sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

36 – A descoberta do jazigo de pirite complexa do Gavião, em Aljustrel

Esta descoberta é mais um importante êxito do SFM, pela aplicação do método gravimétrico.

A ele me referi, no relatório de Março de 1968, nos seguintes termos:

“Na região de Aljustrel, a sul de Rio de Moinhos, já dentro da Bacia Terciária do Sado, registaram-se anomalias gravimétricas que, embora pouco pronunciadas, se revestem de bastante interesse, pelo facto de se localizarem exactamente no prolongamento dos horizontes mineralizados de Feitais - Estação e Moinho – S. João, após a rejeição pela falha de Messejana.”

Em reunião da Comissão de Fomento, realizada em 27 de Maio de 1968, na Sala das Sessões da Direcção-Geral de Minas, em Lisboa, sob a presidência do Director-Geral, estando presentes os dirigentes de todos os departamentos da Direcção-Geral, afixei, numa das paredes, mapa à escala 1:5000, no qual tinha colocado no alinhamento dos jazigos conhecidos em Aljustrel, a anomalia a que me referi, tendo para esse efeito cortado com tesoura o mapa segundo a falha de Messejana, com um deslocamento de 3 km que era exactamente a rejeição confirmada pela gravimetria.

Deixei este mapa exposto, para demonstração de mais um êxito que tinha sido conseguido pelo SFM, mas notei que, na reunião seguinte, já lá se não encontrava.

Em 2 de Outubro de 1969, fui surpreendido com a decisão superior, de adjudicar à Sociedade Mineira de Santiago (SMS), afiliada da CUF (Companhia União Fabril), a área envolvente das Minas de Aljustrel que tinha sido conservada, na Faixa Piritosa para os estudos do SFM.

A SMS imediatamente deu início a nova campanha de sondagens para reconhecimento do jazigo da Estação.

Simultaneamente, passou a investigar, também por sondagens, a área dentro da Bacia Terciária do Sado onde o SFM detectara a anomalia gravimétrica a que acima me refiro, a qual tinha interpretado como originada por parcela rejeitada dos jazigos de Aljustrel, como consequência da falha de Messejana.

As sondagens de SMS confirmaram plenamente a minha hipótese, dando-se a circunstância favorável de os minérios interceptados apresentarem bons teores de cobre.

Como já tinha acontecido com o concessionário das Minas de Aljustrel, que reclamou para si a descoberta do jazigo do Moinho, nitidamente evidenciado pelo método Turam, tornando este êxito independente do Carrasco, também a Sociedade Mineira de Santiago quis reivindicar a descoberta do jazigo da Gavião.

A atitude de SMS revestiu-se, neste caso de um grande deslealdade para com a Direcção-Geral de Minas que, em reconhecimento da elevada competência de um dos seus Geólogos, lhe tinha dado a honra de colaborar na redacção do capítulo III sobre a Faixa Piritosa do Sul de Portugal do Livro - Guia da Excursão N.º 4 (Principais Jazigos Minerais do Sul de Portugal), destinado a orientar as visitas de estudo integradas no CHILAGE (Congresso Hispano – Luso – Americano de Geologia Económica) que iria ter lugar, em Portugal e em Espanha, de 19 a 25 de Setembro de 1971.

Neste Livro - Guia, que só me foi possível consultar após a sua publicação, tive a surpresa de ler as seguintes afirmações:

1 – A meio da página 58: “Os levantamentos gravimétricos e magnéticos executados pelo Serviço de Fomento Mineiro não trouxeram grande achega para o conhecimento do rejeito dos jazigos de Aljustrel (vide mapa gravimétrico, fig. 9)”

2 – Na página 59: “Não se afigura provável que os depósitos do Gavião pudessem ter sido descobertos apenas pela aplicação de métodos geofísicos e geoquímicos; somente a aplicação dos conhecimentos de estratigrafia e da estrutura geológica de Aljustrel poderia ter conduzido à sua descoberta.

Maior gravidade assume o facto de esta escandalosa apropriação de mais um êxito do SFM ter sido sancionada por técnicos da Direcção – Geral de Minas, investidos em altos cargos directivos e ainda recentemente eu ter visto em documento acessível pela Internet, da autoria do Administrador da Empresa Pública EDM (Empresa de Desenvolvimento Mineiro) referência ao jazigo do Gavião como tendo sido descoberto pela Sociedade Mineira de Santiago, sem qualquer referência à actividade anterior do SFM, organismo que proporcionou a esse actual Administrador a sua formação técnica, no qual se encontrava integrado quando a descoberta se concretizou.

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