segunda-feira, 1 de março de 2010

113 – A intensificação da ofensiva contra os trabalhos a meu cargo

Tinham passado 3 meses, para além da data da Ordem de Serviço da Comissão dita de Direcção do SFM, que me ordenava a entrega, de imediato, ao Grupo de Trabalho do Tungsténio, de toda a documentação respeitante à Secção de Caminha, sem que alguém viesse à minha presença reclama-la.

Encorajado pelo deficiente acolhimento que o Secretário de Estado, por influência de Alcides Pereira, dera à minha exposição oral de Agosto de 1977, o Geólogo Farinha Ramos decidiu-se a enviar-me, em 18-10-77, ofício requerendo essa documentação.

Já me referi, no post N.º 109, á minha decisão de não acatar as Ordens N.ºs 12/77 e 13/77, sendo nessa atitude, acompanhado pelo pessoal das Secções de Caminha e de Talhadas, que subscreveram documentos a manifestar repúdio por tais ordens ilegais e lesivas do interesse nacional.

Insensível às reacções espontâneas do pessoal das Secções ainda a meu cargo, o Director do SFM ordenou que o Colector Senhor José Catarino, que me representava na Secção de Caminha, comparecesse, no dia 20-10-1977, na sede em S. Mamede de Infesta, para o convencer a acatar as ordens que me retiravam a chefia daquela Secção.

A seguir, vou descrever os acontecimentos subsequentes, socorrendo-me dos registos que efectuei, baseados quer na minha directa participação, quer em narrativas dos trabalhadores da Secção de Caminha, feitas logo após encontros com o Director e seus acólitos, que depreciativamente apelidavam de “jagunços”, usando expressões de telenovela brasileira que passava na TV.

Obedecendo a ordem que recebeu, por ofício do Director, (desrespeito frequente da ética que aconselharia não ultrapassar a minha chefia, com ordens directas à Secção, sem meu conhecimento), Catarino apresentou-se na sede do SFM, na manhã do dia 20-10-1977, acompanhado dos trabalhadores da Secção, Francisco Gomes Pereira e Maximino Alves.
Aguardaram, no meu gabinete, até às 11h e 30 m, que chegassem os elementos do Grupo do Tungsténio.

