terça-feira, 13 de janeiro de 2015

56 A - Divagações suscitadas por uma amostra de minério de tungsténio. 2.º parte


XVI - A publicação do CHILAGE sobre prospecção de tungsténio, na Região de Caminha

Em 1971, apresentei ao Congresso Hispano – Luso – Americano de Geologia Económica (CHILAGE), que decorreu, em Espanha e em Portugal, a seguinte comunicação: “Prospecção de jazigos de tungsténio, na região de Caminha, pelo método magnético”.Com base nos dados das investigações magnéticas, nos resultados de sondagens e com apoio em carta geológica da autoria dos Geólogos checos, inseri diversas peças desenhadas representativas do jazigo, destacando, dentre elas, um esboço interpretativo da topografia do nível mineralizado e uma planta das zonas com potencialidade para a ocorrência do minério.


XVII – O livro Guia da Excursão N.7 do CHILAGE

Perante a importância que a zona mineira de Covas assumiu, no contexto nacional, foi decidido seleccioná-la, para visita guiada, no âmbito das actividades do CHILAGE.
O Geólogo Vítor Pereira, que fizera curto estágio de aprendizagem nesta zona mineira, foi incumbido de redigir o texto a ela respeitante, no Livro – Guia da Excursão
Como tivera escassa presença em Covas, não dispunha do levantamento efectuado pelos checos, que lho não haviam fornecido.
Pediu-me cópia e eu não tive dúvidas em lha facultar, convicto de que faria a devida referência aos autores, seguindo o meu exemplo, na comunicação que eu apresentara ao CHILAGE.
Tal referência foi, porém, omitida!
 
 
XVIII – O interesse do BRGM em efectuar prospecção mineira, em Portugal

O “Bureau de Recherches Géologiques et Minières” (BRGM), prestigiado Organismo estatal francês, equivalente ao Serviço de Fomento Mineiro (SFM), conhecedor das facilidades concedidas a entidades estrangeiras, para a realização de trabalhos de prospecção mineira, com vista à futura exploração dos jazigos descobertos, fez deslocar a Portugal o seu Geólogo Bonnici, para analisar as reais possibilidades, relativamente às matérias-primas previsíveis, nos diversos ambientes geológicos.
A scheelite foi o mineral que chamou a sua atenção prioritária.
Para sua detecção vinha já preparado com mineralight e com bateia, para produção de concentrados.
Morais Cerveira, Director Técnico da Geomina, sabendo dos meus frequentes contactos com Bonnici, solicitou a minha intervenção no sentido de esse Geólogo lhe trazer de França um mineralight, assim demonstrando também ignorar ou não ter, até então, aproveitado a propriedade da fluorescência da scheelite.


XIX – Nova procura intensa de volfrâmio, originada pelas Guerras da Coreia e do Vietnam

Embora a “febre do volfrâmio” originada pela 2.ª Grande Guerra tivesse terminado, o tungsténio voltou a adquirir elevadas cotações, devido às Guerras da Coreia e do Vietnam.


XX - A intervenção da Empresa americana “Union Carbide”, suscitada pela minha publicação no CHILAGE

A Empresa norte-americana UNION CARBIDE (UC) surgiu, em Portugal, em 1974, interessada em explorar jazigos de tungsténio, que pudessem abastecer a indústria de armamento dos Estados Unidos, para a qual o tungsténio é essencial.
Esta Empresa contactou os principais concessionários, para com eles firmar contratos, visando os seus objectivos.
Foram os jazigos da zona de Covas que mereceram a sua preferência, não só pela qualidade dos estudos, evidenciada pela minha Comunicação ao CHILAGE, mas também por novos dados que lhe forneci, resultantes de estudos posteriores àquela Comunicação.
UC começou por firmar contratos com “Geomina Lda.” e com “Gaudêncio, Valente e Faria”.
Posteriormente, por contrato com o Estado, ampliou a sua actividade a áreas potenciais, que tinham sido reservadas para os estudos do SFM.
A sua actividade decorreu de 1974 a 1979 e consistiu praticamente na execução de elevado número de sondagens, nos núcleos de mineralização detectados pelo SFM, para definição de reservas certas e para ensaios mineralúrgicos, a fim de avaliar da sua explorabilidade, em termos económicos.
Durante a sua presença, eram constantes os meus contactos com os seus técnicos, os quais não raramente recorriam aos meus conselhos, tendo chegado até a propor ao Director-Geral e Minas a minha nomeação como seu consultor, à semelhança do procedimento anteriormente adoptado relativamente aos contratos celebrados em parcelas da Faixa Piritosa Alentejana.
Todavia, esta proposta não teve resposta.
A Empresa chegara à conclusão de que, para o jazigo ser economicamente explorável, eram necessárias reservas mínimas de 1 milhão de toneladas, com o teor médio de 0,8% de WO3.
E quase chegou a este valor.
Mas, baixa acentuada da cotação do tungsténio, provocada por exportações da China, a preços que, em muitos países, eram inferiores ao custo da produção, originou o encerramento de numerosas minas deste metal, no resto de Mundo.
A UC rescindiu todos os seus contratos, em Portugal.
Nesta data, eu ainda ignorava as disposições legais impeditivas da atribuição de concessões mineiras a estrangeiros.
Estava até convencido de que a contribuição dos investimentos estrangeiros na exploração dos nossos recursos minerais era, não só legítima, como superiormente muito desejada.
Por esse motivo, sempre auxiliei à actuação das empresas estrangeiras.
Tenho motivos para acreditar que, se tivesse sido dado seguimento à proposta de UC de eu ser nomeado seu colaborador, talvez a decisão tivesse sido diferente.

 
XXI – A transferência da actividade do SFM da Região de Vila Nova de Cerveira, para fora da zona mineira de Covas

O contrato celebrado por UC com o Estado, sem que eu tivesse sido consultado, relativamente a áreas não abrangidas por concessões mineiras, nas quais o SFM estava realizando investigações, com assinaláveis êxitos, não conduziu ao esvaziamento dos objectivos do núcleo do SFM instituído na região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, pelo facto de terem sido previamente feitos itinerários geológicos em outras zonas, com descobertas de mineralizações justificativas da aplicação de adequadas técnicas de prospecção.
Uma dessas zonas foi a do Serro, em Argela

 
XXII –  O Interesse da Companhia COMINCO, pela zona do Serro

Aproveitando a circunstância de eu exercer funções de professor auxiliar convidado, na Faculdade de Ciências do Porto, os organizadores de uma Reunião de Geólogos do Oeste Peninsular consideraram a Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, onde eu dirigia trabalhos de prospecção mineira, com interesse para constar do programa das excursões, no âmbito da Reunião.
Por essa razão, foi solicitada a minha colaboração para concretizar tal objectivo.
A fim de preparar a excursão, acompanhei, previamente, os professores que dela iriam encarregar-se, aos locais a visitar e descrevi os estudos realizados, fornecendo elementos para a elaboração do respectivo Livro – Guia.
Chamei, a atenção para as dificuldades de acesso a veículos longos, até aos locais de maior interesse, que eram às Minas de Valdarcas, Lapa Grande e Cerdeirinha.
A excursão realizou-se, em 19-7-1979, iniciando-se pela zona do Sopo, onde eu fiz descrição panorâmica da estrutura mineralizada que se encontrava em investigação.
Em seguida, na Mina da Fervença, ao Geólogo Bronkhorst de Union Carbide, foi dada a honra de fazer exposição mais detalhada sobre a estrutura geológica da região e eu apresentei os perfis geológicos e magnéticos que revelaram as concentrações de minério, já em grande parte exploradas, por Geomina.
Por minha indicação, os motoristas dos dois autocarros, fizeram rápida inspecção do terreno, concluindo que não conseguiriam manobrar os seus veículos nas curvas do caminho, para chegar às outras Minas.
Teve, pois que se desistir de visitar: Valdarcas, Lapa Grande e Cerdeirinha.
Sugeri-lhes então visitar a zona do Serro (Argela) onde, pouco tempo antes, eu tinha descoberto afloramentos de skarn mineralizado, que facilmente poderiam ter passado despercebidos, por não ostentarem as suas típicas características.
Nessa época, eu concentrava aí os estudos, por ter sido adjudicada a Union Carbide, a área onde estivera a cumprir programa de sondagens.
Mostrei xistos grafitosos responsáveis por fortes anomalias de polarização espontânea, um filão aplítico com mineralização de cassiterite e skarn alterado e inalterado.
Exibi perfis magnéticos, de resistividade eléctrica, de polarização espontânea e fiz especial referência a concentrados de eluvião e à contagem de pontos de scheelite, para substituir as análises geoquímicas que o Laboratório do SFM tinha recusado efectuar.
O experiente Geólogo, Dr. Serpa Magalhães, que nessa data pertencia ao quadro técnico da Companhia canadiana Cominco, comentou ter sido o melhor que tinham visto em toda a excursão.
Entusiasmado com o que observou, propôs à Cominco que celebrasse contrato com o Estado Português, para esta área da Argela, o que viria a concretizar-se.

Sem comentários: