sexta-feira, 31 de julho de 2009

85 – A minha demissão da chefia da 1.ª Brigada de Prospecção. Continuação 4

A seguir, respondo à primeira pergunta formulada no post 84, caracterizando os autores da exposição que originou a minha demissão, na sua qualidade de técnicos do SFM:

1 - Engenheiros
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1.1 - Eng. José Augusto Marques Bengala
Ingressou no SFM em Julho de 1959, tendo passado a colaborar nos levantamentos pelos métodos magnético, de polarização espontânea e de resistividade, que se encontravam em curso na Brigada de Prospecção Geofísica (BPG), segundo projectos por mim apresentados, na qualidade de Chefe da Brigada do Sul.
De Maio de 1960 a Maio de 1961, esteve, por minha indicação e com o meu constante apoio, estagiando na Companhia Lea Cross Geophysical Company, com o objectivo principal de se introduzir a técnica gravimétrica no SFM (Aconselho vivamente a consulta do post N.º 14 – A importância da prospecção gravimétrica no SFM – para se avaliar a “gratidão” do Eng.º Bengala por lhe ter dado a honra de o introduzir na técnica que mais êxitos havia de proporcionar ao SFM, em toda a sua existência).
Registo que, neste período de estágio, o Eng.º Marques Bengala não estava integrado na Brigada do Sul, que eu chefiava, dependendo do Chefe da BPG, que não tinha capacidade para lhe dar apoio.
Foi através de proposta por mim elaborada, mas assinada pelo Chefe da BPG, que o Director do SFM consentiu, finalmente, ao fim de 10 anos de insistência minha, na aquisição do primeiro gravímetro.
Quando o gravímetro chegou, foi grande a minha surpresa ao verificar que o Eng.º Bengala pouco tinha aprendido, durante o seu estágio.
Nem sequer sabia calibrar o aparelho para as latitudes em que iria ser usado!
Manifestou-me a intenção de se dirigir a Aljustrel, onde a Lea Cross estava então actuando, para lhe resolver esse “transcendente” problema.
Pedi-lhe o livro de instruções do gravímetro. Em poucos minutos e com auxílio de uma simples chave de fenda, calibrei o gravímetro para as latitudes das áreas do Alentejo, onde iria ser aplicado.
O Eng.º Bengala passou, então, a ter a seu cargo essencialmente a aplicação do método gravimétrico e, para isso, contou sempre com o meu incondicional apoio.
Verifiquei que, no respeitante a nivelamento, que é operação fundamental em gravimetria, ele nada sabia! Tive que ser eu a preparar as cadernetas para serem impressas nas oficinas do Diário do Alentejo, em Beja e a ensinar pessoal assalariado já possuidor de algum conhecimento de topografai, no nivelamento geométrico rigoroso.
Acompanhei, de perto, os levantamentos gravimétricos feitos no âmbito da BPG, mas sob projecto da Brigada do Sul, que eu chefiava, para assegurar a sua qualidade.
O Chefe da BPG, já fisicamente debilitado por acidente vascular de que estava recuperando, aceitava agora de bom grado a minha colaboração. Infelizmente, viria a falecer pouco tempo depois.
A chefia da BPG foi, então, atribuída ao Engenheiro da Brigada do Sul que estava, por anterior Ordem de Serviço do Director, encarregado do estudo dos jazigos de manganés.
Foi mais uma intervenção negativa do Director na actividade da Brigada do Sul, que me obrigou a fazer exposição ao Director-Geral, declarando tal nomeação, ilegal e contrária ao interesse do SFM
Foi, nessa altura, que me chegaram de Lisboa recados sobre a razão que os Chefes sempre têm (Ver post N.º 23)
A minha exposição ao Director-Geral, com cópia ao Director do SFM, não teve consequências. A actividade da BPG manteve o ritmo lento que a caracterizara, mas, felizmente, por pouco tempo.
Em princípios de 1964, houve profunda alteração na organização da DGMSG, que conduziu à criação de um novo departamento do SFM, denominado 1.º Serviço, encarregado da Geologia e da Prospecção Mineira, em todo o território metropolitano português.
Fui encarregado da chefia deste departamento.
O Eng.º Bengala foi integrado nesse novo Serviço ficando legalmente dependente da minha orientação técnica.
A sua fraca preparação, sobretudo no âmbito das Matemáticas e o pouco interesse que sempre manifestou em progredir na interpretação dos resultados da aplicação da gravimetria, levaram-me a assumir, eu próprio, esta tarefa.
A interpretação das cartas gravimétrica esteve sempre a meu cargo.
Registo que, a gravimetria, dada a sua enorme importância na descoberta de jazigos minerais, era a matéria que eu mais desenvolvia nas aulas de Prospecção Mineira que ministrei, durante 20 anos, aos alunos de Geologia da Faculdade de Ciências do Porto, também durante dois anos na Faculdade de Engenharia do Porto e ainda num Curso de Mestrado na Universidade de Braga.
Registo que as minhas relações pessoais com este colega foram sempre cordiais, sendo, com grande surpresa que vi a sua assinatura num documento de tão baixo nível.
Em post a apresentar oportunamente, revelarei como, após a minha demissão da chefia da 1.ª Brigada de Prospecção, foram possíveis erros grosseiros, na aplicação desta técnica, os quais estão bem patentes em artigos publicados

