quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

30 - As reuniões do Director do SFM com os Chefes de Serviço e com o Chefe do MOVIC -2.ª parte

Os temas principais a abordar nestas reuniões deveriam, obviamente, ser os programas dos diferentes Serviços e os procedimentos a adoptar para lhes dar cumprimento.

Pelo que à 1.ª Brigada de Prospecção dizia respeito, estavam já em execução os programas que eu tinha apresentado, ainda como Chefe da Brigada do Sul.
Com esse objectivo, foi progressivamente constituído o Quadro de Engenheiros e Geólogos e promovida a sua especialização, como já disse em post anterior.

Na actividade das Secções, apenas ficou desguarnecida a Secção de Castro Verde, onde decorriam trabalhos de prospecção geofísica, em virtude de o Director ter afectado ao 2.º Serviço o Agente Técnico de Engenharia que a chefiava, o qual tinha obtido boa formação, através dos ensinamentos que lhe transmiti, desde que ingressou no SFM, sem experiência e com insuficiente preparação académica.

Já com alguns anos de actividade diversificada, contava com ele para a concretização das campanhas de prospecção projectadas nesta importante parcela da Faixa Piritosa.
Durante algum tempo, este Agente Técnico de Engenharia, disponibilizou-se para me prestar colaboração, para além das tarefas que lhe estavam distribuídas no 2.º Serviço, chegando até a acompanhar-me em visitas que, durante as minhas estadias periódicas em Beja, efectuei, em fins de semanas, às antigas minas de cobre de Algaré, Barrigão, Brancanes e Porteirinhos, onde anos mais tarde viriam a ser projectados trabalhos de gravimetria que deram origem à descoberta do jazigo de Neves-Corvo.

Tentei demover o Director da sua teimosa decisão de me retirar a colaboração deste técnico, provocando até, em sábado à tarde, reunião sobre o tema, com presença do Director-Geral.

Manifestei-lhes o receio de que o Agente Técnico de Engenharia, que já revelava grandes divergências com o seu Chefe, pudesse abandonar o SFM, perante oportunidade que empresa privada lhe estava a oferecer, com melhor remuneração.
As minhas reflexões não foram consideradas e o Agente Técnico de Engenharia abandonou, de facto, o SFM, assim se consumando mais uma perda de valioso elemento com formação adequada ao cumprimento dos objectivos do SFM.

Perante a situação que se lhe deparou, a solução que o Engenheiro citado encontrou para orientar os trabalhos mineiros da Secção de Castro Verde foi deslocar a esta Secção, em tempo parcial, um dos Agentes Técnicos de Engenharia da Secção de Moura e Barrancos.

Não considerou a hipótese de ele próprio fazer essa orientação, como lhe competia, certamente por se não sentir preparado.

A lacuna criada ao 1.º Serviço foi resolvida com maior assistência no terreno pela equipa sediada em Beja.

Esta é uma amostra do ambiente que se ia gerando nas reuniões, que se foi progressivamente deteriorando, sendo eu elemento estranho ao grupo há muito constituído no Norte, que alguém apelidou de “companheiros da opa”, pelas suas idênticas religiosidades hipócritas.

As minhas ingénuas esperanças de que o Director apreciasse a leal colaboração que lhe estava a prestar, contribuindo para o seu próprio prestígio, foram-se progressivamente desvanecendo perante a impossibilidade de conseguir no Norte resultados idênticos aos obtidos no Sul.

Tornou-se-me evidente a deliberada preocupação deste dirigente em dificultar a minha actividade.

Não conseguiu, inicialmente, causar grande dano, pois nessa época, o Director-Geral dava-me grande apoio e até iria aproveitar a obra conseguida pelas equipas sob minha chefia, para demonstrar a governantes a importância do SFM e da Direcção-Geral de Minas onde o SFM se integrava.

Recordo uma reunião em que o Director e seus acólitos perderam totalmente a serenidade na manifestação das suas divergências para comigo, estando o gravador com a fita magnética a rodar, supostamente a registar tudo quanto se dizia. Mas o Director, não tendo conseguido que eu alinhasse neste tipo de procedimento, acabou por revelar que afinal a fita rodava mas não gravava, por não ter sido accionado o botão adequado. Esperteza saloia que me deixou estupefacto.

O Director, por exemplo, achara estranho e manifestara-se violentamente contra o facto de eu ter inserido em relatórios, documentos de transmissão de poderes, quando foram integradas no 1.º Serviço as Brigadas de Levantamentos Litológicos, de Prospecção Geofísica, etc., destacando as suas actividades anteriores à integração. E estes documentos, a mim, afiguravam-se essenciais até para evitar repetições de estudos que tivessem qualidade.

No Norte e no Centro do País, antes de completada a fase de documentação, podiam imediatamente considerar-se os três problemas que constituíram a plano inicial de reconhecimento mineiro do País, isto é: o inventário das existências de carvões e de minérios de ouro e de ferro.

No que respeita aos carvões, a situação que encontrei foi de grande desorganização. Havia sondagens em curso e muitas das efectuadas estavam por estudar, tanto na bacia carbonífera do Douro como na zona carbonífera de Ourém, em condições que descreverei proximamente.
Tornava-se necessário pôr ordem nestes estudos, antes de projectar nova fase de investigações, como se pretendia.

