quarta-feira, 12 de julho de 2017

56 A – 15.ª parte. Continuação 1


6 - Erros de publicações

Independentemente das informações que encontrara nas “Vivências Mineiras”, pareceu-me que a Dr.ª Raquel já se tinha apercebido dos erros grosseiros de Goinhas, no seu artigo sobre a prospecção mineira.
Referindo-se, também, a Luís Martins, informei-a de ter usado página de artigo seu, em co-autoria com Goinhas, em ponto de exame, aos meus alunos, para detectarem os erros! Riu-se.


6.1 – Os erros graves de Delfim de Carvalho - As suas responsabilidades pela extinção do Serviço de Fomento Mineiro (SFM), que era uma “galinha de ovos de ouro”.

A Dr.ª Raquel Alves, ao usar a região mineira de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, como zona de estudo, com vista ao seu doutoramento, já encontrara suficientes motivos, para suspeitar da ineficiência e falta de perspectiva do Geólogo Delfim de Carvalho na gestão do SFM o que terá confirmado, quando teve acesso às “Vivências Mineiras”.

Com apoio do seu padrinho, Delfim de Carvalho tinha ocupado sucessivos cargos, assim chegando a dirigente da Empresa Pública EDM, cujas características descrevi no post N.º 86.

A Dr.ª Raquel Alves constatou que a EDM nada fazia directamente. Contratava empresas privadas, para fazerem o que lhe competia, revelando-se incapaz de controlar a actuação delas.

A poluição nas imediações das Minas de pirite do Alentejo e nas Minas de urânio, era disso um bom exemplo.

E a poluição ambiental, nas Minas de Covas, incluídas na sua zona de estudo, foi alvo de áspera censura pelo GEPAAV, que exigiu das autoridades a responsabilização pelos danos ocasionados por trabalho de recuperação ambiental pessimamente executado,

Tinham implodido as entradas das galerias dos pisos superiores ao 3.º, na Mina de Valdarcas e coberto a escombreira com aplitos e pegmatitos que exploraram para esse fim.

Persistiu, no entanto, a contaminação do Rio Coura, como constatou Dr.ª Raquel, em concentrados que fez em Vilar de Mouros, nos quais encontrou scheelite, por vezes em abundância.

É este um texto que o GEPAAV fez publicar:

“Os vilarmourenses, que madrugaram este dia 25 de Abril, depararam com um estranho e desagradável espectáculo quando olharam para o Rio Coura e constataram que as suas águas estavam tingidas de um amarelo forte e opaco.

Alertados de imediato, estiveram em Vilar de Mouros agentes da GNR e da Polícia Marítima que tomaram conta da ocorrência e recolheram amostras da água para análise.

Em pleno feriado e com uma temperatura agradável, estavam no largo do Casal e nas Azenhas diversos grupos de visitantes que, surpreendidos com o aspecto poluído do rio, provavelmente tão cedo não regressarão à freguesia.

Para além das consequências na riqueza biológica e piscícola do Coura, convém também não esquecer que aqui é captada a água consumida em grande parte do concelho de Caminha.

Infelizmente, não é a primeira vez que sucede um evento desta natureza, sendo que a última com semelhante impacto data de Maio de 2011.

A razão parece ser sempre a mesma:

a deficiente selagem das antigas minas de Covas. Uma obra com esse objectivo, da responsabilidade da EDM (Empresa de Desenvolvimento Mineiro) e orçada em 1,6 milhões de euros, foi dada por concluída em Abril de 2008, já lá vão cinco anos.

Porém, como se volta a comprovar, o problema da poluição do Rio Coura derivado das escombreiras do volfrâmio continua por resolver.

Por conhecimento do terreno, documentado com várias fotografias tiradas hoje mesmo, apontamos para que a origem de mais esta descarga poluidora se situe na ribeira do Poço Negro (imagens supra) — situada cerca de 700 m a jusante da barragem de Covas — que faz afluir ao Coura as águas contaminadas provenientes das velhas minas, pelos vistos mal seladas.

O GEPPAV, na defesa do património natural do vale do Coura e preocupado com a salvaguarda da saúde pública, vem desta forma alertar para uma questão que nos parece muito grave, ao mesmo tempo que exige das autoridades responsáveis urgentes medidas de apuramento de responsabilidades e resolução deste grave problema ambiental.”

6.2 - Mas a grande degradação do SFM iniciara-se, de facto, no período em que Soares Carneiro, ocupara o cargo de Director-Geral de Minas.

Soares Carneiro, quando exerceu funções na Circunscrição Mineira do Norte, criou boas relações com a família Carvalho de Pinhel, conhecida por negócios pouco escrupulosos, durante a “Febre do Volfrâmio”, que vários escritores, entre os quais Aquilino Ribeiro, aproveitaram para romances, suscitados por factos ocorridos, em zona de grande pobreza, por súbita e inesperada riqueza, originada pela enorme valorização do tungsténio, que nessa zona abundava, e era essencial à indústria de armamento, durante a 2.ª Guerra Mundial.