1.2 - Eng. Vítor Alvoeiro de Almeida
Ingressou na DGMSG em Janeiro de 1960.
Até Novembro de 1962, exerceu funções na Repartição de Minas.
Em Novembro de 1962, foi destacado para o Serviço de Fomento Mineiro, tendo começado por ficar integrado na Brigada do Sul, sob minha chefia.
Considerando que a BPG, por falecimento do Engenheiro que a chefiava, estava desfalcada de técnicos no domínio da prospecção magnética, propus que este Engenheiro fosse destacado para a BPG, para se tornar um especialista em tal matéria.
A sugestão não foi aceite, mas na esperança de que a razão viesse a prevalecer, fui industriando o Engenheiro Alvoeiro na teoria da prospecção magnética, fornecendo-lhe literatura apropriada.
Comecei por lhe facultar uma tradução do livro elementar da autoria de A. Nippoldt, editado em 1930, “Verwertung magnetischer Messungen zur Mutung “, cuja tradução tinha sido efectuada por meu irmão licenciado em Germânicas, com a minha colaboração.
Em meados de 1963, deu-se a alteração na Organização do SFM, a que me referi no post N.º.25, ficando a meu cargo toda a actividade de prospecção mineira do SFM, no território metropolitano português.
O Engenheiro Alvoeiro, então já com alguma preparação no método magnético, foi encarregado de dar continuidade aos trabalhos que desde a década de 50 se encontravam em curso sobretudo no Alentejo.
Tal como acontecera com o Engenheiro Bengala, não lhe reconheci qualidades de investigador. A sua preparação técnica pouco ultrapassou as fases iniciais do método, tendo eu suprido as suas insuficiências, através dos estudos aprofundados que fiz, como pode ser comprovado pelos meus ex-alunos da cadeira de Prospecção Mineira que regi em Universidades.
Lamentavelmente, também este Engenheiro fez publicar, após a minha demissão da 1.ª Brigada de Prospecção uma carta magnética, à escala 1:25 000 (uma das várias que se preparavam por minha iniciativa e sob minha orientação), com uma Nota Explicativa, contendo erros grosseiros inadmissíveis. Esta Nota Explicativa constou de um ponto de exame aos meus alunos para que detectassem os seus erros.
Devo realçar as boas relações que sempre mantive com este Colega e consequentemente o meu enorme desapontamento ao ver a sua assinatura no vergonhoso documento.

1.3 - Eng. Manuel de Campos Nolasco da Silva
Ingressou na DGMSG em Junho de 1960.
Começou por exercer funções na Repartição de Minas,
Em Março de 1963, foi destacado para o SFM, passando a ficar integrado na 1.ª Brigada de Prospecção.
Confiei-lhe os métodos eléctricos e electromagnéticos de prospecção geofísica.
Transmiti-lhe a minha experiência nestas técnicas, sobretudo no método Turam, que sob minha orientação já tinha sido aplicado em vastas áreas, quer da Faixa Piritosa Alentejana, quer de outras áreas do Sul e do Norte do País.
Não sendo brilhante, foi satisfatória a sua actuação.
O meu relacionamento com este Colega foi, também, sempre cordial, embora mais distanciado do que o que se verificava com os Colegas antecedentes, dadas as divergências com as suas práticas politico-religiosas, que me pareciam hipócritas. Por isso, não deixei de estranhar também a sua ingratidão e o comportamento hostil para comigo.
Como prémio da sua vergonhosa atitude para comigo, este Colega, em “reestruturações” que ocorreram posteriormente, viria a ser nomeado Chefe de Divisão, atingindo, portanto, categoria superior à minha!

