segunda-feira, 22 de julho de 2013

217- Reflexões sobre os recursos minerais de Portugal. Continuação 8



Dos três casos que seleccionei, como emblemáticos do poder, em oposição ao saber”, abusivamente utilizado por dirigentes da DGMSG, os descritos em posts anteriores, respeitantes à Faixa Carbonífera do Douro e à Faixa Metalífera da Beira Litoral, tiveram muito funestas consequências.
        Centenas de mineiros perderam os seus empregos!

O terceiro caso, que vou descrever, respeitante à Faixa Piritosa Alentejana, não teve efeitos de tal natureza.
Pelo contrário, mais de mil postos de trabalho foram criados, em resultado dos trabalhos de prospecção mineira realizados nesta Faixa!

Embora me regozije com êxitos, que tiveram a sua origem na actuação do Serviço de Fomento Mineiro (SFM), não posso deixar de lamentar o total desprezo que o Director-Geral de Minas Soares Carneiro e os Directores do SFM, Guimarães dos Santos e Múrias de Queiroz, demonstraram pelas minhas recomendações, no sentido de serem confiados a técnicos portugueses os estudos para à completa concretização desses êxitos.

Era minha opinião que aos técnicos portugueses competia a obrigação de adquirir progressivamente capacidade para atingir os objectivos do SFM, de modo a só se tornar necessária a intervenção de especialistas estrangeiros, a título excepcional.
Esta intervenção deveria, no entanto, ser orientada exclusivamente para formação mais especializada de pessoal português.

É oportuno lembrar, uma vez mais, passagem do capítulo “Considerações finais” do relatório de minha autoria, Prospecção de pirites no Baixo Alentejo: publicado, em 1955, na Revista “Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro”:

Todos os estudos a que nos vimos referindo podem e devem, em nosso entender, estar a cargo de técnicos portugueses que hajam, para o efeito, adquirido a necessária especialização, conforme prevê o Decreto-lei de criação do Serviço.
Só aceitamos a intervenção de técnicos de outras nacionalidades, como consultores ou em execução de campanhas de curta duração, principalmente com o propósito de proporcionar instrução a pessoal português.
A favor deste modo de proceder falam, não só a economia como o próprio interesse no assunto, que não poderá esperar-se de outros superior ao dos nacionais”.

Estas “Considerações finais”, impuseram-se pela óbvia necessidade de retomar os estudos na Faixa Piritosa, os quais, Guimarães dos Santos, muito levianamente, mandara terminar, em 1949, quando nem sequer estava concluída a campanha pelo método electromagnético Turam, lançada em 1944, por iniciativa do anterior Director, o malogrado Engenheiro António Bernardo Ferreira!!! (Ver post N.º 35)

A realidade, para a qual, persistentemente, chamei a atenção, quer em relatórios, quer em informações orais, era de que o estudo da Faixa Piritosa Alentejana estava ainda numa fase muito incipiente, quando foi extinta a Brigada de Prospecção Eléctrica.

Desde 1951, eu inseria, sistematicamente, nos Planos de Trabalho da Brigada do Sul, a aplicação de variadas técnicas, na Faixa Piritosa, com realce para o método gravimétrico (Ver post N.º 10).

Guimarães dos Santos, que tinha sido destacado da sede da DGMSG em Lisboa, já com avançada idade, nunca deixou de se comportar, no SFM, como “técnico de papel selado”.

Durante o mandato de Bernardo Ferreira, sentava-se à secretária, ao lado dele, e dali dirigia a Brigada do Norte, cuja chefia lhe tinha sido atribuída
As suas visitas aos trabalhos, no campo, tinham características de turismo rural, não evidenciando preparação para aplicar os métodos científicos, que os objectivos do SFM tornavam essenciais.

Além de incompetente do ponto de vista profissional, Guimarães dos Santos tinha uma cultura geral confrangedoramente medíocre, que originava frequentes situações embaraçosas. 
Lembro-me, por exemplo, de uma reunião marcada em 1948, a realizar, em Lisboa, para a qual viera propositadamente da Suécia o Director da ABEM, Helmer Hedstrom.
 Esta reunião tinha sido por mim sugerida, a Bernardo Ferreira, para que a ABEM, volvidos 4 anos de presença na Faixa Piritosa Alentejana, apresentasse a sua interpretação das numerosas anomalias registadas pela aplicação do método electromagnético Turam, a fim de poder avaliar os reais méritos do método.
Esperava-se relatório com projecto de sondagens, ou outros trabalhos, que revelassem novas concentrações de pirite, pois esse era o objectivo pretendido com a aplicação da técnica, que era patente da ABEM.

Guimarães compareceu, na qualidade de Adjunto do Director, por súbito impedimento de Bernardo Ferreira.
Tentou explicar a sua presença, mas embaraçou-se de tal modo, que tive que acorrer em seu auxílio, pois nem tivera o cuidado de se preparar para a reunião nem conseguia expressar-se em inglês.
Apercebendo-se desta circunstância, que tornaria ineficaz a reunião, Hedstrom propõe que nos desloquemos ao Porto, para que Bernardo Ferreira lá pudesse expor as suas pretensões, já que era bem conhecido o seu domínio de várias línguas.
Uma vez mais tive que auxiliar Guimarães, pois não tinha percebido a sugestão de Hedstrom.
Concordou, de imediato, como era de esperar, e a reunião realizou-se, de facto, no SFM do Porto.

Quando, por falecimento de Bernardo Ferreira, Guimarães dos Santos foi designado para assumir a direcção de SFM, o seu mandato começou da pior maneira, pelo que dizia respeito aos estudos no Sul do País.

Onde, anteriormente, havia a Brigada do Sul, na qual se concentravam todos os estudo do SFM, em curso no Sul do País, os quais incluíam não apenas os das Secções (Montemor-o-Novo, Alvito, Moura, Cercal do Alentejo e Odemira), mas também os das Brigadas de Levantamentos Litológicos e de Prospecção Eléctrica, Guimarães dos Santos dispersou esses estudos por 3 Brigadas distintas, que colocou na sua directa dependência:
A Brigada do Sul, cuja chefia me tinha sido confiada por Bernardo Ferreira;
A Brigada de Levantamentos Litológicos, sob a chefia do Geólogo João Martins da Silva;
A Brigada de Prospecção Geofísica, sob a chefia do Engenheiro Orlando Martins Cardoso.

Usou o conhecido método de dirigente inseguro:
“Dividir para governar”

Devo esclarecer que, quando chefiei a Brigada de Prospecção Eléctrica, a minha dependência hierárquica do Chefe da Brigada do Sul só me foi benéfica, e eu sempre estive grato pelo amistoso apoio que me foi proporcionado por esse Chefe, o Eng.º Abilino Vicente.
Sei que o mesmo acontecia com a Brigada de Levantamentos Litológicos, pois o clima que dominava, então, no Sul, era de verdadeira fraternidade.

Este saudável clima era coerente com o ambiente, que o Director Bernardo Ferreira gerava à sua volta.
Bernardo Ferreira visitava, com frequência os trabalhos que decorriam no Sul e era sempre com agrado que o recebíamos, sobretudo porque ele sabia reconhecer o mérito das nossas actividades, estimulando-nos a prosseguir no rumo certo.

Mas não foi só no Sul que o mandato de Guimarães dos Santos começou mal.

No Norte, escolheu para seus directos colaboradores, três dos menos produtivos Engenheiros do SFM: Múrias de Queiroz, Orlando Cardoso e António Neto.

Achei isso muito estranho, pois era seu costume dizer que alguns funcionários tinham de ser incitados a melhorar a sua produtividade, enquanto outros havia que tinham de ser travados nos seus impulsos!!
Não lhe ocorreu incitar esses seus colaboradores a melhorarem a produtividade, talvez porque se sentisse bem, entre eles.
Confirmava-se o velho provérbio Símiles cum similibus facile congregantur”

Eu estaria, obviamente, classificado entre os que deveriam ser travados nos seus “devaneios”.

De facto, outra das suas estranhas afirmações era de que não deveríamos ter a pretensão de tudo descobrir! Deveríamos deixar algo para os vindouros!!!!

Talvez, com estas dissertações, pretendesse justificar o seu pouco interesse pelas minhas recomendações, … não viesse a acontecer eu tudo descobrir e nada deixar aos vindouros!!!

Era obsessiva a sua preocupação em extinguir núcleos de actividade dispersos pelo território continental, que tinham sido instituídos por Bernardo Ferreira, sem curar de se informar se os estudos que os tinham justificado estavam, de facto, concluídos.

No seu entendimento, os trabalhos no campo, deveriam ter curta duração.
Suspeitava que o prolongamento no tempo reflectiria o propósito de os funcionários envolvidos nesses trabalhos manterem as magras vantagens da deslocação da sua residência oficial.

Foi assim que ordenou o fim do levantamento pelo método electromagnético Turam, a cargo da ABEM, na Faixa Piritosa Alentejana, a que já fiz referência.

Foi também assim que ordenou o termo dos estudos que eu dirigia na Região de Cercal – Odemira.
Foi muito difícil obter a sua condescendência para deixar concluir o levantamento geológico desta Região, que já se encontrava na fase final.
Este levantamento adquiria enorme importância, pois definia um ambiente idêntico ao da Faixa Piritosa, sendo portanto previsível a existência de massas de pirite cuprífera, nesta Região de Cercal - Odemira.
Mas isso não impressionava Guimarães, talvez por não acreditar na hipótese que eu formulava, ou não a achar relevante.
Em prazo record, apresentei extenso relatório sobre os estudos empreendidos na Região de Cercal – Odemira, que me estava a ser exigido, com carácter de urgência, prevendo eu que se destinava a publicação, como era normal acontecer a documentos desta natureza.
Porém, o relatório foi mantido oculto, só acessível ao principal concessionário local (Ver Post N.º3).


Continua …

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