Durante o longo tempo em que estiveram comigo, todos concordaram que a entrega da Secção era assunto que só a mim dizia respeito. Não era com eles, Eu estava no meu gabinete, pronto a comparecer perante o Director, se fosse convocado.
Analisou-se também o trabalho em curso na Secção, tendo eu informado que me deslocaria à área em estudo, na semana seguinte, a fim de ser dada a devida continuidade a esses trabalhos.
Às 11h e 30m, vieram chamá-los.
Das informações prestadas por Catarino e Gomes Pereira destaco s seguinte:
À mesa das reuniões, sentaram-se: Director, Santos Oliveira, Farinha Ramos, Viegas, Catarino, Gomes Pereira e Maximino.
O mais falador foi Viegas, seguindo-se-lhe o Director. Santos Oliveira pouco falou e Farinha Ramos, no pouco que disse, não causou má impressão.
O objectivo era a entrega da Secção.
Catarino declarou que o caso não era com ele; era eu quem tinha a documentação.
Director disse que, sendo ele Chefe da Secção, devia ter exemplares de todos os documentos.
Catarino corrige. Não tem esse cargo, como demonstra exibindo ofício que Director lhe dirigiu, em seu nome pessoal, para ali comparecer.
Director e seus acólitos mostram surpresa por haver uma Secção sem documentação!
Catarino comenta que, até àquela data, ninguém compareceu a receber a Secção, apesar das Ordens de Serviço emitidas há 3 meses e que se eu a não tivesse dirigido, eles não teriam que fazer.
Argumentam com o período de férias e com outras explicações reveladoras da sua insegurança. Declaram que agora vão atacar o assunto, a sério.
Catarino diz que insistiu, umas 20 vezes, para me chamarem, mas sempre se recusavam ou desviavam a conversa.
Director diz que me mandou ofícios e que, portanto, nada tem a acrescentar.
Os seus acólitos declaram que não lhes compete irem ter comigo; devo ser eu a procurá-los. Eles estão no gabinete de Santos Oliveira e eu que suba!
Viegas ainda comenta que não se atreveria a ir ao meu gabinete, por recear ser posto na rua.
Aguardam até ao fim do mês, ou mais 15 dias, que eu entregue os documentos.
Se o não fizer, acabam a Secção e o pessoal vai para o “cascalho”. Sairão à 2ª e regressam ao sábado.
Catarino diz não se recusar a cumprir ordens e que vai para onde o mandarem. Não é do Norte. Já foi transferido várias vezes. Isso para ele não é problema.
Pergunta o que me acontece se eu não entregar os documentos.
Olham uns para os outros e ele deduz que nada me acontece. Então, responde que também ele não sai de Caminha.
Director faz-lhe um elogio. Diz que ele é muito inteligente, muito esperto.
Gomes Pereira intervém e pergunta porque me não chamam, se têm medo de me enfrentar.
Passam a uma fase de ameaças, usando a “arma” das ajudas de custo, que tão ardilosamente fora utilizada, na 1.ª Brigada de Prospecção e que tanto sucesso tivera, para a obra de destruição em que se empenhava o maquiavélico Director do SFM.
Se não cumprirem as novas Ordens e não saírem de Caminha, não lhes serão processadas as ajudas de custo e então serei eu quem terá de lhas pagar.
Falou-se da deslocação do pessoal das sondagens para Mogadouro, por ter sido suspensa a campanha que estava em curso, na região de Caminha, precisamente quando estava projectada uma das sondagens mais auspiciosas.
Catarino fez o comentário: “Quando o mar bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão”. Não desejavam que o mesmo lhes acontecesse.
Os acólitos do Director afirmam que os sondadores estavam satisfeitos em Mogadouro.
Só se é agora! Disse Catarino. Quando saíram, não estavam.
Acerca do documento que apresentaram chamando a atenção para os prejuízos que resultariam do meu afastamento da chefia da Secção, Viegas aponta a palavra “repúdio” como tendo significado político.
Catarino diz que só tem a 4.ª classe e admite não ter a noção exacta do significado dessa palavra, mas, se a conversa deriva para esse rumo, abandona já a sala.
Catarino chama atenção para os sucessos conseguidos pela Secção de Caminha, aos quais é feita referência nesse documento.
Os “jagunços”, como continua a apelidá-los, explicam que, em Caminha, tiveram mais sorte do que eles.
Disseram ainda que me quiseram integrar no Grupo de Trabalho, mas eu reagi mal, dizendo que pretendiam tirar-me a Secção, quando não era essa a intenção.
Sobre a legalidade da Comissão de Direcção, que eu contesto, o Director diz que há documento da Secretaria de Estado, que eu iria receber, a confirmar a legalidade. (Essa seria a justificação para a coragem que passaram a exteriorizar).
Os Geólogos disseram que iriam trabalhar às escuras se eu não entregasse os dados.
Catarino acentua que dizem isso mesmo, no documento.
Bem, dizem eles, também fomos para outras áreas assim e depois os casos esclareceram-se.
Catarino perguntou se não há outros problemas a tratar, outras áreas a estudar, se é preciso meterem-se onde eu estou.
Respondem com as evasivas do costume.
Falam de relatórios que eu não apresentei.
Catarino responde que eu apresento relatórios trimestrais.
Isso pouco diz, afirmam eles. São precisos relatórios mais completos.
Catarino mostra surpresa por um funcionário tão recto, tão cumpridor como eu sou, se recusar a cumprir uma ordem. Aí deve andar qualquer coisa!, comenta..

Resumindo, numa reunião de uma hora, os “jagunços” e o “Coronel Amâncio”, na humorística designação de Catarino, fizeram uma tristíssima figura. Três funcionários inferiores, um dos quais sempre calado, mostraram uma evidente superioridade.


Continua…

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