Os primeiros Planos de Trabalhos do SFM foram orientados sobretudo para a inventariação das existências de carvões, de minérios de ferro, de minérios auríferos e de pirites.
Causou-me estranheza que, reconhecendo-se, nessa época, uma desenfreada exploração de ocorrências volframíticas, para alimentar indústrias de países envolvidos na 2.ª Guerra Mundial, não se tivesse incluído estes minérios nos Planos de Trabalho do SFM
Causou-me também surpresa que, no respeitante ao ferro, não se tivesse concentrado a principal atenção no enorme jazigo de Moncorvo, tendo-se preferido investigar jazidas de muito menor dimensão.
Igualmente surpreendente é o facto de o ouro, da Região de Jales-Três Minas não ter sido objecto dos estudos que merecia
A explicação estará talvez no facto de o SFM, na sua fase inicial, não dispor, no Norte do País, de técnicos em quantidade e qualidade para se envolver em projectos de grande dimensão, até porque as áreas de Jales e de Moncorvo estavam atribuídas a concessionários com algum prestígio.
Já, no que respeita ao Sul, a Direcção do SFM não hesitou em programar, em 1944, grandioso Plano de Prospecção, envolvendo toda a Faixa Piritosa Sul-Alentejana, apesar de estarem atribuídas a conceituadas Empresas estrangeiras as concessões de exploração dos jazigos de pirite então conhecidos.
Ao Plano inicial, foram, progressivamente adicionadas outras matérias-primas minerais, tais como petróleos, sal-gema, minérios de manganés, de cobre, de chumbo, de zinco, de antimónio, de crómio, calcários. Nos casos dos petróleos e do sal-gema, estava previsto essencialmente o acompanhamento da actividade privada.
Nas funções que desempenhei, no Sul do País, durante 30 anos, orientei a actividade no sentido de investigar áreas seleccionadas pelas potencialidades sugeridas pelo seu enquadramento geológico, com preferência para as substâncias que, tidos em conta os meios materiais e humanos existentes, mais pudessem contribuir para a economia nacional.
A incrível exclusão dos minerais radioactivos dos Planos de Trabalhos do SFM, no Norte e Centro do País, quando estes minerais tiveram forte valorização, após a descoberta da energia atómica será objecto de um futuro post.
A investigação de águas subterrâneas nunca esteve no Planos do SFM
Era matéria de que se ocupava a Direção-Geral dos Serviços de Urbanização.
Mas, a realidade é que, em muitos dos trabalhos mineiros (sanjas, galerias, poços), realizados para investigação de jazigos minerais, foi ultrapassado o nível hidrostático, deparando-se o SFM, frequentemente, com caudais elevados, que chegaram a impedir a continuação dos estudos.
Esta água, numa região como a do Alentejo, carecida de tão precioso líquido, era, sem dúvida, mais uma riqueza a aproveitar.
Saliento o caso das Minas da Serra da Preguiça, em Moura, onde o SFM teve que suspender a sua actividade, por não dispor de equipamentos para vencer os caudais encontrados e, onde posteriormente a Compagnie Royale Asturienne dês Mines (CRAM) teve que tomar idêntica atitude, apesar de ter usado meios muito mais poderosos.
Esta Companhia chegou a apresentar proposta de colaboração à Junta de Colonização Interna, para aproveitamento de tamanha riqueza, que para ela constituía óbice à futura exploração das reservas evidenciadas. Não obteve qualquer resposta, segundo me informou o Geólogo Michel Ansart da CRAM e esta Companhia não teve alternativa senão abandonar a Região, onde havia realizado trabalhos de elevada qualidade.
Registo ainda que , pela aplicação de método electromagnético Turam diversos alinhamentos de anomalias foram, obtidos, provavelmente originados por fracturas com o enchimento impregnado de água.
Para este assunto, chamei a atenção, por cartas de Março de 2002, ao Presidente da Comissão Regional do Alentejo e ao Presidente do Instituto Geológico e Mineiro, quando ia ser realizado, em Évora um Congresso dedicado às águas subterrâneas. Não obtive qualquer resposta.
A um caso de colaboração aos Serviços de Urbanização para resolver um problema de abastecimento de água ao concelho de Porto de Mós me referirei mais tarde.
Em 1961, quando eu exercia o cargo de Chefe da Brigada do Sul do SFM, que se dedicava essencialmente ao estudo de jazigos minerais, pelos métodos então tradicionais (sanjas, galerias, poços), o Director-Geral, Eng.º Castro e Solla, conhecedor da minha actividade anterior em prospecção electromagnética, na Faixa Piritosa Sul-Alentejana, nomeou-me delegado de Portugal no Grupo “ad hoc” de peritos de métodos modernos de prospecção da OCDE.
Nesta qualidade, participei, em reuniões do Grupo, em Paris, no qual estavam representados 18 países.
Devo notar que existia então, no SFM, uma Brigada denominada de Prospecção Geofísica que, em princípio, deveria estar mais habilitada a desempenhar esta missão. Na realidade esta Brigada era, como oportunamente informarei, uma autêntica anedota superiormente consentida e até acarinhada.
Na qualidade em que fui investido, recebi, em Portugal a visita do Professor Robert Woodtly da Universidade de Lausanne, encarregado de conhecer o interesse dos Organismos portugueses onde se ensinava ou praticava a prospecção mineira.
Acompanhei-o à Junta de Energia Nuclear em Lisboa, ao Instituto Superior Técnico, à Faculdade de Engenharia do Porto e à Direcção do SFM, que então se localizava na Rua de Santos Pousada do Porto.
Encontrei grande receptividade sobretudo na Direcção-Geral dos Serviços de Prospecção da Junta de Energia Nuclear.
Surpreendentemente o Director do SFM declarou que no Norte do País, não havia matéria que justificasse a aplicação desses métodos!
Nem a região aurífera de Jales-Três Minas, nem a área ferrífera de Moncorvo, nem as potencialidades da área de rochas ultrabásicas de Trás-os-Montes para ocorrência de minérios de níquel, cobalto, crómio e até de platina, nem a Faixa Metalífera da Beira Litoral, justificavam, em seu entender, a aplicação de métodos modernos de prospecção! A prospecção – disse ele – só se justificava no Sul!
Mais tarde, ainda na minha qualidade de delegado de Portugal no referido Grupo “ad hoc”, apresentei ante-projecto de prospecção aérea no Alentejo, que teve tão boa aceitação que o Grupo se propunha estender este projecto ao Sul da Península, abrangendo toda a Faixa Piritosa Ibérica.
A este assunto me referirei posteriormente, porque teve desenvolvimentos inesperados.
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
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