segunda-feira, 30 de setembro de 2013

223 – Reflexões sobre os recursos minerais de Portugal. Continuação 14.

Tenho vindo a analisar, desde o post N.º 217, o terceiro caso, que seleccionei, dentre os mais emblemáticos de “uso de poder em oposição ao saber”, praticado por altos dirigentes da Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos (DGMSG).

Este caso diz respeito à Faixa Piritosa Alentejana.

Depois de ter, finalmente (!), conseguido introduzir a gravimetria, nas competências técnicas do Serviço de Fomento Mineiro (SFM), acreditei que nova era poderia ter início, no aproveitamento dos nossos recursos minerais.
         
Todavia, quando o rumo começava a ficar racionalmente definido, surgiu, “não em manhã de nevoeiro”, mas em “dia aziago”, a decepcionante novidade da ascensão do “indesejado” Múrias de Queiroz, ao cargo de Director do SFM.
Acontecia, assim, mais um caso de indecoroso aproveitamento de uma boa ideia, para satisfação de mesquinhos interesses pessoais.
       
Múrias, que durante os seus quase 20 anos de presença no SFM, nada de útil fizera, no âmbito da investigação mineira, quis demonstrar a sua capacidade inovadora, ao conceber o que designou por Orgânica do SFM.
A característica mais saliente deste ridículo documento era a adição de Serviços e Divisões, às Brigadas e às Secções tradicionais. (Ver post N.º 26).
A mim, atribuiu o 1.º Serviço, denominado de Prospecção Mineira, com Divisões de Documentação, Desenho, Topografia, Geologia, Prospecção Geofísica, Prospecção Geoquímica.
Neste Serviço, instituiu duas novas Brigadas, derivadas da redistribuição das tarefas que estavam a cargo das Brigadas já existentes:
        a 1.ª Brigada de Prospecção, sediada em Beja, com  Secções em Évora, Vila Viçosa e Ferreira do Alentejo;
        a 2.ª Brigada de Prospecção, sediada  em S. Mamede de Infesta, com as Secções a criar no Norte e no Centro do País.
       
Nas instalações de S. Mamede de Infesta, que tinham sido recentemente inauguradas, reservou, para meu trabalho de gabinete, exíguo cubículo, intercalado entre o seu amplo salão e a Secretaria, “para controlar os meus impulsos”, segundo fez constar.
Explicou-me, porém, que pretendia manter-me próximo, para eu facilmente o auxiliar (Ver post N.º 28)

Num simulacro de atitude democrática, submeteu a “Orgânica”, à apreciação dos técnicos mais qualificados.
Conforme referi, no post anterior, tentei fazer-lhe perceber os inconvenientes de uma estrutura excessivamente compartimentada.
Não teve, porém, na mínima consideração os meus conselhos, baseados em experiência que ele não tinha.
       
Nem se apercebeu, também, de que o comportamento que decidiu adoptar, em relação a mim, se não coadunava com a estratégia de Soares Carneiro.

De facto, Soares Carneiro, pretendia demonstrar ao Secretário de Estado e ao Ministro da tutela, que as ideias expressas no artigoA riqueza da Indústria extractiva metropolitana”, que o guindara a Director-Geral, tinham plena confirmação em êxitos do SFM.

Ignorando Múrias de Queiroz, não teve a mesma preocupação em “dominar os meus impulsos”.
Pelo contrário, demonstrou ter plena consciência de ser ele um dos principais beneficiários dos sucessos que eu viesse a alcançar.
Foi, pois, com o seu franco apoio inicial, que se conseguiram êxitos, muito prestigiantes para o SFM, até a nível internacional.

