Continuo a responder à primeira pergunta formulada no post 84, caracterizando os autores da exposição que originou a minha demissão, na sua qualidade de técnicos do SFM:
O pessoal auxiliar contratado
Quando, em 1944, iniciei a minha actividade profissional na Faixa Piritosa Alentejana, o Director do SFM destacou cinco Agentes Técnicos de Engenharia, da Brigada do Sul, para a Brigada de Prospecção Eléctrica (BPE), que eu ia chefiar, a fim de colaborarem nos trabalhos de campo e de gabinete respeitantes à aplicação do método electromagnético Turam.
Tornou-se ainda necessário recorrer a trabalhadores recrutados nas áreas a estudar, para dar cumprimento aos programas estabelecidos.
À medida que me fui familiarizando com o método, que estava a ser usado, por contrato com a Compania sueca ABEM, fui-me apercebendo de que quase todas as tarefas de que tinham sido encarregados os Agentes Técnicos de Engenharia, poderiam ser confiadas a trabalhadores locais, sem quebra de qualidade e com mais elevado rendimento.
Quatro Agentes Técnicos de Engenharia puderam assim ser reintegrados na Brigada do Sul, para colaborarem em estudos mais em conformidade com a sua formação profissional, ficando o corpo de técnicos superiores e médios da BPE limitado a dois Engenheiros suecos (os responsáveis pela aplicação da técnica electromagnética), um Engenheiro (eu) e um Agente Técnico de Engenharia portugueses.
A grande disponibilidade de mão-de-obra então existente na Mina de S. Domingos, permitiu-me fazer uma boa selecção do pessoal auxiliar para a BPE.
Consegui, deste modo, formar uma equipa altamente eficiente, da qual pude encarregar a execução da maior parte dos trabalhos de rotina, no campo e até no gabinete.
A piquetagem, com uso de taqueómetro, dos pontos de observação pelo método electromagnético, a planta topográfica (planimetria) à escala 1:10 000, com base no reticulado da piquetagem, as observações com o equipamento Turam, os cálculos simples sobre os dados de campo e até a implantação dos resultados em papel milimétrico e o traçado das curvas de variação dos quocientes reduzidos dos campos electromagnéticos e das diferenças de fase, estiveram a cargo deste pessoal assalariado.
Em meados de 1945, foram iniciadas as campanhas de prospecção na região de Aljustrel, transitando para esta região muitos dos elementos da equipa que tinha sido constituída na Mina de S. Domingos.
Em Aljustrel, considerando-me já suficientemente especializado no método Turam, propus que também um dos técnicos suecos fosse dispensado, encarregando-me eu de o substituir nas funções que desempenhava, cumulativamente com as minhas funções de Chefe da Brigada. A proposta foi aceite e daí resultou uma considerável redução de despesas e até aumento de eficácia das equipas, por se verificarem menos perdas de tempo em avarias dos equipamentos, pois a minha preparação teórica em assuntos de electricidade era muito superior à do técnico sueco que fora dispensado.
Quando, em 1948, tive que deixar a BPE, por ter sido nomeado Chefe da Brigada do Sul, o colega que ficou a substituir-me, depois de eu o ter instruído com os conhecimentos teóricos e práticos do método electromagnético, pôde beneficiar da organização que eu tinha instituído.
Mas não soube mantê-la e, em 1949, a BPE foi extinta, sem ter sido completamente investigada pela técnica que estava a ser usada toda a Faixa Piritosa Alentejana.
Em 1949 recebi na Brigada do Sul, uma Ordem de Serviço da Direcção do SFM, acompanhada de uma circular da Direcção-Geral da Contabilidade Pública que ordenava uma drástica redução de despesas.
Para cumprimento desta Ordem, foi com grande desalento que fui obrigado a dispensar muito pessoal, tanto da sede da Brigada como das Secções, com manifesto prejuízo para o cumprimento dos programas de prospecção e pesquisa.
A minha preocupação de manter no SFM os assalariados que melhores provas haviam dado, levou-me a convidar dois elementos da BPE, que tinha sido extinta, para colaborarem nos trabalhos mineiros da Secção de Cercal do Alentejo.
Esses elementos foram Francisco Elisiário Afonso e João Joaquim, que na BPE tinham chegado a capatazes, isto é, a máxima então possível para assalariados.
Ambos realizaram, ao longo de cerca de 30 anos, mercê da instrução técnica que lhes fui ministrando, tarefas diversificadas, sempre com qualidade e grande honestidade.
Foi, por isso, que aproveitei oportunidade, surgida, em 1968, para os fazer ingressar no Quadro de Contratados.
Quando o Director-Geral me sugeriu a contratação de João José Jardim, para dar seguimento a “cunha” de membro do Governo, fiz-lhe sentir que, para manter a disciplina da Brigada, esta contratação só se justificaria, se outros assalariados, muito mais qualificados, fossem abrangidos em tal promoção (Ver post N.º 50 – A minha mania da justiça).
Foi assim que Francisco Elisiário Afonso, João Joaquim e cinco outros assalariados recrutados nas áreas das diferentes Secções da 1.ª Brigada de Prospecção (Jerónimo de Jesus Salgueiro, José Manuel da Silva Ferreira, Luís Sebastião Luzia, António Francisco Peleja e João José Jardim) foram propostos para se integrarem como Colectores no Quadro de Contratados do SFM.
