatível com os seus elevados desígnios? (Ver post N.º 78)

É de louvar a criação, na cidade de Beja, de um Centro de Estudos Geológicos e Mineiros (CEGMA), que vejo anunciada na Internet, mas em minha opinião este Centro deveria ficar integrado na Instituição, a que acabo de me referir.

Tenho assistido à obsessiva secundarização das minas na estrutura do Organismo de Estado que tem por missão zelar pelo bom aproveitamento dos recursos minerais do País.

Agora já não se fala em “recursos minerais”. Prefere-se a expressão “recursos geológicos”!

Ocorre-me, perguntar se aos recursos vegetais, se passa a chamar recursos botânicos e aos recursos animais, recursos zoológicos.
E quando começarem a explorar-se os recursos minerais da Lua, como por exemplo o hélio 3, de que muito se tem falado, também este recurso será classificado de geológico, ou será lunológico ou selenológico?.

No actual LNEG (Laboratório Nacional de Energia e Geologia), que me atrevo a classificar como nova demonstração da ignorância atrevida característica dos tais técnicos de papel selado, já não figura palavra que aluda a minas ou recursos minerais!!
Alguns Geólogos, tão presunçosos como ignorantes, que conseguiram alcandorar-se a postos de comando, julgaram, deste modo simplório, estar agindo em defesa da Geologia, mas teria sido muito mais útil ao País que se tivessem dedicado à sua verdadeira missão, que, em demasiados casos, muito mal desempenharam, como tenho vindo a pôr em evidência.

A designação de indústria extractiva, em substituição de indústria mineira é também curiosa. De facto, extractivas são igualmente as indústrias agrícola, e piscatória, e possivelmente outras.

5: Era a oportunidade natural para extinguir a artificial EDM (Empresa de Desenvolvimento Mineiro), cuja existência nunca se justificou (Ver post N.º 86).

Toda a actividade da EDM teria sido mais eficientemente executada pelo antigo SFM e a muito menor custo.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

205 – As investigações mineiras na Região de Cercal – Odemira. Continuação 3


A ocorrência de minérios de ferro e manganés, na Região de Cercal – Odemira é conhecida, desde remota antiguidade.
A “Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira” menciona explorações atribuídas aos romanos, na Herdade do Raco de Baixo, próxima do Cercal do Alentejo,

Mas o interesse mineiro da Região não se limita aos óxidos de ferro e manganés contidos nos extensos filões, que afloram exuberantemente, nos cumes das suas principais serras, uma das quais até tem o nome de Serra da Mina.
O ferro e o manganés são provável manifestação superficial de jazigos de metais mais valiosos, existentes em profundidade.

Desnecessário é acentuar a importância da revelação de ambiente geológico semelhante ao da Faixa Piritosa Sul-Alentejana.

Passou a justificar-se prospecção para detectar concentrações de pirites complexas, idênticas às que deram origem às importantes minas daquela Faixa.

A reforçar esta hipótese, há mineralizações de cobre, zinco e chumbo em diversos locais da Região, bem expressivas num pequeno jazigo excepcionalmente rico em calcopirite, blenda e galena, com elevado teor de prata, descoberto, por mim próprio, num afluente da Ribeira do Torgal, perto de Odemira, (Ver post N.º 17).
Este jazigo, que passei a designar por Torgal, foi, objecto de pesquisas, á cota de 32 m e a cotas superiores, por carência de material de esgoto, que seria necessário, para poder fazer trabalhos, abaixo do nível hidrostático
Era essencial investigar a maior profundidade, até porque se havia observado um notável enriquecimento, nos níveis inferiores
Esteve prevista uma ligação, por galeria, ao jazigo de ferro e manganés dos Pendões, começando à cota de 32m, para conhecer a composição do minério deste jazigo, em profundidade, que se não tornara possível, com sondagens ali realizadas.

Todas as ocorrências cupríferas, plumbíferas ou zincíferas conhecidas nesta zona sul da Região de Cercal - Odemira derivaram provavelmente de remobilização de sulfuretos existentes, em volumosas massas, a maior profundidade, tal como acontece em Castro Verde – Almodôvar, onde as minas de Algaré, Barrigão, Brancanes e Porteirinhos foram preciosos guias, para a descoberta do jazigo de Neves-Corvo.

