O
Ministro Veiga Simão tinha recomendado a Alcides, a sua boa vontade, no aproveitamento da minha capacidade técnica, para
cumprimento dos programas superiormente aprovados,
Conhecedor da gravidade da situação que lhe expus, não só oralmente, mas também em abundante documentação, tão extraordinária tolerância do Ministro, relativamente a um dos mais incompetentes técnicos, recentemente ingressados na DGGM, que ascendera à categoria máxima neste Organismo, mercê de escandaloso abuso das liberdades conquistadas pela Revolução de Abril de 1974 (o Regabofe que descrevi nos meus posts N.ºs 126 e 127 ), só se explicava pelo facto de Veiga Simão se encontrar absorvido por sérios problemas, que tornavam desconfortável a sua presença no Governo.
De
facto, pouco tempo mais permaneceu nesse Governo.
Eu estava confiante que Veiga Simão, perante as minhas afirmações, baseadas na capacidade técnica que me reconheceu, corroboradas pelo Dr. Adriano Vasco Rodrigues, seu conterrâneo e amigo, pessoa de elevado prestígio no meio intelectual português, que fizera a minha apresentação ao Ministro, desse por terminada a comissão de serviço de Alcides Pereira como Director-Geral de Minas e determinasse a expulsão da Função Pública de tão pernicioso personagem.
Mas
a triste realidade era que o ambiente, em que o Ministro exercia a sua actividade,
estava profundamente envenenado, a ponto de até o seu Secretário de Estado
Rocha Cabral ter emitido despacho insultuoso para funcionário zeloso, detentor
de valiosíssimo currículo a nível internacional, apenas com o propósito de introduzir
na Função Pública o Geólogo Vítor Correia Pereira, que tivera a ousadia de apresentar
currículo escandalosamente mentiroso.
Tal
ambiente não facilitava, realmente, decisões radicais.
Era óbvio que investigações, durante duas dezenas de anos, na região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, só poderiam ter sido efectuadas, obedecendo a planos superiormente aprovados e o Ministro, como era lógico, recomendou que assim continuassem.
Mas
Alcides, que não tivera pejo em declarar, perante mim, quando aceitou o encargo
de fazer a minha classificação de serviço, nada perceber do que eu executava, teve
o desplante de pretender reprogramar a actividade naquela Região, apenas me consentindo
sugestões para a nova programação, que seriam ou não aproveitadas!!
Ignorando
a abundantíssima informação, por mim prestada, quer em relatórios, um dos quais
publicado (!), quer em visitas às áreas estudadas ou em estudo, apoiadas com peças
desenhadas elucidativas dos resultados obtidos e revelando total desrespeito pelo
Director do SFM, invadiu as funções deste dirigente, ordenando que eu
apresentasse um “relatório
circunstanciado” de toda a minha actividade na Região.
O
Ministro, em implícita censura, bem lhe recomendara que aproveitasse a minha
capacidade técnica.
Mas
Alcides pouco se importou com isso! Teimosamente,
insistia num Relatório, no qual eu teria de ocupar, desnecessariamente, precioso
tempo, desviando-me de estudos especializados, de execução só acessível aos raros
técnicos possuidores de preparação adequada.
Todavia,
até a elaboração deste documento dificultou deliberadamente, com a prestimosa
ajuda do subserviente personagem, que foi buscar à indústria privada, para
dirigir o SFM.
Com a saída de Veiga Simão do Governo, induziu Daniel a preparar-me armadilha, que conduzisse a processo disciplinar.
Teve
a habilidade de levar este indivíduo, que se gabava de não ter dignidade, a dar
ordem, cujo cumprimento, por respeito pela hierarquia estabelecida, eu teria de
recusar.
Exigia-me
um “plano de visitas ao campo”, sabendo
que eu estava proibido de fazer trabalho de campo!
O
processo disciplinar que, de facto, me foi instaurado, e que estava
minuciosamente estruturado para conduzir à minha expulsão da Função Pública, aproveitando
a preciosa colaboração do grupo de indivíduos introduzido na DGGM, através do
“regabofe” a que aludi, abortou, porque um Primeiro-Ministro “agnóstico” decretou
que fossem amnistiadas determinadas infracções, nas quais a minha se incluía,
em homenagem ao Papa, como gratidão pela sua visita a Portugal!
