segunda-feira, 24 de julho de 2017

56 A – 15ª parte - Continuação 2


Das conversas com Dr.ª Raquel Alves, realço ainda os temas seguintes:

7 - As fiscalizações da Direcção-Geral de Minas.

Dr. Raquel constatara que os serviços oficiais, além de atribuírem concessões mineiras, sem respeito pelas leis em vigor, eram ineficazes na fiscalização da actividade dos concessionários.

Concordando, citei até concessões, na sua zona de estudo, outorgadas em ambiente geológico desfavorável à ocorrência de minério.

Informei, também, saber de casos, no Alentejo, em que concessionários conseguiam ocultar, aos fiscalizadores, trabalhos subterrâneos, que não obedeciam às boas regras da arte de minas.


8 – Crimes e desleixos de técnicos superiores

Entre muitos outros, foram mencionados:

A destruição de mais de 100 000 amostras de sedimentos de linhas de água, resultantes de anos de árduo trabalho de operários, que aguardavam análises mais completas, por novos métodos, muito mais rápidos, para cuja aplicação o Laboratório de Química estava a equipar-se.

Tal destruição tinha sido ordenada pelo Geólogo João Manuel Santos Oliveira, quando foi nomeado Director dos Laboratórios do SFM, sem currículo que tal justificasse (!).

Nas suas visitas a locais de trabalho do SFM, Dr.ª Raquel notou incríveis demonstrações de desleixo, tais como:

- testemunhos de sondagens abandonados nas ruínas das instalações da Mina de tungsténio da Lapa Grande;

- 5 viaturas avariadas em Alfragide;

- uma sonda enferrujada, que fora adquirida na Polónia, não havendo pessoal habilitado a utilizá-la.


9 – O estudo, da Mina de Aparis, em Barrancos,
Mostrou admiração, quando a informei de ter, em preparação, um piso, a 210 m de profundidade, na Mina de Aparis, onde tínhamos perfurado quilómetros de galerias e muitos metros de poços e onde chegamos a produzir e a vender concentrados de cobre.

Salientei o elogio do prestigiado Geólogo alemão Gunter Strauss, que se ocupava em tese de doutoramento sobre o jazigo de pirite complexa do Louzal, quando lhe proporcionei visita à Mina.

Afirmou, em carta que me dirigiu a agradecer a visita, ser invulgar um reconhecimento tão amplo de jazigo, antes de passar à exploração.

Eu pretendia usar esta Mina, como Escola, para melhorar a formação dos técnicos superiores e médios, que eram destacados para as Brigadas sob minha chefia, muito deficientemente preparados.

Seria também Escola para formar mineiros, marteleiros, entivadores, etc.

Perdeu-se a oportunidade, com a precipitada concessão a Empresa, constituída com intervenção do Director-Geral Soares Carneiro.

10 - As condições de entrega de Neves – Corvo

Ainda se falou no Geólogo Leca, a propósito de referências elogiosas que fiz a respeito do BRGM francês, sobretudo pela qualidade das suas publicações.

Mostrei surpresa pela condecoração de Leca, que deveria ter sido punido, pela responsabilidade que teve, no atraso de 5 anos na descoberta do jazigo de Neves – Corvo.

Sabia que foi, de facto, castigado.

Mostrou conhecer o meu comentário ao artigo de Leca na Revista inglesa “Transactions of Mining and Metalurgy”, publicado na mesma Revista.


11 - Director-Geral Alcides Rodrigues Pereira


11.1 - Relatório circunstanciado, que me exigiu, sabendo-o incompleto e sem revisão final.

Fiz a entrega ao Eng.º Fernando Daniel, então dirigente do SFM.

Em cópia do ofício que lhe dirigi, registou a recepção, dando a entender, no que escreveu, intenção de me afastar da Secção de Caminha!

Dr.ª Raquel já tinha conseguido acesso aos 246 desenhos deste Relatório. Tinha até feito a sua digitalização.

Não lhe tinham fornecido o texto, declarando não o ter encontrado; mas depois, por aposentação de funcionários encarregados da Documentação, os substitutos acharam-no!

Concordou comigo, quando disse que este “relatório circunstanciado” continha matéria para várias teses de doutoramento.

Esteve desaparecido durante 10 anos (!!!), e fora exigido, com o argumento de ser urgente reformular os estudos na região de Caminha!!

Gostaria de saber o que fizeram, com ele, João Coelho e João Farinha.

O Eng.º Barros fez referência à sondagem 29, em ocasional conversa comigo, assim demonstrando ter também tido acesso ao relatório.


11.2- A proibição de realizar trabalho de campo

Mostrou surpresa com a “proibição de realizar trabalho de campo” e com os factos subsequentes até ao processo disciplinar, de que não resultou a minha demissão, apenas por amnistia decretada, em homenagem a um Papa, que tinha vindo a Portugal.

11.3 Alcides a classificar-me

Admirou-se quando lhe disse que o grosseiro Alcides Pereira se atreveu a classificar-me e até cometeu a suprema indelicadeza de desmentir afirmação que fiz sobre o uso de viatura oficial.

Atribuiu-me má classificação, quanto a relações humanas.

Recordei que o primeiro Director do SFM, o saudoso Engenheiro António Bernardo Ferreira, havia salientado, quando me promoveu a categoria superior, que eu era excelente condutor de homens.


12 – Doutoramento de Dr.ª Raquel Alves


Em 4 de Julho, a Dr.ª Raquel Alves, prestou provas públicas de doutoramento.

A tese, sobre tema denominado "Contribuição para um sistema de gestão integrada de sítios mineiros", foi brilhantemente defendida, perante júri presidido por Mário Machado Leite, Professor Catedrático da Universidade do Porto e Vice-Presidente do LNEG.

Em 4-9-2014, teve a extrema simpatia de se deslocar propositadamente à minha residência, para me oferecer um CD com a tese.

Mas eu não precisava de mais esta demonstração das suas qualidades de investigadora, que o País devia aproveitar.

Notei, porém, algum desalento, perante dificuldades com que estava a deparar, no início da sua carreira profissional.


13 - A minha próxima aposentação

Sobre a minha próxima aposentação, revelei preocupação com o destino de vasta documentação em meu poder.

Possuo cópias de todos os meus relatórios. Estarão disponíveis, caso se confirme, como consta, terem sido destruídos os exemplares que enviei, em triplicado.

Sem comentários: