quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

208 - O regresso ao tema do "Novo Plano Mineiro Nacional. Continuação 1



Ao retomar, no post anterior, a análise do documento da autoria de José Goinhas, “A prospecção mineira em Portugal,” salientei, uma vez mais, as omissões e deturpações, patentes nesse documento.

É, de facto, incompreensível que escassa referência tenha sido feita ao acontecimento mais relevante, em matéria de prospecção mineira, que foi a instituição do “Serviço de Fomento Mineiro” (SFM).

A circunstância de este Organismo de Estado ter encontrado, inicialmente, sérias dificuldades para cumprir os seus projectos, só reforça o mérito dos êxitos que conseguiu ou preparou para que outros os conquistassem.

O seu primeiro Director estava ciente de que as dificuldades tinham origem principalmente em deficiências na formação académica dos técnicos contratados pelo SFM, pois idênticos problemas havia encontrado nos Serviços Centrais de Lisboa.

Planeara, por isso, em consonância com o Director-Geral - Engº. Castro e Solla, proporcionar formação pós-graduada aos futuros candidatos a exercer funções na DGMSG, fazendo-os passar previamente por núcleos do SFM, onde poderiam adquirir experiência directa no terreno, em actividades diversificadas.

Esperava, deste modo, melhorar a eficácia da DGMSG. (Ver post N.º 1)

Porém, o impulso que conseguiu imprimir, no período inicial, ao SFM, apesar das dificuldades que teve de enfrentar, não teve a projectada continuidade.

Bernardo Ferreira faleceu em 1948 e este trágico acontecimento foi extremamente funesto para o SFM.

Os dirigentes que lhe sucederam não tiveram procedimentos melhores que os adoptados pelos “técnicos de papel selado” dos Serviços Centrais de Lisboa.

Pouco ou nenhum interesse demonstraram na valorização do pessoal técnico, chegando até a contrariar sugestões apresentadas, em variados documentos, por funcionários que se esforçavam por dar eficaz cumprimento às tarefas inerentes aos cargos em que tinham sido investidos.

Conforme revelei, no post anterior, o departamento de prospecção mineira do SFM, quando ficou sob minha chefia, conseguiu vencer o obstrucionismo dos novos dirigentes, tornando-se a primeira real Escola de Prospecção Mineira do País.

A Universidade do Porto, apercebendo-se deste notável facto, convidou-me, em 1970, para reger disciplina de “Prospecção Geológica, Geofísica e Geoquímica”, tornando-se também pioneira, na introdução desta matéria, nos Cursos de Geologia e de Engenharia de Minas.

Lembro que a OCDE tinha já criado em 1961, um Grupo “ad hoc” com o objectivo de promover a aplicação de métodos modernos de prospecção mineira, nos seus países constituintes, para acorrer à escassez de matérias-primas que neles estava a acentuar-se. (Ver post N.º 4),

Lembro também a aceitação que teve um ante-projecto de prospecção aérea, abrangendo áreas do Alentejo, por mim apresentado, na qualidade de representante de Portugal nesse Grupo “ad hoc”,.em que tinha sido investido, pelo Director-Geral Castro e Solla.

É-me doloroso lembrar ainda, um lamentável facto ocorrido quando o dirigente máximo do Grupo “ad hoc” se deslocou propositadamente de Paris a Portugal, para avançar com o projecto, que lhe havia merecido tal apreço, que até pretendia estendê-lo para áreas de Espanha de idênticas potencialidades minerais.

Quando isso aconteceu, o novo Director-Geral, Soares Carneiro, entretanto nomeado, já havia designado o ex-Director do SFM Guimarães dos Santos, - que de prospecção nada sabia - , para me substituir na representação do País naquele Grupo de Trabalho.

Em reunião que se realizou em Lisboa, foi sentida a necessidade de solicitar a minha presença, para prestar auxilio a Guimarães dos Santos, mas os meus esforços não foram suficientes para neutralizar a atitude pouco interessada e até soez adoptada pelo Director-Geral e pelo seu servil Adjunto.

O projecto não se concretizou, como era previsível, perante o vergonhoso fracasso da reunião (Ver post N.º22).

Mas não foi apenas a Universidade do Porto a manifestar interesse na experiência do SFM, em prospecção mineira.

Também o instituto Superior de Engenharia do Porto, o Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro e, anos mais tarde, a Universidade de Braga viriam a solicitar idêntica colaboração (Ver posts N.ºs 56, 99, 117).

É digno de realce que a recém criada Universidade de Aveiro, tenha considerado oportuno instituir o Curso de Engenharia Geológica, orientado especialmente para a prospecção mineira, e tenha encarregado dois licenciados pela Faculdade de Engenharia do Porto, da regência das disciplinas relacionadas com o tema.

Digno de realce é também o empenhamento destes dedicados Engenheiros (Luís Fuentefria Menezes Pinheiro e Fernando Ernesto Rocha de Almeida), que, embora já licenciados, não hesitaram em frequentar as minhas aulas, por não ter constado dos seus Cursos a disciplina de Prospecção Mineira.

