No mesmo tempo, em que, no SFM, eu era marginalizado, através de insensatas ordens, emitidas pelo Director, com o apoio do Director-Geral de Minas e a cúmplice passividade de membros do Governo, externamente registavam-se, numerosos factos demonstrativos de apreço pelas actividades em que eu me empenhava, para dinamizar a indústria mineira nacional.
Ao serem-me retiradas todas as chefias dos núcleos por mim instituídos no Sul e no Norte do País, isto é, dos únicos núcleos onde se mantinham trabalhos sistemáticos no campo, e ao entregarem ou pretenderem confiar essas chefias a técnicos impreparados para as exercerem ia-se destruindo, progressivamente um Organismo de que muito havia a esperar para o progresso da economia nacional.
Quando deixei de chefiar a Brigada do Sul, numa fase em que os Trabalhos Mineiros tinham atingido o seu maior desenvolvimento (Ver post N.º 21), depressa se extinguiu este importante sector do SFM por manifesta incapacidade dos Engenheiros do 2.º Serviço, então instituído para lhes dar continuidade.
Quando fui demitido, a título provisório, da chefia da 1.ª Brigada de Prospecção, que eu tinha pacientemente organizado, ao longo de mais de uma dezena de anos, para vir a dar origem a um SFM eficiente, capaz de dar solução racional às fases iniciais da investigação mineira, logo começaram a sentir-se os efeitos desta trágica decisão do Director.
Apesar de o Director ter imposto que, da 1.ª Brigada de Prospecção, continuassem a ser-me enviados relatórios, para ele poder aproveitar a “minha experiência e conhecimentos” (Ver post N.º 81) na planificação da sua actividade, a realidade é que essa determinação rapidamente deixou de ser cumprida. Sem a minha ajuda, o Director não tinha a mínima capacidade para orientar e fiscalizar a actividade daquela Brigada.
Em 12-5-78, chegou ao meu conhecimento que o Geólogo Delfim de Carvalho, um dos principais responsáveis pela minha demissão, deixara de pertencer ao corpo de técnicos superiores da Brigada, por ter sido nomeado Director dos Serviços Geológicos de Portugal.
Este afastamento até poderia ser benéfico, pois a sua presença na Brigada estava a tornar-se mais prejudicial que útil.
Arvorando-se em principal dirigente da Brigada, desrespeitou a normal sequência das fases da prospecção. Pretendia chegar rapidamente aos grandes êxitos, ignorando completamente as lições que de mim recebera, quanto à disciplina severa a usar na aplicação dos dinheiros públicos. Estava a aplicar uma regra que eu tanto censurara ao Director-Geral, isto é, a acção de bombeiro, que nunca conduziu a qualquer êxito. Foi assim que insistiu em sondagens irracionais na área do Salgadinho, onde chegou a promover a jazigo uma ocorrência de mineralização que, sem mais cuidada investigação, teria de considerar-se apenas como um bom indício, aguardando o apoio de outras técnicas além das que já tinham sido aplicadas, para se definir o seu real interesse económico.
A preocupação em se apresentar como o grande descobridor de jazigos minerais, embora essencialmente com uso de técnicas geofísicas e geoquímicas que não dominava e com fraco apoio geológico, levava-o a cometer erros que se traduziram em enormes desperdícios de dinheiros dos nossos impostos.
Outro elemento da Brigada, que considerei como um dos grandes responsáveis pelo meu afastamento foi o Engenheiro Vítor Borralho.
Este Engenheiro decidira travestir-se de político de esquerda, quando já havia revelado o seu baixo carácter ao subscrever o infame documento que levara à minha demissão daquela chefia.
Chegara a ser indigitado para Governador Civil de Beja.
Não obteve, porém, esse cargo, mas conseguiu ser nomeado Administrador por parte do Estado, nas Minas de Aljustrel, deixando também de pertencer ao Quadro de Técnicos da Brigada.
Neste caso, a sua falta iria fazer-se sentir, pois a ele se devera a instalação e orientação de um Laboratório de Análises Geoquímicas em Beja, que estava a desempenhar bem a sua missão.