Apercebendo-se da vastidão e qualidade da obra realizada pela BSFM, que, na sua quase totalidade, permanecia escondida da comunidade mineira, por Guimarães dos Santos ter decidido não publicar os desenvolvidos relatórios que eu regularmente apresentava (Ver post N.º 3), decidiu impressionar o Secretário de Estado, Eng.º Amaro da Costa, convidando-o a visitar as Minas do Sul do País, que se encontravam em franca laboração, mercê de estudos nelas efectuados pela BSFM.
Amaro da Costa ficou verdadeiramente surpreendido, sobretudo pelo silêncio ocorrido relativamente a êxitos de tal dimensão, invulgares em serviços públicos (Ver post N.º 47).
O sucesso destas visitas chegou a causar alguma preocupação a Soares Carneiro, devido ao seu natural apagamento, perante as minhas exposições ao Secretário de Estado e à comitiva, da qual constavam repórteres de vários jornais e até da Televisão.
Houve um jornal que, referindo-se a mim, me designou de Director-Geral e Soares Carneiro não gostou!
       
Relativamente à Orgânica de Múrias, apliquei apenas o que não inviabilizaria o cumprimento dos projectos de prospecção mineira.
Não criei Divisão alguma das que a Orgânica me atribuía. Acumulei com a chefia do 1.º Serviço, as chefias da 1.ª e da 2.ª Brigadas de Prospecção. Acumulei, ainda, as chefias de Secções que criei no Centro e no Norte do País.
Com esta simplificação, o 1.º Serviço ficou reduzido a duas Brigadas com as suas Secções, isto é, ficou com uma estrutura próxima da que sempre defendi.
Com mágoa minha, ficaram faltando, ao 1.º Serviço, os Trabalhos Mineiros, para que todas as fases da Prospecção Mineira, considerada no seu sentido mais lato, se incluíssem, no seu âmbito, como seria lógico.

Na organização da 1.ª Brigada de Prospecção, em que muito me empenhei, foi gratificante constatar a aceitação e, nalguns casos, até demonstração de brio profissional, com que funcionários contratados (técnicos ou não) e pessoal assalariado, pouco habituado a rigor na sua actividade, se adaptaram a tarefas exigentes, após terem sido esclarecidos, quanto à real importância da sua participação nos estudos projectados.
       
Esta 1.ª Brigada estaria destinada a constituir o embrião de um SFM renovado.

Nela, as técnicas geofísicas tiveram papel preponderante e, dentre estas, a gravimetria revelou-se a mais eficiente, a tal ponto que se tornou indispensável adquirir um segundo aparelho.
Notável a pronta concordância superior, lembrando-me eu dos 10 anos decorridos até os dirigentes se convencerem da utilidade da compra do primeiro gravímetro (Ver post N.º 14).

Não era apenas a Faixa Piritosa Sul Alentejana a justificar a aplicação da técnica gravimétrica.
A Faixa Magnetítica e Zincífera e a Área Norte-Alentejana, revelavam potencialidades também dignas de investigação por esta poderosa técnica, sobretudo para confirmação de resultados de outros métodos menos onerosos.

Foi assim que se obtiveram notáveis êxitos, em Algares de Portel, Vale de Pães (Cuba – Vidigueira), Alagada (Elvas) (ver posts N.ºs 44, 45 e 46).

Na Faixa Piritosa, as zonas mais favoráveis embora incluídas em áreas declaradas cativas para os estudos do SFM, tinham sido adjudicadas aos principais concessionários locais, devido ao atraso do SFM no cumprimento aos seus projectos e ao facto as Empresas privadas terem apresentado propostas de investigação para essas zonas, que foram superiormente consideradas vantajosas para o País.

Logo que os contratos caducaram, a 1.º Brigada de Prospecção, já então habilitada a dar cabal cumprimentos aos seus projectos, com destaque para a aplicação do método  gravimétrico, passou a ocupar-se intensivamente destas áreas.
E os resultados não se fizeram esperar.
Definiu-se, pela primeira vez, em toda a sua amplitude, a anomalia que era a expressiva assinatura da massa mineralizada do Carrasco – Moinho, anteriormente descoberta pelo método electromagnético Turam.
Definiu-se, de modo igualmente expressivo, a anomalia dos Feitais, que a “Lea Cross,” revelara, apresentando-a em perfis transversais.
       
Definiram-se, ainda novas anomalias, correspondentes às massa da Estação e do Gavião (Ver posts N.ºs 35 e 36)


        Continua…

Sem comentários: