quarta-feira, 12 de maio de 2010

122 – As realidades e fantasias do Director-Geral de Minas - Continuação 3

Nos 3 posts anteriores, pus em evidência a disparidade entre afirmações do Director-Geral de Minas, na sua Comunicação ao Congresso 78, relativamente a exigências de grande competência técnica para as tarefas da prospecção mineira e a sua real impreparação neste domínio, em que decidiu ter papel activo.

Salientei, também, o modo irresponsável como o Director do SFM desempenhava o seu cargo, remetendo-se a um papel subserviente, perante arbitrariedades do Director-Geral.

Adaptando do épico: Fracos dirigentes produzem incompetentes … e até os premeiam!

Este foi, na realidade, o fantástico lema que dominou a actividade do Serviço de Fomento Mineiro, após o falecimento do seu primeiro Director.

Nunca me intimidei, porém, com as prepotências de dirigentes ignorantes e fui conseguindo, durante alguns anos, contrariar os seus obsessivos propósitos de dificultarem a minha actividade.

Foi com muita determinação e perseverança, que conduzi o SFM aos seus maiores êxitos, aos quais já me referi em vários posts.

No expressivo comentário do Director do SFM, perante representante de membro do Governo, isto foi alcançado “porque ele deixou!!”, (Ver post n.º 112), talvez se tivesse exprimido melhor, se tivesse dito ”porque não consegui impedir”.

Mas se o Director-Geral, durante os primeiros tempos do seu mandato, teve a astúcia de se apoiar em sucessos dos trabalhos que dirigi, para a sua promoção pessoal junto do Governo, a partir de 1968, decidiu dispensar esse apoio e tentou adoptar para comigo o procedimento que tinha usado com o Director do SFM, isto é, tentou passar a orientar os trabalhos de prospecção mineira, no território metropolitano.

É certo que, além da nomeação de indivíduo com currículo negativo para dirigir o SFM, já, em Maio de 1963, me tinha desconsiderado, ao desligar-me, sem sequer me informar, da representação do País no grupo “ad hoc” constituído na OCDE sobre aplicação de métodos modernos de prospecção, para a qual tinha sido nomeado pelo Engenheiro Castro e Solla, seu antecessor no cargo. (Ver post n.º 22)

E quem foi, então, designar para me substituir nessas funções? O anterior Director do SFM, que tinha declarado a Robert Woodtly não ter justificação a prospecção mineira no Norte do País!! (Ver post n.º 120)

Como referi noutros posts, o Director-Geral decidiu orientar jovens e inexperientes Geólogos, em campanha de prospecção de scheelites, nas regiões de Alfândega de Fé, Mogadouro, Almendra, Figueira de Castelo Rodrigo.
Sonhava com êxitos espectaculares (as Torres dos Clérigos, na sua curiosa expressão), porque tinha descoberto que a scheelite, que à vista desarmada se confunde com minerais estéreis, fluoresce intensamente, quando submetida, na escuridão, a radiação ultra-violeta de determinado comprimento de onda.
Fez a descoberta, quando, na região de Vila Nova de Cerveira – Caminha - Ponte de Lima, há muito tempo eu já usava correntemente este procedimento, nos trabalhos de prospecção que lá tinha em curso! (Ver posts n.sº 56 e 94).

Passou, depois, a interferir, abertamente, na programação do SFM e na colocação dos técnicos que iam ingressando neste Organismo, insistindo no desrespeito pela Orgânica em vigor.

Técnicos com cursos superiores ou médios, não mais foram integrados, no Serviço de Prospecção, como impunha a Orgânica, apesar das minhas persistentes informações, em sessões da Comissão de Fomento, quanto à necessidade, sobretudo de Geólogos, para colaborarem nos estudos em curso, quer na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, quer na Faixa Metalífera da Beira Litoral.

Numa dessas reuniões, em jeito de grande condescendência, recomendou ao Director do SFM, que tivesse em consideração tais informações, “para não mais ouvir as minhas lamentações”.

Como eu esperava, o Director do SFM fez desta recomendação orelhas moucas.
A realidade foi que a carência de Geólogos no 1.º Serviço se manteve, sem que o Director-Geral com isso tivesse demonstrado a mínima preocupação.

Quanto a acções no sentido de formar e manter técnicos competentes, já descrevi, no post n.º 71, a total insensibilidade do Director-Geral.

Nas suas reiteradas divagações sobre este candente tema da competência, ora declara haver escassez de meios humanos e materiais, para as tarefas a empreender, ora tece rasgados elogios às equipas de prospectores (sem concretizar a quem estaria a referir-se), ora revela preocupação perante o envelhecimento dos técnicos.

