segunda-feira, 30 de agosto de 2010

136 - O 4.º Director do SFM. Continuação 2

Enquanto eu procurava, a todo o custo, manter actividade útil nas Secções de Caminha e de Talhadas, investigando as existências de recursos minerais, em vastas área da região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima (essencialmente em procura de ocorrências de minérios de tungsténio e estanho) e na denominada Faixa Metalífera da Beira Litoral (em procura de ocorrências de minérios de cobre, chumbo e zinco), Jorge Gouveia mantinha a sua atitude totalmente desinteressada quanto à evolução dos estudos a meu cargo, persistindo na sua pretensão de transmitir para os “assaltantes “ de outros cargos de chefia (Directores de Serviço e Chefes de Divisão) os trabalhos criados naquelas Secções, por minha iniciativa, para cuja eficácia eu tivera que dar adequada formação a pessoal localmente recrutado, pouco instruído, mas ávido em aprender.

Jorge Gouveia transferira a sede do SFM para Lisboa, nomeando seu representante, em S. Mamede de Infesta, o Engenheiro António da Silva Neto, bem conhecido pelo seu negativo currículo.

António Neto tinha sido companheiro de Gouveia nas investigações da Brigada do Norte, em Guadramil e tinha assumido papel de Colector do Professor Cotelo Neiva, tal como Soares Carneiro (Ver publicação do SFM ”Rochas e Minérios da Região de Bragança - Vinhais” onde ambos aparecem em várias fotos)
Em 1963, Múrias de Queiroz, quando foi colocado no cargo de Director do SFM, atribuiu-lhe a chefia de um departamento a que deu a designação de MOVIC, o qual deveria zelar pelos móveis (M), pelas Oficinas (O), pelas viaturas (V), pelas instalações (I) e efectuar as compras necessárias (C), isto é, matérias que não exigiriam curso de Engenharia de Minas e que seriam bem desempenhadas por alguns funcionários que eu recrutara, apenas com a 4.ª Classe de Instrução Primária. Além disso, o que constava da sua honestidade, não era muito abonatório.
Quando Gouveia aparecia nas instalações de S. Mamede de Infesta, procurava evitar-me e, se eu, apercebendo-me da sua presença, lhe apresentava os problemas que me preocupavam, as explicações que me dava, eram semelhantes às de um funcionário subalterno encontrado em falta.

Ora não tinha tempo, porque outros assuntos tinha a tratar, ora tentava justificar as suas atitudes de desconsideração para comigo com o facto de não ter plenos poderes (só tinha meios poderes!!); quando viesse o Diploma Orgânico, tudo se resolveria!

No relatório do 3.º trimestre de 1979, continuei a usar os recursos, a que me referi no post anterior.
A seguir, transcrevo passagens do capítulo “Dificuldades encontradas”, desse relatório:

“… O novo Director emitiu, em 4 de Julho, talvez como reacção ao nosso ofício de 30 de Junho, a Ordem de Serviço n.º 8, nomeando o geólogo Goinhas, o engenheiro Nolasco da Silva e o geólogo Viegas, para funções directivas que praticamente cobrem os domínios da prospecção mineira estatal, em todo o País.
Por enquanto, ao Sector de Coimbra continuará apenas confiada a actividade de prospecção e pesquisa de minérios metálicos que já se encontra a seu cargo, porém sob a chefia do geólogo Viegas.
Estabelece-se, no entanto, desde já, que este sector integrará, quando for publicado o Diploma Orgânico, todas as actividades previstas para a Divisão de Prospecção das Províncias Metalogénicas Setentrionais.
Deste modo sub-reptício, através de Ordem de Serviço que nem sequer foi distribuída aos funcionários, como era habitual, mas apenas afixada em local por nós raramente frequentado, está preparado o nosso afastamento da chefia do Serviço de Prospecção, Serviço que foi praticamente por nós criado e desenvolvido, a partir de 1963.
Assim, o novo Director se encaminha para obter aquilo que se não tornou possível ao seu antecessor.
Não obstante ter declarado, numa das duas únicas reuniões connosco havidas, estar consciente da obra que temos vindo a realizar no SFM, a ponto de até ter já chamado a atenção do Director-Geral para o facto de ser essa obra que ele constantemente utiliza para a propaganda da Direcção-Geral, não obstante ter também reconhecido ignorar a capacidade técnica de qualquer dos novos chefes; o Director do Serviço aceita ser o instrumento do Director-Geral para estas nomeações, porque elas estavam já decididas, antes do seu reingresso na DGGM.
Não é de Directores com estas características que o País precisa.
Cada funcionário, na sua esfera de acção, tem de ser capaz de assumir as suas próprias responsabilidades.
Como funcionário consciente que nos prezamos de ser, não nos eximimos às nossas.
Por isso, aqui denunciamos esta incoerência, para não dizer inconsciência do novo Director do Serviço; o estado de atraso em que o País se encontra não consente mais decisões desta natureza
Os cargos directivos têm de ser confiados a técnicos competentes e de carácter.
Não basta que isto se escreva!
É indispensável que se pratique!
Nos três casos em referência, não foram nem a competência nem o carácter as determinantes das nomeações para as chefias


Constou que Jorge Gouveia, estimulado pelos componentes do “Gabinete de Estudos”, (que alguns funcionários, perante o seu negativo papel, depreciativamente designavam por “Nave dos Loucos”), pretendeu instaurar-me processo disciplinar.
Gouveia, que se vangloriava da sua experiência africana, nesta matéria, manifestava até estranheza pela raridade de tais procedimentos, em Portugal.
Todavia, o Secretário de Estado não terá dado bom acolhimento à proposta, talvez atendendo às repetidas recomendações das Resoluções de Conselhos de Ministros, quanto ao aproveitamento do mérito e da competência profissional. (Ver posts n.ºs 128 e 123)

Continua …

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