sexta-feira, 14 de agosto de 2009

86 – A minha demissão da chefia da 1.ª Brigada de Prospecção. Continuação 5

Continuo a responder à primeira pergunta formulada no post 84, caracterizando os autores da exposição que originou a minha demissão, na sua qualidade de técnicos do SFM:

O Geólogo Delfim de Carvalho
É actualmente Administrador da EDM, empresa pública a que mais adiante irei referir-me
Oriundo da família Carvalho, conhecida pelos seus negócios de volfrâmio, nos anos da 2.ª Guerra Mundial e nos que se lhe seguiram.
Esta família tinha afectuosa relação com o Director-Geral de Minas FSC, criada quando FSC chefiara a Circunscrição Mineira do Norte. Da tal relação, resultou o duplo apadrinhamento de Delfim de Carvalho (nascimento e casamento).
Delfim de Carvalho foi o personagem que viajou, em Maio de 1965, com o Director-Geral e comigo, de Lisboa à região de Portel, sem eu ter chegado a saber a sua identidade e em que qualidade nos acompanhava (Ver post N.º 34).
Só em Novembro de 1965, quando apareceu em Beja, para ingressar, como Geólogo, na 1.ª Brigada de Prospecção, fiquei a saber quem era e a sua relação com o Director-Geral.
Para o introduzir na geologia do Sul do País, comecei por lhe proporcionar estágio, na Faixa Piritosa Alentejana, na área da Mina de S. Domingos, sob a orientação de dois experientes Geólogos de Mining Explorations (International), que cumpriam contrato com o Estado, visando a descoberta de jazigos de pirite.
Alguns anos depois, foi-lhe também proporcionado um Curso pós-graduação em Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.
Encarreguei-o, principalmente, de melhorar o conhecimento geológico da Região de Cercal-Odemira, com especial incidência nos aspectos estruturais, com o objectivo de conseguir bom apoio às campanhas de prospecção geofísica e geoquímica que iriam projectar-se para a detecção de jazigos de pirite idênticos aos da faixa Piritosa.
Levantamentos litológicos pormenorizados anteriores, à escala 1:5 000, cobrindo uma área de 399 km2, realizados sob minha directa orientação, haviam revelado ambiente geológico idêntico ao da Faixa Piritosa (Ver post N.º 11). Impunha-se aperfeiçoar estes levantamentos.
Dei-lhe instruções no sentido de analisar a possibilidade de as alterações, que eu notara à superfície, terem origem hidrotermal e de, a partir delas, se acrescentar mais um guia útil para a prospecção.
O que eu admitira como hipótese digna de investigação, Delfim de Carvalho tomou como certeza, sem ter feito, ou promovido que se fizessem, os exames laboratoriais que se impunham.
Seguindo um critério pessoal, inteiramente subjectivo, passou a fazer a separação de zonas com diferentes graus de alteração (forte, média, fraca).
Não era, obviamente, essa a separação que eu esperava, mas antes uma definição de halos com diferentes características mineralógicas que constituíssem verdadeiros guias, circundando possíveis jazigos, como consta da literatura sobre esta matéria.
Da sua original separação de zonas de alteração nenhuma contribuição útil resultou para a prospecção.
O Dr. Delfim de Carvalho não dedicou, como lhe competia, a sua maior actividade aos trabalhos de campo, durante os sete anos em que teve presença efectiva na 1.ª Brigada, sob minha chefia (descontados três anos de ausência, em serviço militar e em curso pós-graduação).
A sua actividade mais útil foi a classificação de testemunhos das sondagens que se realizavam quase exclusivamente com apoio em resultados das técnicas geofísicas e no conhecimento empírico dos locais favoráveis à ocorrência dos jazigos, deduzido dos levantamentos litológicos efectuados anteriormente ao seu ingresso na Brigada.
Confiante na especial preparação para prospecção de jazigos de pirite, que teria adquirido, após a sua pós-graduação nos Estados Unidos, aceitei a sua proposta para que se efectuasse uma sondagem na região de S. Luís, exclusivamente com apoio nos seus estudos geológicos.
Ele afirmava ter encontrado afloramentos de determinadas rochas vulcânicas que, segundo consagrado autor de artigo sobre esta matéria, seriam indicações seguras da existência de jazigos.
Esse autor, tão confiante se mostraria da correlação, que até previa moinhos a triturar minério, quando tais rochas eram encontradas. E eu fui nessa cantiga. O furo foi um tremendo fiasco!
Embora pretenda apresentar-se como experiente prospector, a realidade é que a Delfim de Carvalho pouco trabalho original pode ser atribuído.
Refugiou-se mais no gabinete tornando-se exímio em utilizar estudos de outros aos quais adicionava ideias próprias, muitas vezes de carácter fortemente especulativo, para publicações, figurando como autor.
Ainda, sob minha chefia, ele e três outros Geólogos, fizeram publicar no Volume XX – Fascículos 1 e 2 de “Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro”, sem meu conhecimento prévio e sem meu consentimento, artigo intitulado “Observações sobre a geologia do Sul de Portugal e consequências metalogenéticas” com larga reprodução de resultados de trabalhos nos quais pouco ou nada tinham participado.
Julgo ter sido este o primeiro artigo em que são citados na bibliografia, os “relatórios internos”, sem menção dos seus autores. Tal procedimento viria, mais tarde, a ser adoptado em cópias descaradas de estudos de outros, muitos dos quais de minha autoria.
Após a minha demissão da chefia da 1ª Brigada de Prospecção, passou a publicar numerosos artigos, fazendo-se passar por autor de estudos nos quais tivera escassa ou nula intervenção.
