Fernando da Silva Daniel, quando me foi apresentado pelo Director-Geral, na qualidade de novo Director do SFM, não mostrou pressa em ter reunião comigo.
Conforme revelei no post anterior, na sua primeira conversa, já denunciava influência dos funcionários que tiveram maiores responsabilidades na decadência a que tinha chegado o SFM.
Era com eles que tinha privilegiado os seus primeiros contactos.
De facto, em 22-9-83, Laurentino Rodrigues dá-me conhecimento de que Daniel fizera, nesse dia, a sua primeira aparição nas instalações de S. Mamede de Infesta, acompanhado do seu antecessor, Jorge Gouveia.
Jorge Gouveia, afinal, não se tinha aposentado, como eu ingenuamente presumira.
Ele que tinha, desde 27-9-79, a categoria de Assessor da letra B, equivalente à do Director-Geral, aceitara cargo de Chefe de Serviços Gerais, isto é, Chefe das Oficinas de Serralharia, Carpintaria, etc., que exerceria a partir de Lisboa, onde residia!!!
Constou que tentaram atribuir-lhe o pelouro da Documentação, não obstante ser bem conhecida a sua acção negativa neste sector, pois foi durante o seu mandato que deixaram de se receber muitas Revistas essenciais à permanente actualização dos técnicos do SFM.
Nesta primeira aparição, Daniel não teve a elementar atitude de se apresentar ao numeroso pessoal que exercia funções, com base nas instalações de S. Mamede de Infesta, para dar a conhecer as suas ideias sobre o modo como iria desempenhar o importante cargo em que fora investido.
Ignorou, deliberadamente, a minha existência, ausentando-se sem passar pelo meu gabinete.
Foi em 11 de Outubro, isto é, mais de um mês após o encontro de Lisboa, que se dispôs a ter comigo a reunião que havia sido combinada.
Mas não manifestava grande empenho em iniciá-la.
Informado da sua presença nas instalações de S. Mamede de Infesta e admirado por não me convocar, perguntei à telefonista D. Flávia se o tinha visto. Fiquei a saber que conversava com vários funcionários., no átrio, à entrada do edifício.
Indo ao seu encontro, vi-o exuberante, dissertando sobre temas vários, perante um grupo constituído pelo Ex-Director do SFM, Múrias de Queiroz, pelo Geólogo Dr. Orlando Gaspar, pelo Arquitecto Linhares de Oliveira, pelo Engenheiro Rui Reynaud, que com ele viera de Lisboa e pelo Engenheiro Bento recentemente admitido para se encarregar das viaturas.
Causou-me surpresa a presença de Múrias de Queiroz, que julgava também já aposentado, pois tinha visto em Diário da República, a sua nomeação para Inspector Superior de Organismo que já tinha sido extinto (Ver post n.º 127), e depois, em 23-3-80 a promoção à categoria de Assessor da letra B.
Tinha interpretado estas curiosas nomeações como procedimento para o afastar de um Organismo em cuja direcção não tinha sido feliz (para dizer o menos), sem lhe causar prejuízo na remuneração e beneficiando-o até.
Soube, mais tarde, que aceitara encarregar-se da Documentação, apesar de ser bem conhecido o seu carácter desorganizado.
Múrias de Queiroz, quando Director do SFM, muito prejudicara este departamento, ao fazer regressar à sua sede, em Lisboa, o diligente Agente Técnico de Engenharia Fernando Macieira, que fora o seu organizador.
Desde que Fernando Macieira deixou o SFM, não mais se publicou o relatório anual do SFM, que era um importante documento de consulta, sobretudo por entidades privadas. Era Macieira quem se encarregava de compilar os relatórios de todos os departamentos, e elaborar depois o relatório anual do SFM, que o Director subscrevia.
Demonstrando inconsciência das responsabilidades que assumia ao aceitar o cargo de dirigente de Organismo em situação caótica, onde a indisciplina se tornou regra, não se mostrava interessado no combate às causas dessa situação, alegando que, nela não tinha responsabilidades.
Fez a revelação de que iria trabalhar por projectos que entregaria a “responsáveis”, ficando ele “de fora!”.
Só teria de apreciar os projectos e controlar!
E acrescentou: “Não vim aqui para trabalhar. Isso compete aos mais novos!”!
Eu e Gaspar observamos que o difícil era encontrar no SFM “responsáveis” com competência, sabido como se tinha desprezado, nos últimos tempos, a experiência dos técnicos mais competentes, ao retirar-lhes a chefia de projectos e se não tinha estimulado a formação científica de novos técnicos.
Em tom ameaçador, declara ter carta branca de Alcides para agir com dureza, perante os que não entrarem no esquema.
Dirigindo-se a Bento, pergunta o que faria se tivesse um parafuso a estragar o movimento da caixa de velocidades. Tirava o parafuso, não era?!
Referiu-se, então, ao corte de um braço, com machado, se esse braço perturbasse!
Daqui a alcunha do “corta braços” com que logo foi baptizado
Bento, falava de viaturas e Daniel corrige, informando que o Fomento não tem viaturas. Estas pertencem agora ao Serviço de Apoio. Será este novo Serviço a distribuí-las, quando solicitadas! E Bento, que delas estava encarregado, ainda não sabia!
O grupo desintegra-se acabando por ficar reduzido a Daniel, Dr. Gaspar e eu.
Dr. Gaspar, que fora seu colega na Universidade e não estava na sua dependência, aconselha-lhe prudência nas suas atitudes, pois nota já haver muita gente assustada.
Pergunta se vai ser mais um engenheiro de papel selado.
Daniel responde que não, que é técnico e, como tal, se irá comportar.
Chama-lhe a atenção para as responsabilidades dos Engenheiros que, com a minha excepção, não trabalharam; só davam ordens, ocupando as posições de chefia.
Dr. Gaspar que é técnico laboratorial, especializado em microscopia de minérios, faz-lhe ver a necessidade de reintegrar os Laboratórios no Fomento e de combater a sua actual ineficácia, uma vez que praticamente não produzem análises.
Daniel, em atitude fanfarrona, diz que vai mesmo obter análises, mas não parece preocupado com a falta de credibilidade para que Dr. Gaspar e eu lhe chamamos a atenção...
Na sua desconexa divagação, refere sondagens projectadas, cuja finalidade lhe pareceu mal justificada e muitas sondas paradas em Vila Franca de Xira, por falta de projectos.
Comentando a situação que encontrou no Sul, Daniel diz que pôs o problema da chefia aos 3 engenheiros. (Alvoeiro, Bengala e Nolasco) e todos recusaram.
Então, na impossibilidade de ser Goinhas a dirigi-los, encarou nomear um contínuo para os chefiar!!
Ainda que proferida em tom chocarreiro, era desprestigiante tal expressão!
Fiquei, assim, a saber que não estava nos seus propósitos imediatos fazer regressar esta Brigada à normalidade, que tinha sido destruída com a minha demissão da sua chefia, provocada pelo infame documento, de que lhe tinha dado conhecimento.
Gaspar revela-lhe que esses Engenheiros estavam habituados a que eu, Rocha Gomes, lhes resolvesse os problemas, salientando que eu tinha a Brigada organizada e eles, apesar da sua mediocridade, ainda tiveram o bom senso de manter a estrutura que herdaram.
Quando se decide a ter a projectada reunião comigo, dirigimo-nos para um pequeno gabinete, que era anteriormente ocupado pelo Chefe do MOVIC, o qual o Director do Laboratório, Santos Oliveira, lhe cede para seu uso.
Santos Oliveira não tivera a deferência de convidar Daniel a usar o salão que originalmente tinha sido instituído para as reuniões do SFM.
Continua no próximo post
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
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