Vítor Borralho, que tão preocupado se manifestara com os prejuízos que eu estava a originar à Brigada, enquanto era seu Chefe, não se importou com os prejuízos que a sua saída poderia acarretar
Quanto às Secções de Caminha e de Talhadas, eu conseguia mantê-las, em actividade produtiva, apesar das Ordens de uma Comissão ilegal que me destituía da sua chefia e apesar dos muitos obstáculos criados para o seu funcionamento, que me levavam a recorrer a equipamentos obsequiosamente cedidos pela Faculdade de Engenharia e até pela empresa americana Union Carbide, que estava actuando na região de Caminha.
O Director e seus acólitos nem se preocupavam que, com o meu afastamento da actividade no campo, eu prejudicasse severamente as aulas práticas de campo aos alunos da Faculdade de Ciência e de Engenharia do Porto, e da Faculdade de Geociências da Universidade de Aveiro, isto é a preparação de prováveis futuros técnicos do SFM e de empresas privadas.
Pela minha constante dedicação à causa do Fomento Mineiro, eu sentia-me no direito de esperar reconhecimento pela obra realizada e estímulo para continuar essa obra. Porém, em vez disso, fui alvo de censuras e graves ameaças de sanções disciplinares, até às últimas consequências !!
Paradoxalmente, sendo no Serviço de Fomento Mineiro, que exerci sempre a minha principal actividade profissional, foi externamente, que tive a satisfação de receber as maiores manifestações de apreço pelo que fizera e estava fazendo em benefício da indústria mineira nacional
A seguir, menciono alguns dessas manifestações.:
1 - Felicitações do Sindicato constituído pela Sociedade Mineira de Santiago, pelo BRGM francês (equivalente do SFM português) e pela Sociedade Mineira e Metalúrgica de Penarroya Portuguesa Limitada, através dos Geólogos Xavier Leca e Nabais Conde, pela minha fundamental contribuição para a descoberta do jazigo de Neves-Corvo, tendo-me o Geólogo francês Xavier Leca classificado como o “pai do jazigo”
2 – Elogio, em Diário da República, pelo meu desempenho como docente da disciplina de Prospecção Mineira, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, funções que vinha exercendo desde 1970, encarregando-me das aulas teóricas e das práticas no gabinete e no campo.
3 – Convite da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto para me encarregar também da docência da disciplina de Prospecção Mineira do Curso de Engenharia de Minas daquela Faculdade, dando continuidade a uma colaboração que já vinha sendo estabelecida, através da cedência de equipamentos para os trabalhos a meu cargo na região de Caminha e na Faixa Metalífera da Beira Litoral.
Só alguns anos mais tarde, foi possível prestar a colaboração que me foi pedida. Esta colaboração foi prestada, a título gratuito.
4 – Convite do Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro para participar, como docente, num Curso de Mestrado em Geoquimica.
5 – Aula de campo, na região de Caminha, em 8-6-78, dedicada a alunos do Instituto Superior de Engenharia, correspondendo a pedido do aluno desse instituto, Laurentino Rodrigues, que era também funcionário do SFM.
Foi feita exemplificação da aplicação das técnicas de polarização espontânea e de resistividade eléctrica (Sclumberger e Wenner).
De notar que o equipamento era da Faculdade de Engenharia (Terrameter).
Chegou a encarar-se a hipótese de eu dar aulas nesse Instituto. Laurentino foi, para esse efeito, portador do meu currículo.
6- Convite para presidir a uma das sessões de um Seminário de Geoquímica realizado na Universidade de Aveiro, por iniciativa dos docentes Britaldo Rodrigues e Edmundo Fonseca.
7 – Convite para presidir a uma das sessões de um Seminário de Geoquímica realizado no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, a convite do Professor Aires de Barros.
8 – Pedido do Geólogo. Edmundo Fonseca, docente do departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, para usar os trabalhos do SFM na Mina do Sanguinheiro, redescoberta através da campanha de prospecção geoquímica em curso pela da Secção de Talhadas, para a sua tese de doutoramento. Este pedido foi, obviamente, aceite, pois se esperava que a tese viesse a acrescentar valioso conhecimento sobre a geologia da zona.
9 – Convite de Edmundo Fonseca, para participar num Seminário Internacional de Geoquímica, com uma palestra sobre “Casos de prospecção integrada” , na qual eu descreveria resultados da aplicação de técnicas de prospecção, nos trabalhos por mim dirigidos. Acentuou que contava com a minha comunicação como do pão para a boca.
Sem esperar pela minha concordância, fez distribuir cartazes com a inclusão do meu nome, juntamente com os nomes dos conceituados cientistas Barbier e Clifford James.
Em 30-6-1978, fiz a palestra, que ocupou a maior parte da manhã socorrendo-me de abundantes mapas que tinha exposto antecipadamente, com auxílio de Laurentino Rodrigues.
Apresentei alguns resultados das campanhas de prospecção que se encontravam em curso, há cerca de 10 anos, na Faixa Metalífera da Beira Litoral e na região de Caminha.
Justifiquei a primeira campanha e informei que, apesar do seu inegável interesse, não tinha grande aceitação a nível superior, com o argumento de que filões não merecem investigação, “pois todo o cobre, chumbo e zinco de que o País necessita se contém, em abundância, nas pirites alentejanas”.
Mostrei os casos de Cabeço do Telégrafo (com sondagem projectada), Cabeço Santo, Sanguinheiro e outros, com aplicação conjunta de métodos geofísicos e geoquímicos.
Mostrei, depois, resultados dos trabalhos na região de Caminha.
Houve muitas intervenções, sendo de salientar as de Barbier, e dos Geólogos Viegas e Luís Gaspar da DGGM.
Barbier, teceu elogios, usando a expressão “Aqui há substância”, o que foi interpretado como crítica a comunicação do dia anterior apresentada pela Geólogo Santos Oliveira. Mostrou grande surpresa por se não ter sondado a expressiva série de anomalias de Pb no Cabeço do Telégrafo.
Viegas, que tinha chegado atrasado e não assistira ao início da minha exposição, teve palavras elogiosas sobre o pouco que ouvira, ignorando totalmente as censuras em que participara como membro de uma das Comissões alegadamente criadas para melhorar a eficácia do SFM (!).
Mostrou-se depois interesse no acesso a levantamentos geoquímicos realizados sob minha supervisão na região de Moncorvo. Informei que seriam obviamente cedidos se requeridos por quem tem esse direito.
Luís Gaspar manifestou o parecer de que já deveria haver outro tipo de trabalhos, em campanha que estava em curso há 10 anos.
Concordei e repeti a minha informação inicial sobre a obstrução a nível superior, pois o Director-Geral é de opinião “que filões não têm interesse!”. Salientei as suas contradições a este respeito, citando de publicações de sua autoria.
Quanto às Minas do Braçal, acentuei as actuais dificuldades do SFM em proceder ao estudo do jazigo, através de trabalhos mineiros clássicos, por ter deixado extinguir o departamento que estava encarregado desse género de actividade.
Relativamente à Secção de Caminha, mostrei os resultados excepcionais de sondagem de Union Carbide, exclusivamente baseada em estudos do SFM, a qual se localizava em área que lhe fora recentemente adjudicada.
Nesta área, eu tinha projectado a sondagem N.º 69 que não chegou a ser executada por superiormente ter sido decidido retirar a sonda, de Caminha, para ir fazer furos injustificados em Mogadouro.
10 – Convite de Union Carbide para eu ser nomeado consultor desta importante Companhia americana, assim oficializando colaboração que efectivamente já lhe vinha prestando em matéria de topografia e de magnetometria. Sugeri que escrevessem carta nesse sentido ao Director-Geral de Minas, pois já havia precedentes relativamente às Empresas que cumpriam contratos de prospecção na Faixa Piritosa Alentejana. À carta que Union Carbide escreveu jamais foi dada resposta.
11 - Autorização que eu tinha obtido de Union Carbide para que dois dos meus alunos da Faculdade de Ciências do Porto fizessem estágio nessa Companhia em prospecção de minérios de tungsténio
12 - Ajuda que a Companhia Geominas frequentes vezes me solicitava para orientar os seus trabalhos de exploração das concentrações de minério tungstífero, reveladas pelos trabalhos do SFM, nas áreas das suas concessões.
segunda-feira, 22 de março de 2010
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