sábado, 10 de janeiro de 2009

37 – A descoberta do jazigo de Neves – Corvo, na região de Castro Verde - Almodôvar. 1.ª parte

Este é mais um caso de apropriação ilegítima de um êxito do SFM por técnicos que para ele nada contribuíram ou contribuíram negativamente, pelo que até deveriam ter sido incriminados por actuação incompetente que originou atraso de 5 anos na sua concretização, como irei demonstrar.

Na euforia da descoberta, o que se verificou foi um total esquecimento dos seus verdadeiros autores e a promoção, louvor e até condecoração desses incompetentes técnicos Tudo isto com a colaboração de altos dirigentes do País e de França.

Já me referi no post N.º 14 à primordial importância da gravimetria na prospecção mineira, sobretudo nas condições geológicas da Faixa Piritosa Alentejana.

Já salientei também as minhas insistentes recomendações a Mining Explorations (International), na minha qualidade de representante da Direcção Geral de Minas junto desta Companhia e de seu colaborador, nos termos contratuais, para passar a dar mais atenção a esta técnica geofísica antes de passar à fase de sondagens.

Salientei igualmente a importância da região de Castro Verde - Almodôvar, à qual MEI não estava a dedicar suficiente atenção.

Revelei também, no post N.º 33 que, tendo Mining Explorations (International) abandonado em 1971, a vasta área que lhe esteve adjudicada desde 23-3-1966, o Serviço de Prospecção do SFM, sob minha direcção, deu imediatamente início a campanha de prospecção gravimétrica de uma área de cerca de 100 km2, abrangendo a Mina do Cerro do Algaré e várias outras ocorrencias cupríferas que tinham originado pequenas explorações mineiras, em épocas anteriores.

Quando esta campanha se encontrava em curso e já estava revelada grande parte da anomalia que viria a dar origem à descoberta do jazigo de Neves – Corvo, fui novamente surpreendido pela celebração de contrato adjudicando a totalidade da área anteriormente atribuída a MEI, a um Grupo empresarial privado, constituído pela Sociedade Mineira de Santiago, pelo BRGM (Bureau de Recherches Géologiques et Minières, o equivalente francês do SFM) e pela Sociedade Mineira e Metalúrgica de Peñarroya Portuguesa Limitada.

Logo dei conhecimento, nos termos contratuais, dos resultados que estávamos a obter na área de 100 km2, onde estávamos então a actuar.

O Grupo empresarial, que se intitulou de Sindicato, deu imediatamente continuidade à campanha gravimétrica, definindo completamente a anomalia.

Passou, então, à fase de sondagens.

Deu início à sondagem N.º 1 e, perante a série estratigráfica que vinha atravessando, interpretou, ao atingir a profundidade de 244 metros, que já tinha sido ultrapassado o horizonte onde devia localizar-se jazigo de pirite se ele existisse. Deu o furo por terminado e passou a investigar outras zonas da vasta área que lhe fora adjudicada.

Surpreendido com esta decisão ainda chamei a atenção dos técnicos do Sindicato, para a sua atitude precipitada, dizendo-lhes que deveriam ter continuado a perfuração, uma vez que não estava explicada a anomalia gravimétrica.

Tal como aconteceu, várias vezes com MEI, também o Sindicato não se mostrou impressionado com as minhas reflexões. Nele predominavam Geólogos sem sensibilidade para dar a devida importância aos resultados gravimétricos.

O Sindicato andou durante cerca de 5 anos “perdido” sobretudo na região de Mértola, sem quaisquer resultados encorajantes.

Entretanto, ocorreu a Revolução de 25 Abril de 1974 e, como já revelei, alguns oportunistas interpretando no pior sentido as liberdades conquistadas, conseguiram afastar-me da direcção dos estudos no Sul do País.

Aconteceu que, em 5 de Abril de 1977, encontrei na Universidade de Aveiro, o Geólogo Xavier Leca do Sindicato que, tal como eu, tinha ido assistir a palestras sobre tectónica de placas.

Ainda interessado sobre os problemas da Faixa Piritosa, perguntei-lhe que zona da vasta área que lhe estava adjudicada estavam a estudar.

À sua resposta de que tinham regressado à zona da grande anomalia gravimétrica onde tinham realizado a sondagem N.º 1, estando já em curso a sondagem N.º 2, tive a seguinte reacção textual: “os meus parabéns! Se a área regressasse para estudo pelo SFM e eu ainda estivesse nas funções de Chefe da 1.ª Brigada de Prospecção, era para essa zona que eu voltaria imediatamente”. Noto que a validade do contrato do Sindicato com o Estado estava prestes a expirar.

Esta curta conversa, em intervalo das sessões, terminou por terem sido reiniciadas as palestras.

Em 20 de Maio de 1977, pelas 20 horas e 30 minutos, recebi telefonema do Geólogo Nabais Conde do Quadro de Técnicos do Sindicato, informando-me que a sondagem N.º 2 tinha começado a cortar jazigo de pirite, estando nessa data já com 20 metros em minério que se mostrava com boa percentagem de calcopirite.

Pretendia saber se tinham sido os Geólogos do SFM a escolher a área para ser prospectada por gravimetria.

Informei-o que não, que tinha sido sempre eu quem acreditara nos bons indícios representados pelas ocorrências cupríferas de Algaré, Barrigão, Brancanaes e Porteirnhos, e nas potencialidades de um ambiente geológico idêntico ao da tradicional Faixa Piritosa revelado pelo SFM na década de 40.

Na verdade, eu até tinha dúvidas de que o Geólogo destacado para apoiar os estudos do SFM na Faixa Piritosa, cumulativamente com estudos em áreas do Norte do Alentejo, alguma vez tivesse visitado a zona, antes de ela ter sido seleccionada para investigação por gravimetria.
O seu conhecimento da zona resultava das informações que eu prestava, durante as reuniões periódicas que tinha com os Engenheiros e com os Geólogos da 1.ª Brigada de Prospecção.

Os outros dois Geólogos da Brigada estavam encarregados de apoiar os estudos em curso na região de Cercal - Odemira e na Faixa Magnetítica e Zincifera Alentejana. Só acidentalmente prestavam colaboração na Faixa Piritosa.

Em 25 de Maio de 1977, foi o Geólogo Xavier Leca do BRGM a telefonar-me, pelas 16 horas e 55 minutos, de Beja, a informar-me de que a sondagem estava a cortar pirite na anomalia de Neves. Já tinham cortado 38 metros de pirite com bastante chumbo e algum cobre. Dei-lhe os meus parabéns e mostrei a minha satisfação por este êxito.

Reagiu ele dizendo que os parabéns eram para mim, por ter sido eu quem promovera a cobertura gravimétrica daquela área. Disse ainda que eu era o pai do jazigo! Salientou ter sido o seu Director em Paris, J. P. Prouhet a ordenar-lhe que me telefonasse a informar do êxito. Lembrou, a este respeito a nossa conversa em Aveiro que fora interrompida pelo reinício das palestras sobre tectónica de placas

Continua...

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