Quanto ao problema do ouro, duas regiões sobressaíam: a de Jales - Três Minas e a Faixa antimonífera e aurífera do Douro.
Relativamente à primeira, informei já ter estabelecido contacto pessoal com o Director Técnico da Mina de Jales, na sequência de inquérito formulado no âmbito de um Plano de Fomento, em que tinha participado, por nomeação do Director-Geral.
Desse contacto resultou o meu conhecimento de que a empresa concessionária enfrentava um problema que o SFM poderia ajudar a resolver.
Esse problema era encontrar a continuidade para Sul, do filão principal que a Empresa estava a explorar.
Como o SFM tinha tido sucesso na detecção do sistema filoniano de Aparis, pela aplicação do método electromagnético Turam, apresentei plano que já tinha preparado para a região de Jales – Três Minas com uso da mesma técnica.
Esperava, não só encontrar a continuidade do filão conhecido, mas também, eventualmente, outros filões.
Tornava-se, obviamente necessário que me fosse disponibilizado pessoal que eu prepararia para dar execução a este projecto.
Tal não aconteceu e o projecto não teve concretização.

Anos mais tarde, um prestigiado Geólogo português, que estava integrado no departamento mineiro da Companhia petrolífera BP, contactou-me para que lhe indicasse locais do País com potencialidades para a ocorrência de jazigos de ouro. Sugeri-lhe a área de Jales – Três Minas. A BP aceitou a sugestão e, através de contrato com a concessionária, realizou importantes trabalhos de prospecção, mas não conseguiu resultados que justificassem investimentos na exploração do jazigo.

Relativamente à Faixa antimonífera e aurífera do Douro, dela se encarregou o 2.º Serviço, através da execução de trabalhos mineiros, em áreas de concessões em vigor ou abandonadas.

No caso do ferro, salientava-se o jazigo de Moncorvo. As reservas conhecidas eram abundantes, não se colocando, nessa data, defini-las com maior precisão.

As minas estavam em exploração e o minério era expedido, por via férrea, para a Siderurgia Nacional que tinha sido inaugurada em 1960.

O ritmo de exploração era, porém desproporcionado em relação à grandeza das reservas.
Já os livros de Liceu citavam autor espanhol que considerava este jazigo como contendo “as reservas de ferro da Europa”.

O principal problema que, então se colocava era o transporte do minério, em termos económicos, até aos centros siderúrgicos nacionais e estrangeiros,
Estava-se na fase de analisar esses meios de transporte.
A navegabilidade do Rio Douro e a preparação do porto de Leixões para embarque do minério deram origem a várias Comissões de técnicos encarregados dos respectivos estudos.

Como já referi, noutro post, anos mais tarde, foram disponibilizados dois Geólogos para colaborar com a empresa concessionária em projecto de sondagens com vista a mais exacto conhecimento das reservas no sector do Cabeço da Mua, onde se planeava concentrar principalmente a exploração.

Mas não era apenas com os minérios de Moncorvo, de Orada e de Cercal- Odemira que se contava para a metalurgia do ferro em Portugal.

O jazigo de Guadramil, onde o SFM fizera importantes trabalhos de pesquisa e reconhecimento estava fora de causa, não só pela exiguidade das suas reservas, mas principalmente pelas maiores dificuldades de acesso.

Havia Vila Cova do Marão, onde, em 1956, entrara em funcionamento um complexo mineiro e metalúrgico com capacidade de produção de gusa de fundição de 29.000 toneladas/ano.

Nas Minas de Vila Cova o SFM tinha feito realizar, no princípio da década de 40, uma campanha de prospecção magnética, por contrato com a Companhia sueca ABEM.
Em anos mais recentes, tinha dado cumprimento a um projecto de sondagens.
Numa das reuniões, o Director afirmou haver divergências grandes entre resultados dos estudos do concessionário e os do SFM.
Impunha-se uma análise cuidada de toda a documentação respeitante a este jazigo, pois considerava-se a hipótese de deverem ser projectadas novas sondagens.
O Director encarregou-se de encontrar, não só os relatórios, como os logs, plantas e perfis pelas sondagens e os testemunhos destas sondagens.
Em reuniões seguintes, este caso de Vila Cova voltou a ser por mim abordado. Todavia, o Director começou a ficar embaraçado, pois nem relatórios, nem desenhos nem testemunhos se encontravam.

Deste embaraço resultou que não mais se realizaram reuniões!

O Director-Geral, que já em diversas ocasiões se assumira como dirigente do SFM, criou em Janeiro de 1968, uma Comissão a que chamou “Comissão de Fomento”, através da qual passou a ter forte intervenção na actividade do SFM, assim procurando suprir a incapacidade demonstrada pelo dirigente do SFM.

Às reuniões desta Comissão me referirei, em devido tempo.

Não tendo conseguido pessoal para enfrentar os problemas do ouro e do ferro, foi, já na década de 70, que criei as Secções de Caminha e de Talhadas, chefiadas por Colectores, aos quais proporcionei formação adequada, conforme já referi noutro post..

Na Secção de Caminha, os estudos tiveram por objectivo investigar essencialmente a existência de mineralizações tungstíferas.

Na Secção de Talhadas, o objectivo foi detectar sobretudo mineralizações de chumbo e zinco numa área que denominei de Faixa Metalífera da Beira Litoral, que se estende desde as proximidades do Porto até Sul de Coimbra.

A vida atribulada destas duas Secções constituirá matéria para vários posts.

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