Dos três
casos que seleccionei, como emblemáticos do “poder, em oposição ao saber”, abusivamente utilizado por
dirigentes da DGMSG, os descritos em posts anteriores, respeitantes à Faixa
Carbonífera do Douro e à Faixa Metalífera da Beira Litoral, tiveram
muito funestas consequências.
Centenas de mineiros
perderam os seus empregos!
O terceiro
caso, que vou descrever, respeitante à Faixa Piritosa Alentejana, não teve
efeitos de tal natureza.
Pelo
contrário, mais de mil postos de trabalho foram criados, em resultado
dos trabalhos de prospecção mineira realizados nesta Faixa!
Embora me
regozije com êxitos, que tiveram a sua origem na actuação do Serviço de Fomento
Mineiro (SFM), não posso deixar de lamentar o total desprezo que o
Director-Geral de Minas Soares Carneiro e os Directores do SFM, Guimarães dos
Santos e Múrias de Queiroz, demonstraram pelas minhas recomendações, no
sentido de serem confiados a técnicos portugueses os estudos para à completa
concretização desses êxitos.
Era minha
opinião que aos técnicos portugueses competia a obrigação de adquirir
progressivamente capacidade para atingir os objectivos do SFM, de modo a só se
tornar necessária a intervenção de especialistas estrangeiros, a título excepcional.
Esta
intervenção deveria, no entanto, ser orientada exclusivamente para formação
mais especializada de pessoal português.
É oportuno
lembrar, uma vez mais, passagem do capítulo “Considerações finais” do
relatório de minha autoria, “Prospecção de pirites no Baixo Alentejo”: publicado,
em 1955, na Revista “Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro”:
“Todos
os estudos a que nos vimos referindo podem e devem, em nosso entender, estar a
cargo de técnicos portugueses que hajam, para o efeito, adquirido a necessária
especialização, conforme prevê o Decreto-lei de criação do Serviço.
Só aceitamos
a intervenção de técnicos de outras nacionalidades, como consultores ou em
execução de campanhas de curta duração, principalmente com o propósito de
proporcionar instrução a pessoal português.
A favor
deste modo de proceder falam, não só a economia como o próprio interesse no
assunto, que não poderá esperar-se de outros superior ao dos nacionais”.
Estas
“Considerações finais”, impuseram-se pela óbvia necessidade de retomar os
estudos na Faixa Piritosa, os quais, Guimarães dos Santos, muito levianamente,
mandara terminar, em 1949, quando nem sequer estava concluída a campanha pelo
método electromagnético Turam, lançada em 1944, por iniciativa do anterior
Director, o malogrado Engenheiro António Bernardo Ferreira!!! (Ver post
N.º 35)
A realidade,
para a qual, persistentemente, chamei a atenção, quer em relatórios, quer em
informações orais, era de que o estudo da Faixa Piritosa Alentejana
estava ainda numa fase muito incipiente, quando foi extinta a Brigada
de Prospecção Eléctrica.
Desde 1951,
eu inseria, sistematicamente, nos Planos de Trabalho da Brigada do Sul, a
aplicação de variadas técnicas, na Faixa Piritosa, com realce para o método
gravimétrico (Ver post
N.º 10).
Guimarães
dos Santos, que tinha sido destacado da sede da DGMSG em Lisboa, já com
avançada idade, nunca deixou de se comportar, no SFM, como “técnico de papel
selado”.
Durante o
mandato de Bernardo Ferreira, sentava-se à secretária, ao lado dele, e dali
dirigia a Brigada do Norte, cuja chefia lhe tinha sido atribuída
As suas
visitas aos trabalhos, no campo, tinham características de turismo rural, não
evidenciando preparação para aplicar os métodos científicos, que os objectivos
do SFM tornavam essenciais.
Além de
incompetente do ponto de vista profissional, Guimarães dos Santos tinha uma
cultura geral confrangedoramente medíocre, que originava frequentes situações
embaraçosas.
Lembro-me,
por exemplo, de uma reunião marcada em 1948, a realizar,
em Lisboa, para a qual viera propositadamente da Suécia o Director da ABEM,
Helmer Hedstrom.
Esta
reunião tinha sido por mim sugerida, a Bernardo Ferreira, para que a ABEM,
volvidos 4 anos de presença na Faixa Piritosa Alentejana, apresentasse a sua
interpretação das numerosas anomalias registadas pela aplicação do método
electromagnético Turam, a fim de poder avaliar os reais méritos do método.
Esperava-se
relatório com projecto de sondagens, ou outros trabalhos, que revelassem novas
concentrações de pirite, pois esse era o objectivo pretendido com a aplicação
da técnica, que era patente da ABEM.
Guimarães
compareceu, na qualidade de Adjunto do Director, por súbito impedimento de Bernardo
Ferreira.
Tentou
explicar a sua presença, mas embaraçou-se de tal modo, que tive que acorrer em
seu auxílio, pois nem tivera o cuidado de se preparar para a reunião nem
conseguia expressar-se em inglês.