Quanto a escassez de meios humanos, assinalarei em post futuro, que o pessoal da Direcção-Geral de Minas atingia no final da década de 70 do passado século, o assombroso número de 590 pessoas, entre técnicos superiores, médios e auxiliares, administrativos, etc.!!

Já me referi, no post n.º 93, à minha estupefacção quando soube do empolamento de pessoal, na sede do SFM em S. Mamede de Infesta, para 104 funcionários (!), em acentuado contraste com a progressiva redução de trabalhadores no campo, isto é, onde se devia processar o real fomento mineiro.

Era, portanto, muito incorrecta a afirmação de escassez de pessoal. Pelo contrário, havia tal superabundância, que o excesso era fonte de problemas.

A realidade era que, se exceptuarmos os departamentos que estiveram ou estavam ainda sob minha jurisdição, nem tinha havido cuidado no recrutamento de pessoal, nem tinham sido tomadas medidas para melhorar a preparação obtida nos estabelecimentos de ensino, também eles carecidos de experientes profissionais.

Mas o Director-Geral, não só nada fez para melhorar a preparação dos técnicos da DGMSG, como destruiu quanto eu tinha feito, nesse âmbito, na 1.ª Brigada de Prospecção, ao permitir ou talvez até incentivar que o Director do SFM me demitisse da chefia desta Brigada que, durante anos, eu pacientemente organizara. (Ver post n.º81)

Quando elogiou as equipas que chegaram a grandes êxitos, referia-se, obviamente, ao 1.º Serviço, e tinha plena consciência de que essas equipas foram por mim constituídas com grande esforço e determinação.

Ocorre, naturalmente perguntar qual a sua capacidade para se pronunciar sobre a competência destas equipas, sabendo-se quão ignorante era sobre as técnicas que elas utilizavam.
Imagino que desejaria realçar o papel dos Geólogos e dos Engenheiros, excluindo-me obviamente desse conjunto, visto que eu estava a ser alvo de sucessivas ameaças, “até às últimas consequências”.

A realidade é que a competência desses Engenheiros e Geólogos era bastante modesta, chegando a roçar a mediocridade, como já pus em evidência nalguns posts.
Revelarei, mais tarde, indesculpáveis erros patenteados em artigos que fizeram publicar, quando deixaram de estar submetidos à minha chefia.

Os sucessos das equipas ficaram a dever-se muito mais à minha acção e à colaboração de pessoal de nível médio (Agentes Técnicos de Engenharia) e auxiliar recrutado localmente, nas áreas das Secções, que eu directa ou indirectamente tinha preparado, desde o início da década de 40, do que aos Geólogos e aos Engenheiros de recente ingresso no SFM. (Ver posts n.ºs 85 a 90)

Outra realidade foi que, durante a ausência dos 3 Geólogos, em cursos pós-graduação, no E.U.A. e em França, os estudos da 1.ª Brigada prosseguiram, com normalidade, sem que se tivesse feito sentir a sua falta.
E quando regressaram, até se registaram estranhas divergências, quanto à selecção de áreas para investigação.
Esperava-se, do seu aperfeiçoamento profissional, uma contribuição positiva para a orientação dos estudos da Brigada.
Mas não foi, infelizmente, isso que aconteceu. Atribuindo-se uma superioridade que queriam aparentar ter conseguido, mas que não tinha suporte científico, geraram divergências que me levaram a fazer censura escrita a um deles, que tivera a ousadia de querer substituir-me na programação dos estudos, contrariando o que havia sido decidido em reunião na sede da Brigada em que ele havia participado... (Ver post n.º 88).

O Director-Geral tinha consciência de que os sucessos terminaram completamente com o meu afastamento, não obstante o Geólogo Delfim de Carvalho seu afilhado, que se auto-investiu no cargo que eu fora forçado a abandonar, tenha promovido a jazigos minerais, bons indícios de mineralizações, que haviam sido descobertos ou preparados, durante a minha chefia, sem a sua mínima intervenção.

Relativamente à sua afirmação quanto ao envelhecimento do pessoal técnico, observo que a média das idades dos engenheiros e dos geólogos destacados para o 1.º Serviço (incluindo os 58, que eu já contava), era de 42 anos, em finais de 1978, muito distante dos 60, que o Director-Geral calculou!
Outros Geólogos que não foram integrados no 1.º Serviço tinham provavelmente idades ainda inferiores, pois eram, na sua maioria, recém-licenciados (caso dos scheeliteiros).
Não pode, pois, dizer-se que era pessoal já velho, embora houvesse indivíduos, cujo comportamento poderia levar a tal classificação.

