XLV –A minha proposta de instituição de um Centro de Investigação em Prospecção Mineira, no Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências do Porto, vocacionado para prestar serviços à comunidade, começando pela imediata retoma dos estudos na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha - Ponte de Lima
Quando, em obediência a ordem do Director do SFM, extingui a Secção de
Cercal – Odemira, quase todos os trabalhadores, que nesta Secção actuavam, foram
dispensados.
Apenas os que tinham atingido significativo grau de especialização foram
transferidos para as Secções de Castro Verde e de Moura da Brigada do Sul,
passando esta última Secção a abranger também a Região de Barrancos, pelo que
passou a designar-se por “Secção de Moura e Barrancos”.
Na região de Barrancos, são numerosos os sistemas filonianos com
mineralização cuprífera, que lá ocorrem.
Dentre eles, destaca-se o de Aparis.
Nele fiz incidir investigações por variadas técnicas, com realce para
trabalhos mineiros, que atingindo profundidade de 150 m abaixo da superfície, definiram
valiosas reservas certas.
Empresa nacional, adrede constituída, fez a exploração da parcela mais
rica, em circunstâncias descritas no post N.º 48.
Este invulgar desenvolvimento de trabalhos mineiros não parecia do agrado
de Guimarães dos Santos, perante o contraste com a quase nula actividade mineira
do SFM, no Norte e no Centro do País.
Eu estranhava que, ao contrário do seu antecessor, pouco se interessasse
em observar “in loco” os trabalhos da Brigada do Sul, sob minha orientação.
E estranhei ainda mais, os surpreendentes reparos quanto a “luxuosas
instalações para uma Brigada de campo”, quando notou uma eficaz organização da sede
da Brigada, numa das suas raras visitas.
Consciente da utilidade de divulgar a qualidade dos estudos em Aparis,
apresentei, em colaboração com os Agentes Técnicos de Engenharia João de
Oliveira Barros e Carlos de Araújo, 3 desenvolvidos relatórios respeitantes a
dois períodos de actividade mineira e à aplicação do método electromagnético
Turam, todos preparados para publicação.
Mas Guimarães dos Santos, mais uma vez, optou, por manter ocultos, os sucessos
do SFM, nos quais eu me encontrasse envolvido.
Aparis era, então, de longe, o mais importante núcleo de actividades do
SFM.
Pessoal, a variados níveis, adquiriu ou aperfeiçoou, ali, a sua formação,
essencialmente em Trabalhos Mineiros tradicionais, ao desempenhar as
respectivas funções durante mais de uma dezena de anos.
Com a minha obstinada atitude de formar
especialistas, cheguei a propor que a Mina de
Aparis, perante as excepcionais condições que reunia, fosse usada como Mina –
Escola, não só para pós-graduação dos futuros candidatos a ingresso no SFM, mas
também para ensaio dos novos equipamentos que fossem surgindo no mercado.
Mas Guimarães dos Santos não dava importância à formação profissional, parecendo
sentir-se mais à vontade com pessoal pouco adestrado, em confirmação do antigo
aforismo “Similes cum similibus facile congregantur”
A nomeação do Eng.º Fernando José da Silva, que estava integrado na
Brigada do Sul, para a chefia da Brigada de Prospecção Geofísica (BPG), quando faleceu
Mateus de La Cueva Couto, é disso um exemplo bem representativo.
La Cueva Couto, na fase final da sua vida, tomara verdadeira consciência
da nefasta influência que, sobre ele, estavam exercendo colegas improdutivos,
instalados na sede do SFM.
Não tendo formação em métodos geofísicos, de modo a poder desempenhar,
com eficácia, as funções de Chefe da BPG, que lhe competiam, entrara, nesta
fase final, em boa colaboração comigo, acolhendo, de bom grado, as sugestões
que eu lhe fazia, fundamentadas na minha muito maior experiência, adquirida na
antiga Brigada de Prospecção Eléctrica.
Foi nesta fase que consegui, após persistência de 10 anos, que fosse introduzida
a gravimetria, no âmbito das actividades normais do SFM (Ver post N.º14)
Fiquei profundamente indignado pelo ultraje que representou aquela nomeação,
porquanto, em conformidade com sugestões reiteradamente feitas em relatórios e
em planos de trabalhos, seria de esperar que a Brigada do Sul adicionasse às
suas atribuições os estudos de que se ocupava a denominada Brigada de
Prospecção Geofísica, sendo certo que a Brigada do Sul, tinha já sob sua
responsabilidade o método electromagnético Turam, isto é, mais de 90% da
actividade geofísica decorrente no Sul do País.
Em exposições, para o Director do SFM e para o Director-Geral, reagi
vigorosamente, declarando ilegal e contrária ao interesse do SFM esta nomeação (Ver
post N.º 221)
Com extrema estupefacção, recebi de colega amigo, sediado em Lisboa,
recado a avisar-me das possíveis más consequências do meu “atrevimento” e
chamando a atenção para disposições legais, declarando que “os chefes têm sempre razão”!!!
Obviamente que me não deixei intimidar, pois tinha esperança de que Castro
e Solla, mais uma vez usasse da sua diplomacia, para anular tão insensata
ordem.
Porém, Castro e Solla, inesperadamente, decidiu abdicar das funções de
Director-Geral (Ver Post N.º 25) e Soares Carneiro, que o substituiu, rapidamente
evidenciou maior preocupação com os seus interesses pessoais que com o
interesse do País.
Sem respeito pelo aperfeiçoamento do pessoal, a diferentes níveis, que eu
me esforçava por conseguir, para poderem cumprir-se, cabalmente, os objectivos
do SFM, manteve a ordem de Guimarães dos Santos.
Porém, Silva, poucos meses permaneceu no cargo.
Apesar desta curta presença, não desperdiçou a oportunidade de deixar a
marca negativa que costumava imprimir ao desempenho das funções, que lhe eram atribuídas.
Soares Carneiro iria, porém, demonstrar, no preenchimento de cargos
importantes para a economia nacional, de modo muito mais notório, a sua
preferência por técnicos claramente alinhados com o regime político vigente, a
técnicos com exemplar currículo profissional.
Um novo acontecimento imprevisto veio alterar profundamente a organização
do SFM, com reflexos de vária ordem.
Também Guimarães dos Santos aproveitou vaga de Inspector Superior,
ocorrida por aposentação de anterior titular, para concorrer ao seu
preenchimento, assim se libertando do fardo que já estavam a representar as
funções de Director do SFM, pelo desempenho das quais nunca demonstrou o mínimo
entusiasmo
Para o preenchimento da vaga deixada por Guimarães dos Santos, Soares
Carneiro, induzido por um Secretário de Estado oriundo da JUC (Juventude Universitária
Católica, que era Organismo do Estado Novo), nomeou Norberto Afonso Múrias de
Queiroz, ex- confrade do Secretário naquele Organismo, nas circunstâncias
descritas no post N.º 25.
Esta nomeação era tão destituída de fundamento que Soares Carneiro sentiu
necessidade de me explicar a sua causa, declarando-me que se tratava de uma decisão
transitória, pois ele tinha a consciência de que seria eu o técnico competente
para desempenhar o cargo, tal como já havia reconhecido o seu antecessor Castro
e Solla.
Continua…
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