sexta-feira, 15 de junho de 2012

201 - Possível enorme jazigo de sulfuretos na região de Montemor-o-Novo

Na sequência do que consta do último parágrafo do post anterior, transcrevo carta que escrevi ao Secretário de Estado da Indústria e Energia:

“Assunto: Um enorme jazigo se sulfuretos complexos em Montemor-o-Novo? Maior que Neves – Corvo?

Em documento que entreguei ao Senhor Ministro da Indústria, em 11 de Fevereiro passado, referi deficiências graves no funcionamento do SERVIÇO DE FOMENTO MINEIRO, a exigirem urgente correcção.

Invoquei a minha qualidade de Investigador Principal e de Professor Universitário Convidado e o meu currículo de quase 45 anos de diversificada actividade profissional, para dar peso às minhas afirmações.

Citei, por exemplo, uma campanha de prospecção mineira empreendida na região de Montemor-o-Novo, que é descrita no artigo de J. Goinhas e L. Martins, publicado a págs.119-149 do Tomo 29 de “ESTUDOS, NOTAS E TRABALHOS DO SERVIÇO DE FOMENTO MINEIRO”.

Deste artigo, consta desenho – de que anexo cópia – apresentando um perfil gravimétrico e um pseudo-perfil de resistividades eléctricas, em correspondência com secção geológica, elaborada com base em dados de superfície e de duas sondagens apoiadas nos resultados geofísicos.

O perfil gravimétrico evidencia anomalia de 2,45 mgal, isto é, uma alteração do campo gravítico normal, que só muito excepcionalmente será de esperar atingir-se, em prospecção mineira. O jazigo de Neves – Corvo, que foi descoberto essencialmente pela aplicação do método gravimétrico, provocou anomalia substancialmente menor!!!!

Valor tão elevado como o que se registou em Montemor-o-Novo, deveria ter provocado forte excitação aos técnicos da equipa a cujo cargo esteve a campanha de prospecção.

A realidade quase inacreditável é que se não procurou explicar tão desmesurada anomalia e, nesta data, ela está amplamente divulgada por esse mundo fora, através da distribuição da Revista.

Em estudo que fiz, utilizando os poucos dados da publicação, não me foi difícil concluir que, para gerar tal anomalia, seria necessária a existência de corpo denso de enormes proporções, que poderá ser jazigo mineral, talvez maior que Neves – Corvo.

Três hipóteses são de considerar:

a) Lapso grosseiro no desenho do perfil, talvez na escala gravimétrica;
b) Levantamento gravimétrico errado, no trabalho de campo ou de gabinete;
c) Anomalia genuína

Há que analisar cuidadosamente todas estas hipóteses

A verificar-se a terceira, impõe-se que se procure explicação cabal para a anomalia, antes que alguém de um país estranho apareça a candidatar-se a um contrato de prospecção e concretize uma invulgar descoberta …um pouco à semelhança do que aconteceu relativamente a NEVES-CORVO.

Este é, porém, apenas um exemplo, embora bem expressivo.

Estou à disposição de V. Ex.ª para outras informações e eventuais sugestões tendentes à desejável correcção do funcionamento do SERVIÇO DE FOMENTO MINEIRO e, consequentemente, a um melhor aproveitamento dos recursos minerais nacionais.

Apresento a V. Ex.ª os melhores cumprimentos.

S. Mamede de Infesta, 27 de Maio de 1988
(a) Albertino Adélio Rocha Gomes

Cópia a S. Ex.ª o Senhor Ministro da Indústria”

A esta carta, deu o Senhor Secretário de Estado, a seguinte resposta:

“Senhor Engenheiro Rocha Gomes:

Agradeço os elementos enviados em carta datada de 27 de Maio de 1988.

Tomei boa nota das informações aí expressas e procedi no sentido do meu Gabinete dar prosseguimento adequado às questões enunciadas.

Com os melhores cumprimentos

(a) Nuno Ribeiro da Silva

Nada, porém, aconteceu!!!

A extraordinária anomalia gravimétrica mantém-se sem explicação, até aos dias de hoje e ninguém com isso se preocupa!!

O pessoal técnico da 1.ª Brigada de Prospecção depressa esqueceu as lições que prodigamente lhes fui ministrando, durante vários anos.

Se há uma anomalia clara, geofísica ou geoquímica, tem que se encontrar uma explicação para ela.

Deviam lembrar-se do caso de Neves – Corvo e do clamoroso erro cometido pelo pessoal técnico da associação luso-francesa, que desvalorizou a importância da anomalia gravimétrica, preferindo valorizar interpretação geológica que se provou estar errada.

Deviam também lembrar-se do caso do jazigo da Estação em Aljustrel e das pressões do Director-Geral para terminar uma sondagem que estava a tornar-se muito dispendiosa e da minha recusa por não ter sido ainda explicada a anomalia que se investigava, apesar de ser de moderada intensidade.

Este artigo é mais um escandaloso exemplo da apropriação do trabalho de outros, para publicação.

Neste caso, nem sequer são citados os chamados “relatórios internos”, em Bibliografia consultada!
Nenhum deste Geólogos foi autor dos trabalhos de prospecção geofísica que apresentou.
Nenhum deles teve participação nas descobertas de ocorrências auríferas, as quais foram de minha exclusiva responsabilidade, muito anteriormente ao seu ingresso no SFM (Ver post N.º 18).
Estudos, feitos em ocorrências de vários outros minérios, constavam do relatório que eu tinha em preparação, quando tive que dedicar todo o meu tempo a organizar um Serviço de Prospecção extensivo a todo o território metropolitano nacional. (Ver também post N.º 18)
O que foi realizado nestas ocorrências consta, porém, dos relatórios anuais do SFM publicados até 1964.

3 comentários:

Jacinto Saramago disse...

Caro Eng.
Tomei conhecimento deste blog quando pesquisa informação sobre as minas de Barrancos, sobre as quais já escrevi no meu blogue "http://www.estadodebarrancos.blogspot.pt/).

Pela leitura dos seus post, reconheço-o como um grande conheceder da minha zona (Barrancos) e alguma amargura e incompreensão dos dirigentes e políticos do sector mineiro em Portugal.

Se puder e estiver disponível, por favor pode contatar-me através do mail jdm.saramago@gmail.com. Gostava de conhecer melhor a sua experiência sobre as minas de Barrancos.

Receba um cordial abraço.
Jacinto Saramago
Tmv. 96 251 9928

Anónimo disse...

Caro Senhor Jacinto Saramago
Muito obrigado pelo seu simpático comentário.
Já algo escrevi sobre oa trabalhos que dirigi, durante largos anos, na região de Barrancos, principalmente na área de Aparis.
Muito lamentei que, em reorganização do Serviço de Fomento Mineiro, a orientação dos estudos nessa zona fosse entregue a um colega que acabaria por estragar qunanto tinha sido cuidadosamente preparado para explorar o jazigo de Aparis, obedecendo às boas regras da arte de minas e aproveitando esta Mina como Mina-Escola, para completar a formação dos futuros Engenheiros de Minas.
O jazigo foi explorado por empresa privada, apenas na parte mais rica que tinha sido evidenciada, contrariando a regra do bom aproveitamento.
Espero voltar a este tema.
Um cordial abraço
A. Rocha Gomes

Jacinto Saramago disse...

Muito obrigado pela rápida resposta e pelo mail enviado.
Vou tentar adquirir as publicações referidas.

Caso tenha alguma informação complementar que julgue de interesse, ficaria grato em saber.

Abç.
Jacinto Saramago