Em fins de 1968, o Director-Geral de Minas e Serviços Geológicos (DGMSG), consciente da incompetência do Engenheiro que, nomeara para exercer o importante cargo de Director do Serviço de Fomento Mineiro (SFM), decidiu criar um Grupo de Trabalho, a que chamou “Comissão de Fomento”.
Interpretei esta decisão como processo de resolver a incapacidade que vinha demonstrando o Director do SFM para desempenhar as suas funções, evitando destituí-lo, até porque lhe era útil um subordinado obediente, sem iniciativas para além das de carácter burocrático
O Director-Geral, que já tinha excluído do SFM as instalações construídas em S. Mamede de Infesta, ao designá-las “Laboratórios da DGMSG”, quando da sua inauguração, dava assim mais um passo para se assumir como real dirigente do SFM.
Nesta Comissão participavam todos os Chefes dos vários departamentos da DGMSG (Engenheiro Director-Geral, Engenheiro Director do SFM, Engenheiros-Chefes dos 1.º, 2.º 3.º e 4.º Serviços do SFM, Engenheiro-Chefe dos Serviços Geológicos, Engenheiros-Chefes das Circunscrições Mineiras do Norte e do Sul, Engenheiro-Chefe da Inspecção de Águas).
Participavam, também, um Engenheiro Inspector Superior, um Engenheiro-Adjunto do Director-Geral (o Ajax, a que já tenho feito alusão) e o Secretário Auditor Jurídico da DGMSG.
Nas últimas reuniões, passaram a participar alguns Geólogos que, se tinham destacado na sua actividade no SFM.
Apesar de este procedimento me parecer incorrecto, ingenuamente confiei que o Director-Geral, que, no início da década de 60, vinha dando grande apoio à prospecção mineira, ultrapassando já o Director do SFM, iria, de facto promover grande impulso à indústria mineira nacional, aproveitando as reais potencialidades do País.
As minhas ilusões cedo, porém, se desvaneceram.
Nas reuniões, o que mais se analisava eram problemas de ordem burocrática, secundarizando os verdadeiros objectivos de fomento.
Comecei por observar uma obsessão em libertar o SFM do caso de Aparis, transformando-o num problema grave a resolver, com urgência. Desvalorizou todo o trabalho sério que tinha sido efectuado e procurou transferir o seu estudo para a iniciativa privada, esquecendo as afirmações feitas, quando da visita do Secretário se Estado da Indústria e todas as minhas propostas.,
Classificou a Mina de marginal! Tal não obstou, porém, a que Empresa recém-constituída por ela se interessasse e fizesse uma exploração amplamente lucrativa.
Ao mesmo tempo que classificava esta Mina de marginal, consentia que, na região de Almodôvar, estivesse em reconhecimento um filão cuprífero (Mina do Barrigão), com a extensão de cerca de 100 metros.
E, o que é mais grave, este filão encontrava-se incluído dentro de área adjudicada a Mining Explorationas (International), revertendo, consequentemente para esta Companhia os resultados que eventualmente viessem a ser encontrados.
Quando expus o meu parecer sobre este tema, obtive a seguinte reacção do Director-Geral: “O senhor Engenheiro Rocha Gomes pensa que por ter essa opinião, nós teremos que concordar com ela?” A minha resposta foi simples: Emiti o meu parecer sobre uma área que bem conheço; penso que cumpri um direito e até um dever, como membro desta Comissão de Fomento.
A realidade é que os trabalhos prosseguiram, apesar das minhas objecções, com os resultados negativos que eram de esperar
Numerosos outros casos foram sucedendo, demonstrativos de que o Director-Geral de Minas, assumindo-se progressivamente como dirigente do SFM, foi invadindo até as atribuições do Serviço de Prospecção, que me estava confiado, passando a dirigir pessoalmente trabalhos de prospecção de sheelites, dos quais encarregou um grupo de jovens Geólogos.
Deslumbrado com os êxitos que vinham sendo obtidos pela equipa por mim constituída, pretendeu também ele-próprio, sem consciência da impreparação na matéria, tanto dele como dos Geólogos que escolheu para o coadjuvarem, obter rapidamente idênticos êxitos, que julgava fáceis.
Obviamente, que desta atitude só poderia resultar um total fracasso e foi o que aconteceu.
A alguns destes casos me referirei, em próximos posts.
Com as suas atitudes, algumas vezes contraditórias e frequentemente obstrucionistas, o Director-Geral praticou, de facto, uma política de anti-fomento, contrariamente ao que havia anunciado.
A última reunião teve lugar em 24 de Abril de 1974. Estava prevista nova reunião, no dia seguinte. Ainda me apresentei na DGMSG, em 25 de Abril, preparado para fazer as minhas intervenções, embora consciente de que provavelmente não seriam bem recebidas, como já se tornara hábito. Todavia, o Director-Geral, impressionado com a Revolução que tinha sido iniciada nesse dia, decidiu suspender a sua realização.
Após 25 de Abril, não houve mais reuniões da Comissão de Fomento. O Director-Geral passou a demonstrar sobretudo preocupação em manter o cargo, consciente de que, no desempenho anterior, havia cometido abusos e tomado decisões que mereciam reprovação de membros da Comissão.
Oportunamente me irei referir a visitas que passou a fazer à 1.ª Brigada de Prospecção, onde estava integrado o seu afilhado Delfim de Carvalho. Dessas visitas e da colaboração combinada do Director do SFM, resultou a minha demissão da chefia desta Brigada e a sua consequente degradação.
Este foi o princípio do fim do SFM, como irei demonstrar.
sábado, 7 de março de 2009
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