Quando ocorreu a Revolução de 25 de Abril de 1974, grandes foram as esperanças de que terminassem as arbitrariedades do Director-Geral de Minas e as atitudes obstrucionistas do Director do SFM, que ostensiva e impunemente vinham sendo praticadas, com grave prejuízo para o cumprimento dos objectivos para que o SFM tinha sido criado.
Já me referi, no post N.º 72, aos primeiros efeitos negativos da Revolução, por errada interpretação das liberdades instituídas.
Os efeitos seguintes foram quase sempre muito mais negativos.
O autor da expressão “Deram voz activa a quem nem passiva devia ter” ainda foi muito condescendente.
Para se manterem nos cargos, que indevidamente ocupavam, o Director-Geral e o Director do SFM passaram a fazer cedências de toda a espécie.
Alteraram totalmente o seu anterior comportamento que se caracterizava por grande desrespeito pelos funcionários contratados ou assalariados, sobretudo por aqueles que mais se empenhavam em realizar trabalho válido.
Já me referi ao facto de não terem tido a mínima preocupação em oficializar os cargos de chefia, não lhes atribuindo as correspondentes remunerações, ao mesmo tempo que mantinham dependente do seu arbitrário critério a manutenção ou substituição dessas chefias. (Ver post N.º.71)
O meu caso pessoal pode considerar-se paradigmático, pois tendo sempre exercido funções de chefia, nunca me foi atribuída a correspondente compensação.
Mantive-me durante 29 anos (!) com a categoria de Engenheiro de 1.ª Classe, com a responsabilidade das mais importantes tarefas de toda a Direcção-Geral de Minas, e pude ser demitido, sem hipótese de recurso, da chefia de um departamento por mim organizado, que eu ambicionava viesse a ser o gérmen de um Organismo de Investigação Mineira, ao nível do Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
Já me referi também ás enormes dificuldades em passar alguns assalariados à classe de contratados e em conseguir exíguos aumentos salariais para evitar a fuga de elementos fundamentais que tinham adquirido especialização nas Brigadas que chefiei, em muitos casos, sob minha directa orientação.
O Director-Geral de Minas, após a Revolução, não mais arriscou fazer convocatórias para reuniões da Comissão de Fomento.
Sentindo o seu cargo periclitante, face ao uso de bens do Estado em benefício pessoal que, sem pejo, ostensivamente fazia, e ao deficiente funcionamento de departamentos sob sua directa dependência, resolveu procurar apoios, contactando, ele próprio, funcionários dos mais importantes núcleos de actividade.
Nestes contactos, foi pródigo em promessas de promoções, compensações e outras regalias, que declarava só se terem tornado possíveis de concretização, nas circunstâncias criadas pela Revolução.
Foi com esta atitude determinada que se apresentou no meu gabinete, em S. Mamede de Infesta, em 15-7-1974.
Oficializava, então, a minha qualidade de representante da Direcção-Geral de Minas junto da Empresa canadiana "Intermine", para eu poder ser remunerado pelas funções que, efectivamente vinha desempenhando.
Dava, para o atraso que se verificara, a justificação “esfarrapada” da relutância do Secretário de Estado nesta nomeação, tendo ele tido até imensa dificuldade em convencer este membro do Governo a aceitar a sua proposta.
Já me referi, no post N.º 34, a tão descarada mentira. Eu tinha conhecimento, através do cognominado Ajax que a minha nomeação se não verificaria, como represália pelas divergências que vinha manifestando nas reuniões da Comissão de Fomento relativamente a decisões do Director-Geral, que considerava dificultarem os estudos a meu cargo.
No decurso da conversa, ficou claro que eu não apoiaria a permanência do Engenheiro FSC no cargo de Director-Geral.
Seguindo a sua estratégia, passou a visitar, com assiduidade a 1.ª Brigada de Prospecção, onde tinha introduzido o Geólogo, seu afilhado, Dr. Delfim de Carvalho. Aí exaltou os êxitos da equipa, desvalorizando o papel fundamental que eu neles tive.
Apesar da ligação afectiva ao Dr. Delfim de Carvalho, não ousaria pensar que lhe fosse tão fácil obter o apoio generalizado desta Brigada.
Relativamente aos Serviços Geológicos, que tão depreciados eram durante as reuniões da Comissão de Fomento, perante a fraca produção de cartas geológicas à escala de 1:50 000, com excessivo apoio no trabalho de Colectores, passou a mostrar-se admirador de Geólogos da nova geração recentemente admitidos, que usavam uma linguagem que lhe não era familiar.
Tectónica de placas, dobras de várias fases, cavalgamentos, carreamentos, etc… eram matérias de que pouco entendia, que o deixavam maravilhado com tanta sabedoria. O Ajax, na época em que tinha desabafos em conversas comigo, costumava salientar a cultura do Director-Geral, baseada nas Selecções do “Reader’s Digest”.
Estes elogios aos novos Geólogos eram obviamente acompanhados de promessas de justa retribuição, através da reestruturação que anunciava.
Dos geólogos novatos do chamado grupo dos scheeliteiros, também era de esperar todo o apoio, pela honra que lhes fora concedida de agirem sob sua directa orientação.
No que ao SFM dizia respeito, o seu Director, agora convertido ao espírito democrático introduzido pelo Movimento das Forças Armadas (Ver post N.º 70) também não poupou esforços para se manter no cargo.
Por sua iniciativa, ou com a sua anuência e até colaboração, foram criadas no SFM, Comissões com os mais variados pretextos.
Desrespeitando a “Orgânica” que tinha instituído em fins de 1963 (Ver post N.º 27), passou a colaborar na criação de novos Órgãos directivos, sem todavia extinguir os que se encontravam em actividade.
Instituiu, deste modo, um verdadeiro caos!
O 1.º Serviço, agora reduzido à 2.ª Brigada de Prospecção, com as suas Secções em Caminha e em Talhadas, após a amputação da 1.ª Brigada com sede em Beja, não se deixou afectar pela indisciplina que estava a ser introduzida
Mas teve que enfrentar numerosos obstáculos propositadamente criados pelo Director ou pelas Comissões em que participou.
O pessoal das Secções de Caminha e de Talhadas deu lições de disciplina, de lealdade e de civismo, recusando aceitar ordens que me retiravam a chefia destas Secções, emanadas de uma das Comissões de sua inspiração, declarando-as ilegais, com sólidos argumentos que apresentou.
Nas muitas reuniões que se realizaram, na sede do SFM, dentro e fora do horário normal de trabalho, muito tempo se desperdiçou em discussões absolutamente inúteis.
As intervenções do Director foram, em geral, de tal natureza que me fizeram duvidar da sua sanidade mental.
Em próximos posts, irei referir-me a alguns dos obstáculos incríveis criados pelo Director Geral e pelo Director do SFM para me impedir de realizar as tarefas de fomento mineiro em que teimosamente me mantive empenhado.
Irei também revelar as numerosas tentativas que fiz par evitar a extinção do SFM.
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