É certo que não ingressavam novos Engenheiros, pois o ambiente deixou de se tornar atractivo, após decisões arbitrárias do Director do SFM. É disso exemplo a saída de um jovem Engenheiro que prometia vir a tornar-se técnico competente, após curta permanência no SFM, sem que lhe fossem definidas funções, em conformidade com as suas habilitações académicas. (Ver post n.º 116).

Nunca vi quaisquer medidas do Director-Geral para tornar atractiva a entrada de Engenheiros no SFM.
Recordo uma circular, que o seu antecessor enviou às Universidades, sugerindo que alunos inscritos em cursos de Engenharia dessem preferência ao curso de Minas, pois teriam colocação assegurada no SFM. Aproveitaram esta sugestão os Engenheiros que passaram a integrar a 1.ª Brigada de Prospecção.
Nunca este Director-Geral tomou iniciativa semelhante.

Ao contrário do Director-Geral, já na Universidade do Porto, onde regia a cadeira de Prospecção Mineira, eu chamava a atenção dos meus alunos para as reais potencialidades do País, em recursos minerais, na esperança de que viessem a integrar-se num Instituto de Investigação Mineira verdadeiramente eficaz, liberto, portanto, da influência nefasta de dirigentes incompetentes.

O papel negativo do Director-Geral, na formação de técnicos competentes, mais uma vez se evidenciou quando resolveu não dar seguimento à minha proposta de aproveitamento do jazigo de cobre de Aparis, como verdadeira Escola de Minas, onde aperfeiçoariam a sua formação, não só Engenheiros, Geólogos e Agentes Técnicos de Engenharia, mas também pessoal das diversas profissões que intervêm na indústria mineira.
Além disso, projectava-se ensaiar, nessa Escola, novos equipamentos que fossem surgindo no mercado, a facilitar o desenvolvimento da indústria mineira.

O que aconteceu foi o Director-Geral adjudicar, precipitadamente, a concessão, a empresa constituída por um seu amigo e colega de curso, como sócio principal, propositadamente para exploração das parcelas mais ricas do jazigo, (Ver post n.º48, sobre o fim inglório do jazigo de Aparis)

Mas o cúmulo da acção destrutiva deste Director-Geral, foi atingido quando se mostrou incapaz de pôr travão a decisões do Director do SFM, reveladoras de malvadez ou insanidade mental, as quais me colocavam na dependência de técnicos oportunistas, inexperientes e de mau carácter, em despudorado desrespeito pela hierarquia e pela Orgânica vigente. (Ver posts n.ºs 97 a 100).

Como já referi, tendo-me recusado a acatar tais decisões ditatoriais, ilegais, de reais fascistas travestidos de democratas, fui ameaçado com sanções disciplinares, até às últimas consequências.

Este foi o prémio que recebi, ao fim de 39 anos de actividade, durante os quais revelei competência, em todas as funções que desempenhei, originando êxitos que muito prestigiaram o SFM até a nível internacional.

Mas que devia eu esperar de um dirigente que já me havia censurado asperamente por ser “um gajo que com a mania das justiças estragava tudo”? (Ver post n.º 50)

Relativamente a meios materiais a realidade é que só eram escassos, por decidida acção dos dirigentes que não davam andamento às solicitações que lhes eram apresentadas, pois as generosas dotações atribuídas ao SFM até permitiam os esbanjamentos do Director-Geral na aquisição de viaturas para seu uso pessoal e outras despesas que nada tinham a ver com fomento mineiro.

Houve até equipamentos que nunca chegaram a ser utilizados e que, com o decorrer do tempo se tornaram obsoletos, como foi o caso de diverso material recebido ao abrigo do Plano Marshall.

Ocorre também perguntar qual o destino de abundante material que ficou disponível, quando o 2.º Serviço se mostrou incapaz de manter trabalhos mineiros clássicos, após a adjudicação da concessão de Aparis e o termo dos estudos nas Minas de Talhadas.

Todo este material teria aplicação, se tivesse havido uma racional programação da actividade do SFM.

Abordarei, no próximo post, o tema da programação do SFM e o papel negativo que o Director-Geral teve a este respeito, e até nas prioridades que estabeleceu para a distribuição de equipamentos, sobretudo sondas, em flagrante contradição com as suas afirmações na Comunicação que apresentou ao Congresso 78.

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