sábado, 29 de novembro de 2008

29 - As reuniões do Director do SFM com os Chefes de Serviços e com o Chefe do Movic -1.ª parte

Num período inicial do exercício das suas funções, o novo Director do SFM, tomou a decisão de promover reuniões com os Chefes dos Serviços instituídos pela nova Orgânica e com o Chefe do Movic.

Esta decisão fez nascer em mim a esperança na dinamização de que o SFM estava necessitado, até porque o Director também manifestara, em reunião com o pessoal mais categorizado que teve lugar na Sala das Sessões, essa mesma esperança, baseado na minha experiência no Sul, cujas provas estavam nos sucessos conseguidos na Faixa Piritosa do Alentejo com a descoberta do jazigo de Carrasco – Moinho, nos jazigos ferro-manganíferos da Região de Cercal – Odemira, nas Minas de zinco da região de Moura, na Mina de cobre de Aparis, e em muitos outros locais.

Embora tivesse manifestado, em documento que entreguei ao Director como resposta ao seu pedido, total discordância relativamente à Orgânica que ele se propunha pôr em vigor, pelos motivos que expus, acolhi com algum entusiasmo a ideia destas reuniões, através das quais pensava que poderiam, sem desrespeito pela Orgânica, ser tomadas as medidas adequadas à concretização dos reais objectivos do SFM.

Nestas reuniões, entre outras matérias, eram analisados os projectos de trabalhos e os meios para os concretizar.

Pelo que ao Serviço de Prospecção Mineira, a meu cargo, dizia respeito, comecei por salientar a dificuldade com que deparava na consulta à documentação sobre minas ou ocorrências minerais já conhecidas na região a Norte do Rio Tejo.

No que respeitava ao Sul do País, o problema estava já a ser resolvido, com a preparação de mapas a escalas apropriadas para fácil consulta. Quanto a minas ou ocorrências minerais, há muito que existiam em arquivo os documentos necessários até porque as minas, nessa zona do País, são muito menos numerosas.

Considerando a importância do sector da Documentação, que também me estava confiado, chamei vigorosamente a atenção do Director para lhe ser dada a devida atenção.

Já havia um princípio de organização neste sector, por iniciativa de um competente Agente Técnico de Engenharia.
Era ele, com a colaboração de algum pessoal administrativo, que se encarregava, não só do arquivo das publicações que davam entrada no SFM, por aquisição ou permuta, mas também da edição dos volumes da Revista “Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro”.

Lamentavelmente, não pude contar com a sua preciosa colaboração, pois este Agente Técnico regressou ao Quadro da Direcção-Geral de Minas em Lisboa, ao qual pertencia, tendo estado destacado no SFM desde a sua criação.

Era ele quem se encarregava da elaboração do Relatório Anual do SFM, com base nos relatórios dos diversos departamentos do SFM. Este relatório figurava num dos volumes da Revista, a que aludi, e era fundamental para dar a conhecer ao País a actividade deste Organismo do Estado.

Na reunião que teve lugar em 4 de Agosto de 1964, apresentei a sugestão de se criar um departamento de real eficiência, a cargo do qual ficariam, não apenas livros e revistas, mas tudo quanto pudesse constituir elemento valioso de consulta, para os estudos do Serviço.

Assim, relatórios internos ou de outras entidades – publicados ou não – documentos de prospecções, amostras de minérios e rochas, lâminas delgadas, superfícies polidas, diagramas, boletins de análises, testemunhos de sondagens, etc. deveriam ser ordenados e catalogados pela “Documentação”, de forma a rapidamente se tornarem acessíveis.
Foi, nessa data que apresentei o modelo de ficha a que me referi no post anterior.

Isto que acabo de escrever consta da página 1 do meu relatório de Agosto de 1964 e ficou também gravado em fita magnética de um gravador que funcionava durante estas reuniões (receio que tanto o relatório como a fita magnética tenham desaparecido).

Esta sugestão não foi tida em consideração e aconteceu que, em 24 de Outubro de 1964, o Director decidiu desligar do 1.º Serviço o sector de Documentação, assumindo-o a seu cargo.

No que respeita a publicações recebidas e editadas pelo SFM, este departamento desempenhou muito satisfatoriamente a sua missão, apesar das instalações desadequadas que lhe foram destinadas, graças à dedicação de funcionários zelosos que do sector ficaram encarregados. Sendo eu o maior cliente deste departamento, sempre encontrei a maior solicitude em dar satisfação aos meus pedidos.

A recusa da minha proposta de criação de um amplo sector de Documentação e a colocação do sector existente a cargo do Director teve várias consequências.

A primeira foi ter deixado de se publicar o relatório anual da actividade do SFM, ficando assim a indústria mineira nacional privada de importante informação que poderia suscitar investimentos em áreas cuja potencialidade ia sendo revelada.

Outra consequência foi a perda de relatórios técnicos que eram retirados, com facilidade, dos arquivos e não eram lá repostos. Posso citar o caso de um relatório de minha autoria que um representante de Empresa privada pretendia consultar e que o Director não conseguiu encontrar. Na minha ausência, foi ao meu gabinete, e lá conseguiu encontrar a cópia que, de direito, me pertencia como seu autor.
Para evitar que casos destes se repetissem, as pastas do meu arquivo deixaram de ter indicação do que lá se continha, confiando eu na minha memória para as consultar, tendo obviamente um esquema organizativo.
Correram rumores de que alguns dos relatórios desviados foram objecto de negociações ilícitas.

Outra das consequências foi a perda de mais de uma centena de milhar de amostras de sedimentos de linhas de água e de solos que haviam sido colhidas, durante dezenas de anos, na Faixa metalífera da Beira Litoral, que um dirigente do Laboratório decidiu destruir, ignorando o seu valor. A maior parte destas amostras, cujo valor ascendia a muitos milhares de contos (na moeda antiga) tinha sido analisada no Laboratório de Beja, apenas para metais pesados (sobretudo zinco), a frio, por incapacidade de outras análises poderem ser efectuadas, quando foram colhidas.
Aguardava-se a oportunidade de as fazer analisar para outros elementos, pelos novos métodos rápidos e eficazes que, entretanto, foram desenvolvidos (absorção atómica, raios X, espectrografia de emissão, etc.).

E, no que respeita a testemunhos de sondagens a situação assumiu aspectos de extrema gravidade a que me referirei, em devido tempo.

…continua …

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