José Manuel da Silva Ferreira acabaria por rescindir o seu contrato com o SFM, tendo-se por isso libertado do vexame de subscrever o documento acusatório.
Já me referi, em posts anteriores, às grandes dificuldades em manter pessoal assalariado com elevado grau de preparação técnica, por insensibilidade dos Organismos governamentais perante as propostas apresentadas para aumentos insignificantes de salários, que evitassem a sua deserção.
Se esta era a atitude quanto a salários, fácil era perceber quão relutantes se mostravam os dirigentes do SFM e da DGMSG em contratações, perante o substancial acréscimo de despesas que ia ser originado.
O caso de Francisco Elisiário Afonso revelou-se até de difícil resolução, pelo facto de ele ter contraído silico-tuberculose, embora estivesse curado da tuberculose, em resultado da assistência médica que lhe foi proporcionada através do SFM.
Eu tive que solicitar ao Dr. Covas de Lima, radiologista de Beja, que fazia a sua vigilância médica, atestado confirmativo da cura da tuberculose. Só mediante a apresentação deste atestado, Elisiário pôde ser contratado, apesar de eu ter salientado o facto de a silicose ter sido contraída no SFM, que tardou em adoptar medidas que evitassem, com eficácia, a dispersão de poeiras no ambiente das minas subterrâneas.
Com Elisiário e com João Joaquim o meu relacionamento foi sempre muito cordial.
Em meados da década de 50 do século passado, o Agente Técnico de Engenharia que chefiava a Secção de Cercal do Alentejo foi requisitado pelo Ministério do Ultramar para colaborar em trabalhos de prospecção e pesquisa no território ultramarino, ainda português, de Goa. Esse Agente Técnico de Engenharia, consciente das qualidades de Elisiário, convidou-o para o acompanhar nesta missão. Elisiário recusou e disse-me, em reconhecimento do meu apreço pela sua valiosa colaboração, que não abandonaria o SFM, enquanto eu nele permanecesse.
Além destes contratados, cujo ingresso no SFM, como assalariados, data de meados da década de 40 do século passado, saliento dois outros que sempre estiveram sob minha chefia também desde meados da mesma década. São eles João Serra Magalhães e Francisco José Sobral Soares. Eram ainda muito jovens, quando o colega que me antecedeu na chefia da Brigada do Sul os admitiu, para trabalhos na sede da Brigada. Durante cerca de 30 anos mantiveram-se sempre sob minha chefia, primeiramente na Brigada do Sul e depois, na 1:ª Brigada de Prospecção. Foram progressivamente instruídos em trabalhos de diversa natureza.
João Serra Magalhães tornou-se um bom auxiliar de campo, com maior especialização em topografia e condução de viaturas.
Francisco José Sobral Soares tornou-se um bom desenhador.
O meu relacionamento com ambos foi sempre muito cordial.
O meu conceito a respeito das qualidades de João Serra Magalhães, levou-me a utilizar o seu bom senso para resolver incidentes com pessoal da Secção de Évora, originados pelo carácter impulsivo do Agente Técnico de Engenharia José Gameiro.
Não pude, pois, deixar de ficar estupefacto por também eles se terem sujeitado às pressões dos Geólogos e dos Engenheiros para subscreverem o infame documento.
Os restantes subscritores do documento acusatório (José Francisco Alves Albardeiro, Ilídio António Concórdia Riço, Manuel Eduardo Chagas, Jerónimo de Jesus Salgueiro, Joaquim José Nifrário Pires, Luís Sebastião Luzia e José Maria Monteiro), haviam sido recrutados como assalariados nas áreas das diversas Secções criadas no Sul do País, quer pela Brigada do Sul, quer pela Brigada de Prospecção Geofísica.
Nelas foram criando capacidades que justificaram propostas dos seus Chefes locais para ingressarem no Quadro de Contratados.
Concordando com tais propostas, por reconhecer a qualidade dos trabalhos das Secções, só possível com a colaboração desses elementos, fiz seguir essas propostas e elas tiveram o bom acolhimento que originou a contratação.
O meu relacionamento com grande parte destes contratados foi relativamente superficial, não compreendendo, consequentemente as graves acusações que aceitaram subscrever.
Estando já aposentado, isto é, mais de 15 anos após a minha demissão da chefia da 1.ª Brigada de Prospecção, recebi telefonema de José Maria Monteiro, o último dos subscritores do documento acusatório. Não percebi bem o motivo, mas pareceu-me que ele queria manifestar a sua satisfação pelo emprego de que desfrutava nas Minas de Neves-Corvo e o seu reconhecimento pela minha contribuição parta a descoberta do jazigo que se encontrava em franca exploração.
Não pude deixar de lhe lembrar que a sua assinatura constava do famigerado documento, o que ele negou.
Pedi-lhe que me informasse do seu endereço em Castro Verde e enviei-lhe cópia desse documento, ao mesmo tempo que o informava do meu perdão, pensando que tivesse sido o objectivo principal do seu telefonema e considerando as pressões e talvez ameaças a que ele e outros contratados terão sido submetidos, naquele fatídico dia, em que foram convocados para concordarem com decisão originada ao mais alto nível da DGMSG.
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