Essas relações foram tão fortes que Soares Carneiro foi padrinho de Delfim de Carvalho, filho de um seu amigo Carvalho, volframista de Pinhel, primeiro por baptismo e depois por casamento.
Até o encaminhou para se licenciar em Geologia.

Tendo permanecido, quase exclusivamente na zona Norte do País, seria expectável que Soares Carneiro indicasse essa zona, para o seu afilhado investigar, dado o enorme atraso em que se encontrava.

Mas não foi isso que aconteceu.

Foi na 1.ª Brigada de Prospecção, que introduziu o seu afilhado.

Ainda como estudante, levou-o, em visita aos trabalhos de minha iniciativa, na região de Portel, os quais eram exemplo da eficácia dos métodos geofísicos e geoquímicos.

Só muito tardiamente percebi que a protecção, que continuou a dispensar-lhe, quando já licenciado, tinha por finalidade transferir para ele os sucessos que a Brigada por mim laboriosamente organizada ia conseguindo.

Delfim de Carvalho viria a demonstrar ter herdado o carácter de volframista do seu ascendente.


6.3 – Delfim de Carvalho, auto-proclamado inovador em prospecção mineira


Durante a sua presença na 1.ª Brigada de Prospecção, Delfim de Carvalho não revelou tendência para realizar trabalho de campo, como eu pretendia dele.

A geologia era, então, um ponto fraco na prospecção mineira, pois o ensino que se praticava nas Universidades não acompanhava o progresso registado noutros países.

Os melhores estudos geológicos, em Portugal, eram feitos por estrangeiros, muitos dos quais vinham cá fazer teses de doutoramento.

Mc Gillavry, professor holandês trouxe vários dos seus discípulos, que realizaram estudos na Faixa Piritosa Alentejana, nomeadamente, na zona do Pomarão e na região de Cercal – Odemira, de alta qualidade, que foram fundamentais para a interpretação da sequência estratigráfica da zona.

Delfim refugiava-se no gabinete, tornando-se exímio em utilizar estudos de outros, aos quais adicionava ideias próprias, muitas vezes de carácter fortemente especulativo, para publicações, figurando como autor.

Entre vários outros, destacam-se os artigos sobre a descoberta do jazigo de Neves-Corvo, os quais são alvo de minha censura, nos posts N.ªs 38 e 41 a 43, pelos erros grosseiros neles contidos.

Merece também referência o denominado “jazigo do Salgadinho”, que é exemplo da apresentação apressada de um êxito que chegou a ser comparado a Neves-Corvo, mas que não passou de uma ocorrência de mineralização cuprífera descoberta com base em discreta anomalia gravimétrica registada ainda durante a minha chefia e que eu tinha planeado investigar pelo método de polarização induzida, estando porém aguardando a aquisição de aparelhagem adequada.

Pelo que chegou ao meu conhecimento, Delfim de Carvalho, ansioso por se creditar com um êxito, cuja autoria reivindicava, projectou numerosas sondagens, desobedecendo às boas regras da prospecção e precipitando-se a promover a jazigo uma ocorrência, cujo valor industrial não ficou demonstrado.

Outro exemplo da sua presunção de grande inovador em matéria de prospecção mineira foi a publicação de artigo com o título ” Novos rumos para a prospecção”.

A realidade é que, pouco aprendera, durante as lições que eu ministrava, nas reuniões com os técnicos da 1.ª Brigada de Prospecção.

Especular com explorações a 5000 m de profundidade, era um novo rumo, para ele que nada sabia de exploração e dos problemas que a profundidade acarreta.

Finalmente, não posso deixar de mencionar a sua ridícula classificação de alterações hidrotermais, na Região de Cercal - Odemira

Eu tinha-o encarregado, de melhorar o conhecimento geológico da Região de Cercal-Odemira, com incidência nos aspectos estruturais, visando melhor apoio às campanhas de prospecção geofísica e geoquímica que ia projectar, para detecção de jazigos de pirite idênticos aos da faixa Piritosa.

Levantamentos litológicos pormenorizados anteriores, à escala 1:5000, cobrindo uma área de 399 km2, realizados sob minha directa orientação, haviam revelado ambiente geológico idêntico ao da Faixa Piritosa (Ver post N.º 11). Impunha-se aperfeiçoar estes levantamentos.

Dei-lhe instruções no sentido de analisar a possibilidade de as alterações, que eu notara à superfície, terem origem hidrotermal e de, a partir delas, se acrescentar mais um guia útil para a prospecção.

O que eu admitira como hipótese, Delfim de Carvalho tomou como certeza, sem ter feito ou promovido que se fizessem os necessários exames laboratoriais.

Seguindo um critério pessoal, subjectivo, fez a separação de zonas com diferentes graus de alteração (forte, média, fraca).

Não era, obviamente, essa a separação que eu pretendia, mas antes a definição de halos com diferentes características mineralógicas, circundando os possíveis jazigos, como acontece em outros países.

Da sua original separação de zonas de alteração nenhuma utilidade resultou.

Continua...

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