Perante a relevância que assumia a geologia na Região de Cercal – Odemira, eu próprio dei início a levantamentos geológicos, sobre base topográfica à escala de 1:5.000, em longas estadas, no Cercal do Alentejo e em Odemira; para avaliar a extensão das manchas de rochas vulcânicas, que tinha descoberto, bem identificáveis, pelos seus grandes fenocristais, no Cerro dos Cunqueiros, na Herdade do Castelo (Ver post N.º 17)
Apercebendo-me da vastidão destas manchas, encarreguei o assalariado João Joaquim, que anteriormente tinha instruído nas funções de Colector, para dar continuidade ao levantamento, sob a minha directa supervisão.
Foi assim levantada uma área de cerca de 399 km2.
A classificação das rochas foi feita, quase exclusivamente, por simples exame macroscópico,
Tal levantamento era, portanto, uma fase preliminar da investigação da geologia da Região.
Muito raras foram as amostras estudadas em Laboratório e nem todos os resultados dos exames, feitos por Colaborador supostamente especializado, foram fidedignos, conforme revelei no post N.º 198.

Em mapa geológico, à escala de 1:250.000, inserido no relatório “Prospecção de Pirites no Baixo Alentejo”, que foi publicado em 1955, fiz constar as manchas de rochas genericamente classificadas como pórfiros, que este levantamento geológico revelou.
No mesmo relatório fiz considerações sobre a potencialidade da Região de Cercal – Odemira para jazigos de pirite idênticos aos da Faixa Piritosa.

Apesar das potencialidades evidenciadas justificarem o prosseguimento dos estudos (até com intensificação de meios), o Director do SFM, Eng.º Guimarães dos Santos, uma vez mais manifestou a sua incapacidade de compreender os riscos inerentes à prospecção mineira, os quais são bem enfatizados no Decreto-lei de criação do SFM.
Insensível aos meus apelos, ordenou o encerramento da Secção de Cercal e Odemira, apenas condescendendo em deixar concluir a fase preliminar de levantamento geológico e os trabalhos de pesquisa que estavam em curso na Mina do Torgal.
Deu ordens terminantes para que eu apresentasse o relatório final do que tinha sido realizado para investigação das existências de minérios ferro-manganíferos na Região.
Não permitiu sequer que se concluísse a campanha de sondagens, que se encontrava em curso, ordenando a retirada da sonda, quando havia ainda vários furos por executar.

Era óbvio que teria de voltar a esta Região, criando ou não um núcleo local, para dar continuidade aos estudos.

A mente de Guimarães dos Santos era perturbada pela permanência de um núcleo do SFM, durante 14 anos, no mesmo local!!.
Mas não era perturbada pelo facto de as tarefas a cumprir pela Secção jamais terem obtido, da sua parte, o apoio ou o estímulo que seriam de esperar de um dirigente.
Fora essa mentalidade que, em 1949, dera por terminada, a investigação da Faixa Piritosa, quando o estudo estava apenas numa fase muito primitiva, conforme demonstrei no relatório publicado sobre “Prospecção de Pirites no Baixo Alentejo”.

Este dirigente chegou ao cúmulo de declarar, ex-cathedra: Temos que deixar alguma coisa para as gerações futuras descobrirem!.
Nem vale a pena comentar!

Quando isto acontecia, encontrava-se no Região, o Geólogo holandês Klein, ocupado em trabalho de campo, sob a orientação do Professor Mc Gillavry, com vista à sua tese de doutoramento.
A ambos, eu tinha proporcionado visitas a locais, com especial interesse para o seu objectivo, entre os quais, os trabalhos subterrâneos da Mina do Torgal.

Mc Gillavry, a quem eu dera conhecimento de ter em fase terminal o relatório sobre os jazigos ferro-manganíferos de Cercal – Odemira, assumiu, de moto -próprio, o compromisso de não fazer publicar a tese de Klein, antes de publicado o meu relatório.

Tendo mencionado este compromisso, em relatório mensal da Brigada do Sul, o Director do SFM teve uma imediata e inesperada reacção, que interpretei como significativa de que, no seu entendimento, eu teria ultrapassado abusivamente, as competências da minha posição na hierarquia do SFM!!

Enviou ofício, a informar que: “Não sabia quando e se seria publicado tal relatório”.

A minha surpresa foi enorme, porque era prática corrente publicar os estudos feitos, as mais das vezes, até sem o carácter final que tinha este relatório, relativamente às mineralizações ferro-manganíferas.

Grande foi também a minha decepção, perante o esmero com que o estava elaborando e a certeza de ser documento cuja publicação prestigiaria o SFM, servindo mesmo de guia para estudos oficiais ou privados, em outras áreas.
Além disso, era oportunidade a não desperdiçar para corrigir os erros indesculpáveis bem patentes em publicações anteriores, relativamente à geologia da Região, à génese dos jazigos e á planificação de trabalhos de reconhecimento dos principais jazigos, aos quais oportunamente aludi.

Perante esta reacção do Director do SFM, de imediato libertei Mc Gillavry do seu compromisso para comigo.

Em 1957, fiz seguir exemplares do meu Relatório, em 4 volumes, para a Direcção do SFM no Porto, e para a DGMSG, em Lisboa.
O terceiro exemplar ficou arquivado na Brigada do Sul, em Beja; o quarto ficou na minha posse.

Deste relatório consta:
a) Texto de 290 páginas dactilografadas, do qual saliento a descrição individualizada dos estudos efectuados nas 129 minas conhecidas na Região e os respectivos resultados, finalizando na avaliação de reservas, quando tal se justificou.
Os jazigos de Serra da Mina, Serra do Rosalgar, Serra Comprida e Serra da Velha, devido à sua maior importância, são tratados, de modo mais desenvolvido.
Saliento, também, as minhas reflexões sobre o problema do ferro no Sul do País, chamando a atenção para a potencialidade da Faixa magnetítica, que justificaria uma campanha de prospecção aeromagnética.
b) 86 peças desenhadas, figurando todos os trabalhos realizados (sanjas, galerias, poços, chaminés, sondagens), em plantas e perfis geológicos transversais e longitudinais, com localização de amostragens, apresentação de quadros com as respectivas análises de Fe%, Mn% e SiO2% e indicação dos blocos considerados nas avaliações de reservas certas e prováveis.
Destaque para as 3 cartas litológicas e mineiras, à escala de 1:25.000, obtidas por redução dos levantamentos efectuados à escala de 1:5.000, numa área de 399 km2.
c) 45 fotografias, com destaque para as vistas panorâmicas dos afloramentos dos filões da Serra da Mina, Serra do Rosalgar, Serra Comprida e Serra da Velha, onde se evidenciam os trabalhos antigos a cotas elevadas e as bocas das recentes galerias a flanco de encosta, a cotas inferiores.
Destaco, também, as amostras de pórfiros da Mina do Cerro dos Cunqueiros na Herdade do Castelo, com bem evidentes fenocristais.
d) Despesas, com destaque para o mapa de avanços e despesas respeitante ao período de 1 de Janeiro de 1949 a 31 de Agosto de 1956, no qual estão registados os progressos em trabalhos anteriormente iniciados e os novos trabalhos, com as respectivas secções, e as formações atravessadas, discriminando, com todo o pormenor, as correspondentes despesas em perfuração, remoção do escombro, revestimento, ventilação, esgoto, transportes, diversos, terminando com o custo por metro de avanço e por m3 de rocha desmontada.
e) Apêndice relativo a amostras enviadas para análises mineralógicas, da maioria das quais não recebi resultados

O que o ofício de Guimarães dos Santos deixava prever realmente aconteceu. O relatório não foi publicado!!!!

No post N.º 17, fiz já referência ao facto de eu ter manifestado ao Director-Geral de Minas, que era então o Eng.º Luís de Castro e Solla, a minha surpresa pelo tratamento discriminatório que estava a ser dado a todos os relatórios de minha autoria.
Castro e Solla, simpaticamente, logo telefonou procurando explicação para esta situação anormal.
Guimarães dos Santos, verdadeiramente embaraçado, apresentou o esfarrapado argumento de ser muito dispendiosa a publicação dos meus relatórios, por serem muito longos, o que estava longe de ser verdade.
Longo era apenas o respeitante à Região de Cercal – Odemira, por corresponder a uma intensa actividade, durante muitos anos, com resultados positivos, que seria útil divulgar!