Caso
não tivesse abortado o processo disciplinar, eu teria sido expulso da Função
Pública, ficando assim liberto do encargo da elaboração do Relatório
Circunstanciado, ao qual era atribuída tal importância que até impunha a minha
permanência no gabinete, ficando proibido de fazer trabalho de campo!!
Mais
uma demonstração de que o objectivo de Alcides e dos seus comparsas, intrusos
na DGGM, era eliminar a minha presença na DGGM, sendo o Relatório
Circunstanciado mero pretexto para esse fim.
Mas,
como era preciso manter as aparências e demonstrar a sua inequívoca autoridade,
Alcides ordenou que eu apresentasse o Relatório, na fase de elaboração em que se encontrasse.
Encarregou
Daniel de me transmitir a sua ordem!!
E
o submisso Daniel, apressou-se a cumprir, zelosamente, tão honrosa missão!
A minha resposta consta de ofício, com data de
24-5-1986 que, a seguir transcrevo:
Ex.mo Senhor Director do Serviço de
Fomento Mineiro
Tomei conhecimento da Nota de Serviço N.º 61/300/86, com data de 19-5-86, na qual V. Ex.ª dá cumprimento as instruções do Senhor Director-Geral, determinando que eu faça entrega dos referidos documentos, na sede do Serviço de Fomento Mineiro, na Rua de Diogo Couto, Nº1 – 3.º, no dia 26-8-86, a partir das 14h 30m.
Em satisfação do que
me é ordenado, procedo à entrega, por mão própria, de 9 pastas contendo os
seguintes documentos:
- PASTA 1 – Texto
preparado, até à data de hoje, constando de
a) Capa dactilografada, com correcção da data para 31 de Dezembro de
1985;
b) 46 folhas dactilografadas, contendo o capítulo “Informação introdutória
circunstanciada” elaborado em 1984 e, então submetido a apreciação pelo Senhor Ministro da Indústria;c) Índice dos restantes capítulos, elaborados e em elaboração, em duas folhas de formato A4, cópias de manuscritos em papel de formato A4/2
d) 94 folhas A4, cópias xerox de 188 folhas manuscritas, em papel de formato A4/2
- PASTA 2 – Índice de peças desenhadas.
Folha I – Cartas
Folha II – Perfis
Folha III – Sondagens
Peças desenhadas Nº.s 1 A 11
- PASTA 3 – Peças
desenhadas N.ºs 12 a 65
- PASTA 4 – Peças desenhadas
N.ºs 66 a 84
- PASTA 5 – Peças
desenhadas N.ºs 85 a 103
- PASTA 6 – Peças
desenhadas N.ºs 104 a 124
- PASTA 7 – Peças
desenhadas N.ºs 125 a 145
- PASTA 8 – Peças
desenhadas N.ºs 146 a 201
- PASTA 9 – Peças
desenhadas N.ºs 202 a 246
Perante as ordens
recebidas, o Relatório é apresentado na
fase de elaboração em que se encontra, nesta data.
O texto não está
concluído. Grande parte está apenas manuscrito. Não está revisto. Só seria
considerado definitivo, quando estivesse terminado e revisto, no seu todo.
Das peças desenhadas, as
primeiras 126 são cópias coloridas, na Sala de Desenho, com a colaboração e
supervisão do Senhor Silvestre Vilar; as restantes fazem parte do conjunto por
mim preparado para servir de guia na Sala de Desenho. Todas aguardavam ainda
revisão final.
A documentação que
hoje é entregue – com todas as deficiências resultantes de se encontrar ainda
em fase de elaboração – é mais que suficiente para que técnicos devidamente
habilitados possam tomar completo conhecimento dos trabalhos de prospecção efectuados
pelo Serviço de Fomento Mineiro, na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha –
Ponte de Lima, até ao fim do ano de 1985 e dos respectivos resultados.
O Senhor Director –
Geral passa, portanto, a dispor, relativamente a esta Região, de elementos
superabundantes para poder programar convenientemente as actividades da DGGM,
conforme objectivo anunciado no seu despacho N.º 5/100/84 de 7-2-84.
Apresento a V. Ex.ª os meus cumprimentos
Lisboa, 26
de Maio de 1986
(a)Albertino
Adélio Rocha Gomes
engenheiro de minas, assessor da Direcção –
Geral de Geologia e Minas.
