segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

56 A - Divagações suscitadas por uma amostra de minério de tungsténio - 4.º parte -



XXIX - O meu parecer sobre a actividade de Union Carbide (UC)

Em 22-6-1979, Union Carbide requereu a prorrogação do seu contrato de prospecção mineira, com o Estado Português.

Deste requerimento foi-me enviada cópia com carimbos de entrada em vários departamentos da DGM, e com os seguintes despachos:

    a) SFM para se pronunciar sobre o mérito do seu trabalho, em relação aos contratos 12-7-79 (a) F. Soares Carneiro, na qualidade de Director-Geral de Minas
     b) Envie-se fotocópia ao Eng.º Rocha Gomes, para a Amieira, para cumprimento do despacho do DG 20-7-79 (a) Jorge Gouveia, na qualidade de novo Director do SFM.

Dando cumprimento a este último despacho, entreguei, em 28-8-1979, o meu parecer, francamente favorável à continuação da actividade de UC, pois acompanhava sistematicamente os seus trabalhos e até colaborava na respectiva execução.

Este parecer constou de documento de 68 páginas dactilografadas e uma peça desenhada.
No longo texto, manifestei estranheza, por me ser pedido que me pronunciasse acerca do mérito de uma actividade que decorrera nos termos de um contrato celebrado, sem me ter sido dado conhecimento, respeitante à zona que era objecto dos meus estudos.

Foi apenas através dos meus contactos com UC que tomei conhecimento de documentação, que a Direcção da DGM se “esquecera” de me enviar.

Perante a persistente obstrução dos dirigentes da DGGM à realização de trabalho útil, aproveitei a oportunidade para repetir sugestões feitas, em vários outros documentos, no sentido de serem tomadas providências para se atingirem os objectivos de fomento da indústria mineira nacional, consignados no Decreto-lei N.º 29 725 de 28 de Junho de 1939.

Um Instituto de Investigação dos Recursos Minerais de Portugal, independente da actual DGGM, seria a solução racional.
Tal Instituto teria, obviamente, de ficar sob a orientação de dirigentes aptos a bem desempenharem a sua nobre missão.
Impunha-se também sindicância à DGGM, para responsabilização dos autores dos gravíssimos prejuízos para a economia nacional.

Não obtive qualquer reacção ao meu Parecer, de que conservo cópia. Provavelmente terá sido destruído.
Fiel ao princípio de que “quem teima, vence” ou de que “água mole em pedra dura, tanto dá até que fura”, continuei a insistir e alguns resultados acabaram por aparecer.

Já tinha chegado a vez de Múrias de Queiroz sair de cena. Estava para breve a vez de Soares Carneiro.


XXX - A documentação técnica entregue pela Union Carbide, quando rescindiu os seus contratos de prospecção mineira,


Quando tive conhecimento da decisão da Union Carbide (UC) rescindir os seus contratos de prospecção mineira com o Estado Português e com empresas concessionárias, apressei-me a convidar os dirigentes da equipa local de UC a proceder à entrega dos documentos técnicos, que sabia terem sido elaborados, mas que não tinham dado entrada na DGGM, como seria normal, em cumprimento da Lei de Minas e das cláusulas contratuais.
Solicitei também a entrega dos testemunhos das numerosas sondagens efectuadas pela Empresa.

UC acolheu favoravelmente este convite e até se propôs promover o transporte dos testemunhos das sondagens para as instalações do SFM, em S. Mamede de Infesta.

O Geólogo Bronkorst que chefiava o projecto de UC, informou-me que formalizaria a entrega da documentação, nas instalações da DGM, em Lisboa.

Embora esperasse ser eu o natural destinatário, não ousei sugerir tal alternativa, confiante de que a documentação rapidamente me seria remetida.
Surpreendentemente, não foi isto que aconteceu.
Alguém iria parasitar os estudos de UC, para simular trabalho que não estava apto a produzir!


XXXI - Os testemunhos das sondagens de Union Carbide.

Em ofício que enderecei ao novo Director do SFM, Jorge Gouveia, que sucedera a Múrias de Queiroz, dei conhecimento da intenção de UC colocar os testemunhos das suas sondagens, nas instalações do SFM, em S. Mamede de Infesta, se o local de arrumação lhe fosse comunicado, até data ainda distante, que indicou.

Aconteceu que tendo-me ausentado do País, em gozo de licença graciosa, quando regressei, constatei que aquela data tinha sido ultrapassada, sem que comunicação alguma tivesse sido feita a UC e esta Companhia até já tinha terminado todas as actividades na Região.

Jorge Gouveia deu, então, ordem para que um Agente Técnico de Engenharia tomasse a seu cargo o transporte a arrumação dos testemunhos.

Isto foi feito, em numerosas viagens, usando uma pequena camionete e um jeep, durante tempo suficiente para justificar ajudas de custo a diverso pessoal, em período em que constantemente se proclamava a necessidade de reduzir despesas!
Os testemunhos foram arrumados atabalhoadamente, junto a uma parede, ao ar livre, sem cuidado em preservar as indicações da sua proveniência.
No decurso do tempo, foram-se espalhando, tornando-se quase inúteis, conforme se constatou quando se começou a organizar uma caroteca.