Guimarães acabou por seleccionar para publicação, alguns dos meus relatórios que, de facto, não eram longos.
Todos estes relatórios tinham interesse e estavam devidamente preparados para publicação.
Um deles até deu origem a contrato com empresa privada, que se propôs dar continuidade aos estudos programados pelo SFM (Ver post N.º 3).
Mas o relatório sobre os Jazigos ferro - manganíferos de Cercal – Odemira manteve-se em arquivo, completamente ignorado da comunidade mineira.

O argumento do elevado custo era mais uma das falácias, em que este Director era fértil.

Nem sequer foi publicado o relatório sobre o jazigo do Torgal, que tem apenas 48 páginas, apesar do abundante conteúdo de sulfuretos de cobre, zinco e chumbo deste jazigo constituir relevante justificação para campanhas de prospecção, pelo SFM ou por entidades privadas, incluindo obviamente, os concessionários locais, com o objectivo de detectar concentrações destes metais, idênticas às da Faixa Piritosa.

Foi, sem dúvida, um propósito deliberado de ocultar os êxitos conseguidos com os estudos realizados por minha iniciativa.

A este propósito, ocorre-me referir que um grupo de Geólogos ambiciosos, recém – ingressados no SFM, menos interessados nos objectivos deste Serviço, do que na ocupação de cargos para que não tinham competência, a fim de justificarem o seu estranho comportamento, punham em dúvida o mérito do meu passado profissional, com o argumento de que poucos artigos de minha autoria encontravam publicados! (Ver post N.ºs 94 e 127)

Era, conhecido o critério do Director do SFM, na aplicação dos dinheiros que o Governo prodigamente disponibilizava, com a propósito de proporcionar o integral aproveitamento dos nossos recursos minerais, cuja potencialidade se evidenciava vigorosamente.

Em vez de apresentar bons resultados da aplicação dos dinheiros despendidos, vangloriava-se com a exibição de grandes saldos, no fim de cada ano.
Quando se apercebeu de que as dotações anuais teriam em conta os gastos dos anos anteriores, passou a evitar esses grandes saldos, não com aplicação dos dinheiros em estudos bem planificados e realizados, mas com aquisições de equipamentos de duvidosa utilidade, quando se aproximava o final de cada ano!

O que o Director, de facto, revelou, foi grande desorientação no uso das verbas concedidas ao SFM.

Durante o seu mandato, quase toda a actividade do SFM, que decorria sob sua directa orientação, no Norte e no Centro do País, foi mal planificada e deficientemente posta em prática, conduzindo a enorme desperdício de dinheiros públicos.

Dela não resultou significativa contribuição para acréscimo da riqueza mineira nacional (Ver post N.º 200).

Com base nos elementos constantes dos relatórios anuais, publicados até 1964, deduzi que as Brigadas do SFM, que actuaram no Norte e no Centro do País, unicamente, definiram reservas significativas, no jazigo de ferro de Guadramil e no jazigo de chumbo argentífero de Terramonte. Só este último foi objecto de exploração por empresa privada.

Tudo isto pude confirmar, após a deserção de Guimarães dos Santos, para Lisboa, para ocupar vaga de Inspector Superior, com muito menores responsabilidades, quando o novo Director me nomeou Chefe do Serviço de Prospecção Mineira, com âmbito de acção extensivo a todo o território metropolitano nacional.

Se Guimarães dos Santos pretendia parcimónia nos gastos, deveria ter seguido os exemplos, da Brigada de Prospecção Eléctrica e da Brigada do Sul, quando tive a meu cargo a respectiva chefia.

Tinha obrigação de ter valorizado os seguintes factos:
a) a redução de despesas equivalente a cerca de 1,2 milhões de euros, na moeda actual, quando adicionei às minhas funções normais de Chefe da Brigada de Prospecção Eléctrica, a orientação de toda a actividade no campo que estava a cargo de um dos engenheiros suecos, libertando o País dos pesados encargos resultantes da presença deste técnico. (Ver post N.º 7)
b) a diminuição de despesas equivalente a mais de 2,25 milhões de euros na moeda actual, com a substituição de 4 Agentes Técnicos de Engenharia, por operários localmente admitidos, que foram instruídos na execução das tarefas antes a cargo desses técnicos, daí resultando até aumento de produtividade (Ver também post N.º7).
c) Embora não seja possível quantificar a economia consequente da reorganização que introduzi, no período de 1948-56, na Secção de Cercal e Odemira, porque, relativamente ao período de 1942-48, não havia registo das despesas correspondentes aos trabalhos efectuados, é significativo o acréscimo de 30% da actividade no 2.º período, em que se enfrentaram problemas de maior dificuldade.
É, no entanto possível quantificar a diminuição das despesas, originada pela redução do número de técnicos envolvidos nos estudos. De 5 técnicos, passou-se para 2 em tempo integral e 1 (eu), em tempo parcial.
Esta diminuição foi equivalente a cerca de 1 milhão de euros, na moeda actual.

Perante estas reais economias, o custo da publicação que Guimarães dos Santos recusou teria sido insignificante.

Importantíssima foi a contribuição que estudos criteriosamente conduzidos deram, não só para o acréscimo da riqueza mineira nacional, mas também na formação de pessoal, para o correcto desempenho das variadas tarefas, no campo e no gabinete, exigidas para cumprimento dos objectivos do SFM.

Como já tinha constatado o desaparecimento de alguns relatórios do arquivo do SFM, cheguei a ter dúvidas quanto ao destino deste e de outros relatórios não publicados, de minha autoria.

De facto, Múrias de Queiroz, em vez de se preocupar em resolver esta grave situação, optou por solução fácil, quando não foi encontrado, na Secretaria, relatório de minha autoria, que entidade privada pretendia consultar.
Na minha ausência, teve a ousadia de retirar do meu gabinete, a cópia pessoal, que eu lá conservava, facto de que só tomei conhecimento, quando precisei de a usar e não a encontrando procurei saber a causa do desaparecimento.
A partir deste insólito acontecimento, todas as pastas do arquivo, que tive de organizar no meu gabinete, deixaram de ter, na lombada, indicação do seu conteúdo, socorrendo-me eu de um esquema memorizado, para as consultar (Ver post N.º 39).

Correram rumores de que relatórios respeitantes a minas de ouro, que tinham sido retirados do arquivo do SFM foram objecto de negociação.

Foi, porém, com satisfação, que tomei conhecimento de que, Gomes Moura, docente da Faculdade de Ciências do Porto, autor de valiosos livros de carácter didáctico, sobre os recursos minerais do País, conseguira consultar, nas actuais instalações do LNEGI, em S. Mamede de Infesta, o meu relatório sobre os jazigos ferro – manganíferos de Cercal – Odemira.
O seu comentário, no post N.º 15, destas “Vivências Mineiras”, é deveras elucidativo.
Classificou de “impressionante” este relatório.

Tenho também razões para acreditar que o exemplar arquivado em Beja ainda lá pode ser consultado, pois felizmente o núcleo mineiro oficial criado nesta cidade, que resistiu à destruição do SFM, com fortes responsabilidades dos autores de nefando documento (Ver posts 81 a 91), está actualmente entregue a pessoa com provas dadas de dedicação à causa mineira.

Suponho que o exemplar enviado à DGMSG em Lisboa foi cedido ao principal concessionário, para que dele fizesse uso, na retoma da lavra activa nas suas minas.
As minas entraram, de facto, em exploração, sendo o minério expedido para a Siderurgia Nacional, que o dinâmico empresário Champalimaud instalara no Seixal.

Conforme assinalei no post N.º 198, o meu relatório não foi publicado deliberadamente, mas o Colaborador do SFM, Cotelo Neiva já se tinha encarregado de preencher esta previsível lacuna.

Apresentou à III Assembleia Geral do “Instituto del Hierro y del Acero”, realizada em Madrid, em 1955, comunicação intitulada “Minerais ferro – manganesiens du Portugal”.
As duas visitas que lhe proporcionei à Região foram suficientes para descrever os jazigos, para mencionar as reservas certas e prováveis do seu conjunto, e para pôr em destaque as potencialidades para sulfuretos de cobre, chumbo e zinco.

E o Director do SFM fez publicar esta comunicação no Volume X de “Estudos, Notas e Trabalhos do SFM”!!!

