XXXIX – O processo disciplinar que me foi instaurado
Quando recebi
a informação de me ter sido instaurado processo disciplinar, não fiquei
preocupado.
Pelo
contrário, considerei ser-me proporcionada excelente oportunidade para
denunciar as irregularidades que estavam a ser impunemente cometidas na DGGM,
com os consequentes prejuízos para a economia nacional.
A nível
interno, tinha dúvidas de que justiça viesse a ser praticada, porquanto a
atitude criminosa de membro do Governo, à qual me referi na 5-ª parte deste post,
não consentia expectativa optimista!!!
Todavia, o
argumento utilizado era tão absurdo, que seria natural implicar o imediato termo
da “comissão de serviço” do indivíduo,
que tinha sido convidado para dirigir o SFM, com base em suposta excepcional competência, para esse fim.
Tal personagem
não revelou o mínimo interesse em conhecer a qualidade do meu trabalho.
Ao mesmo tempo
que se vangloriava de nada perceber do que eu estava fazendo e de ”até ter raiva a quem percebia”, insistia em conhecer os
procedimentos adoptados, nos meus estudos.
Não teve, por
isso, pejo em tomar decisão insensata, de puro autoritarismo, altamente desprestigiante
para o SFM.
Este intruso,
originário da indústria privada, que me dizia “ter engolido muita
coisa”, na sua passada actividade mineira, classificava como qualidade
notável, essa capacidade de suportar ofensas à sua dignidade.
Era assim que justificava a aceitação das ultrapassagens às suas
funções, que o Director-Geral lhe fazia.
Como ele aceitava, com naturalidade, ser desconsiderado pelo seu
imediato superior, apesar de ter a seu cargo o mais importante departamento
da DGGM, julgava-se no direito de desconsiderar, igualmente, os funcionários
que lhe estavam subordinados.
A sua ordem,
era claramente contraditória de “despacho” que me tinha sido entregue, pessoalmente,
pelo seu superior na hierarquia da DGGM e, logicamente, era a este “despacho”
que eu deveria dar preferência.
Foi isso que, reiteradamente,
declarei.
Declarei também não ser, como ele, tolerante, com
ofensas à minha dignidade profissional, até por respeito ao Organismo, no qual
exercia funções há mais de 40 anos.
Estava
convencido de que, se tivesse de levar o caso a Tribunal comum, os reais
criminosos teriam as merecidas punições, embora contasse com a lentidão, que
caracteriza o funcionamento da justiça em Portugal.
Preocupava-me,
sobretudo, o tempo, que iria desperdiçar com a minha defesa, e o consequente
novo atraso na conclusão do Relatório “circunstanciado”.
Recorri a
advogado com experiência em assuntos da Função Pública e este logo me advertiu de
ser regra estabelecida, nos Organismos do Governo, castigar sempre quem
fosse alvo de processo disciplinar!
Fiquei, pois consciente
de que deveria esperar condenação, a nível interno.
A minha
defesa, que eu próprio me encarreguei de elaborar, consistiu num vigoroso ataque
aos indivíduos que tinham conseguido introduzir-se no SFM, essencialmente
preocupados com seus interesses pessoais, a ponto de nem sequer hesitarem em criar
obstáculos à actuação dos funcionários que se empenhavam no bom cumprimento dos
nobres objectivos deste Serviço.
O advogado, a
que recorri, aproveitou, quase integralmente, o texto que eu escrevi, apenas me
aconselhando a eliminar passagens que, pelo seu maior vigor, poderiam eventualmente
ser mal interpretadas.
Na tramitação
do processo, ocorreram situações extremamente caricatas, bem demonstrativas do
grau de degradação a que chegara o SFM, tornando previsível a sua próxima extinção.
Mas reservo,
para futuro post, a descrição deste estranho episódio da minha vida
profissional, ocorrido após 40 anos de dedicação à causa do SFM, durante os
quais fui o principal responsável pelos maiores êxitos de todos os tempos, na
indústria mineira nacional.
Por agora,
apenas quero dizer que tudo tinha sido preparado, ao pormenor, para eu ser
expulso da Função Pública.
Todavia eu,
que não sou religioso e, desde muito novo, me recusei a participar nos rituais católicos
que observava serem praticados por pessoas que, nos actos da sua vida, não respeitavam,
de facto, os sãos preceitos da religião pregada por Cristo, acabei por ser
bafejado por uma benesse concedida, como gratidão pela visita de um Papa a
Portugal!!!
Fui amnistiado
da condenação que me ia ser imposta!
XL - A
prospecção mineira, na Região de Caminha, após eu ter sido proibido de realizar
trabalho de campo
Em fase
inicial desta proibição, fui indicando, por telefone, ao Senhor José Catarino,
os trabalhos que poderia executar, para dar cumprimento ao projecto
aprovado, a nível ministerial, que eu havia apresentado, com vista à descoberta
de novas concentrações de minérios tungstíferos.
José Catarino
era merecedor da minha total confiança.
Embora tivesse
apenas a qualificação académica da antiga 4.ª Classe da Instrução Primária,
havia sido, por mim, instruído a realizar diversificadas tarefas, no campo e no
gabinete, respeitantes à prospecção mineira.
