Prosseguindo na análise da Comunicação do Director-Geral de Minas ao Congresso 78, vou agora pôr em evidência a enorme discrepância entre as suas exigências quanto à elevada competência para o desempenho das tarefas da prospecção mineira e as decisões que tomou ou aceitou, quanto a escolha dos responsáveis pela execução dessas tarefas.
No post anterior, salientei a ignorância do Director-Geral em matérias em que decidiu intervir. Mas não ficaram por aí os erros que foi cometendo, nem sempre resultantes dessa ignorância...
Logo no início do seu mandato, em 1962, cometeu clamoroso erro ao nomear um Engenheiro, cuja incompetência e cujo duvidoso carácter eram bem conhecidos, para o importante cargo de Director do Serviço de Fomento Mineiro
De facto, o currículo deste Engenheiro não era pobre; era negativo.
Na qualidade de adjunto do anterior Director do SFM, as suas funções resumiam-se ao cumprimento das formalidades burocráticas para a aquisição dos equipamentos essenciais aos trabalhos mineiros das Brigada.
Pelo que dizia respeito aos estudos a meu cargo, no Sul do País, foi permanente a sua criação de dificuldades. Nunca satisfazia inteiramente as minhas requisições, com o mesquinho argumento de reduzir despesas, alegando duvidar das reais necessidades.
O Governo dotava o SFM com generosos orçamentos, pois mantinha grande empenho em ver cumpridos os objectivos visados pelo Decreto da sua criação.
Mas o Director do SFM de então e este seu adjunto, interpretavam as naturais recomendações de boa administração dos dinheiros públicos, como obrigação de apresentar abundantes saldos, no final de cada ano, embora à custa da não realização dos estudos que seriam de prever.
O que tornou possível um eficaz reconhecimento dos jazigos que estavam em investigação, nas Secções de Cercal - Odemira, Montemor-o-Novo, Moura e Barrancos e Castro Verde, da Brigada do Sul, que eu chefiava, foi o abundante material recebido ao abrigo do Plano Marshall (Ver post n.º 15).
Pude aplicar este material (grupos electrogéneos, moto-compressores, grupos electro-bombas, martelos pneumáticos e seus acessórios, etc.) porque, nas Brigadas do Norte e do Centro do País, poucos estudos havia em curso, que exigissem a sua utilização.
A um projecto que apresentei para a instituição do piso 210 na Mina de cobre de Aparis, com o objectivo de aumentar significativamente as suas reservas, não foi dado andamento e nem sequer foi acusada a sua recepção.
Este projecto ia exigir um conjunto de equipamentos (grupos electro-bombas de elevada potência, novas tubagens para ar comprimido e para esgoto de águas, cabos eléctricos, tudo devidamente dimensionado) e a instalação de um posto de transformação à boca do poço S. Francisco.
Salientei estas e outras características negativas do novo Director do SFM, em conversa informal com o recém-nomeado Director-Geral.
Registo que, nessa época, eu via este Director-Geral como um colega da minha geração, que tinha sido investido em elevado cargo, como poderia ter sido eu, até porque, quando ele teve acesso ao Quadro definitivo da DGMSG, ficou colocado em lugar inferior ao meu, por ter menor classificação académica.
Com o natural à-vontade, resultante desta circunstância, fiz-lhe ver as inevitáveis consequências de nomeação de pessoa com tão fraco currículo para o desempenho de funções de tamanha exigência.
A reacção do Director-Geral foi a que já descrevi no post n.º 25. A nomeação fora “imposta” por um Secretário de Estado, e ele não sentia poder contrariá-la.
Mas acrescentou que teria carácter transitório e que a direcção do SFM viria a ser-me confiada, por reconhecer ter eu, indiscutivelmente, maior qualificação para o cargo.
O grande desrespeito pelo cargo de Director do SFM era atitude desprestigiante de Organismo de fundamental importância para o País, mas havia a esperança de que esta situação transitória se não prolongasse.
Só o regime político vigente, que protegia os seus subservientes apoiantes, explicava, mas não justificava tão aberrante nomeação.
Após a Revolução, não era, obviamente, expectável que tal situação se mantivesse.
A realidade, porém, foi que a transitoriedade se prolongou por 15 anos (!!!), com os malefícios que já descrevi em vários posts.
Mas outra realidade, que progressivamente passou a evidenciar-se, foi que um Director do SFM, incompetente e subserviente, se tornou muito útil para o Director-Geral poder usar o generoso orçamento extraordinário do SFM para despesas que nada tinham com fomento mineiro e não eram consentidas pelo orçamento ordinário.
