Confirmando os maus prenúncios iniciais, Jorge Gouveia, foi dando continuidade à obra de destruição do Serviço de Fomento Mineiro (SFM), em que muito se empenhara o seu antecessor, com o estímulo do Director-Geral de Minas e a passividade dos Ministros da tutela dos sucessivos Governos.
Teimosamente, eu persistia na realização de trabalhos de investigação, nos núcleos que conseguia manter a meu cargo, procurando contribuir para o cumprimento dos nobres objectivos visados pelo SFM.
Simultaneamente, aproveitava esses núcleos para a formação de técnicos em prospecção mineira, alguns dos quais poderiam, futuramente, ingressar em Organismos oficiais ou em Empresas privadas, onde teriam oportunidade de aplicar correctamente os conhecimentos adquiridos.
Conforme revelei, em posts anteriores, não só dei formação a alunos das Faculdades de Ciências e de Engenharia da Universidade do Porto, do Instituto Superior de Engenharia do Porto e do departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, em aulas teóricas e práticas de campo e de gabinete, como permiti que Engenheiros recém-formados frequentassem, a seu pedido, essas aulas, por se sentirem impreparados neste importante ramo da indústria mineira, perante a inexistência de docentes, na Faculdade de Engenharia, aptos a ministrarem tais ensinamentos.
Porém, a triste realidade era que também estes estabelecimentos de ensino tinham sido afectados pela onda de mediocridade que invadira o País.
Se de alguns docentes encontrei total apoio, também houve quem menosprezasse a minha colaboração, sendo certo que dela recebia apenas exígua remuneração, na qualidade de Professor Auxiliar Convidado da Faculdade de Ciências do Porto.
Registo que os Professores Montenegro de Andrade e Ávila Martins, em várias ocasiões realçaram essa colaboração, que afirmavam muito prestigiar o departamento de Geologia da Faculdade de Ciências, salientado o facto de os Geólogos formados no Porto terem preferência na admissão em Empresas privadas, devido à sua melhor preparação em prospecção mineira.
Aos docentes que me apoiavam, fiquei a dever a possibilidade de prosseguir na execução dos trabalhos de investigação, por me facultarem o uso de equipamentos que possuíam e até dos seus meios de transporte.
De facto, Jorge Gouveia, na sua obsessão destrutiva, ia progressivamente tomando decisões para dificultar a minha actividade, conforme irei relatar.
Os equipamentos facultados pelas Universidades do Porto e de Aveiro e até o trabalho de professores e alunos da Universidade de Aveiro foram fundamentais para que os trabalhos prosseguissem a um ritmo quase normal, com resultados de excepcional interesse.
Mas Jorge Gouveia, apesar dos elogios que ouviu, a meu respeito, de técnicos estrangeiros, os quais me transmitiu, jamais se mostrou interessado em tomar conhecimento da actividade que eu dirigia no campo.
As suas preocupações centravam-se em domínios de ordem burocrática ou na satisfação de interesses das pessoas medíocres de que se rodeou.
Inconformado com a degradação acelerada que estava observando em Organismo essencial ao aproveitamento das nossas matérias-primas minerais, restavam-me dois recursos:
1- continuar a apelar à urgente intervenção do Governo para que fizesse cumprir as suas Resoluções, quanto ao rigor na utilização dos dinheiros públicos e ao aproveitamento do mérito e da competência profissional (Ver posts n.ºs 126 e 133)
2– registar, em documentos vários, o que se estava passando, na ingénua esperança de aparecer personalidade capaz de acabar com o regabofe.
Quanto à intervenção do Governo, além da oportuna acção de Maria de Lourdes Pintasilgo (ver posts n.ºs 130, 131 e 132), nada mais aconteceu. Os documentos que eu enviava eram sistematicamente remetidos para as pessoas por mim visadas, que os arquivavam ou destruíam.
Os outros documentos, que eu produzia, tinham provavelmente o mesmo destino.
De facto, chegou ao meu conhecimento que o novo dirigente do Laboratório, o Geólogo Santos Oliveira, mandou substituir valiosos móveis em madeira de castanho, que constituíam o mobiliário da Secretaria, por móveis metálicos e todo o arquivo neles contido foi acumulado na cave do edifício, sem cuidado na sua classificação. Não se sabe para onde foram os móveis em castanho. Constou que importantes relatórios desapareceram e que alguns foram negociados com Empresas que detinham contratos de prospecção, por um Engenheiro, após a sua aposentação.
Dos principais documentos por mim elaborados, guardei cópia, que posso exibir, se tal se revelar necessário.
O meu relatório do 2.º trimestre de 1979 é bem elucidativo sobre o comportamento de Jorge Gouveia, como Director do SFM.
