domingo, 24 de agosto de 2008

3 - Êxitos do Serviço de Fomento Mineiro (SFM)

Tenho a honra de poder afirmar que os maiores êxitos do SFM, em toda a sua existência, se ficaram devendo a equipas que dirigi, sobretudo no Sul do País.

A maior parte desses êxitos ocorreu na Faixa Piritosa Sul-Alentejana, na qual iniciei, em 1944, a minha actividade profissional, nela continuando a planificar e a dirigir investigações, com activa participação, até que, em 1975, as liberdades mal interpretadas da Revolução de Abril de 1974, conduziram à minha destituição da chefia da equipa de prospecção por mim constituída no Sul do País.

Por ordem cronológica, os êxitos, nesta Faixa, foram os seguintes:

1 – Descoberta da massa de pirite complexa (rica em cobre) denominada Carrasco - Moinho, na concessão mineira de S. João do Deserto e Algares, em Aljustrel, pela aplicação do método electromagnético Turam.
2 – Descoberta da massa de pirite complexa (rica em zinco) da Estação, em Aljustrel, pela aplicação do método gravimétrico..
3 – Descoberta da massa de pirite complexa do Gavião (parte rejeitada do jazigo de S. João do Deserto – Carrasco-Moinho – Algares, pela grande Falha do Alentejo, evidenciada pelo SFM), em Aljustrel, pela aplicação do método gravimétrico
4 - Descoberta do jazigo de pirite complexa rica em cobre, estanho, zinco e chumbo de Neves-Corvo, pela aplicação do método gravimétrico.

À história de cada um destes êxitos, me referirei, com algum pormenor, para não deixar dúvidas, em próximos posts, pois considero importante repor a verdade, perante os erros, as omissões e as distorções, em artigos de meu conhecimento publicados em Portugal, em França, no Reino Unido e nos Estados Unidos da América do Norte

Um caso houve, em que um autor, que esteve integrado no SFM, mas nenhuma intervenção teve na descoberta, descreveu o êxito de Neves-Corvo, cometendo diversos erros grosseiros, por incompetência em matéria de prospecção geofísica que não era a sua especialidade.
Por este trabalho, que não tinha direito de apresentar, razão pela qual cometeu erros inadmissíveis, desvalorizando a acção sistemática do SFM, durante mais de 30 anos, recebeu louvor, em despacho publicado no Diário da República

Mas não foi apenas na Faixa Piritosa Sul-Alentejana que se registaram importantes êxitos pelas equipas que formei e dirigi.

Houve, também, notáveis sucessos em várias outras zonas do Sul do País. Destaco as seguintes.
1 – Região de Cercal-Odemira (Jazigos ferro-manganíferos)
2 – Região de Barrancos (Jazigo de cobre de Aparis)
3 – Região de Moura (Formações zincíferas da Serra da Preguiça)
4 - Região de Montemor-o-Novo (Descoberta de numerosos indícios de ocorrência de ouro)
5 - Região de Portel (Jazigo de zinco, chumbo e cobre de Algares de Portel)
6 - Região de Cuba-Vidigueira)– Descoberta do jazigo de ferro de Vale de Pães

No Norte, a obstrução sistemática da Direcção do SFM situada em S. Mamede de Infesta (Porto), a qual, a partir de determinada data, foi estimulada pelo Director-Geral, não permitiu desenvolver actividade idêntica à conseguida no Sul.

Foi, todavia, possível obter significativo êxito na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, em prospecção de jazigos de tungsténio.
Com uma reduzida equipa, composta apenas por pessoal auxiliar tecnicamente preparado por mim próprio, foi possível descobrir reservas de minério que, não só permitiram manter exploração durante largos anos por Empresa portuguesa, mas também despertaram o interesse de uma conceituada Companhia americana (Union Carbide) e de outra canadiana (Cominco) em dar continuidade aos estudos do SFM, com mais poderosos meios.
Em circunstâncias normais, as reservas evidenciadas pelo SFM e pela Union Carbide teriam permitido manter na Região uma importante actividade mineira.
Uma acentuada desvalorização do tungsténio, provocada pela concorrência da China nos mercados internacionais, na década de 80 do século passado, levou ao encerramento destas minas e da quase totalidade das minas de tungsténio da Europa

Na denominada Faixa Metalífera da Beira Litoral, foram obtidas, sobretudo pela aplicação do método geoquímico, zonas de anomalias que justificavam
a continuação dos estudos, num caso (antiga Mina de chumbo do Braçal) já
na fase de sondagens.

Todos estes êxitos estão profusamente documentados em relatórios mensais, trimestrais, anuais, trianuais, em relatórios específicos (citados em publicações que vieram a surgir após a minha demissão da 1.ª Brigada de Prospecção, como “Relatórios Internos”, sem menção dos seus autores!), em milhares de mapas a diversas escalas, com predomínio da escala 1:5000, em conformidade com metodologia por mim instituída.

Receio que alguma desta documentação tenha já sido destruída, pois ainda recentemente pretendi acesso a relatórios de prospecção electromagnética da campanha de 1944-49 e não foram encontrados.

Alguns relatórios constam de publicações. Muitos não foram publicados, apesar de preparados para esse fim, por serem longos e ser dispendiosa a sua publicação, segundo foi declarado por um Director do SFM, quando questionado pelo Director-Geral para explicar esta situação anormal.
Ao Director-Geral de então, Engenheiro Castro e Solla, eu tinha-me dirigido pessoalmente a manifestar a minha surpresa por este tratamento discriminatório.
Em consequência da conversa havida, por telefone, na minha presença, logo foi decidido publicar dois dos relatórios que elaborara em co-autoria com dois distintos Agentes Técnicos de Engenharia, sobre formações zincíferas e ferríferas da Região de Moura, porque eram os que tinham menor número de páginas!
A sua publicação logo despertou o interesse da “Compagnie Royale Asturienne dês Mines” para celebrar com o Estado Português contrato com o objectivo da dar execução ao programa enunciado num desses Relatórios, programa esse que o SFM, com os meios de que então dispunha, não tinha condições para lhe dar cumprimento. A este assunto me referirei com mais pormenor, porque vale a pena, em próximo post.

Por ter sérias dúvidas quanto ao destino dos relatórios por mim elaborados, fui preparando sempre uma cópia a mais (a 5.ª cópia da máquina de escrever que então se usava) de todos os relatórios que subscrevi, para o meu arquivo pessoal, desde que assumi a chefia da Brigada do Sul em 1948. Também guardo cópias de alguns mapas, que poderei apresentar, se os originais e as várias copias que foram arquivadas em Beja e enviadas para a Direcção do SFM em S. Mamede de Infesta e para a DGM em Lisboa. não forem encontradas.

1 comentário:

wolverine disse...

a hora vai adiantada e estou cheio de sono.
vai daí não me sinto capaz de dedicar aqui e agora a este blog a atenção que ele merece, mas não queria deixar de dar um abraço ao seu excelso autor e fazer votos para que continue com força e constância a registar as suas vivências...