XXXII – Consequências nas investigações mineiras, em curso, na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, por mudanças ocorridas nas principais chefias da DGGM

Apesar da ignorância em matérias relacionadas com o aproveitamento dos nossos recursos minerais, revelada pelos Ministros da Economia ou da Indústria, dos sucessivos Governos constituídos após a Revolução de 25 de Abril de 1974, os desmandos de Soares Carneiro eram tão evidentes, que se tornou imperioso destituí-lo do cargo de Director-Geral de Minas.

Foi, por isso, publicado no Diário da República de 17 de Março de 1980, despacho ministerial exonerando-o dessas funções.

Não foram, todavia, explicadas as razões da exoneração, nem foi praticada a sindicância à DGGM que era essencial, porquanto Soares Carneiro teve seguidores da sua acção destrutiva.

Dentre esses seguidores, Jorge Gouveia, acabou por ter efémera presença na qualidade de Director do SFM, pois foi também exonerado.

Não foram, porém, felizes as nomeações para os cargos que ficaram vagos.

Alcides Rodrigues Pereira, Geólogo, sem currículo técnico, mas conhecedor da burocracia no ambiente ministerial, por ter sido Assessor de um Ministro, foi ocupar o cargo de Director-Geral. Um desastre, que era facilmente previsível.

O Engenheiro Fernando da Silva Daniel, que vinha da indústria privada, com fama de ter realizado bom trabalho nas Minas de Aljustrel, veio ocupar o cargo de dirigente do SFM.
As atitudes que, desde o início, assumiu para comigo, fizeram-me duvidar da sua sanidade mental.
Sem respeito pelo meu currículo, que ostensivamente ignorou, teve a ousadia de dar-me instruções, quanto a procedimentos a adoptar em prospecção mineira, isto é, relativamente a matéria de que viria a revelar-se grande ignorante.
Quando denunciava as barbaridades que proferia, não tinha pejo em afirmar: “Disso nada sei e até tenho raiva a quem sabe!”

 Sem se preocupar em conhecer os estudos que decorriam nos diversos núcleos do SFM, nomeadamente no sector que eu dirigia, logo me destinou zona de investigação, como se o SFM começasse, então, a sua actividade e não tivesse realizado imensa obra, nos 40 anos anteriores!!

Destinava-me a zona de Góis – Panasqueira!

Reagindo a esta precipitada decisão, recomendei-lhe que procurasse conhecer o SFM actual, que era essencial que visitasse os diversos locais de trabalho e consultasse a documentação arquivada.
Respondeu que “não viera para o SFM para trabalhar. Para isso, havia gente mais nova!!!”

Informei-o de que a zona de Góis – Panasqueira tinha muito interesse e que constava dos Planos de Trabalho que apresentava anualmente na minha qualidade de Chefe do Serviço de Prospecção Mineira.

Estava, porém, ainda em fase muito atrasada, exigindo estudos geológicos, por pessoal qualificado, antes que passasse a fase de prospecção, por outras técnicas.
Já tinha indigitado o Professor Décio Tadeu, ao concessionário da Mina de Góis, quando este pedira o meu auxílio.
O Professor Décio, que tinha participado no corpo de técnicos das Minas da Panasqueira, aceitou realizar tal tarefa. Desconheço a sequência.

Quanto a mim, respondi não estar em idade de iniciar estudos nessa zona, nem ser minha opinião suspender as investigações em curso na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima.
Daniel teve, então, reacção, própria da inconsciência que vinha demonstrando, nas suas decisões:
         “Então, quero tudo acabado em 1984”!!!”

Conseguindo manter a minha calma, aconselhei-o a visitar a área que estava em estudo e a tomar conhecimento dos meios que estavam à minha disposição para realizar esses estudos, antes de tomar novas decisões apressadas.
Concordou, mas tardou a concretizar a sua visita e, quando tal aconteceu, fez-se acompanhar do Engenheiro Rui Reynaud, que tinha conseguido a categoria de Director de Serviço (!!!), recentemente criada, e pertencia ao grupo de técnicos sediado em Lisboa, nas antigas instalações da extinta Direcção-Geral dos Serviços de Prospecção e Exploração da Junta de Energia Nuclear.

Esta visita permitiu-me tirar duas conclusões:
a) Daniel pouco ou nada percebeu das explicações que lhe dei sobre os estudos em curso, as quais apoiei em peças desenhadas, com resultados das várias técnicas geofísicas e geoquímicas que tinham sido aplicadas.
b) A presença de Rui Reynaud justificava-se porque, em funções que lhe foram atribuídas, estava parasitando os documentos que UC entregara, sendo esta a razão porque não tinham chegado à minha mão. Reynaud usava os dados dos logs das sondagens de UC para recalcular as reservas, que UC considerara como passíveis de exploração e até já tinha feito publicação, sobre esta matéria!!!

 Estranhando tão grande reviravolta na atitude de Daniel, chamei-lhe a atenção para zonas do País, incluídas nos meus Planos de Trabalhos, anualmente apresentados, a necessitarem de estudo, parecendo-me inútil a concentração que estava a verificar-se na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, sem efectiva participação na actividade local, pois até tinha notado que um Engenheiro de nome Gonzalez, também sediado em Lisboa, surgia clandestinamente em S. Mamede de Infesta a recolher fragmentos das sondagens do SFM, provavelmente para simular, igualmente, trabalho que não estava apto a executar.

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