domingo, 4 de dezembro de 2011

189 - Um novo Plano Mineiro Nacional. Continuação 13

Continuo a comentar documento, com o qual José Goinhas pretendeu contribuir para a elaboração de um novo Plano Mineiro Nacional, destinado a "aumentar a eficácia da nossa indústria mineira, que apresentava preocupante decadência".
Esperava-se que, neste documento, intitulado Prospecção Mineira em Portugal. Áreas potenciais de aplicação de projectos”, tivesse sido feita análise criteriosa da história da indústria mineira nacional, sobretudo desde que o Estado assumiu, em 1939, papel preponderante no inventário e no racional aproveitamento dos nossos recursos minerais.
Esperava-se, também, que Goinhas tivesse extraído ensinamentos, para que a sua contribuição resultasse útil.
Terá, porém, grande desilusão quem verdadeiramente interessado em conhecer a história da prospecção mineira em Portugal, se disponha a consultar este documento.
Já denunciei, nos 10 posts anteriores, muitos dos clamorosos erros de que enferma, não obstante quase só me ter concentrado em temas em que estive directamente envolvido, no desempenho das minhas funções no SFM.
Continuando na minha apreciação, vou denunciar mais algumas graves deficiências.

Goinhas ocupa 45 páginas, isto é, 50% do documento, com mapas e quadros onde repete dados pouco relevantes, reservando limitadíssimo espaço para a informação sobre resultados de estudos, quer do SFM, quer das empresas privadas.
Além disso, esta reduzida informação nem crédito merece, como revelei no post anterior. É expressivo exemplo o facto de estudos bem sucedidos, conduzidos sob a minha supervisão, ou não serem referidos ou serem mencionados de modo muito impreciso.
Mapas plurianuais, com criteriosa selecção da informação útil, cobrindo todo o quinquénio, em vez de mapas anuais, teriam sido muito mais elucidativos.
Os dados contidos nos quadros teriam sido, vantajosamente substituídos por descrições, no texto, concretas e objectivas, embora sucintas, relativamente a cada uma das áreas, onde incidiram estudos, quer do SFM, quer das empresas.
Para se ajuizar da qualidade da informação prestada, pretensamente representativa da prospecção mineira em Portugal, bastará referir, por exemplo, que mencionou, como actividade digna de realce, a abertura de roços para colheita de amostras, em filão aurífero ocorrente na Mina de Latadas (Mirandela) e em aluviões de Arganil.
Para o ridículo ser completo, só ficou faltando que citasse quantos roços foram abertos, qual a sua profundidade e largura, quais os equipamentos utilizados e informasse se a amostragem tinha sido feita por pessoal especializado, para não se incorrer no erro denunciado pelo Geólogo Farinha Ramos, em artigo publicado em Revista da Universidade de Coimbra, a propósito do “denominado” jazigo de Cravezes, em Mogadouro (Ver post N.º 56).
Não referiu resultados de análises e sua implicação na explorabilidade dos jazigos, mas considerou essencial informar que o Laboratório ainda não tinha emitido os respectivos boletins.
Inacreditável é que, tendo estes roços merecido honras de referência, nada tenha sido mencionado sobre mais de cem mil amostras de sedimentos de linhas de água, colhidas, por vezes, em difíceis circunstâncias, na Faixa Metalífera da Beira Litoral (Ver post N.º 29), nem sobre as análises geoquímicas expeditas, efectuadas no Laboratório do SFM instalado em Beja.
Goinhas também ignorou “deliberadamente”, pois foi assunto muito badalado, o criminoso acto do Geólogo Santos Oliveira, quando ocupou o cargo de Director do Laboratório do SFM em S. Mamede de Infesta, ao mandar destruir estas valiosas amostras (muitos milhares de contos, na moeda da época), que tinham sido arquivadas para serem objecto de futuras análises, mais completas, quando o Laboratório de S. Mamede de Infesta passasse a ter rendimento compatível com a suas reais possibilidades.
É digno de registo que tão indigno acto, a adicionar a outros pouco edificantes, não impediu promoção de Santos Oliveira à categoria de Investigador Coordenador!!

Da descrição das actividades no quinquénio deveria, obviamente, constar esclarecimento justificativo do seu generalizado insucesso, em contraste com que acontecera anteriormente, no SFM e nas empresas que conseguiram apropriar-se de áreas valorizadas pelo SFM.
Excluem-se, obviamente, os continuados sucessos, em Neves-Corvo, resultantes de estudos do SFM, anteriores ao quinquénio.

Retomando as fases da prospecção mineira, registo que, da escassa informação contida nos excessivos quadros, e de factos que tive oportunidade de observar directamente, não deduzo que tenha sido respeitado o velho princípio de “aplicar sempre, em primeiro lugar, a técnica menos dispendiosa”.
Não vejo alusões a pequenos trabalhos mineiros, sobretudo sanjas, para investigação de anomalias geofísicas e geoquímicas, interpretáveis como tendo origem superficial.
Noto que, em geral, terá sido dispensada esta fase de simples execução e se terá passado de imediato, à investigação por sondagens, muito mais onerosas e até menos informativas.
E o que aconteceu, nesta fase das sondagens, foi verdadeiramente escandaloso e até criminoso.
No próximo post citarei casos comprovativos desta afirmação.

Continua …

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