terça-feira, 13 de janeiro de 2009

38 - A descoberta do jazigo de Neves - Corvo, na região de Castro Verde –Almodôvar. 2.ª parte

Revelada a existência de jazigo com boas características, o Sindicato passou a fazer o seu reconhecimento, intensificando as campanhas de sondagens, à medida que os resultados iam demonstrando estar-se em presença de uma enorme e rica concentração de sulfuretos de ferro, cobre, chumbo, zinco e outro metais, à escala mundial.

Muitos foram os artigos publicados em Revistas portuguesas e estrangeiras acerca deste notável êxito.

Todos, porém, procuraram esconder o erro grosseiro de não ter sido dada a devida importância à anomalia gravimétrica detectada pelo SFM, para a qual eu tinha chamado a atenção do Sindicato, censurando a decisão de suspender a primeira sondagem projectada com base nessa anomalia, sem se ter procurado explicação para ela.

Além disso, sempre se procurou desvalorizar o papel essencial que teve o SFM nesta descoberta.

Vou destacar alguns dos que chegaram ao meu conhecimento e as reacções que dois deles me suscitaram para serem publicadas com vista à reposição da verdade.

No artigo com data de 1981, subordinado ao título ”Le gisement de sulfures massifs polymétalliques de Neves – Corvo. Baixo Alentejo – Portugal” da autoria de L. Albouy, L. N. Conde, F. Foglierini, X. Leca, P. Carvalho, A. Morikis, com a participação de L. Callier, P. Carvalho, J. C. Songy, ainda se reconhece, a páginas 12, a propósito da história da descoberta que “em 1972, a anomalia gravimétrica de Neves tinha sido seleccionada numa das zonas cobertas pela prospecção gravimétrica pelo Serviço de Fomento Mineiro: este Serviço tinha, aliás, sublinhado o seu interesse”

Causou-me enorme estranheza ver publicado no Boletim de Minas de Outubro/Dezembro de 1981, páginas 261 a 269, artigo de Delfim de Carvalho, com o título “Neves – Corvo. Uma nova Mina em Portugal”, dando notícia da descoberta.

Este Geólogo, à data da publicação exercia as funções de Director dos Serviços Geológicos de Portugal. Não sendo da competência destes Serviços a prospecção mineira, para a qual não estavam vocacionados, é eticamente reprovável que dele emanem artigos sobre este tema, fora das suas atribuições.

É certo que Delfim de Carvalho estivera, como já referi, integrado na 1.ª Brigada de Prospecção, que eu havia criado no Alentejo e beneficiara das informações que iam sendo prestadas a todos os Engenheiros e Geólogos desta Brigada, durante as reuniões periódicas que eu organizava, até me terem afastado compulsivamente da chefia desta Brigada, com a sua conivência, em Janeiro de 1975, em circunstâncias que oportunamente irei descrever.

É também certo que, até essa data, o Geólogo Delfim de Carvalho não tivera intervenção significativa na Faixa Piritosa, pois a área que lhe estava distribuída era a da Região de Cercal – Odemira, onde já tinham sido efectuados detalhados levantamentos litológicos, sobre base topográfica à escala 1:5.000, em cerca de 400 km 2.

Esperava-se da sua actuação na Região de Cercal - Odemira, um aperfeiçoamento dos levantamentos efectuados sob minha orientação.

Não sendo eu Geólogo, tornava-se sobretudo necessária maior diferenciação entre as variadas rochas vulcânicas e a definição da sua estrutura, tendo em atenção as recentes interpretações do enquadramento geológico dos jazigos sedimentares - exalativos, após o conhecimento do artigo de Oftedahl.

Não vi, todavia, progresso significativo nesta matéria e até cheguei a questionar que o Geólogo levasse para o terreno mapas à escala 1:25.000, preparados por redução dos mapas à escala 1:5.000, os quais deviam estar preservados em gabinete. A sua reacção aos meus reparos foi de que ele os não estragaria!

Não tendo participado na actividade de prospecção que deu origem à descoberta e tendo já deixado de exercer funções na 1.ª Brigada de Prospecção, não podia deixar de me surpreender que tivesse a ousadia de publicar artigo baseado exclusivamente em trabalhos de outros. Isto até poderia classificar-se de plágio, se não fossem já habituais casos destes, em que chegavam a não ser mencionadas as fontes, ou estas se designavam simplisticamente por “relatórios internos”.

Querendo fazer-se passar por técnico experiente em prospecção mineira, qualidade que lhe não reconheço, tinha logicamente de acontecer que o artigo iria enfermar de grosseiros erros.

Afinal, pouco aprendera durante a sua permanência na 1.ª Brigada de Prospecção, onde lhe foram proporcionadas excepcionais condições de formação pós graduada.

Do ponto de vista histórico, se tivesse consultado o meu artigo “Prospecção de pirites no Baixo Alentejo”, que, aliás, nem sequer cita na Bibliografia (!), teria evitado menosprezar a actuação do SFM, ao escrever, na página 262, ...“dos trabalhos anteriores na área, há que referir os do Serviço de Fomento Mineiro (DGMSG) a partir do fim da década de 40 até 1966, com estudos geológicos elementares e de prospecção geofísica (métodos eléctricos)”.

Não foi a “intensa actividade de prospecção iniciada (?) em 1972 pela Associação formada pelas Sociedade Mineira de Santiago (SMS), Société d’Études, de Recherches et d’Exploitations Minières (SEREM;BRGM) e Sociedade Mineira e Metalúrgica de Peñarroya Portuguesa Limitada (SMMPP)” que mais contribuiu para a sensacional descoberta.

Foi, sim, a actividade anterior, realmente intensiva, do Serviço de Fomento Mineiro, que permitiu chegar à descoberta!

Destaco os estudos geológicos, realizados em meados da década de 40, que ele teve a desconsideração de classificar de elementares, que levaram à definição da grande mancha de rochas vulcânicas de Castro Verde – Panoias (principalmente básicas e não ácidas, contrariamente ao que afirma!), antes não reconhecida como fazendo parte da Faixa Piritosa Alentejana.

Já na década de 50, insistindo na necessidade de um mais perfeito conhecimento geológico desta região, foi, por minha proposta, criada a Secção de Almodôvar sob a direcção de um Geólogo. Mas, insatisfeito com os estudos feitos, promovi que fossem realizados novos levantamentos sobre cartas topográficas à escala 1:5.000, sob a orientação de um Engenheiro da Brigada do Sul.

Foram estes mapas de geologia, que classificou de elementar, frequentemente elogiados pelas Empresas que vieram actuar na Faixa Piritosa, pelo seu pormenor e rigor, que serviram da base aos subsequentes levantamentos geofísicos.

A prospecção eléctrica não foi iniciada no final da década de 40. Foi no calor de um tórrido verão de 1944 que eu fui destacado para dirigir a Brigada de Prospecção Eléctrica que iria dar início à cobertura quase total da Faixa Piritosa, com o método electromagnético Turam.

Não é verdade que a esta parcela da Faixa Piritosa sempre tivesse sido atribuída, pelas Empresas que actuaram na região a importância que ele merecia, como já revelei, à saciedade, em posts anteriores.

Se Delfim de Carvalho tivesse extraído a lição da descoberta do jazigo da Estação, ocorrida durante a sua permanência na 1.ª Brigada de Prospecção e se tivesse estado atento ao que se analisava nas reuniões em Beja, sob a minha presidência, teria tido mais cuidado nas suas afirmações sobre a descoberta do jazigo do Gavião e sobre o erro (pois de erro indesculpável se trata) que levou ao atraso de 5 anos na descoberta.

Tinha obrigação de se lembrar que a descoberta da Estação se deveu à minha persistência em não dar o furo N.º 1 por terminado, antes de ser explicada a anomalia gravimétrica que o justificara, apesar das fortes pressões da Direcção – Geral em Lisboa, devido à enorme despesa que estava a originar, para conseguir ultrapassar a marca dos 328 que tinha atingido.

Deveria lembrar-se ainda, que era rotina adoptada a medição sistemática das densidades dos testemunhos para encontrar as causas das anomalias gravimétricas, quando estas estavam a ser investigadas.

Se a sua memória ainda o ajudasse, talvez se lembrasse de um furo na zona de Algares de Portel, que não detectara formação com densidade que explicasse a anomalia gravimétrica que o justificara. Recordar-se-ia que, tendo-se repetido os cálculos no gabinete, se verificou que estavam errados e que a anomalia era espúria.

Ao apresentar, na página 263, três perguntas sobre o que aconteceria, no caso de o Sindicato ter abandonado a área que lhe estava adjudicada, demonstrou, uma vez mais, pouco ter aprendido durante a sua permanência na 1.ª Brigada de Prospecção.

Ele, que com apoio e até incentivo do Director – Geral de Minas (seu padrinho), e do Director do SFM, conseguira conquistar o comando da 1.ª Brigada de Prospecção, quando, em 1975, no mau uso das liberdades conseguidas pela Revolução de Abril de 1974, eu fui afastado compulsivamente desse comando, não se preocuparia em tentar explicação para a anomalia gravimétrica que traduz a existência de Neves – Corvo.

O jazigo ficaria, assim, longo tempo por descobrir, no seu judicioso parecer. E provavelmente, muitos outros estariam em idênticas condições!

Dentre muitas outras publicações sobre este êxito, destaco um Editorial do Presidente do BRGM francês, Iean Audibert com data de meados da década de 80, no qual é atribuída aos seus prospectores a descoberta de tão importante jazigo, omitindo, não só o papel fundamental do SFM, mas até a participação dos técnicos portugueses integrados no Sindicato que concretizou a descoberta.

Continua...

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