Foi, deste modo, que passou, por exemplo, a ter 3 viaturas ao seu serviço, oficial e particular, em acentuado contraste com o seu antecessor que se deslocava em transportes públicos para exercer funções.
O Director-Geral, assumiu-se como o verdadeiro dirigente do SFM, reservando para o titular do cargo funções subalternas pouco edificantes.
Uma das suas primeiras acções, nesta qualidade, foi utilizar-me para demonstrar, ao Secretário de Estado da Indústria, Engenheiro Amaro da Costa (pai do malogrado Ministro da Defesa do Governo de Sá Carneiro), em viagens organizadas pelo Sul do País, os maiores sucessos do Organismo que dirigia, embora realizados anteriormente ao seu investimento no cargo de Director-Geral.
Por meu intermédio, apresentou-lhe trabalhos mineiros bem sucedidos, fundamentais para explorações que se encontravam em curso nas Minas de ferro e manganés de Cercal – Odemira, nas Minas de zinco das Preguiças em Moura ou iriam ser iniciadas na Mina de cobre de Aparis, em Barrancos. (Ver post n.º 47),
Entusiasmado com o bom acolhimento do Secretário de Estado, preparou idêntica visita a trabalhos do SFM no Norte do País. Mas esta visita correu mal, porque muito pouco havia para mostrar e o Director do SFM nem esse pouco soube valorizar, o que levou o Director-Geral a lamentar-se de lhe ter faltado no Norte, um “Rocha Gomes”
Nesta primeira fase do seu mandato, foi frequente nomear-me para apresentar perante membros do Governo, ou em ambientes externos à DGMSG, sucessos do SFM, os quais diziam respeito essencialmente ao sul do País, pois aí se tinha exercido, até então, a minha principal actividade.
Cito, como exemplos, as várias exposições que fiz no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, no âmbito do Agrupamento Português de Prospecção Geofísica, a nomeação para representar a Metrópole nas Jornadas de Engenharia que em 1965 se realizaram em Moçambique
Nunca se lembrou de convidar o Director para estes fins.
Tornou-se, também, normal encaminhar para mim representantes de Companhias nacionais ou estrangeiras interessadas em fazer investimentos em prospecção mineira, para eu indicar as áreas onde poderiam exercer essa actividade, geralmente em continuidade das investigações realizadas pelo SFM.
Isto acontecia, não só pelo desconhecimento que geralmente tinham, tanto o Director-Geral, como o Director do SFM, da evolução dos estudos a meu cargo, apesar de receberem, regularmente, relatórios (que não liam) do progresso dos trabalhos, mas também, porque se sentiam pouco à-vontade a exprimir-se em inglês ou mesmo francês.
Recordo-me de o Director-Geral ter exigido a presença de intérprete, quando Grupo franco-canadiano quis indagar as possibilidades de fazer contratos de prospecção mineira em Portugal, de me ter advertido, de modo áspero, quando, inadvertidamente me estava exprimindo em francês, ao ser convidado a prestar as informações que o Grupo pretendia.
Recordo-me ainda de o intérprete traduzir, em escassos minutos, as longas e repetitivas dissertações do Director-Geral, passeando-se pela sala, onde decorria a reunião, esticando e encolhendo um ponteiro telescópico que costumava usar.
Já me referi, no post n.º 55, a reunião que provocou com representantes do Governo para expor o papel de Portugal que se lhe afigurava fortemente privilegiado em matéria de exploração de pirites. Tinha desabafado comigo, no dia anterior, que não pudera deixar de convidar o Director do SFM, para também estar presente, mas, esperava que ele se mantivesse calado. E foi o que realmente aconteceu!
A criação da Comissão de Fomento resultou da sua decisão de se assumir como dirigente do SFM, sem que o verdadeiro titular do cargo, com isso, se mostrasse desautorizado. Pelo contrário, pareceu até aliviado, pois alguém a nível hierárquico superior assumia responsabilidades em matérias em que não se sentia à vontade.
A total inutilidade das reuniões desta Comissão, já eu denunciara na conversa de 15-6-1974 (Ver post n.ºs 49 e 72).
O Director-Geral não teve coragem de lhes dar continuidade após a Revolução de 25 de Abril de 1974.
Em próximos posts, ocupar-me-ei de outras decisões do Director-Geral, que redundaram na (de)formação técnica e cívica de pessoal seu subordinado, em flagrante contradição quanto às exigências de elevada competência, que reiteradamente proclama na sua Comunicação.
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