Para
poder confirmar o cumprimento da ordem do Director-Geral, pedi ao Director do
SFM que registasse, em cópia do meu ofício, ter recebido a documentação, neste
descrita.
Anuindo ao meu pedido, Daniel, escreveu, com caligrafia merecedora de análise por especialista em grafologia, o seguinte texto:
Recebido, nesta data, o conjunto de peças
desenhadas que havia sido visto no Porto em 27/3/85 devidamente pintadas. O
relatório que consta de 46 páginas dactilografadas e fotocópia de 188 páginas
A5 fotocopiadas conjuntamente com o índice do capítulo em execução, executadas
e por executar e que serve de base ao relatório. Considera-se, portanto que é
entregue o conjunto de elementos já executados. Os dados de base para a
elaboração dos mapas entregues foram pedidos ao Sr. Eng.º Rocha Gomes que
considerou a possibilidade de parte deles se encontrar em Beja. Os últimos
capítulos do trabalho serão oportunamente entregues se continuar ligado ao
trabalho.
Rubrica de Fernando
Daniel; data de 1986.05.26
A
parte final deste manuscrito, que sublinhei, não me deixava dúvidas de que a
orientação dos trabalhos no núcleo de Caminha me seria retirada, pois até o
Engenheiro Laurentino Rodrigues já tinha sido introduzido nesse núcleo, perante
a minha recusa de apresentar o denominado “plano
de visitas ao campo”, por estar proibido de fazer trabalho de campo, recusa
que dera origem a processo disciplinar, do qual acabei por ser amnistiado.
Conforme
já referi, em post anterior, Laurentino Rodrigues, comportando-se como os
traidores da 1.ª Brigada de Prospecção, aceitara, “pragmaticamente” assumir a
chefia da Secção de Caminha e, como também já referi, foi praticando erros
sucessivos, com a ajuda do seu superior hierárquico, o Chefe de Divisão
Francisco Viegas, até conseguir extinguir a Secção, quando tanto trabalho havia
ainda para realizar, assim dando mais um passo para a destruição do próprio
SFM, que viria a acontecer.
Curiosíssima
foi a alusão do Eng.º Daniel aos dados de base, que estavam devidamente
arquivados, sobretudo no meu gabinete.
Os
que se encontrariam em Beja estavam à guarda do Eng.º Vítor Alvoeiro de Almeida,
pois tinha sido ele o encarregado de dirigir os trabalhos de, prospecção
magnética, no início da actividade da Secção de Caminha. E fora, até, por esse
motivo, que eu lhe atribuí a coautoria do artigo que fiz publicar no CHILAGE,
apesar de ter sido nula a sua intervenção na elaboração desse artigo.
Que
justificaria tamanho interesse de indivíduo que se gabava de nada perceber de
prospecção geofísica e de até ter raiva a quem percebia, em conhecer onde se
arquivavam os dados de base da aplicação das respectivas técnicas, não cheguei
a entender. Pretenderia analisar a correcção das observações no terreno e os cálculos
subsequentes para sua implantação nos mapas apresentados no Relatório, ou
submete-los á apreciação do parasita Rui Reynaud, que promovera a sábio?
Mas
surpreendeu-me que não manifestasse igual interesse pelo destino de milhares de
amostras de solos da Região de Caminha, que estiveram retidas durante longo tempo
no gabinete do Eng.º Orlando Cardoso, quando este detinha o cargo de Chefe dos
Laboratórios e decidira não mandar fazer as análises geoquímicas de tungsténio
que eu requisitara.
E
que não referisse que o destino de tais amostras era o caixote do lixo, quando
Orlando Cardoso se aposentou, tendo eu, por um feliz acaso, conseguido
encontra-las, quando tal acontecia.
E
que as mesmas amostras acabaram por ser analisadas no Canadá, quando a área em
que tinham sido colhidas foi adjudicada a Empresa estrangeira.
Fernando
Daniel, afinal, até era extremamente tolerante, em matéria de dados de base,
pois não diligenciou no sentido de ser punido o seguinte Director dos
Laboratórios, o Geólogo João Manuel Santos Oliveira, que cometera o crime de
mandar destruir centenas de milhar de amostras de sedimentos de linhas de água,
que haviam sido colhidas na Faixa Metalífera da Beira Litoral e que aguardavam
análises por novos métodos geoquímicos, para cuja aplicação o Laboratório de
Química já se havia equipado.
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