Tornaram-se, depois, assíduos companheiros, nos trabalhos de campo que eu dirigia na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, nos quais sempre se faziam acompanhar de seus alunos.

A colaboração com a Universidade de Aveiro foi constante, como referi nos posts atrás citados.

Merece, no entanto, especial menção um curiosíssimo caso ocorrido durante um Seminário de Geoquímica realizado, em Janeiro de 1976.

Neste Seminário, onde me apresentei na qualidade, de Chefe da 2.ª Brigada de Prospecção do SFM., a minha comunicação sobre a actividade desenvolvida, sobretudo na Faixa Metalífera da Beira Litoral, com grande incidência no distrito de Aveiro. tinha sido alvo de grande apreço.

O Geólogo José Goinhas, que compareceu em representação da 1.ª Brigada de Prospecção, justificou a sua presença com doença do Engenheiro Vítor Borralho, que era o técnico encarregado da aplicação do método geoquímico.

A doença de Borralho era, obviamente, fictícia. Ele não tivera coragem para me enfrentar, após a sua infame traição. (Ver post N.º 85).

Mas Goinhas, que já antes (Ver post N.º77) denunciara a sua personalidade oportunista, adaptável às circunstâncias, até acentuou que a 1.ª Brigada de Prospecção do SFM era também uma criação do Senhor Engenheiro Rocha Gomes.

A sua exposição enfermou do facto de não dominar a técnica, que aceitou representar.

Não deu a devida ênfase ao facto de ter sido na 1.ª Brigada de Prospecção que introduzira, no País, a técnica geoquímica e de ter sido em Beja que se instalou um pequeno Laboratório, com tal produtividade, que até as amostras da Faixa Metalífera da Beira Litoral, foram, durante muito tempo, lá analisadas para o conjunto de metais pesados, pelo método da ditizona, apesar de haver na sede do SFM em S. Mamede de Infesta um Laboratório de Análises Químicas modelarmente equipado e dispondo de abundante pessoal técnico.

Os dados que apresentou também não foram suficientemente expressivos da contribuição desta nova técnica em alguns dos êxitos alcançados.

Nesse Seminário, Goinhas teve oportunidade de se aperceber do prestígio do SFM, não só no meio universitário, mas também noutras instituições, públicas e privadas, ligadas à indústria mineira, que também tinham enviado representantes.

Se, no documento sobre “A prospecção mineira em Portugal”, que tem a petulância de classificar de “pedagógico”, ignora todos os factos prestigiantes para o SFM, que acabei de descrever, e não lhe ocorre registar que “em equipa ganhadora não deveria ter-se mexido”, como aconselha o velho rifão, é porque tinha plena consciência das suas responsabilidades na “mexida” que originou a crise que o SFM estava então a atravessar, a qual viria a ocasionar a extinção deste Organismo essencial ao desenvolvimento da economia nacional.

Embora sem directa ligação à prospecção mineira, ter-se-ia justificado registar o valioso contributo do Serviço Meteorológico Nacional, do Instituto Geográfico e Cadastral e do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em reuniões periódicas realizadas no âmbito de um Agrupamento Português de Prospecção Geofísica, criado por iniciativa do Engenheiro Castro Solla, quando exerceu as funções de Director-Geral de Minas.

Ao Serviço de Meteorologia e Geofísica ficou a dever-se o conhecimento dos valores da componente horizontal do campo magnético terrestre, no ano de 1960 e da sua componente vertical em 1954-55, em todo o território continental português, e as respectivas variações anuais.

Além disso, ficou a dever-se a indicação de uma área fortemente anómala, no Alto Alentejo, com possível interesse mineiro, que não constava de planos do SFM.

Todos estes dados foram úteis às campanhas de prospecção do SFM.

O Instituto Geográfico e Cadastral, além de ter disponibilizado cartas à escala 1:5000, de áreas cujo levantamento ainda tinha em curso, apresentou cartas gravimétricas (da anomalia de Bouguer completas e de ar livre), que tiveram utilidade sobretudo para conhecer os gradientes de âmbito regional.

O Laboratório Nacional de Engenharia Civil demonstrou ter adquirido grande experiência na aplicação de técnicas para localização de níveis aquíferos, com ênfase para a resistividade eléctrica.

Quando o Geólogo Dr. Ricardo de Oliveira me propôs incluir este método nas aulas da cadeira de Hidrogeologia, que regia como Professor Convidado na Faculdade de Ciências do Porto, concordei com a proposta, uma vez que a sua experiência era, então superior à minha, em tal matéria.

Aproveito o ensejo para, uma vez mais, exprimir o parecer de que as águas subterrâneas devem ser consideradas como minério, com a característica particular de ser líquido, tal como acontece, por exemplo, com o mercúrio nativo.

Continua …

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