Mas não
podia, obviamente, dispensar a minha activa participação, nessas tarefas.
O Director-Geral
de Minas que, não obstante me ter declarado a sua total ignorância em
prospecção mineira, fora capaz de concluir, dispensando-se de apresentar
fundamentação, isto é, em ostensivo abuso de autoridade, ser essencial
reprogramar a campanha superiormente aprovada, que eu
dirigia, há duas dezenas de anos, na região de Vila Nova de Cerveira – Caminha
– Ponte de Lima, considerou fácil de
suprir a minha ausência, no terreno.
Nomearia para
dirigir a Secção de Caminha, Engenheiro de Minas, que se encontrasse disponível.
Lurentino
Rodrigues, que havia sido contratado pelo SFM para funções de ajudante, no Laboratório
de Química e que, na qualidade de estudante-trabalhador, muito beneficiara dos
meus auxílios em várias fases da sua preparação académica, estava sem área de
actuação claramente definida, lamentando-se até, perante mim, dessa lamentável
situação.
Poderia,
portanto, em seu entendimento, ser o Engenheiro apto a substituir-me na chefia da
Secção, sob a orientação do Geólogo Viegas, que era Chefe de Divisão!
Ingenuamente,
eu até chegara a pensar que este jovem, que se não conformara com cargo
subalterno no SFM e se esforçara por melhorar a sua formação académica, poderia
vir a qualificar-se para dar continuidade aos estudos que eu tinha em curso, na
2.ª Brigada de Prospecção, quando me aposentasse.
E dispunha-me,
ainda, a prestar-lhe colaboração, na fase de aposentado!
Essa fora a
razão pela qual, o auxiliei, a ponto de ter planeado trabalhos de campo, envolvendo
variadas técnicas, em áreas não prioritárias, que selecionava, quase
exclusivamente para o fazer participar activamente nesses trabalhos, visando a sua
preparação (Ver post N.º 116).
Grande foi,
pois, a minha consternação ao constatar que o seu comportamento viria a assemelhar-se
ao dos traidores da 1.ª Brigada de Prospecção (Ver post N.º 83).
Laurentino
desprezou todos os conselhos sobre honestidade científica e lealdade de
procedimentos, que lhe fui ministrando, ao longo de vários anos.
Usando o que
agora se denomina, eufemisticamente de “pragmatismo”, aliou-se ao grupo de
funcionários que estavam a destruir o Organismo que os acolhera.
Aceitou,
facilmente a chefia do Geólogo Viegas, que já se havia evidenciado como um dos
mais perversos elementos introduzidos no SFM.
Em vez de
procurar contactar-me, para continuar a beneficiar do meu auxílio, na situação
que lhe fora criada, preferiu agir clandestinamente, para ter acesso a peças
desenhadas por mim elaboradas, nas quais estavam patentes as expressivas
anomalias, sobretudo pelo método magnético, mencionadas nos meus relatórios
periódicos.
Extasiado com
a intensidade de algumas dessas anomalias, logo decidiu, com a concordância de
Viegas, projectar sondagens, esperando encontrar concentrações de minerais
magnéticos, a que estivessem associados minerais de tungsténio, fazendo assim
grande “brilharete”, à semelhança do procedimento do falsário “semvergonhista”
Delfim de Carvalho, relativamente à ocorrência que, inopinadamente denominou de
“jazigo do Salgadinho” (Ver post N.º 27)
Surpreendentemente,
conseguiu fazer regressar à Região, a sonda que havia sido retirada, quando estava
projectada a sondagem N.º 69, que se previa ter excepcionais resultados (que vieram a ser evidenciados, quando a
área em que se situava, foi adjudicada - sem eu ter sido consultado - à Union
Carbide), para ir investigar uma ocorrência de scheelite, em Cravezes
(Mogadouro), que tinha sido alvo de estudos muito mal conduzidos, por um grupo
de inexperientes Geólogos, sob a orientação do então Director-Geral de Minas,
Soares Carneiro (Ver posts N.ºs 117 e 190).
Não
percebeu que, dadas as suas características, essas anomalias seriam facilmente explicadas
com simples sanjas.
Revelou,
também, não saber distinguir estratificação de xistosidade e, por isso, acabou
por mandar executar sondagem paralelamente à estrutura que pretendia
investigar!!!!.
Foi
isto que constatei, em aula de campo aos meus alunos da Faculdade de Ciências
do Porto, na qual tive a colaboração de alunos e professores da Universidade de
Aveiro, que costumava convidar para estas aulas práticas.
Estando
proibido de realizar trabalho de campo, usava, para poder dar aulas, autocarro
contratado pela Faculdade de Ciências do Porto e equipamentos cedidos pela
Faculdade de Engenharia do Porto e pelo Departamento de Geociências da
Universidade de Aveiro!
Esta
primeira sondagem teve resultados nulos, como era fácil de prever, pois se
apoiava em errada interpretação de anomalia magnética,
Deste
novo fiasco de Viegas, a adicionar ao de Cravezes e a outros que se lhe
seguiram, iria resultar, efectivamente, a extinção da Secção de Caminha.
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