Durante a minha vida profissional, ouvi de personalidades com grandes responsabilidades na vida nacional, opiniões pessimistas quanto à importância dos nossos recursos minerais.
Salazar, num dos seus discursos ao País, salientava que “sem solo e sem sub-solo”, era ainda da agricultura que o País teria que viver…
Houve um Ministro da pasta que abrangia o sector mineiro nacional que declarou publicamente (V. Jornal de Notícias de 30-10-1982) que o País apresenta uma grande “pobreza mineira”, revelando que o valor global da produção de salsichas e enchidos era superior ao valor global de toda a extracção mineira.
A facilidade com que os Serviços da DGM atribuíram concessões mineiras, por vezes sem que existisse matéria concessível, levou à existência de mais de 4000 concessões. Na maioria das quais não se registou qualquer actividade durante largos anos. De um Director-Geral ouvi esta expressão: Portugal é um País rico em minas pobres.
De alguns Professores Catedráticos da área da Geologia, ouvi dúvidas e até críticas quanto à utilidade das técnicas de prospecção que estavam em curso no SFM, a maior parte introduzidas por minha iniciativa.
Um Professor do Instituto Superior Técnico declarou, num Congresso, em Lisboa, que a prospecção em Portugal tinha terminado com os trabalhos da Junta de Energia Nuclear. No entanto, aceitou, posteriormente, presidir a Grupo de Trabalho sobre Prospecção Mineira, no Congresso Hispano-Luso-Americano de Geologia Económica, que teve lugar em Portugal e Espanha. Fui designado para fazer parte desse Grupo, mas recusei-me a participar na mesa dos trabalhos, em Espanha, por considerar ofensiva a nomeação de um Presidente que antes dissera tal barbaridade.
Até um Engenheiro Adjunto de um Director-Geral (ao qual puseram a alcunha de Ajax, derivada de um detergente propagandeado com a expressão “o mais poderoso”) me informou que este Director-Geral, depreciou a minha actividade, usando esta expressão: “Anda lá o Rocha Gomes com os vectores!…”, sem se aperceber que iriam ser esses “vectores” que conduziriam às maiores descobertas de jazidas minerais do século XX, em Portugal, com honras de selecção para figurarem em artigos de conceituadas Revistas de renome internacional.
As minhas reacções a todas estas dúvidas e afirmações foram sempre as mesmas: Apesar da sua longa tradição mineira (os livros de História referem expedições de variados povos, rumo à Península Ibérica na procura de metais e não são raros os vestígios de explorações mineiras, por vezes de grande dimensão, por todo o território nacional) a realidade é que Portugal era um País ainda muito desconhecido, nesta matéria.
Faltavam estudos científicos criteriosamente planificados e metodicamente empreendidos, de modo sistemático, sem pressas ou pressões.
O mesmo Director-Geral, na ânsia de ver resolvidas situações difíceis que algumas Empresas enfrentavam, aconselhava “Acções de Bombeiro”, como lhes chamava.
Nenhuma destas acções, públicas ou privadas, deu resultados positivos, mas provocou avultados dispêndios.
Houve uma Empresa que requereu ao Estado o reembolso de despesas que efectuara com estudos de Companhia especializada estrangeira, feitos sobre grande pressão, para encontrar novas reservas de minério que lhe permitissem prolongar a vida, da qual dependiam directa ou indirectamente, alguns milhares de pessoas.
Apoiava-se este pedido em artigo do Decreto-lei de criação do SFM.
Foi pedida a minha informação e eu, perante a indisciplina que notei sobretudo na execução de dispendiosas sondagens e até porque o plano de trabalhos não tinha sido previamente submetido a aprovação e fiscalização da sua execução, não tive alternativa senão dar parecer negativo.
Esta mesma Empresa, já em desespero de causa, chegou ao cúmulo de fazer sondagem com base em recomendação de vedor ou bruxo!
Por outro lado, entusiasmado com alguns êxitos que vinham sendo obtidos pelas equipas que eu dirigia, o Director-geral encomendou-me uma nova descoberta, pois precisava de ter algo para apresentar a Ministro ou Secretário de Estado para conseguir determinado objectivo.
Parecia ignorar que os jazigos minerais são excepções na Natureza e só se descobrem, através de uma acção disciplinada e sistemática, ao longo de dezenas de anos.
A realidade é que todo este esforço assim executado foi largamente recompensado.
As descobertas na Faixa Piritosa Alentejana, só por si, estão a pagar magnanimamente todas as despesas do SFM durante toda a sua existência (as úteis e os esbanjamentos de quem nada contribuiu para elas) e proporcionaram postos de trabalho a inúmeras pessoas,
Pena foi que a totalidade dos proventos não tenha revertido e não continue a reverter em proveito dos Portugueses, como seria normal.
Fizemos o mais difícil. Outros se estão a aproveitar, por incapacidade dos dirigentes que temos tido.
Mas disso me ocuparei em um dos próximos posts.
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
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