Digno de realce é o contraste entre as atitudes do Professor Mc Gillavry da Universidade de Amsterdam e as do Professor Cotelo Neiva da Universidade de Coimbra.
Mc Gillavry, que viera, a Portugal, a título gratuito, orientar discípulos seus, que trouxe para prepararem teses de doutoramento, de que constariam investigações geológicas de alta qualidade, sobretudo do ponto de vista estrutural, respeitantes a diversas áreas do Alentejo (Ver post N.º 179), comprometera-se a não publicar a tese de Klein, antes de publicado o meu relatório, porque eu lhe facultara alguns dados sobre a Região de Cercal – Odemira.
Mc Gillavry chegara a desabafar comigo a pouca receptividade que encontrara nos Serviços de Geologia sediados em Lisboa, salientando o facto de me encontrar a mim, em actividade no campo, e não aos Geólogos desses Serviços.
Cotelo Neiva, em vez de prestar a colaboração que eu lhe pedira, para a qual era bem remunerado, apressou-se a publicar, sem minha autorização, os dados que ingenuamente lhe facultei, nas duas únicas visitas que lhe proporcionei à região.
Habituado, no Norte do País, a inverter os papéis, colocando Engenheiros e Agentes Técnicos de Engenharia a trabalhar para produzir documentos cuja publicação alimentasse a sua vaidade (Ver post N.º 198) achou natural adoptar idêntico procedimento no Sul, para comigo.
Conforme referi, foi grande a minha estupefacção por tamanho desrespeito por princípios éticos da parte de quem tinha o dever de dar bons exemplos nesse âmbito.
Quem, actualmente, quiser saber algo sobre os jazigos ferro – manganíferos de Cercal – Odemira, encontrará publicado este artigo de Cotelo Neiva e outra informação copiada do meu relatório de 1957, subscrita por Delfim de Carvalho, no Livro – Guia de Excursão que se realizou, em 1970-71, no âmbito do CHILAGE (Ver post N.º15) .

Conforme voltei a realçar, era essencial aprofundar o reconhecimento geológico da Região, não só para selecção das zonas de aplicação prioritária de métodos geofísicos e geoquímicos, mas também para facilitar a interpretação dos resultados obtidos com estes métodos.

A oportunidade surgiu quando, após a reorganização do SFM verificada em 1964, todos os estudos de geologia do SFM passaram a ficar sob a minha responsabilidade, incluídos nas atribuições do Serviço de Prospecção Mineira.

Começaram, então a ingressar no SFM novos Geólogos, e o Director, que então ainda respeitava a Orgânica de sua autoria (Ver post N.º 25), destacou, em 1966, o Delfim de Carvalho, para colaborar nos estudos programados, no Sul do País.

Foi este Geólogo que encarreguei de dar continuidade aos estudos na Região de Cercal – Odemira, tendo-lhe sugerido, logo de início, que analisasse a possibilidade de alterações hidrotermais constituírem guias a utilizar.

Todavia, Delfim de Carvalho, apesar das excepcionais condições de que desfrutou para bem desempenhar a sua missão, deixou-se dominar pela desmesurada ambição de rápida promoção pessoal, que lhe foi facilitada pela vaga de oportunismos gerados no pós – 25 de Abril.
Desrespeitou ostensivamente a disciplina que vigorava na 1.ª Brigada de Prospecção e os princípios de ética profissional (Ver post N.º86).
O caso do Salgadinho apressadamente promovido a Jazigo mineral, comparável a Neves – Corvo é bem elucidativo, a esse respeito.

Delfim de Carvalho acabou por se tornar o grande responsável por não ter sido feita cabal investigação das potencialidades da região de Cercal – Odemira, para jazigos idênticos aos da Faixa Piritosa.
Tenho tomado conhecimento, por diversas fontes, de contratos de prospecção, com várias empresas, para investigação desta Região, mas não consta que tivesse sido registado sucesso algum.

Assim se confirma o que anteriormente acontecia. As empresas privadas só eram bem sucedidas quando o sucesso já estava praticamente concretizado pelo SFM, como foram os casos de Carrasco – Moinho e Gavião, em Aljustrel, Neves – Corvo, em Castro Verde - Almodôvar e o caso presente dos jazigos ferro –manganíferos de Cercal – Odemira, que escapou á pedagógica história da prospecção mineira em Portugal, apresentada por José Goinhas.