São exemplos os artigos sobre a descoberta do jazigo de Neves-Corvo, aos quais me refiro nos posts N.ªs 38 e 41 a 43, com severas críticas aos erros grosseiros neles contidos.
O chamado “jazigo do Salgadinho” é um exemplo da apresentação apressada de um êxito que chegou a ser comparado a Neves-Corvo, mas que não passou de uma ocorrência de mineralização cuprífera descoberta com base em discreta anomalia gravimétrica registada ainda durante a minha chefia e que eu tinha planeado investigar pelo método de polarização induzida, estando porém aguardando a aquisição de aparelhagem adequada.
Pelo que chegou ao meu conhecimento, Delfim de Carvalho, ansioso por se creditar com um êxito cuja autoria reivindicava, projectou numerosas sondagens, desobedecendo às boas regras da prospecção e precipitando-se a promover a jazigo uma ocorrência, cujo valor industrial não ficou demonstrado.
Durante os 7 anos em que exerceu funções sob minha chefia, as nossas relações foram sempre cordiais e era de meu conhecimento que, poucos dias antes de ter subscrito o infame documento a recusar a continuidade da minha chefia da 1.ª Brigada de Prospecção, fizera as melhores referências a meu respeito a um seu Colega que sabia ser meu amigo.
Quanto às atitudes do Director-Geral, seu padrinho, que estavam a dificultar a obtenção de êxitos no SFM, mostrava-se também muito crítico, pretendendo demonstrar que as suas opiniões não eram influenciadas pelas relações entre eles existentes.
Como prémio pela sua traição para comigo, foi nomeado Sub-Director Geral, sendo-lhe confiada a direcção dos Serviços Geológicos de Portugal!
Quando foi criada na DGGM a Carreira de Investigação, à qual eu fui o único Engenheiro de Minas a concorrer, conseguiu ser classificado como Investigador Coordenador, por um júri externo, constituído sobretudo por Geólogos professores universitários.
Atribuo tal classificação à sua filiação politico-partidária oportunista, porquanto o seu currículo estava longe de se aproximar do meu e eu fui classificado em 3.º luigar!
Em conversa com um dos membros do júri que, como eu, participava em reunião de Engenheiros de Minas realizada em Espinho, falei-lhe neste Geólogo e ele mostrou não o conhecer.
Lembrei-lhe então a classificação em que interveio e revelei-lhe conhecê-lo eu suficientemente para considerar que não tinha características de investigador, não merecendo sequer ser aceite nessa carreira, não só pelo seu fraco currículo, mas sobretudo pela sua desonestidade científica.
Visivelmente perturbado, pois já teria outras razões para perceber o seu erro, afastou-se dizendo: Cometem-se muitas injustiças!
Delfim de Carvalho, depois de ter contribuído para a destruição do SFM, ao subscrever o vergonhoso documento a que tenho vindo a referi-me e ao desertar da 1.ª Brigada de Prospecção, sem se preocupar com os prejuízos que a sua saída poderia ocasionar às “vastas e delicadas tarefas” desta Brigada, conseguiu ser nomeado Administrador da EDM (Empresa de Desenvolvimento Mineiro), cargo que actualmente mantém.
Esta Empresa, derivada da Sociedade Mineira de Santiago, nacionalizada após a Revolução de Abril de 1974, não teria razão de existir se o Serviço de Fomento Mineiro tivesse tido a evolução que eu tinha proposto e que o Secretário de Estado da Indústria e da Energia, Torres Campos, em Dezembro de 1974, também defendia (Ver posts N.ºs 78 e 79)
Embora a sua designação seja de Desenvolvimento Mineiro, pelo que chega ao meu conhecimento, a sua actividade tem-se restringido à recuperação ambiental de zonas mineiras onde a ex-Direcção-Geral de Minas, por incapacidade de uma eficaz fiscalização, permitiu grandes atentados ao ambiente, que o Decreto-lei de 1930 já severamente condenava.
Para esta recuperação tem contratado empresas especializadas, não tendo, portanto, actividade própria no terreno.
O ex-SFM estaria apto a realizar tudo isto e muito mais, como ficou demonstrado pelo seu passado, sobretudo no Sul do País, se Delfim de Carvalho e os outros técnicos superiores da 1.ª Brigada de Prospecção não tivessem contribuído poderosamente para a sua destruição
É minha opinião, que a EDM não tem justificação, como não têm também justificação as instalações de Alfragide. Nos amplos edifícios de S. Mamede de Infesta e nos terrenos ainda disponíveis, poderia centralizar-se toda a actividade directiva e laboratorial de um verdadeiro Instituto de Investigação dos Recursos Minerais de Portugal.
Os autores de tão grandes desperdícios de dinheiros públicos deveriam ser responsabilizados pelos seus esbanjamentos, num país que se proclama de pobre, mas que, mais propriamente, se classificaria de empobrecido por gente medíocre que tem ascendido a cargos directivos sem a devida preparação. Não somos, afinal, um País rico em minas pobres. Somos um país rico em jazigos minerais, mas empobrecido por incompetência dos responsáveis pela administração dessas riquezas, que entregam, a troco de quase nada, a estrangeiros para delas se aproveitarem.
Pelo carácter ambicioso e pouco escrupuloso, que tem revelado e pelas suas ligações afectivas ao Director-Geral, cuja permanência no cargo eu tinha posto em causa, considero Delfim de Carvalho um dos principais autores do texto que levou à minha demissão da chefia da 1,ª Brigada de Prospecção.

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