Apercebendo-se
desta circunstância, que tornaria ineficaz a reunião, Hedstrom propõe que nos
desloquemos ao Porto, para que Bernardo Ferreira lá pudesse expor as suas
pretensões, já que era bem conhecido o seu domínio de várias línguas.
Uma vez mais
tive que auxiliar Guimarães, pois não tinha percebido a sugestão de Hedstrom.
Concordou,
de imediato, como era de esperar, e a reunião realizou-se, de facto, no SFM do
Porto.
Quando, por
falecimento de Bernardo Ferreira, Guimarães dos Santos foi designado para
assumir a direcção de SFM, o seu mandato começou da pior maneira, pelo que
dizia respeito aos estudos no Sul do País.
Onde,
anteriormente, havia a Brigada do Sul, na qual se concentravam todos os estudo
do SFM, em curso no Sul do País, os quais incluíam não apenas os das Secções
(Montemor-o-Novo, Alvito, Moura, Cercal do Alentejo e Odemira), mas também os
das Brigadas de Levantamentos Litológicos e de Prospecção Eléctrica, Guimarães
dos Santos dispersou esses estudos por 3 Brigadas distintas, que colocou na
sua directa dependência:
A Brigada
do Sul, cuja chefia me tinha sido confiada por Bernardo Ferreira;
A Brigada
de Levantamentos Litológicos, sob a chefia do Geólogo João Martins da Silva;
A Brigada
de Prospecção Geofísica, sob a chefia do Engenheiro Orlando Martins Cardoso.
Usou o
conhecido método de dirigente inseguro:
“Dividir
para governar”
Devo
esclarecer que, quando chefiei a Brigada de Prospecção Eléctrica, a minha
dependência hierárquica do Chefe da Brigada do Sul só me foi benéfica, e eu
sempre estive grato pelo amistoso apoio que me foi proporcionado por esse
Chefe, o Eng.º Abilino Vicente.
Sei que o
mesmo acontecia com a Brigada de Levantamentos Litológicos, pois o clima que
dominava, então, no Sul, era de verdadeira fraternidade.
Este
saudável clima era coerente com o ambiente, que o Director Bernardo Ferreira
gerava à sua volta.
Bernardo
Ferreira visitava, com frequência os trabalhos que decorriam no Sul e era
sempre com agrado que o recebíamos, sobretudo porque ele sabia reconhecer o
mérito das nossas actividades, estimulando-nos a prosseguir no rumo certo.
Mas não foi
só no Sul que o mandato de Guimarães dos Santos começou mal.
No Norte,
escolheu para seus directos colaboradores, três dos menos produtivos
Engenheiros do SFM: Múrias de Queiroz, Orlando Cardoso e António Neto.
Achei isso
muito estranho, pois era seu costume dizer que alguns funcionários tinham de
ser incitados a melhorar a sua produtividade, enquanto outros havia que tinham
de ser travados nos seus impulsos!!
Não lhe
ocorreu incitar esses seus colaboradores a melhorarem a produtividade, talvez
porque se sentisse bem, entre eles.
Confirmava-se
o velho provérbio “Símiles
cum similibus facile congregantur”
Eu estaria,
obviamente, classificado entre os que deveriam ser travados nos seus
“devaneios”.
De facto,
outra das suas estranhas afirmações era de que não deveríamos ter a pretensão
de tudo descobrir! Deveríamos deixar algo para os vindouros!!!!
Talvez, com
estas dissertações, pretendesse justificar o seu pouco interesse pelas minhas
recomendações, … não viesse a acontecer eu tudo descobrir e nada deixar aos
vindouros!!!
Era
obsessiva a sua preocupação em extinguir núcleos de actividade dispersos pelo
território continental, que tinham sido instituídos por Bernardo Ferreira, sem
curar de se informar se os estudos que os tinham justificado estavam, de facto,
concluídos.
No seu
entendimento, os trabalhos no campo, deveriam ter curta duração.
Suspeitava
que o prolongamento no tempo reflectiria o propósito de os funcionários
envolvidos nesses trabalhos manterem as magras vantagens da deslocação da sua
residência oficial.
Foi assim
que ordenou o fim do levantamento pelo método electromagnético Turam, a cargo
da ABEM, na Faixa Piritosa Alentejana, a que já fiz referência.
Foi também
assim que ordenou o termo dos estudos que eu dirigia na Região de Cercal –
Odemira.
Foi muito
difícil obter a sua condescendência para deixar concluir o levantamento
geológico desta Região, que já se encontrava na fase final.
Este
levantamento adquiria enorme importância, pois definia um ambiente idêntico ao
da Faixa Piritosa, sendo portanto previsível a existência de massas de pirite
cuprífera, nesta Região de Cercal - Odemira.
Mas isso não
impressionava Guimarães, talvez por não acreditar na hipótese que eu formulava,
ou não a achar relevante.
Em prazo
record, apresentei extenso relatório sobre os estudos empreendidos na Região de
Cercal – Odemira, que me estava a ser exigido, com carácter de urgência,
prevendo eu que se destinava a publicação, como era normal acontecer a
documentos desta natureza.
Porém, o
relatório foi mantido oculto, só acessível ao principal concessionário local (Ver Post
N.º3).
Continua …
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