1.4 - Eng. Vítor Velez Pereira Borralho
Conheci este Colega, no início da década de 60 do século passado, quando ele estagiava na Lea Cross Geophysical Company que, actuava na zona mineira de S. Domingos, com vista à descoberta de concentrações de pirite que permitissem resolver o angustiante problema de falta de reservas com que se debatia a empresa exploradora do jazigo.
Em 1964, fiz-lhe convite para se integrar na 1.ª Brigada de Prospecção, para aproveitar a experiência, que ele teria adquirido durante os anos de permanência na Companhia inglesa, em Portugal e na Inglaterra, sobretudo na técnica geoquímica, que eu pretendia introduzir na Brigada.
O convite foi aceite e a proposta que apresentei ao Director do SFM teve bom acolhimento.
O Engenheiro Borralho começou por prestar colaboração em métodos geofísicos, enquanto se faziam os preparativos para a instalação de um pequeno Laboratório em edifício contíguo ao ocupado pela Brigada, o qual estava devoluto e fora possível alugar.
O Engenheiro Borralho encarregou-se dessa instalação e da preparação do pessoal, tanto na colheita de amostras de solos e de sedimentos de linhas de água, como nas análises geoquímicas, geralmente para metais pesados, a frio, pelo método da ditizona.
Este pequeno Laboratório revelou-se de tal eficiência que eu o aproveitei para análises de amostras colhidas em áreas do Norte do País, principalmente na Faixa Metalífera da Beira Litoral.
Em 1970-71, foi-lhe proporcionada a frequência de um Curso de “Mineral Chemistry” na Universidade de Birmingham.
Eu considerava o Engenheiro Borralho o mais eficaz de todos os técnicos superiores da 1.ª Brigada e cheguei a pensar nomeá-lo chefe desta Brigada.
Não concretizei a ideia, perante a insistência de todos os técnicos superiores para que eu mantivesse essa chefia, e também perante as informações que me chegavam sobre o seu mau carácter.
A Revolução de 25 de Abril de 1974 deu-lhe oportunidade de tirar proveito da qualidade de político de esquerda com que se apresentou.
Chegou a ser proposto para Governador Civil de Beja e, caso conseguisse o cargo, nomearia o Geólogo José Goinhas - vice-Governador
Eu tinha combinado encontro, no dia 21-8-1974, em Vila Praia de Âncora, onde ele gozava férias, para lhe dar a conhecer os trabalhos em curso na região de Caminha, embora o método geoquímico não tivesse aqui a sua participação.
Tal visita não pôde, porém, realizar-se, por motivo da sua deslocação a Lisboa, para entrevista com Ministro, relacionada com a possível nomeação como Governador Civil de Beja.
Não foi, na realidade, investido nessas funções, mas teve outra compensação pela sua militância. Foi designado Administrador de Minas de Aljustrel, assim abandonando a Brigada, sem se preocupar com o prejuízo que a sua deserção poderia ocasionar às “vastas e delicadas tarefas” desta Brigada.
O cariz, marcadamente politico, do vergonhoso documento acusatório que subscreveu e determinou a minha demissão da chefia da Brigada, levou-me a atribuir –lhe o principal papel na redacção desse documento.
Anos mais tarde, durante o “regabofe” que se instalou na DGMSG, com reestruturações que visaram apenas resolver situações pessoais, sem atender a currículos (houve promoções por currículo negativo!) ou o real interesse do SFM, o Eng.º Borralho viria a ser nomeado Director de Serviço.
A vaga que ocupou tinha-me sido oferecida por um novo Director do SFM, retornado de Moçambique, que se encontrava sem emprego (o Colega que, em 1965, viera propositadamente à Metrópole, para no Serviço por mim chefiado, aprender prospecção. Ver post N.º 44).
Recusei esta promoção por ela ter sido condicionada (quase inacreditável!) à minha renúncia na realização de trabalho de campo!
Eu viria, anos mais tarde, a sofrer as consequências desta recusa.
Instalado em categoria superior à minha, o Engenheiro Borralho viria a revelar o seu verdadeiro carácter, em circunstâncias que oportunamente descreverei...
Confirmou-se o ditado: Se queres ver o vilão põe-lhe a varinha na mão!

Aos Engenheiros Bengala, Alvoeiro e Nolasco, autorizei que apresentassem comunicações ao CHILAGE (Congresso Hispano-Luso-Americano de Geologia Económica) que, em 1971, se realizou em Espanha e em Portugal, sobre a aplicação em Portugal das técnicas geofísicas que ficaram a seu cargo, independentemente de terem sido eles os autores dessa aplicação. Embora não figurasse como co-autor, a mim se deveu o principal papel na aplicação de todas essas técnicas.
Também participei na redacção de alguns textos.
Por outro lado, na minha comunicação ao CHILAGE, sobre a aplicação do método magnético na prospecção de jazigos de tungsténio na região de Caminha, fiz figurar como co-autor o Engenheiro Alvoeiro de Almeida, apesar da sua nula contribuição, apenas por ter sido ele a instalar a Secção de Caminha e a dirigir os seus trabalhos numa fase inicial.

Continua…

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