Dele transcrevo o capítulo “Dificuldades encontradas”
“No presente trimestre, ficou amplamente confirmada a determinação do novo Director do SFM em prosseguir na senda destrutiva em que se empenhava o seu antecessor, sobretudo no que respeita aos trabalhos que decorrem sob nossa orientação.
Na verdade, não só não deu qualquer andamento aos problemas por nós apresentados nas duas reuniões que com ele tivemos, no trimestre anterior, como gerou connosco incidentes gratuitos, a provocar reacções que, mais tarde pudesse invocar, para justificar as suas premeditadas arbitrariedades.
As amostras de solos da região de Caminha continuam a não ser analisadas; o gravímetro ainda não foi tornado disponível, apesar das promessas feitas; quanto a sondagens, persiste a obstrução a que tantas vezes nos temos referido.
Mas o novo Director considerou mais importante que debruçar-se sobre estes problemas, endereçar às Secções de Talhadas e Caminha, ofícios com data de 12 de Abril, ameaçando os seus funcionários com a devolução dos seus boletins itinerários, se estes continuassem a ser por nós visados.
Notara o novo Director que “contrariando as disposições em vigor, que regulam que os boletins itinerários são visados pelo Director do Serviço”, os boletins das referidas Secções estavam sendo por nós visados, “com a aposição de um carimbo de um cargo que não existe de momento”.
O Senhor Eng.º Gouveia esquecera-se ou pretendera ignorar que fora precisamente por nos recusarmos a visar boletins itinerários fraudulentos, que os funcionários da 1.ª Brigada de Prospecção, subscritores dos referidos boletins, apresentaram ignóbil exposição contra nós, que levou ao nosso afastamento, “a título provisório” da chefia da referida Brigada.
Ao declarar não existir o cargo de Chefe do 1.º Serviço, o Eng.º Gouveia persiste ainda no lamentável lapso de considerar válidas ordens emanadas de uma Comissão comprovadamente ilegal!
Para nós, visar ou não boletins itinerários dos funcionários que connosco colaboram não tem a mínima relevância. Não nos sentimos mais realizados na nossa carreira profissional com o cumprimento deste preceito!
Ao apormos o nosso visto, apenas pretendíamos assumir a responsabilidade das deslocações originadas pelo cumprimento das tarefas por mim distribuídas aos funcionários.
Ao chamar a si tal formalidade, o novo Director só vem aliviar-nos um pouco. Não compreendemos, porém, que crédito mereceria o seu visto, se não fôssemos nós a enviar-lhe os boletins com a informação de estarem correctamente preenchidos, como parece seria seu desejo.
Mas não foi este o único incidente com que o novo Director entendeu provocar-nos.
Em 19 de Junho, enviou à Secção de Talhadas, com nota de remessa dirigida ao Senhor Silvestre Moreira Vilar, a sua informação n.º4/79 sobre uma proposta apresentada pelo geólogo Luís Viegas, subordinada ao curioso título “Equipa de campo para prospecção geofísica de campo”.
Pretendia a Secção de Coimbra efectuar trabalhos de prospecção eléctrica em Vale Grande (Aguada) e em Trás-os-Montes, com o objectivo de aumentar reservas de argilas. Não dispondo, porém, de pessoal experiente, para esse fim, propõe a utilização de funcionários da Secção de Talhadas do 1.º Serviço.
A informação-despacho do Director do Serviço começa por declarar a incapacidade da Secção de Coimbra para dar cumprimento aos seus projectos e termina ordenando que o sector de Talhadas contacte o sector de Coimbra, para satisfação do solicitado, mandando dar-nos conhecimento desta decisão para S. Mamede de Infesta.
O Director do Serviço prescindiu da consulta ao directo responsável pela Secção de Talhadas, sobre a possibilidade e oportunidade da colaboração pedida, considerando bastante dar-nos conhecimento da decisão tomada.
Reagimos a este intencional atropelo da hierarquia pelo nosso ofício n.º 3/79 de 30 de Junho, do qual enviamos cópia aos Senhores Secretário de Estado de Energia e Minas e Director-Geral de Minas.
Entretanto, para não criarmos eventuais dificuldades a funcionários que nada têm a ver com dissidências em escalões hierárquicos mais elevados, autorizamos, pelo n/ofício n.º 4/79, o Colector Senhor Silvestre Moreira Vilar a contactar directamente a Secção de Coimbra, com vista ao cumprimento do despacho do Director do Serviço.”
Mais uma vez, Jorge Gouveia demonstrou total insensibilidade perante este relatório, que lhe enviei.
Continua ...
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
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